menu
quinta-feira, 7 de novembro de 2024
quinta-feira, 10 de outubro de 2024
Han Kang - Prémio Nobel da Literatura 2024
A Academia Sueca atribuiu hoje o
Prémio Nobel da Literatura à escritora sul-coreana Han Kang, nascida em 1970,
em Gwangju, na Coreia do Sul. Entre 121 laureados, é a 18.ª mulher a receber este
galardão.
De acordo com o comunicado da Academia
Sueca, Han Kang é premiada com o Nobel da Literatura de 2024 pela sua “intensa prosa poética que confronta traumas
históricos e expõe a fragilidade da vida humana. […] Na sua obra, Han Kang
confronta traumas históricos e normas invisíveis e, em cada um dos seus
trabalhos, expõe a fragilidade da vida humana. A autora tem uma consciência
única das ligações entre o corpo e a alma, os vivos e os mortos, e, com o seu
estilo poético e experimental, tornou-se uma inovadora na prosa contemporânea”.
Formada em Literatura Coreana pela
Universidade de Yonsei, estreou-se como autora publicada em 1993, ao assinar
cinco poemas numa edição da revista local Literatura
e Sociedade.
Apesar de ter lançado dois romances e
uma coleção de contos antes, foi com A Vegetariana, com o qual venceu o
Internacional Booker, em 2016, que ganhou protagonismo internacional. Foi o seu
primeiro livro a ser traduzido para inglês e ser editado em Portugal, em 2016,
pela Dom Quixote.
Ela era absolutamente normal. Não era bonita, mas também não era feia. Fazia as coisas sem entusiasmo de maior, mas também nunca reclamava. Deixava o marido viver a sua vida sem sobressaltos, como ele sempre gostara. Até ao dia em que teve um sonho terrível e decidiu tornar-se vegetariana. E esse seu ato de renúncia à carne – que, a princípio, ninguém aceitou ou compreendeu – acabou por desencadear reações extremadas da parte da sua família. Tão extremadas que mudaram radicalmente a vida a vários dos seus membros – o marido, o cunhado, a irmã e, claro, ela própria, que acabou internada numa instituição para doentes mentais. A violência do sonho aliada à violência do real só tornou as coisas piores; e então, além de querer ser vegetariana, ela quis ser puramente vegetal e transformar-se numa árvore.
Talvez uma árvore sofra menos do que
um ser humano.
(da sinopse da edição portuguesa de
2016, disponível na Biblioteca da Escola Secundária Dona Inês de Castro, Agrupamento de Escolas de Cister)
Atos
Humanos (2017), sexto romance da autora e o segundo
a ser publicado em Portugal, recupera o massacre de 18 de maio de 1980 na
região de Gwangju, na Coreia do Sul. Em 1980, estudantes de norte a sul do país
revoltaram-se contra o fecho de universidades e a falta de liberdade de
expressão. Porém, foi na região de Gwangju que a repressão foi mais violenta,
acabando a população por se juntar ao protesto, dando origem a um dos piores
massacres na história do país. Os mortos e desaparecidos ainda estão, ainda,
por contabilizar. Como lidar com a morte de alguém quando o seu corpo não
aparece? Kang e a família deixaram Gwangju quatro meses antes dos massacres, mudando-se
para Seul.
Atos
Humanos é a história de Dong-ho, um rapaz que não
resistiu a seguir o melhor amigo até à manifestação, mas, quando ouviu os
tiros, largou-lhe a mão, procurando-o agora entre os cadáveres de uma morgue
improvisada. E é também a história dos que cruzaram o caminho de Dong-ho antes
e depois dessa noite infame – os que caíram por terra desarmados e os que foram
levados para a prisão e torturados; os que sobreviveram ao terror mas nunca
mais conseguiram falar do assunto e os que, tantos anos passados, sabem, tal
como Han Kang, que a história pode repetir-se a qualquer momento e que é
preciso lembrar os atos brutais de que os humanos são capazes. Este é um
romance universal e moderno sobre a batalha que os fracos travam contra os fortes
na luta pela justiça.
(da sinopse da edição portuguesa de 2017)
O
Livro Branco, publicado em Portugal em 2019, pelas
Publicações Dom Quixote, é uma meditação sobre luto e memória, considerado o mais
autobiográfico e simultaneamente experimental livro de Han Kang.
O livro começa com uma simples lista
de coisas brancas: a neve, o sal, a espuma das ondas, o papel, o arroz, os
cabelos dos velhos, as cobertas em que a mãe da autora embrulhou a primeira
filha, que nasceu prematura, muitos anos antes de existir este livro. É também
uma reflexão sobre o luto, o renascimento e a tenacidade do espírito humano e
uma investigação sobre a beleza, a fragilidade e a estranheza da vida: se, por
exemplo, a sua irmã tivesse sobrevivido, teria Han Kang chegado a nascer?
Poderíamos nós ler a sua história tão tocante?
(da sinopse da edição portuguesa de
2019)
Lições
de Grego (2023), o seu último livro, conta a história
de um professor de Grego que está a perder a visão e de uma aluna que está a
perder a voz. Ambos descobrem, porém, que existe uma dor ainda mais funda a
uni-los: numa questão de meses, ela perdeu a mãe e a batalha pela custódia do
filho; já ele ganhou o medo de perder a autonomia e o incómodo de, por ter
crescido entre a Coreia do Sul e a Alemanha, estar sempre dividido entre duas
culturas e duas línguas tão diferentes.
Lições
de Grego fala de um homem e de uma mulher comuns que
se conhecem num momento de angústia privada – a perspetiva da cegueira dele
encontra-se com o silêncio dela. Mas são justamente estes handicaps que os
atraem um para o outro, levando-os a encontrar uma saída da escuridão para a
luz, do silêncio para a expressão.
Com uma estrutura em espiral e a
sensibilidade a que Han Kang já nos habituou, o presente romance é como uma
terna carta de amor à intimidade humana, um texto que desperta os nossos
sentidos e reflete sobre a essência do que realmente significa estar vivo.
(da sinopse da edição portuguesa de 2023)
Saúde Mental e Biblioterapia
Com o objetivo de combater o
preconceito, o estigma e promover o conhecimento sobre saúde mental, a
Federação Mundial da Saúde Mental criou, em 1992, o Dia Mundial da Saúde
Mental, uma data que se assinala anualmente a 10 de outubro.
Este ano, a Organização Mundial da
Saúde (OMS), escolheu como lema It is
time to Prioritize Mental Health in the Workplace (“É Hora de Priorizar a
Saúde Mental no Local de Trabalho”). De acordo com a Direção-Geral da Educação,
o lema para este ano está perfeitamente alinhado com os princípios que tem
vindo a defender em prol de Escolas Saudáveis, promotoras e garante do
Bem-Estar integral das crianças e jovens, e onde a saúde mental e as
competências socioemocionais estão na base de todos os comportamentos em saúde.
Saúde Mental e Biblioterapia
Num texto publicado originalmente em
1905, Marcel Proust dizia
“A leitura está no limiar da vida espiritual; pode introduzir-nos nela: não a constitui. Há, contudo, alguns casos, alguns casos patológicos por assim dizer, de depressão espiritual, em que a leitura se pode tornar uma espécie de disciplina curativa e ser encarregada, através de incitamentos repetidos, de reintroduzir perpetuamente um espírito preguiçoso na vida do espírito. Os livros desempenham então junto dele um papel análogo ao dos psicoterapeutas junto de certos neurasténicos.”
(Marcel Proust, O Prazer da Leitura, Editora Teorema, 2011: 31)
Etimologicamente oriundo do grego biblios (livro) e therapeia (terapia), apenas no princípio do século XX o termo “biblioterapia” entra no léxico ocidental pela palavra inglesa bibliotherapy, conceito associado a práticas em hospitais que usam a literatura como suporte do processo de cura, sobretudo com vista à promoção da saúde mental.
Na biblioteca medieval da Abadia de São Galo, na Suiça (uma das mais ricas e antigas do Mundo, classificada em 1983 como Património Mundial da UNESCO), existia a inscrição
"Tesouro dos remédios da alma"
Neste dia dedicado à Saúde Mental,
apresentamos como sugestão de leitura a obra
Ler para Viver – Como a biblioterapia pode melhorar as nossas vidas, de Sandra
Barão Nobre. (disponível no catálogo da Biblioteca do ECB)
Publicado em 2024, com este livro a
autora deseja partilhar o seu saber, trazendo a biblioterapia do mundo quase
exclusivamente académico e teórico para a vida do dia-a-dia, ajudando também o
leitor a viver melhor.
Considerando que a biblioterapia
permite cuidar do desenvolvimento contínuo do ser humano, através da relação
subjetiva e existencial que cada um estabelece com as histórias, sejam elas
lidas em silêncio, narradas por outrem ou dramatizadas, Sandra Barão Nobre apresenta-nos
uma “farmácia literária” com mais de 200 sugestões de leitura, para ganhar
confiança, combater a discriminação, melhorar o humor, aproveitar o tempo, e
muitas outras formas de aplicar o poder transformador dos livros, com o objetivo
de melhorar o estado de espírito e o bem-estar de qualquer pessoa.
terça-feira, 1 de outubro de 2024
Sugestões de leitura no Dia Mundial da Música
Uma aventura musical, de Ana Maria Magalhães e Isabel
Alçada
O desaparecimento de um violino «Stradivarius» é motivo de alarme e justifica a mais complicada das investigações para a Teresa, a Luísa, o Pedro, o Chico, o João, o Faial e o Caracol.
Um fabricante de violinos chamado Stradivari morreu há duzentos anos deixando um mistério no ar que ainda não foi desvendado: como conseguia ele que os seus violinos tivessem um som tão especial?
Seria
a madeira? Seriam as cordas? Seria o verniz? Ou seria algum truque de magia?
Ninguém sabe. Mas os violinos que ficaram prontos valem hoje mais que joias,
mais do que carros e até mais do que casas.
Música, de Hermann Hesse
Durante
cerca de setenta anos, Hermann Hesse organizou uma antologia de pequenos textos
sobre música. Esta recolha reflete o entusiasmo do autor pela música erudita e pelos
seus produtores (compositores - sobretudo Chopin, Beethoven e Mozart -,
cantores e solistas). A música é entendida como uma experiência pessoal e intransmissível,
mas manipulável, podendo por tal conduzir à alienação quando massificada e
vulgarizada.
Música abarca excertos recolhidos da
correspondência pessoal do autor, apontamentos para obras posteriores, extratos
de romances, poemas, recensões críticas, pequenos contos e reflexões de ordem
vária. Estamos perante um livro multifacetado do ponto de vista tipológico, um
pouco controverso nas posições que defende, tecendo-se a unidade em redor do
tema e do estilo inegável do autor.
Sobre o autor:
Hermann Hesse nasceu a 2 de julho de
1877, na cidade alemã de Calw, e faleceu a 9 de agosto de 1962, em Montagnola,
Suiça.
Filho de missionários protestantes, ainda
adolescente abandonou os estudos religiosos e rompeu com a família, emigrando para a
Suíça, em 1912, onde começou a trabalhar como livreiro e operário. Em 1899, publicou uma coleção de poemas e em 1903 o seu primeiro
romance, Peter Camenzind, a que se
seguiram mais de 50 obras, entre romance, ensaios, poesia, biografias e
colectâneas de contos.
Em
1923, naturalizou-se suíço. Em 1946, recebeu o Prémio Goethe e o Prémio Nobel da
Literatura.
quarta-feira, 26 de junho de 2024
Trabalhos de alunos de Biologia - 12º A
Imunidade e controlo de doenças
Resistência bacteriana - Vídeo informativo
quinta-feira, 28 de março de 2024
21 de março - Dia Mundial da Poesia
No Dia Mundial da Poesia, 21 de março, espalhámos poesia pelo ECB.
Professora Helena Guerra e alunas do 11º ano de Línguas e Humanidades.
quinta-feira, 21 de março de 2024
Projeto Formar Leitores com Arte - 9º ano
A partir da leitura de Eu Dou-te o Sol,
de Jandy Nelson, os alunos do 9º ano, na disciplina de Educação Visual, foram
convidados a desenhar formas relativas aos personagens, ambientes ou ações
descritas no texto.
As formas desenhadas foram tratadas
graficamente adotando o processo de síntese simplificação por nivelamento e ou
o tratamento da mancha com alto contraste.
Estas ilustrações tiveram como
referência a obra da artista plástica portuguesa Xana Abreu.
Os irmãos gémeos Jude e Noah são
inseparáveis. Aos 13 anos, Noah é um jovem tímido e solitário que adora
desenhar. Jude, pelo contrário, é extrovertida, tagarela e sociável. Três anos
mais tarde, tudo se altera. Jude e Noah mal falam um com o outro. Um trágico
acontecimento afetou os gémeos de forma dramática… Até que Jude conhece
Guillermo Garcia na Escola das Artes, um escultor ousado e bem-parecido que vai
ter um papel determinante na vida dos irmãos. O que os gémeos não sabem é que
cada um deles conhece somente metade da história das suas vidas e, se
conseguirem reaproximar-se, terão a oportunidade de reconstruir o seu mundo.
Jandy Nelson nasceu em Nova Iorque, em
1965, e é licenciada pela Cornell University, tem um mestrado em Poesia pela
Brown University, e outro em Escrita para Crianças e Jovens Adultos pelo
Vermont College of Fine Arts.
O
Céu Está em Toda a Parte é o seu primeiro romance e está
traduzido em mais de 22 línguas. O seu segundo livro, Eu dou-te o Sol, recebeu vários prémios e distinções, entre os
quais o Printz Award na categoria de Melhor Livro para Jovens Adultos.
A artista plástica Xana Abreu nasceu
em Lisboa em 1975. Licenciada em Artes Plásticas e Pintura pela Faculdade de
Belas Artes da Universidade de Lisboa, manteve uma carreira paralela na área da
música: no início dos anos 2000, era vocalista da banda Massala e, em 2010, criou o projeto Xana Toc Toc que chegou ao primeiro lugar em vendas.
Em março de 2020, quando começou a pandemia
de Covid-19, Xana Abreu lançou o single "Todos Unidos, Todos
Protegidos", uma canção com mensagem positiva para as crianças. Nesse
mesmo ano, a artista anunciou o fim do projeto Xana Toc Toc e continuou o seu trabalho
como artista plástica, com vários trabalhos individuais da série "Na Tua
Pele".
Xana Abreu considera-se influenciada
por todas as expressões artísticas que a rodeiam e inspira-se tanto nos grandes
mestres como nos artistas contemporâneos e de “Street Art”. Pinta
essencialmente em tela, madeira e esculturas feitas de resina e fibra de vidro,
mas mantêm-se recetiva e procura sempre outros meios para explorar.
quarta-feira, 13 de março de 2024
14 de março – Dia Internacional da Matemática
O
Dia Internacional da Matemática celebra-se todos os anos, desde 2019, no dia 14
de março.
Até
2019, o dia 14 de março era conhecido mundialmente como o Dia do Pi. A data é
escrita como 3/14 em alguns países e 3,14 é o valor aproximado de Pi.
O
Dia Internacional da Matemática é uma iniciativa da União Internacional de
Matemática, organização dedicada à cooperação internacional no domínio da
Matemática, e teve o apoio de várias sociedades científicas, incluindo a SPM
(Sociedade Portuguesa de Matemática) e a APM (Associação de Professores de
Matemática).
Neste
ano letivo, para assinalar este dia, os alunos do ECB foram desafiados pelos
professores de Matemática a tirar uma fotografia sobre um ou vários motivos
relacionados com a Matemática e a fazer uma descrição sobre esses motivos. Os
trabalhos serão, posteriormente, expostos na sala de aula de cada turma.
Para
conheceres um pouco da história da Matemática através de uma aplicação
interativa clica no seguinte link:
sexta-feira, 8 de março de 2024
sábado, 27 de janeiro de 2024
Em memória das vítimas do Holocausto
A
27 de janeiro de 1945, as tropas soviéticas libertavam o Campo de Concentração
e Extermínio Nazi de Auschwitz-Birkenau. A 1 de novembro de 2005, através da
Resolução 60/7 adotada na Assembleia Geral das Nações Unidas, o dia 27 de
janeiro foi proclamado como o Dia
Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, com os objetivos de
prestar homenagem à memória das vítimas do Holocausto e relembrar a necessidade
de combater quaisquer formas de intolerância que possam levar à violência,
incluindo o antissemitismo e o racismo.
Numa
atividade inserida no Plano Nacional de Cinema, após a visualização numa aula
de História A do documentário A noite e o
nevoeiro, de Alain Resnais (1955), os alunos do 12º D foram desafiados a produzir um
pequeno texto sobre a temática do Holocausto nazi, com o objetivo de trabalhar
as dimensões cognitiva, emotiva e ética, e o conceito de empatia histórica. Se
assim o entendessem, escolheriam uma banda sonora para acompanhar o texto.
Partilhamos aqui alguns desses textos:
Hoje anoitece pela última vez
Hoje acordei…
Tive a sorte que
muitos de vós,
Por serem como eu sou,
Não tiveram.
Hoje acordei e sorri.
Lembrei-me de mim,
De como em tempos,
longínquos,
Fui capaz de ser
feliz.
Aquela felicidade
comum,
Inútil e desvalorizada…
Assim era até deixar
de a conhecer.
Hoje acordei e
desejei,
Embora que por
instantes,
Não ter acordado.
Desejei não acordar
Para não ter de
enfrentar,
Mais um dia, a
realidade.
Como me magoa o real
E o que o motiva.
Hoje acordei e pensei
De olhos abertos no
céu,
Da sua grandeza e da
oportunidade,
Efémera, de viver
nele.
Hoje acordei e estou
já sem forças.
Lá fora neva, o sol
esconde-se…
Tem medo dos soldados
E da luz que lhes
concede.
Terá sido o sol que
iluminou
Estes homens, ou as trevas?
Javé, se me escutas,
Dá-me ânimo para os
enfrentar…
Eu não sou já capaz de
o fazer.
Hoje acordei e
lembrei-me
Das folhas de papel,
da pena
E da tinta que me
socorria
Em momentos de dor.
Não tenho já as
folhas,
Esvoaçaram-me das
mãos,
Seguiram o seu rumo
E socorreram outros
como eu.
A pena, que
anteriormente
Me fazia confessar os
meus medos,
Quebrou e acabou por
sucumbir.
A tinta, aquela tinta…
É agora uma marca na
minha pele.
Hoje acordei e tive
medo,
Tentei afastar-me
dele,
Mas ele quis o meu
colo…
Não lhe pude dizer
não,
Talvez ele ficasse
mais assustado
Do que eu já estou.
Hoje acordei e gostei
de mim.
Ganhei coragem e senti
a brisa,
Aquela brisa que me
acalmava,
Mas não mais o faz.
Passeei-me pelo
verdejante…
Tentei não tropeçar
Naqueles que a brisa
Atirou ao chão e não
mais levantou.
Imaginei-me ali,
deitado,
Junto dos meus, com
pena de mim,
E com saudades deles.
Hoje acordei e esperei
a noite.
Ela chegou e os que
comigo acordaram,
Nem todos anoiteceram
comigo.
Ouvi um choro,
Senti um apertar no
peito
E com a mão, já
cansada,
Limpei a minha face e,
inocentemente,
Acalmei o meu coração.
Hoje acordei e
adormeci…
Não sei, nenhum de nós
sabe,
Se não sonho hoje pela
última vez.
Música: Glimpse of
Death (Vislumbre da Morte)
Autor: Martin Czerny
Martim Carvalho
**********************************
Excertos de um diário
“Hoje fomos obrigados a sair de nossas casas sem saber
para onde iríamos nem o que iriam fazer com a gente, tiraram-nos todos os
nossos pertences e até mesmo a roupa que vestíamos no corpo, fui separada da
minha família sem saber quando poderia vê-los novamente, somos identificados
por números que foram tatuados na nossa pele.”
“Começaram a colocar as pessoas para trabalhar e as que
por algum motivo não conseguem estão sendo mortas aos poucos, nós mulheres já
não temos cabelo, pois nos tiraram para fazer tecido, nos molestam sexualmente
e somos tratadas igual a animais, quase não comemos e quando comemos nos dão
restos de alimentos”
“No campo, há um hospital para onde vão os que ficam
doentes, mas nunca voltam, pois são mortos e seus corpos são usados para estudo
científico”.
“Hoje nos disseram que iríamos tomar banho e nos
levaram até um edifício onde tivemos que ficar nus, fomos empurrados e fechados
dentro de uma câmara e dos chuveiros começou a sair gás e fomos asfixiados até à
morte”.
(Eu escolheria a música de Frédéric Chopin – Marcha
Fúnebre, por se tratar de um caos genocida aplicado aos judeus e outros
prisioneiros nos campos de concentração.)
Aline Carboni
**********************************
Querido
Elie Wiesel,
Escrevo
com o coração pesado deste lugar sombrio. Aqui, cada vez mais se torna numa
luta violenta para sobreviver, desde a fome e o frio que nos consomem, à
esperança que, por muito pouca que seja, não deixa de existir.
Cada
face, bem marcada pelos ossos de tão desnutridos que estamos, conta uma
história. Os dias parecem cada vez mais longos e as noites cada vez mais frias,
escuras e com um nevoeiro cerrado. Às vezes partilhamos sorrisos discretos
quando nos metemos a relembrar do tempo que o que está à nossa volta não é
apenas arame farpado, onde muitos dos meus companheiros já tentaram escapar,
mas sem sucesso. Mantenho viva a lembrança do que fui antes deste pesadelo.
Tenho
saudades de poder sair à rua sem me preocupar se vou encontrar algum oficial ou
algum guarda numa esquina, o qual, embriagado, apenas por precisar de apanhar
algum ar fresco, porque lá dentro há um cheiro horroroso devido ao facto de
estar tanta pessoa junta, pode agarrar na sua arma e matar-me ali, sem mais nem
menos, sem razão absolutamente nenhuma.
Tenho
esperança que ainda haja alguma alma boa que nos possa vir salvar destes
carrascos!
Cumprimentos e esperança,
(A
música que eu acho adequada para esta carta é “Imagine” do John Lennon, pois a
música fala de um mundo sem fronteiras, onde as pessoas vivem em paz, trabalham
por um futuro melhor e superaram as diferenças, reforçando assim a esperança
por um mundo melhor.)
Beatriz Paulo
**********************************
Meu
amor…
Escrevo-te
carregado de dor e de desespero. É difícil encontrar palavras suficientes que
exprimam aquilo que todos nós vivemos aqui diariamente. Nas veias só me corre
frustração, tristeza e resignação. Queria poder contar-te tudo. Ouvires-me
curar-me-ia de parte das minhas dores e dos meus devaneios. Sei que tal não é
nem nunca será possível, portanto escrevo-te, sem qualquer esperança, na
tentativa de encontrar algum alívio na ideia impossível de me que poderás
ouvir. Estejas onde estiveres, espero-te bem. Espero-te seguro, em paz e, acima
de tudo, feliz tanto quanto possível.
O
terror e a perseguição infestados nestes campos não distinguem corações
apaixonados. Por sermos homossexuais, somos alvo de um ódio irracional, uma
caça desumana que atinge os valores mais íntimos de nossa identidade. Cada
olhar, cada gesto, é carregado de medo, pois somos julgados apenas por sermos
quem somos e por amarmos quem amamos. Aos olhos deles, é um pecado escolher o
amor em vez do ódio. Vá-se lá saber o que lhes passa por aquelas cabeças…
Fecham-nos dentro de quatro paredes apenas por não quererem abrir as suas
próprias mentes.
É
desolador saber que há um silêncio ensurdecedor diante da monstruosidade que
ocorre nestas instalações. O mundo parece distante, como se a humanidade
tivesse fechado os olhos para o sofrimento que vivemos diariamente. A
indiferença, talvez, seja a maior traição aos direitos humanos. Todas as
noites, antes de me deitar naquela dura e desconfortável pedra, questiono-me
sobre como é que o mundo chegou onde chegou. Como é que nós, enquanto sociedade
e humanidade, permitimos que nos roubassem todos os mais básicos direitos
humanos?
Nos
corredores deste inferno, o desrespeito pelos direitos humanos é uma realidade
avassaladora. A liberdade de amar é negada, a dignidade é pisada, e a esperança
é-nos constantemente roubada. Somos testemunhas de um capítulo sombrio da
história que, no futuro, estou certo de que clamará pela justiça e pela
erradicação de ideologias que destruíram e destroem vidas com base em preconceitos.
Apesar
das vedações que me cercam, encontro refúgio nos nossos momentos. Recordo-me
dos abraços e das trocas de olhares. Dos beijos e dos serões a sós. Recordo-me
de tudo o que me fez feliz e do que, de uma forma ou de outra, ainda me mantém
vivo. Dizem que a esperança é a última a morrer, mas sinceramente não sei como
é que é possível continuar com ela depois de presenciar tudo o que já
presenciei. Vejo caras novas todos os dias e, aos poucos e poucos, caras
conhecidas vão desaparecendo... Todos os dias ouço novas despedidas. Muitas
delas repetem-se entre as mesmas pessoas, mas chegará um dia em que essa
despedida será mesmo a última. O mais triste é que eu sei disso. Já aceitei o
que o destino me reserva. Já aceitei que não te voltarei a ver mais e estas
minhas cartas são o último contacto que eu terei contigo. Pelo menos na minha
mente… sei bem que jamais sairão destes edifícios. Aceitei que o mundo nos
traiu e nos abandonou.
Que
estas palavras sirvam como testemunho de um amor que transcende as barreiras
cruéis impostas por esta ideologia desumana.
Com
todo o meu amor,
Teu,
Hoje
e sempre,
Luís
(Música:
Franz Liszt – Liebestraum -Love Dream
A
principal razão pelao qual eu escolhi esta música é por ela se intitular “Love
Dream” (sonho de amor), que é o motivo desta carta ser escrita.
Por
outro lado, a música começa com alguma calma, mostrando a tristeza e o
desespero do escritor. Para o meio, a música começa a ficar mais rápida,
mostrando a sua frustração e angústia ao viver no mundo em que vive.)
Bianca Mendes
**********************************
17, Novembro, 1944
Querida mãe,
Como está? Por aqui os dias parecem cada vez mais difíceis,
o céu aparenta uma cor cinzenta e triste, as noites são mais frias e escuras e
as árvores menos verdes e sem vida... não sei se é impressão minha, mas sinto
que à noite consigo ouvir os gritos de todos aqueles cujas vidas lhes tiramos. Por
vezes, dou por mim a pensar “Será isto correto?”; “Será mesmo que o Führer
quer o melhor para a nação?”; “Será isto o melhor para todos?”, mas depois
sinto-me culpado e ingrato por duvidar do nosso poderoso Führer que já muito
fez por nós, alemães, sempre lhe obedeci sem grandes questionamentos, mas
confesso que ao pensar em tudo isto começam a surgir algumas perguntas sem
resposta.
A cada dia que passa chegam mais pessoas. Estas são
divididas por categorias: mulheres, homens, crianças, judeus, ciganos,
homossexuais, comunistas entre muitos outros, todos fonte de grandes filas de
corpos despidos, que mais tarde acabariam por ficar numa magreza quase inexistente.
As mães choram e pedem piedade para os seus filhos, mas
são completamente ignoradas, alguns homens lutam por pedaços de pão e outros
acabam por morrer esfomeados, muitos são escravizados para trabalhos pesados e alguns
acabam por morrer sem forças.
Contudo, os mais afetados são os judeus, são milhares e
milhares a chegar, sejam velhos, homens, mulheres, crianças ou até mesmo
incapacitados, pois mais cedo ou mais tarde vêm todos parar a Auschwitz, onde são
completamente discriminados, gozados e por vezes espancados, algumas das
mulheres acabam por se prostituir para ganhar um pouco de pão, e alguns homens
tentam subornar os soldados, mas ambos sem sucesso, pois a única certeza é a
morte. São corpos por cima de corpos, todos espalhados por grandes valas, câmaras
de gás com cheiros cada vez mais intensos, por onde sai o fumo mais preto que
já vi em toda a minha vida, as pobres pessoas não têm escolha, o destino final
irá sempre ser a morte por mais que o tentem evitar.... Pergunto-me então onde
estão os seus direitos? Isto não está certo, existem direitos a serem violados.
A maior parte dos soldados sente prazer ao humilhar os
pobres judeus, mas eu, minha mãe, sinto uma forte desilusão comigo mesmo, porém
não ouso opor-me contra o nosso poderoso chefe, pois tenho muito medo do que
este possa fazer à nossa família, então limito-me obedecer.
Ninguém sabe o que aqui se passa, por mais perto ou longe
que habitem, ninguém se questiona, no entanto, já ouvi falar de alguns europeus
e americanos que andam a investigar para onde são levados tantos judeus, algumas
perguntas começam a surgir, e muitos pretendem mudar isto, mas até agora, ainda
nada se fez, quem saberá num futuro próximo.
No outro dia foi ordenado a dois judeus que tocassem
“Prelude, Op. 28, No. 4” de Frédéric Chopin, senti uma forte ligação com aquela
melodia, como se esta me pudesse compreender, e reconhecer todo este horror,
vazio, dor e melancolia que sinto em relação ao que está a acontecer.
Minha mãe, sinto-me profundamente triste e horrorizado
por todas as crueldades que estou a fazer, mas tenho plena consciência de que
tenho de o fazer pois esta é a única solução, dado que, por mais que não esteja
de acordo, é o meu dever, obedecer e respeitar a minha nação acima de tudo.
O seu amado filho,
Christoph
Inês Tavares Ribeiro
**********************************
Querido diário,
hoje foi um dia muito triste. Neste bairro, as coisas estão
assustadoras. As famílias estão a ser separadas e só ouço notícias tristes
sobre mortes. Cada dia que passa perco a fé e esperança que tinha, agora só me
resta o medo, a negatividade e a forma do que como isto vai acabar
A vida está cada vez
mais difícil aqui, nós passamos fome diariamente e não nos dão comida
suficiente para viver. Nem sempre temos comida neste quartinho e o pouco que
temos não é suficiente, sinto o meu corpo a mudar drasticamente a cada dia que
passa. Os meus ossos estão nitidamente visíveis e isso assusta-me tanto que já
nem me reconheço…
Aqui está tanto frio, não temos aquecimento para nos aquecer e muito
menos roupas que se adequam a este tempo tão
gelado. Já não sei como é a sensação de dormir numa cama aconchegante,
quentinha e ter o meu próprio espaço.
Aqui todos dormimos num quarto apertado e estreito. As camas são duras
e não consigo dormir bem. À noite, ouço barulhos assustadores, já o frio entra
por todos os lados, até pelos buracos da porta e pelos vidros partidos. E o meu
maior medo são os pesadelos que decidem atormentar-me todas as noites…
Não tomamos banho, andamos sempre sujos e sujeitos
a qualquer doença. A minha mãe está muito doente e já não consegue sair da cama
e isso preocupa-me muito, pois ela é tudo o que eu tenho na minha vida.
Envio o máximo de
cartas todos os dias a pedir ajuda, mas parece que ninguém se importa!
Torna-se muito
difícil encontrar esperança. É difícil entender o porquê de o mundo nos virar
as costas…porquê tanto preconceito? Nunca fizemos nada de errado a ninguém! Os
direitos humanos deveriam ser para todos, mas parecem ter desaparecido...
A morte
parece estar cada vez mais próxima e, ainda assim, o mundo mantém-se na mesma.
Não temos apoio e ajuda de ninguém!
Neste momento, só gostava de voltar para casa, poder estar em paz
novamente, ter o meu sossego e conforto que desejo há dias. Rezo todos os dias
para regressar aos momentos felizes onde vivi, retornar ao meu país, rever os
meus amigos e sorrir novamente… será que os meus desejos podem tornar-se reais?
Diário, vou ver se me esqueço dos problemas e ouvir alguma música. Vou
pôr a tocar algumas das minhas músicas de blues
favoritas. O blues sempre me faz
esquecer dos problemas e recordar todos os momentos em que vivi feliz. Além
disso, a minha mãe também adora, por estar bem mal acho que é uma forma boa
para lhe tirar um sorriso.
Até amanhã!
Isabela Ferreira
**********************************
Páginas
de diário
01/01/1944
Primeiro
dia do ano e nem sei como estou viva ainda...todos os dias milhares de pessoas
a morrer e eu vejo isso com os meus próprios olhos. Ainda não sei porque estou
aqui, o que fiz para merecer isto, aqui dentro deste campo só há judeus,
ciganos, homossexuais, deficientes e até prisioneiros, todos temos papéis
diferentes, os deficientes, velhos e até algumas crianças vão logo para uma câmara,
eles dizem ser um banho, mas quem vai para lá, não volta, simplesmente
desaparece, o que é bem estranho.
02/01/1944
Mal
tenho tempo para escrever aqui, trabalho todos os dias, sem parar, sem tempo
até para ir fazer necessidades básicas, estou completamente desnutrida, não nos
dão comida. As camas onde dormimos, se é que se podem chamar camas, são
horríveis, os campos estão cercados com um arame farpado e são sempre viajados,
já tentaram fugir, mas quem tentou morreu.
27/01/1945
Tinha
perdido este diário, pensei que nunca mais o fosse encontrar, eles tiram-nos os
nossos pertences e se descobrissem este diário eu seria morta. Mas hoje, hoje
foi o grande dia, fui libertada, descobri que havia vários campos destes e que nos
enganavam como se fossem campos bons onde na realidade era só trabalho forçado
e tortura para no fim, quando não servíssimos para mais nada, irmos para a câmara
de gás que diziam ser o banho. Estes campos estavam a acontecer sem a população
saber, mas como não sabiam se milhares de pessoas eram deportadas todos os dias?
Cerca de 11 milhões de pessoas morreram, algumas propositadamente, outras por
tortura, doenças, frio fome.... foram os piores anos da minha vida e realmente
nem sei como aguentei tanto, ainda bem que agora tudo acabou.
(A música que escolhi é Bring me to life, canção da banda de rock Evanescence.)
Juliana Cardoso
**********************************
O terror e a perseguição
Num
mundo onde se estimam valores
Como
o respeito, a paz e o amor
continuam
a erguer-se vozes
que
instauram o terror.
Na
Alemanha, em 1933,
O
regime nazi iniciou a perseguição,
Entre
o povo despertou o pânico
E
fez-se sentir a opressão.
Medo,
desconfiança, ódio e desalento:
Foram
os sentimentos que se viram surgir.
Aqueles
que antes julgávamos conhecer
Agora
nem um simples olhar nos conseguem dirigir.
Em
tempos antigos
Vivíamos
num feliz e humilde lar,
Hoje
estamos na fila
À
espera de algo para nos sustentar.
Entre
os principais alvos estávamos nós,
Os
descendentes de Jacó,
Exilados
em campos de concentração
E
maltratados pelos nazis sem dó.
Foi
um tempo de desânimo, de desalento
E
de intenso horror,
por
vezes nem parecia a realidade,
mas
sim um filme de terror.
Este
foi um acontecimento
Que
deixou marcas na história,
Juntos
teremos de permanecer
Para
que esta se torne apenas numa irrepetível memória.
(Se tivesse de escolher uma música para acompanhar o meu poema, escolheria algo semelhante ao fundo musical de Cicero Euclides, intitulado “Saudade”, pois uma vez que o poema envolve um tema doloroso e que deixou feridas na história, penso que um instrumental suave e melancólico suscita no leitor sentimentos de compaixão e de maior sensibilidade em relação ao tema retratado no poema.)
Margarida Catarino
**********************************
27 de
janeiro de 2006
Querido diário, hoje conto-te
a minha história
Durante 4
anos não tive nome, era apenas um número no meio de outros milhares que também
não tinham nome, durante 4 anos não fui a Gina, fui o 11017. Ao chegar ao campo
de concentração de Auschwitz, em janeiro de 1941, tatuar aquele número no meu
braço foi das primeiras coisas que me fizeram, a mim e àqueles que comigo
vinham no comboio.
Os
vagões do comboio eram sufocantes, eramos centenas, uns em cima dos outros,
todos apertados, sem espaço para respirar. Parecíamos animais a ser levados
para o matadouro, sem direito a expressar a nossa vontade.
Ao
chegarmos temos os que mais tarde vim a saber que são chamados Kapos, a gritar
para sairmos dos vagões depressa. Ao sairmos, vejo que muitos desmaiaram no
vagão, provavelmente devido à falta de ar que havia lá dentro. Esses são
imediatamente levados para cima de uma carrinha com um destino desconhecido
para nós que acabámos de chegar.
Ainda me
recordo do medo que senti, tinha apenas 19 anos e estava sozinha, entrei
naquele comboio terrível com a minha única família, a minha mãe, mas quando saí
perdi-a de vista.
O
primeiro trabalho que me foi atribuído era carregar tijolos para cima de
carrinhos de mão e levá-los para junto do que iam ser novos blocos para mais
prisioneiros. Se alguém deixasse cair um tijolo e este se partisse, a pessoa
era castigada por um Kapo, isto é, espancada ou morta a tiro.
Depois
de um dia a andar para a frente e para trás com carrinhos de mão pesadíssimos,
finalmente podia descansar, numa cama muito pouco confortável visto que eram só
umas tábuas com uma manta demasiada fina para o frio imenso que estava na rua.
Já para não falar do “almoço” e do “jantar” que nos davam, era uma água suja
com ervas que se assemelhavam a ortigas a boiar, e um pão duro e bolorento.
Quando
acabaram as construções dos novos blocos, mandaram-me para o Kanada, o armazém
onde os nazis acumulavam os bens de todos os prisioneiros, para fazer seleção. Se
fosse vista a roubar alguma coisa era logo morta, mas corria esse risco pois
muitas vezes havia comida dentro de malas, de bolsos de casacos ou calças.
Qualquer comida era extraordinária ainda que podre e bolorenta.
Em 1945,
as forças soviéticas aproximavam-se cada vez mais e os nazis tentaram apagar
evidências daquilo que faziam no campo e ordenaram que os prisioneiros
marchassem para outro campo de forma a evacuar Auschwitz. Eu fiquei e algumas
centenas de pessoas também, não sabíamos o que nos ia acontecer, até os
soldados soviéticos nos convencerem de que os nazis tinham finalmente ido
embora.
Durante
todo este sofrimento tive de me agarrar à ideia de haver a hipótese de me conseguir
reencontrar com a minha mãe e no final valeu a pena não ter desistido quando as
coisas não estavam fáceis. Quando regressei a casa ela já estava lá a
reconstruir e a recompor tudo o que se tinha estragado por estarmos tanto tempo
fora. Lembro-me de correr para os braços dela quando a vi no jardim e de
ficarmos ali, abraçadas a chorar, a matar as saudades e com um alívio imenso
por estarmos as duas vivas.
Foram 4
anos a sobreviver em péssimas condições, fisicamente consegui recuperar, mas
ainda tenho pesadelos com os espancamentos e mortes que vi diante dos meus
olhos, ainda me sinto culpada por não fazer nada, mas se fizesse a próxima era
eu. Nunca vou ser capaz de esquecer toda a humilhação que passei, desde ter o
meu cabelo rapado, a ter de me despir diante de todos, pessoas que não
conhecia. Nunca me vou esquecer de como me trataram como se fosse um animal,
sem ter direito a expressar a minha opinião, a me opor ou a dizer “basta”.
Gina Lewinski, 84 anos
(Se pudesse escolher uma música para acompanhar este texto escolhia Unbroken, de Birdy, porque do meu ponto de vista esta música fala sobre manter a esperança mesmo quando estamos numa fase difícil. Acho que nos encoraja a agarrarmo-nos a alguma coisa para nos guiarmos e para termos força para seguir em frente e para nos reerguermos.)
Margarida Fernandes
**********************************
Querido Diário,
Tenho tantas coisas para te contar…
a vida está cada vez mais difícil aqui deste lado, tenho tanta fome, consigo
ver todos os meus ossos bem definidos, os meus e não só…
Hoje até não foi muito difícil de
passar o dia, tivemos um pequeno concerto de Jazz, foi agradável de ver, mas
ainda me arrepio todas as vezes em que olho para os soldados e os vejo com um
enorme brilho nos olhos por causa daquilo que nos estão a fazer.
Tenho tantas saudades da minha
família, dos meus amigos, da minha casa, e eu, que era muito pouco grata por
aquilo que tinha, hoje agradeço por uma migalha de pão e por acordar todos os
dias (até ver).
Não tomamos banho, e quem toma não
volta, ninguém sabe, para além daquelas que vão às câmaras tomar banho, o que
lá acontece, dizem-nos que já estavam à beira da morte e que a água quente acabava
por os queimar.
Dormimos todos juntos, cada um na
sua cama, mas tudo na mesma sala, as camas são desconfortáveis e eu sinto os
ratos a passarem por cima de mim durante a noite, tenho uma manta, superfina, há
noites em que choro de tanto frio que tenho.
Neste momento só gostava de estar em
paz, no meu sossego e no meu conforto, tenho que escrever escondida, e não é
fácil me concentrar, qualquer barulho que ouço penso logo que eles vêm aí e me
vêm matar.
Fui visitar o meu pai ao hospital, e
deixa-me dizer-te que aquilo é muito mau, assim que a porta se abre para
podermos entrar sente-se um cheiro péssimo, parece de morto, mas as enfermeiras
dizem que é normal porque estão muito doentes, para além disso consigo ouvir as
vozes daqueles que não sobreviveram naquelas camas pequenas e enferrujadas.
Os gritos que se ouvem
constantemente, seja de pessoas a gemer de dor, seja de pessoas a implorar para
que não as matem, são simplesmente a implorar para acabarem porque nós também
somos seres humanos e não merecemos isto.
Quando falo em isto, refiro-me à pouca comida, aos poucos cuidados sanitários, às
nossas noites mal dormidas, às mortes que vemos todos os dias por causa dos
espancamentos e muito mais… é demasiado doloroso para uma criança de 9 anos…
Eu pergunto “porque é que isto está
a acontecer?”, “o que é que nós fizemos de tão grave para merecermos isto?”, e
continuo sem obter respostas.
Mas pronto… depois conto-te mais
coisas, agora estão a chamar-nos para irmos cortar o cabelo.
(Banda sonora: https://youtu.be/QOKMyPDGM4k?si=pabCHQdPsu-SUvSR – eu escolheria esta música para acompanhar o meu excerto de diário, pois acho que a letra e até mesmo a trilha sonora dá-nos uma sensação mais triste e encaixa muito bem com o tema do texto.)
Maria Beatriz Ferreira
**********************************
Alemanha, 1943
Durante muito tempo não escrevi aqui,
aconteceram tantas coisas que nem palavras para descrever tenho.
Separaram-me da minha família e não sei
para onde os levaram, não sei se estão bem, não sei se estão num dos edifícios
de cuidados, não sei sequer se estão vivos. Vivo numa tremenda angústia por
esta mesma razão, por não saber nada. Separaram-me também do meu amor, dele
também não sei nada e todas estas dúvidas que passam pela minha cabeça
deixam-me cada vez mais fraca, sem forças para continuar a trabalhar e a lutar.
Sinto-me cada vez pior, e cada vez mais
percebo que não vai haver saída desta tortura, que nunca iremos conseguir pôr
fim a esta situação. Mas também, quem o conseguiria? Os nazis matam metade do
nosso povo, prendem e censuram tudo e todos os que não estão de acordo com as
suas práticas, por isso, quem conseguiria pôr fim ao “fim”?
Sempre tive muito medo da morte em si,
sempre tive medo de morrer e deixar as pessoas que mais precisam de mim para
trás, mas, passado tanto tempo trancada nesta prisão, passado tanto tempo a ser
escravizada, maltratada, somente por ser judia, já não tenho medo de nada.
Ver todo o meu povo a ser torturado, a
ser obrigado a trabalhar até cair para o lado, tornou-se uma coisa normal, e
não tenho como exprimir a tristeza que isto me dá. Ver simples e honestas
pessoas como eu, como a minha família, como o meu amor nestas condições…
Ninguém merece passar por isto.
Faria tudo para poder salvar a minha
família e o meu amor deste inferno que a vida nos deu. Faria de tudo para poder
ver a minha família e o meu amor só mais uma vez. Faria de tudo para poder
despedir-me deles e dizer-lhes o quanto os amo, o quanto preciso deles para
continuar a lutar.
Hoje percebi que já não tenho medo da morte e sinto-a mais perto a cada dia que passa.
(Se tivesse de escolher uma música para acompanhar o meu texto, escolheria o tema «Another Love», de Tom Odell. Escolheria esta música pois, no meu entender e no meu ponto de vista, fala de tudo o que o compositor gostaria de fazer pela pessoa que ama se assim o conseguisse e se tivesse força suficiente para o mesmo.)
Mariana Costa
**********************************
Querido diário,
Hoje escrevo-te para contigo
partilhar todas as emoções e sentimentos que experiencio, quando penso num
período que ainda hoje me assombra, o terrível holocausto.
Vivia em Varsóvia, com os meus pais e
o meu irmão, numa casa harmoniosa onde a luz entrava e trazia-nos paz e amor
para o interior de todos nós. Lembro-me de ter 15 anos e ser uma menina que
gostava de brincar na rua com os amigos e vizinhos, de ler, de desenhar, mas
especialmente de escrever. Escrever, para mim, era uma forma de contornar os
obstáculos como a água contorna as pedras que estão no leito do rio. Era feliz,
muito sorridente e adorava a vida que tinha naquela altura. Era tudo perfeito!
No ano de 1942, começaram as
primeiras deportações para os horríveis campos de concentração e chegou a nossa
vez. Foi a 22 de julho do mesmo ano que eu e minha mãe fomos separadas dos
homens da família e levadas num comboio que, supostamente, nos levaria para
fora do horror que estava a acontecer na Alemanha, mas estávamos enganadas. Foi
dentro de 4 paredes de madeira, com somente uma janela e quase como sardinhas
em lata que fomos levados para Auschwitz.
Quando
chegámos havia duas filas, não fazia ideia do que seria, mas viria a perceber
que havia a fila onde estavam as crianças, os idosos e as pessoas incapazes de trabalhar
que iam para as câmaras de gás, para serem eliminadas, e a fila das pessoas que
estavam em boa forma para trabalharem. Foi onde eu fiquei, sem a minha mãe! Se
ficássemos as duas juntas seria muito mais fácil ultrapassar o terror que nos
esperava, mas não nos foi concedido esse consolo!
Quando
cheguei à entrada, cabisbaixa, pediram-me o meu nome de forma muito rude,
puxaram-me por um braço e começaram-me a picá-lo. Era o meu número, “187321”, que irá ficar marcado na minha pele até ao
final da minha vida. E logo de seguida raparam-me o cabelo, e mais tarde vim a
saber que servia para fazerem tecido e venderem.
Fui levada para uma espécie de camarata onde as camas eram
simplesmente madeira e dormíamos três a quatro pessoas na mesma. Era horrível,
desde o momento que entrei até ao momento em que saí, passei fome e fiquei
extremamente magra, pois a única coisa que nos davam para comer era uma fatia
de pão e uma sopa semelhante a um copo de água. Passávamos também imenso frio e
isso tudo levava a doenças, como a pneumonia e a anorexia, que por vezes eram
como se não existissem, porque diziam que como estávamos fracos éramos
dispensados e eliminados através das câmaras de gás. Sofríamos de maus tratos durante
o dia, quando trabalhávamos nos nossos postos, e até de noite. Durante a noite
a casa de banho era um simples balde, que, se estivesse cheio devido ao uso das
colegas da camarata, não podíamos utilizar mais. Se quando acordássemos de
manhã, a KAPO e os guardas SS descobrissem que, por exemplo, tentámos fugir, éramos
obrigadas a ser nós a despejar os dejetos e se percebessem que tinha sido algo mais
grave, os dejetos poderiam ser despejados no nosso corpo.
Enquanto estive no campo, o meu trabalho era no Canadá, local
para onde iam todos os pertences retirados aos prisioneiros, e eu tinha que os
separar e colocá-los num armazém. Foi graças a isso que também consegui sobreviver,
por vezes colocava pertences, debaixo da roupa interior ou até debaixo da
língua, que achava que podiam ser trocados por comida para me alimentar.
Havia dias em que, devido à chegada de muitos prisioneiros,
tínhamos de ficar no Canadá até mais tarde e, sempre que saíamos,
questionava-me porque é que à noite havia um cheio horrível. Um dia perguntei
às minhas colegas de trabalho se sabiam, responderam-me que era durante a noite
que os prisioneiros iam para as câmaras de gás e eram queimados. Fiquei cheia
de medo, mas também com compaixão das pessoas e das famílias que eram sujeitas àquele
tipo de crueldade.
A vida continuou assim até 1945, mais precisamente a 27 de
Janeiro, quando se deu a libertação, através das tropas soviéticas, do Campo de Concentração e Extermínio de Auschwitz. Foi aí que saímos à rua,
foi aí que voltámos a ter a nossa liberdade, a ver o sol na realidade e agora
vinha a reconstrução das nossas vidas. Foi muito complicado voltar a construir
uma vida completamente do zero, não tinha mãe e nem sequer sabia do paradeiro
dos homens da minha família. Só tinha uma solução, ir à procura dos meus tios
que viviam perto da minha antiga casa em Varsóvia e consegui. Eles ajudaram-me
a reconstruir uma vida após o horror que tinha passado. Foi muito difícil ultrapassar
os primeiros tempos, tive muito medo pois tudo se tinha passado há
relativamente pouco tempo e tinha deixado marcas muito pesadas.
Hoje, apesar de já
estar muito velhinha, quero cada vez mais transmitir à humanidade os tempos
horríveis e marcantes pela negativa, pelos quais eu e muitas mais pessoas passámos.
Além de querer mostrar o que foi viver num campo de concentração, quero apelar
a que sejam pessoas atentas e cada vez mais desconfiadas com o que se passa no
nosso mundo, pois mais tarde vim a descobrir que mesmo ao lado de campos de
concentração havia aldeias e os habitantes nem faziam ideia do que se passava
mesmo debaixo do nariz deles.
Lembrem-se sempre que um campo que pode ser verdejante e que
provavelmente traz paz e harmonia para as pessoas que usufruem dele, pode
passar a ser um campo cheio de crueldade, maldade, horror e memórias
terríveis.
Deixo escrito neste papel um pouco da minha inquietação
quando penso naquela que foi uma das épocas mais marcantes da história. Só me
resta agradecer ao meu diário. Obrigada por me ouvires e ajudares a desabafar
as minhas vivências durante este período que tenho esperança que nunca mais
volte a acontecer.
Anna
Polka
15
Março 2023
(Banda sonora: https://youtu.be/rbxBla_FWsc?si=KjvYKXNMuc8KLD6p
Escolhi
esta banda sonora por me trazer calma, harmonia e serenidade, tudo o que eu
queria que houvesse se tivesse vivido na altura do Holocausto. Além disso,
tenho uma grande paixão por tocar piano e pelo filme “O pianista” também
centrado no mesmo tema que este trabalho, por isso, na minha opinião, não havia
melhor banda sonora do que a que escolhi.)
Mariana Loureiro
**********************************
Querido Pai,
Escrevo esta carta
com o coração pesado, enquanto procuro palavras que transmitam o sofrimento que
vivenciamos nas mãos dos nazis. A escuridão da opressão abateu-se sobre nós,
tirou-nos a nossa liberdade, dignidade e muitos dos que mais amávamos.
No meio deste caos,
encontramos força para resistir e preservar a esperança. Cada dia é uma batalha
pela sobrevivência, um desafio para manter a humanidade diante da desumanidade.
Compartilhamos histórias em sussurros, unindo-nos na solidariedade que nos
mantém vivos.
Que esta carta
chegue até ti num momento de relativa segurança e te traga consolo. Mantém a fé
na justiça, mesmo quando a escuridão parece interminável. As nossas histórias
não podem ser apagadas, e o amor e a compaixão continuarão a ser as nossas
armas contra a intolerância.
Com carinho e
esperança,
Teresa
(Marta Luís)
**********************************
[Diário
de um Sobrevivente Português durante o Holocausto]
24
de fevereiro de 1944
Ora
bem, mais um dia que parece ser o pior da minha vida, no entanto, muitos mais
virão, iguais ou piores, visto que aqui nada é como o meu rico Portugal...ainda
nem sei como é que vim aqui parar, no entanto, tenho bastantes saudades da
minha pátria, que mesmo estando tão longe e provavelmente tendo pouco tempo de
vida, às vezes sinto tão próxima.
O
dia começou com a rotina habitual no campo de concentração. O frio penetrante entranhava
se nos nossos corpos desnutridos, tendo de fazer uma longa caminhada pela neve
até chegar ao local em que trabalhávamos, onde os meus pés descalços sentiam
cada pedra e pedaço de gelo. E a fome... ah a fome, fazia-me sentir como um
animal faminto, que consumia as minhas forças e esperanças.
Ao
chegar ao campo de trabalho, deparei-me com homens que pareciam esqueletos a
trabalhar até à exaustão em condições que nenhum ser humano deveria enfrentar.
Os olhares vazios, os corpos pálidos, eram uma visão que me deixou realmente
traumatizado, e que daqui a uns dias poderia vir a ser eu.
À
noite, o cheiro pesado da morte preenchia o ar, não havendo luto, apenas a
resignação silenciosa daqueles que perderam tudo, mulheres e filhos que neste
momento podiam estar a ser usados como cobaias para fins medicinais ou até
estrupados por almas cruéis que vivem neste mundo...neste momento, a morte
parece ser o caminho mais pacífico que existe.
Lágrimas
caem enquanto escrevo estas palavras, não apenas por mim, mas por todas aquelas
almas cujo futuros e histórias se perderam nas cinzas. Em cada esquina deste
campo de desespero, vejo a crueldade humana no seu auge...nunca pensei que algo
chegasse a este nível, no entanto, espero que as minhas palavras um dia sirvam
como uma lembrança deste acontecimento de forma a não se voltar a repetir,
imaginem que numa destas vidas estava o próximo Albert Einstein ou até a cura
de uma doença mortal.
Mas
com estas palavras deixo este dia atormentador, que amanhã é outro e
provavelmente terá mais sofrimento.
Sandro Pereira