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sábado, 1 de abril de 2017

Autor do mês de abril - Milan Kundera



MILAN KUNDERA


São precisamente as perguntas para as quais não há resposta que marcam os limites das possibilidades humanas e que traçam as fronteiras de nossa existência.
(
A alma e o corpo, de A insustentável leveza do ser)
Sim, é louco. O amor ou é louco ou então não é nada. (A Vida Está Noutro Lugar)
A vida é a memória do povo, a consciência coletiva da continuidade histórica,
a maneira de pensar e de viver.
Milan Kundera nasceu no dia 1 de abril de 1929, em Brno, na então Checoslováquia, hoje República Checa, no seio de uma família erudita da classe média. Kundera aprendeu a tocar piano com o seu pai, Ludvik Kundera, musicólogo e pianista da Academia Musical de Brno. Muitas podem ser as referências musicológicas encontradas na sua obra literária.
Depois de terminar os estudos secundários, em 1948, Kundera começou a estudar literatura e estética na Faculdade de Artes da Universidade Charles, curso que a certa altura trocou pelo de Cinema, na Academia de Artes Performativas de Praga, onde iniciou a sua aprendizagem em direção cinematográfica e na produção de guiões.
Em 1950, a sua atividade política obrigou-o a interromper os estudos e levou à sua expulsão do Partido Comunista Checo, onde seria readmitido em 1956.
Kundera usou este incidente como inspiração para o tema principal de seu primeiro romance, A Brincadeira, de 1967. Pelo seu envolvimento na “Primavera de Praga” e pelas críticas à invasão soviética em agosto de 1968, foi novamente expulso do Partido. Após a publicação de O Livro dos Amores Risíveis, em 1969, pelo qual recebeu o Prémio da União dos Escritores Checoslovacos, foi vítima da repressão soviética, os seus livros foram proibidos e perdeu o direito de publicar.
Em 1975 foi viver para França, sendo cidadão francês desde 1980, depois de lhe ter sido retirada a nacionalidade checoslovaca, como consequência da publicação em França de O Livro do Riso e do Esquecimento.
Apesar de a crítica ao regime comunista e à posterior ocupação soviética do seu país ser tema recorrente na sua obra, Kundera sempre afirmou publicamente que deseja ser entendido como romancista, não escritor político. É notório que o conteúdo político foi, a partir de A Imortalidade (1990), substituído pela temática filosófica.
Entre outros prémios, Milan Kundera recebeu, pelo conjunto da sua obra, o “Common Wealth Award” de Literatura (1981), o “Prémio Jerusalém” (1985) e o “Prémio Nacional de Literatura da República Checa” (2007).
Toda a sua obra, entre contos, romances, ensaios e peças de teatro, está traduzida em Portugal e publicada pelo Grupo Editorial Leya.
Foi através da publicação em Portugal, em 1988, daquela que é considerada a sua principal obra, A Insustentável Leveza do Ser, que Milan Kundera se tornou conhecido do público português. O livro é como uma grande crónica acerca da frágil natureza do destino, do amor e da liberdade humana. Mostra como uma vida é sempre um rascunho de si mesma, como nunca é vivida por inteiro, como o amor pode ser frágil e como é impossível de repetir-se.
Sobre o fundo real da história da Checoslováquia antes e após a “Primavera de Praga”, o romance acompanha os amores e os desamores de quatro pessoas: Tomas, Tereza, Sabina e Franz.
Nele encontramos conteúdos essencialmente filosóficos, tais como a questão da Leveza e do Peso, partindo da obra de Parménides, mas deslocando Kundera a dualidade do peso e da leveza para uma perspetiva existencialista, aliando-a ao problema da liberdade humana: a leveza decorre de uma vida levada sob o signo da liberdade descomprometida, aproximando-se, nesse sentido, das ideias de Jean-Paul Sartre sobre a condição humana. O personagem Tomas é a metáfora através da qual Kundera ilustra as consequências existenciais do compromisso da liberdade para com uma situação qualquer - no caso, o vínculo afetivo com Tereza. A partir de então Tomas experimenta o peso do compromisso, peso opressivo de um envolvimento qualquer, uma situação qualquer.
O Eterno Retorno é outro dos temas filosóficos presentes neste romance. Kundera entrevê na noção de Eterno Retorno da filosofia nietzschiana a escapatória para o arrependimento que pode decorrer da escolha entre a leveza e o peso, o compromisso e a liberdade pura. O argumento do Eterno Retorno assume então uma espécie de "convite à vida", com as suas alegrias e tristezas. De certa forma, a ideia do Eterno Retorno convida o homem a fazer a vida valer a pena de ser vivida, e viver cada momento como se fosse o último, pois quando este chegar e o retorno acontecer, nada de negativo será vivido novamente pelo indivíduo.
Um capítulo inteiro é dedicado à questão da atitude humana de compaixão. Sob uma perspetiva filológica, Kundera compara o sentido da expressão nas línguas latinas e nas línguas germânicas, e as implicações das diferenças desse sentido na vida psicológica e sentimental dos indivíduos. Enquanto as derivações latinas da palavra compaixão significam simplesmente piedade, um sentimento que se impõe quando um indivíduo está em posição de superioridade frente a um outro que sofre, nas línguas germânicas compaixão assume um sentido de "co-sentimento": o indivíduo que sente compaixão sofre com o seu próximo, tendo o mesmo sentimento. A metáfora utilizada para ilustrar o problema da compaixão é, mais uma vez, a relação de Tomas com Tereza. É através da compaixão que ele sente por ela que ela consegue prender-se a ele desde o primeiro momento.
Em 1988, o cineasta norte-americano Philip Kaufman realizou a adaptação cinematográfica deste romance, com Daniel Day-Lewis, Juliette Binoche, Lena Olin e Derek de Lint no elenco. O filme recebeu duas nomeações para os Óscares e reconhecimento mundial. No entanto, Kundera proibiu, a partir de então, a adaptação cinematográfica dos seus outros livros.
Obra (data da edição original)
Ficção
·         A Brincadeira (1967) (*)
·         O livro dos amores risíveis (1969)
·         A Vida Não É Aqui (1973) (*)
·         A Valsa do Adeus (1976) (*)
·         O Livro do Riso e do Esquecimento (1978) (*)
·         A Insustentável Leveza do Ser (1983) (*)
·         A Imortalidade (1990) (*)
·         A Lentidão (1995)
·         A Identidade (1997)
·         A Ignorância (2000) (*)
·         A Festa da Insignificância (2014)
Teatro
·         Jacques e o seu amo (1981)
Ensaios
·         A Arte do Romance (1986)
·         Os testamentos traídos (1993)
·         A Cortina (2005)
·         Um encontro (2009) (*)

(*) Consta do catálogo da Biblioteca do ECB.

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