“A Terra é um palco muito pequeno
numa imensa arena cósmica. (...) é um espécime solitário na grande e envolvente
escuridão cósmica (...) um pálido ponto azul. (...)
Gostemos ou não, por enquanto, a Terra é o único lugar
onde podemos viver (...).”
Carl Sagan (1990)
Quando,
em 12 de abril de 1961, o cosmonauta russo Yuri Gagarin, a bordo da nave
Vostok-1, completou uma volta em torno da Terra numa órbita a 315 km de
altitude, sendo o primeiro ser humano a viajar pelo espaço, terá comentado,
fascinado: "A Terra é azul!".
Desde
então, o nosso planeta é conhecido como “o planeta azul”, fazendo sentido as
palavras de Carl Sagan.
Em
2009, a ONU reconheceu a importância do tema da preservação do Planeta Terra e
instituiu o dia 22 de abril como Dia
Internacional da Mãe Terra, celebrado hoje em mais de 190 países, com a
participação de cerca de 1 bilião de pessoas.
O principal objetivo deste dia é consciencializar todos os povos sobre a importância e a necessidade
de conservar os recursos naturais do planeta e defender a harmonia entre todos
os seres vivos. Só assim será possível assegurar às gerações presentes e
futuras qualidade de vida ambiental, social, económica, cultural, estética.
Para o ano de 2017, o
tema das atividades é "Instrução ambiental e climática".
Como
afirmou o professor universitário e coordenador de vários
movimentos cívicos em torno de questões ambientais nacionais e internacionais Viriato Seromenho Marques, em 2016, “um dos mais seguros sinais de
civilização que hoje existe é o da qualidade do ambiente e das respetivas
políticas. Um país que trata bem da sua paisagem e dos seus recursos naturais é
um país que respeita a sua população, não só na saúde ambiental, mas também na
esfera social e dos direitos humanos em geral. Não admira que nos índices
internacionais de desenvolvimento humano, os indicadores ambientais surjam com
enorme destaque”.
Por isso, a literacia ambiental
e climática deve ser uma das competências adquiridas e trabalhadas nas escolas,
tendo em vista o estudo e a preservação do meio ambiente, da qualidade da água para consumo
humano, a proteção do litoral e dos oceanos, passando pelo ordenamento do
território, por políticas urbanas, de conservação da natureza e da biodiversidade,
energia e alterações climáticas.
Porquê
comemorar o Dia da Terra?
As origens desta
celebração remontam a 1970, quando o senador e ativista ambiental norte-americano
Gaylord Nelson propôs que o dia 22 de abril fosse consagrado à defesa do
Planeta Terra, depois de verificar as consequências do desastre petrolífero de
Santa Bárbara.
Este desastre ocorreu
no dia 28 de janeiro de 1969, depois de a rutura de um oleoduto em Santa Bárbara,
Califórnia provocar aquele que foi considerado na altura o maior desastre
ambiental de que se tinha conhecimento. Durante cerca de 10 dias, mais de 80
000 barris de petróleo (16 000 m3) foram derramados no canal de
Santa Bárbara, com consequências dramáticas para o ambiente e toda a vida
marinha da região (aves, golfinhos, elefantes e leões marinhos).
Em abril de 1970, Gaylord
Nelson organizou uma campanha de protesto, com o objetivo de colocar o tema da
preservação da Terra na agenda política norte-americana. Nesta manifestação
participaram duas mil universidades, dez mil escolas primárias e secundárias e
centenas de comunidades, num total de mais de 20 milhões de americanos que aderiram
à causa a favor da preservação da Terra e do ambiente. A pressão social teve efeitos
e o governo dos Estados Unidos criou a Agência de Proteção Ambiental
(Environmental Protection Agency) e aprovou uma série de leis destinadas à
proteção do meio ambiente.
Em 1972 realizou-se,
em Estocolmo, a primeira conferência internacional sobre o meio ambiente, com o
objetivo de sensibilizar os líderes mundiais sobre a magnitude dos problemas
ambientais e que se instituíssem as políticas necessárias para erradicá-los.
No entanto, ao longo
dos anos, continuámos a ser surpreendidos com notícias de desastres ambientais,
na maior parte das vezes causados pelo homem e, por isso, evitáveis, embora
também decorram de causas naturais. Destes, os mais dramáticos e cujas
consequências se revelam mais perduráveis são os que derivam de acidentes que
envolvem navios transportadores de petróleo.
A 24 de março de 1989,
o navio petroleiro Exxon Valdez encalhou na Enseada do Príncipe Guilherme
(Prince William Sound), na costa do Alasca, derramando cerca de 750 000 barris
de petróleo (41 000 m3) e provocando a morte a mais de 260 000
pássaros marinhos, 2800 lontras, 250 águias e 22 orcas, além da perda de biliões de ovos de salmão. Foi o segundo maior derramamento de petróleo da
história dos Estados Unidos.
Em 20 de abril de
2001, a plataforma petrolífera Deepwater Horizon explodiu no Golfo do México,
derramando 4,9 milhões de barris (780 000 m3) e causando a morte de
11 pessoas, sendo até hoje considerado o maior desastre petrolífero da
História. Não foi possível extinguir o incêndio provocado e, dois dias depois,
a 22 de abril, a plataforma afundou-se. Depois de muitas tentativas
infrutíferas para estancar o fluxo petrolífero, só em 2010 o poço foi declarado
encerrado. Apesar disso, em 2013 ainda foram retiradas cerca de 2200 toneladas
de crude das praias e continuou a registar-se a morte ou a deformação genética
de muitos animais marinhos como consequência do derrame.
Bem
perto de Portugal, na costa da vizinha Galiza, em novembro de 2002 começou a
maior catástrofe ambiental até então registada nesta costa atlântica: o
afundamento do petroleiro Prestige e
posterior derramamento de milhares de toneladas de fueloil. O navio
transportava cerca de 77 mil toneladas de fueloil e um dos seus 12 tanques
rebentou durante uma tempestade nas costas da Galiza. A partir daquele momento,
e até ao seu afundamento, estima-se que foram derramadas mais de 5000 toneladas
de fueloil.
O
governo espanhol, temendo uma rutura no tanque e um derramamento de petróleo na
costa da Galiza, decidiu manter o Prestige
ao largo da costa galega. Durante cinco dias o navio fica à deriva no Oceano Atlântico,
deixando, atrás de si, um rasto de combustível.
Na manhã de 19 de Novembro, o barco partiu-se em dois, a cerca de 250 km
da costa da Galiza, tendo-se afundado, o que provocou um incremento no volume
da mancha negra.
Após
o afundamento, o Prestige continuou a
libertar cerca de 125 toneladas de fueloil por dia, contaminando o fundo do mar
e a linha de costa, especialmente ao longo da Galiza. No leito do Atlântico, a
3600 metros abaixo do nível do mar, o Prestige
continuou a largar combustível até agosto de 2003.
Um
ano depois do acidente, um relatório da organização ambientalista internacional
WWF - World Wildlife Fondation quantificou em pelo menos 64 mil toneladas a
quantia de fuelóleo libertada para o mar e, dessas, entre cinco a dez mil
continuavam à deriva.
Só
nos três meses a seguir ao acidente foram recolhidas em Portugal 439 aves
marinhas atingidas pela maré negra, das quais 186 ainda vivas, que foram
enviadas para tratamento.
A pesca foi também
prejudicada pelo desastre ecológico, não só em Espanha, mas também em Portugal,
pois muitos consumidores recearam que o peixe e marisco pudessem estar
contaminados e a procura diminuiu consideravelmente, afetando em muito a
economia da região.
Para mais informações, consultar:
A Carta da Terra
Em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas idealizou um documento para defender os
interesses sustentáveis, a paz e a justiça socioeconómica, uma espécie de código de ética planetário, semelhante à
Declaração Universal dos Direitos Humanos, só que voltado à sustentabilidade, à
paz e à justiça socioeconómica. Este documento, conhecido como a Carta da Terra, ganhou impulso na Cimeira da Terra, realizada no Rio de Janeiro, em 1992. O documento ficou concluído em 2000, foi traduzido para 40 idiomas e é atualmente apoiado por 4,6 mil
organizações em todo o mundo.
A erradicação da pobreza, com acesso à água potável, ao ar
puro e à segurança alimentar, e a construção de sociedades democráticas,
sustentáveis e justas são dois princípios expressos pela Carta da Terra, que
também defende a promoção de uma cultura de tolerância e não-violência e a
distribuição equitativa dos recursos da Terra.
Para conhecer a Carta da Terra, consultar:
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