O Dia de Portugal, de Camões e das
Comunidades Portuguesas celebra o dia 10 de Junho de 1580, data da morte de
Camões, sendo também o dia dedicado ao Santo Anjo da Guarda de Portugal, também
conhecido por Anjo Custódio de Portugal ou por Anjo da Paz, uma das designações
atribuídas a São Miguel Arcanjo que representa "Portugal", ou seja, a
essência espiritual na figura de um arcanjo que protege a nação portuguesa.
Foi
a pedido do rei D. Manuel I de Portugal que, em 1504, o Papa Júlio II instituiu
a festa do «Anjo Custódio do Reino» cujo culto já seria antigo em Portugal. Este
anjo terá surgido pela primeira vez na Batalha de Ourique, em 1139, e a sua
devoção terá dado a vitória às forças de D. Afonso Henriques sobre os muçulmanos,
o que lhe permitiu autoproclamar-se rei de Portugal. Esta devoção dos
portugueses ao Santo Anjo da Guarda de Portugal quase desapareceu depois do
séc. XVII, mas seria restaurada em 1952, quando o Papa Pio XII determinou a sua
inclusão no Calendário Litúrgico português para comemorar o dia de Portugal no
10 de junho.
Nas
suas Memórias, a Irmã Lúcia referiu
que, nas aparições de Fátima, entre maio e outubro de 1917, teria também aparecido
por três vezes um anjo aos três pastorinhos, convidando-os à oração e
penitência, e afirmando ser o "Anjo da Paz, o Anjo de Portugal".
Durante
o Estado Novo, de 1933 até 25 de abril de 1974, o dia 10 de junho era celebrado
como o "Dia da Raça".
Após
a revolução do 25 de abril de 1974, a celebração do dia passou a prestar
homenagem a Portugal, a Camões e às
Comunidades Portuguesas, e também à Língua Portuguesa e ao cidadão
nacional.
Neste dia o Presidente
da República e altas individualidades do Estado participam em cerimónias de
comemorações, que decorrem em cidades diferentes todos os anos. Anualmente são também
distinguidas e condecoradas individualidades pelo seu trabalho em nome da nação.
Dia de Camões
Camões, por Fernão Gomes (ou Hernán Gómez Román),
pintor português de origem espanhola.
pintor português de origem espanhola.
Luís Vaz de Camões (1524-1580), considerado o maior
representante do Classicismo Português, foi o autor do poema Os Lusíadas, uma das obras mais importantes
da literatura portuguesa, que celebra os feitos marítimos e guerreiros de
Portugal.
Luís
de Camões nasceu em Coimbra ou Lisboa, não se sabe o local exato nem o ano de
seu nascimento, supõe-se que por volta de 1524. Era filho de Simão Vaz de Camões
e Ana de Sá e Macedo, ingressou no Exército da Coroa de Portugal e em 1547
embarcou como soldado para a África, onde perde o olho direito durante um
combate em Marrocos.
Em
1552, de volta a Lisboa, frequentou tanto os serões da nobreza como as noitadas
populares. Numa contenda, terá ferido um servo do Paço e foi preso. Perdoado,
partiu para o Oriente, em 1553, onde participou em várias expedições militares.
Em 1570, voltou para Lisboa, já com os manuscritos do poema Os Lusíadas, que foi publicado em 1572,
com a ajuda do rei D. Sebastião, de quem recebeu uma pequena pensão pelos
serviços prestados à Coroa.
O
poema Os Lusíadas funde elementos
épicos e líricos e sintetiza as principais marcas do Renascimento Português: o
humanismo e as expedições ultramarinas. Inspirado em A Eneida, de Virgílio, narra factos heroicos da história de
Portugal, em particular a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco
da Gama.
Luís
de Camões é o poeta erudito do Renascimento, inspirado em canções ou trovas
populares, e escreve poesias que lembram as cantigas medievais.
A sua
produção divide-se em três géneros: o lírico, o teatral e o épico, sintetizado em
Os Lusíadas.
“As armas e os barões assinalados
Que, da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram.
[…]
Cantando espalharei por toda a
parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e
arte”
A maior parte da obra
lírica de Camões é composta por sonetos e redondilhas. Dispersa em manuscritos,
foi reunida e publicada postumamente em 1595 com o título de Rimas.
“Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo
amor?”
A sua produção no género
teatral resume-se a três obras, todas no género da comédia e no formato de
auto: El-Rei Seleuco, Filodemo e Anfitriões.
Luís
Vaz de Camões morreu em Lisboa, no dia 10 de junho 1580, em absoluta pobreza.
A
identificação de Camões e da sua obra como símbolos da nação portuguesa data
provavelmente do início da monarquia dual de Filipe II de Espanha, pois o
monarca teria entendido que seria de interesse prestigiá-los como parte de sua
política para assegurar a legitimidade do seu reinado sobre os portugueses, o
que justifica a sua ordem de imprimir duas traduções em castelhano de Os Lusíadas em 1580, pelas universidades
de Salamanca e Alcalá de Henares, e sem as submeter à censura eclesiástica.
Luís
de Camões representava o génio da pátria na sua dimensão mais esplendorosa,
significado que os republicanos atribuíam ao 10 de Junho. Em 1880, com as
comemorações do tricentenário da morte de Camões, os republicanos de Lisboa
tentaram invocar a glória das comemorações camonianas, uma das primeiras
manifestações das massas republicanas em plena monarquia. No entanto, nos
primeiros anos da República foi um feriado exclusivamente municipal..
Durante o Estado Novo
(1933-1974), o 10 de Junho como Dia de Camões foi particularmente exaltado e passou
a ser festejado a nível nacional.
Dia das Comunidades
Até
ao 25 de Abril de 1974, o 10 de Junho era conhecido como o Dia de Camões, de
Portugal e da Raça, este último epíteto criado por Salazar na inauguração do
Estádio Nacional do Jamor em 1944. A partir de 1963, o 10 de Junho transformou-se
também numa homenagem às Forças Armadas Portuguesas, numa exaltação da guerra e
do poder colonial.
Após
o 25 de abril de 1974, uma filosofia e ideologia diferentes converteram este
dia no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em 1978. Desde
2013, a comunidade autónoma da Extremadura espanhola festeja também este dia.
As
comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas são
celebradas por todo o país, mas só as Comemorações Oficiais são presididas pelo
Presidente da República, envolvendo diversas cerimónias militares, exposições,
concertos, cortejos e desfiles, além de uma cerimónia de condecorações feita
pelo Presidente da República.
Desde
1977 dezenas de cidades já receberam as comemorações, oito delas não são
capitais de distrito. Todos os anos, o Presidente da República Portuguesa elege
uma cidade para ser sede das comemorações oficiais. Em 2016, as comemorações
oficiais decorreram pela primeira vez em duas cidades ao mesmo tempo: Lisboa e
Paris. Foi também a primeira vez que as comemorações oficiais aconteceram numa
cidade fora do país. Em 2017, as comemorações ocorrem em Portugal na cidade do
Porto e nas cidades brasileiras do Rio de Janeiro e de São Paulo.
O
Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, é comemorado um pouco
por todo o mundo pelos milhões de luso-descendentes e também pelos cerca de 5
milhões de emigrantes portugueses que vivem fora de Portugal.
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