No
mês em que se comemora o centenário do seu nascimento, prestamos homenagem a um
dos grandes nomes da literatura portuguesa.
Romancista,
ensaísta, poeta, pintor e também médico, Fernando
Namora nasceu em Condeixa-a-Nova, no dia 15 de abril de 1919, e morreu em
Lisboa, a 31 de Janeiro de 1989.
Fez
a escola primária em Condeixa, iniciou o liceu em Coimbra, terminado depois em
Lisboa, no Liceu Camões, a Coimbra voltaria para ingressar no curso de
Medicina.
O
seu volume de estreia foi Relevos,
livro de poesia, a que se seguiu o romance As
Sete Partidas do Mundo, ambos publicados em 1938, ainda estudante de
Medicina na Universidade de Coimbra (curso que terminaria em 1942). Com As Sete Partidas do Mundo viria a ser receber
o Prémio Almeida Garrett, no mesmo ano em que recebe o Prémio Mestre António
Augusto Gonçalves, de artes plásticas - na categoria de pintura.
Ainda
estudante e com outros companheiros de tertúlia em Coimbra, fundou a revista Altitude e envolveu-se no projeto do Novo Cancioneiro, coleção poética de 10
volumes que se inicia com o seu livro-poema Terra
(1941), assinalando o advento do neorrealismo, ponto de viragem na literatura
portuguesa.
Em
1943, o romance Fogo na Noite Escura
é publicado na coleção dos Novos Prosadores, pela Coimbra Editora, coleção que
reunirá romances como Casa na Duna,
de Carlos de Oliveira, Onde Tudo Foi
Morrendo, de Vergílio Ferreira, Nevoeiro,
de Mário Braga ou O Dia Cinzento, de
Mário Dionísio, entre outros.
O exercício
da profissão médica, primeiro na sua terra natal, depois na Beira Baixa (em Tinalhas,
concelho de Castelo Branco, e Monsanto, concelho de Idanha-a-Nova) e no Alentejo
(Pavia), e, a partir de 1951, em Lisboa, como médico assistente do Instituto
Português de Oncologia, reflete-se em muitos dos textos que escreveu: com uma
grande capacidade de análise social e psicológica, Fernando Namora
apresenta-nos retratos com aspetos de picaresco, observações naturalistas e
existencialistas.
A
sua obra pode ser dividida e sistematizada em fases distintas de criação literária:
(1)
o ciclo de juventude, principalmente
enquanto estudante em Coimbra, coincidente com o livro-poema Terra e o romance Fogo na Noite Escura;
(2)
o ciclo rural, entre 1943 e 1950,
representado pelas novelas Casa da Malta
e Minas de San Francisco, ou pelos
romances A Noite e a Madrugada, O Trigo e o Joio e ainda Retalhos da Vida de um Médico;
(3)
o ciclo urbano, coincidente com a
sua vinda para Lisboa, marcado pela solidão e vivências do quotidiano, e que se
terá refletido nos romances O Homem Disfarçado,
Cidade Solitária ou Domingo à Tarde;
(4)
o ciclo cosmopolita, entre finais
dos anos 60 e durante a década de 70, explicado pelas muitas viagens que fez;
(5)
o ciclo final, entre a ficção
contemporânea, onde se inserem os romances O
Rio Triste ou Resposta a Matilde,
e as reflexões íntimas de Jornal sem Data.
Várias
das obras de Fernando Namora foram adaptadas ao cinema ou para televisão, tais
como Retalhos da Vida de um Médico,
talvez uma das suas obras mais conhecidas e a primeira a ser adaptada ao
cinema, pelo realizador Jorge Brum do Canto (em 1962), seguindo-se a série
televisiva, dirigida por Artur Ramos e Jaime Silva (1979-1980). O Trigo e o Joio foi adaptado para o
cinema em 1965, por Manuel Guimarães. Domingo
à Tarde foi realizado por António de Macedo em 1965 e contou com atores
como Isabel de Castro, Ruy de Carvalho e Isabel Ruth. Em 1975, surge Fernando Namora – Vida e Obra, realizado
por Sérgio Ferreira. A Noite e a
Madrugada deve a sua realização a Artur Ramos, em 1985. Resposta a Matilde, de 1986, foi
adaptado a televisão por Dinis Machado e Artur Ramos, com a participação de
Raúl Solnado e Rogério Paulo. Em 1990, Vítor Silva realiza a curta-metragem O Rapaz do Tambor.
Fernando
Namora morreu em Lisboa, no dia 31 de Janeiro de 1989. Foi sepultado no Talhão
dos Artistas do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
Obras
(*) incluídas no catálogo da Biblioteca do ECB
As
Sete Partidas do Mundo, romance, 1938 (*)
Terra,
romance, 1941
Fogo
na Noite Escura, romance, 1943 (*)
Casa
da Malta, romance, 1945 (*)
Minas
de San Francisco, romance, 1946 (*)
Retalhos
da Vida de um Médico, narrativas / primeira série, 1949 (*)
A
Noite e a Madrugada, romance, 1950 (*)
Deuses
e Demónios da Medicina, biografias romanceadas, 1952 (*)
O
Trigo e o Joio, romance, 1954 (*)
O
Homem Disfarçado, romance, 1957 (*)
Cidade
Solitária, narrativas, 1959 (*)
As
Frias Madrugadas, poesia / antologia, 1959 (*)
Domingo
à Tarde, romance, 1961 (*)
Retalhos
da Vida de um Médico, narrativas / segunda série, 1963 (*)
Diálogo
em Setembro, crónica romanceada, 1966 (*)
Um
Sino na Montanha, cadernos de um escritor, 1968 (*)
Marketing,
poesia, 1969 (*)
Os
Adoradores do Sol, cadernos de um escritor, 1971 (*)
Os
Clandestinos, romance, 1972 (*)
Estamos
no Vento, narrativa literário-sociológica, 1974 (*)
A
Nave de Pedra, cadernos de um escritor, 1975 (*)
Cavalgada
Cinzenta, narrativa, 1977 (*)
Encontros,
entrevistas, 1979 (*)
Resposta
a Matilde, divertimento, 1980 (*)
O
Rio Triste, romance, 1982
Nome
para uma Casa, poesia, 1984
URSS
mal amada, bem amada, crónica, 1986
Sentados
na Relva, cadernos de um escritor, 1986
Jornal
sem Data, cadernos de um escritor, 1988
Prémios e honras
Prémio
Ricardo Malheiros (1953)
Medalha
de Ouro da "Societé d'Encouragement au Progrés" (1979)
Grande
Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (1979)
Prémio
D. Dinis (1982)
Para saber mais sobre a vida e a obra de Fernando Namora, consultar:
http://ensina.rtp.pt/artigo/fernando-namora-retalhos-da-vida-de-um-medico-escritor/
https://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=232
https://www.publico.pt/2013/08/09/jornal/retalhos-do-artista-enquanto-medicoescritor-26934868
Casa-Museu de Fernando Namora, em Condeixa
A
casa-museu de Fernando Namora, em Condeixa (a casa onde nasceu, inaugurada em
1990), sublinha as três facetas de Namora: o escritor, simbolizado no seu
escritório, a sua poltrona de pele, a secretária e a máquina de escrever,
ídolos e amigos na parede (Jorge Amado) e prémios literários, condecorações,
primeiras edições e dedicatórias. Mas também o médico e o pintor.
Em Monsanto, a casa onde exerceu
atividade como médico municipal
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