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sábado, 12 de outubro de 2019

Afonso Reis Cabral – Prémio Literário José Saramago 2019


Com apenas 29 anos, o escritor Afonso Reis Cabral foi galardoado no dia 8 de outubro com o Prémio José Saramago pela obra Pão de Açúcar, depois de em 2014 ter recebido o Prémio Leya e em 2017 o Prémio Europa David Mourão-Ferreira, pelo romance O meu irmão.
Pão de Açúcar é um livro que retrata um caso verídico que aconteceu no Porto, o caso real da vida de Gisberta Salce Júnior, sem-abrigo transsexual assassinada na cidade do Porto, em 2006, depois de sucessivos atos de violência e na sequência de um ataque, perpetrado por jovens entre os 12 e os 16 anos, à guarda da instituição católica Oficina de São José.


Prémio Literário José Saramago
O Prémio Literário José Saramago, instituído pela Fundação Círculo de Leitores em 1999, celebra a atribuição do Prémio Nobel da Literatura de 1998 ao escritor português José Saramago, tem uma periodicidade bienal e o valor pecuniário do prémio é de 25 mil euros. É atribuído a uma obra literária, ficção, romance ou novela, escrita por jovens autores em língua portuguesa e publicada em qualquer país da lusofonia nos dois anos anteriores à atribuição do galardão, cuja primeira edição tenha sido publicada num país da lusofonia.

Depois da atribuição do Prémio aos autores Paulo José Miranda (1999, Natureza Morta, Portugal), José Luís Peixoto (2001, Nenhum Olhar, Portugal), Adriana Lisboa (2003, Sinfonia em Branco, Brasil), Gonçalo M. Tavares (2005, Jerusalém, Portugal), Valter Hugo Mãe (2007, O Remorso de Baltazar Serapião, Portugal), João Tordo (2009, As Três Vidas, Portugal), Andréa del Fuego (2011, Os Malaquias, Brasil), Ondjaki (2013, Os Transparentes, Angola), Bruno Vieira Amaral (2015, As Primeiras Coisas, Portugal), Julián Fuks (2017, A Resistência, Brasil), o júri do Prémio José Saramago, presidido pela editora Guilhermina Gomes e do qual fizeram também parte a poetisa angolana Ana Paula Tavares, o autor português António Mega Ferreira, a escritora brasileira Nélida Piñon e a presidente da Fundação Saramago, Pilar del Rio, decidiu reconhecer em 2019 Afonso Reis Cabral e a obra Pão de Açúcar, editada em2018.


Afonso Reis Cabral
Afonso Reis Cabral nasceu em 1990, escreve desde os nove anos e em 2005 publicou o livro Condensação, no qual reuniu poemas escritos até aos 15 anos. Licenciou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (tendo recebido o Prémio Mérito e Excelência atribuído ao melhor aluno do curso), fez mestrado na mesma área e tem uma pós-graduação em Escrita de Ficção.
Entre Abril e Maio de 2019, percorreu Portugal a pé ao longo dos 738,5 quilómetros da Estrada Nacional 2, tendo registado essa viagem no livro Leva-me Contigo. Nos tempos livres, dedica-se à ornitologia, faz Scuba Diving e pratica boxe.
Ainda estudante, começou a trabalhar como revisor freelancer, recebeu uma proposta de trabalho da Editorial Presença, onde seria coordenador do departamento de revisão, orientando trabalhos e distribuindo revisões para os revisores freelancers. Mais tarde, uma oportunidade de emprego na editora Alêtheia permitiu-lhe passar pelas várias fases do processo de edição, revisão, comunicação e até produção.



Em 2014, Afonso Reis Cabral, por decisão unânime do júri, ganhou o Prémio LeYa com O Meu Irmão, considerado “um romance notável e de grande maturidade literária que, tratando o tema sensível da deficiência, nunca cede ao sentimentalismo, oferecendo-nos um retrato social objetivo e muitas vezes até impiedoso."
O meu irmão é a história de Miguel, de 40 anos, que nasceu com síndrome de Down, e o irmão, um ano mais velho, professor universitário divorciado e misantropo e que, após a morte dos pais, se confronta com a questão de saber com quem fica Miguel, surpreendendo (e até certo ponto alivia) a família, ao chamar a si a grande responsabilidade. A recordação do afeto e da cumplicidade que ambos partilharam na infância leva-o a acreditar que a nova situação acabará por resgatá-lo da aridez em que se transformou a sua vida e redimi-lo da culpa por tantos anos de afastamento. Numa casa de família, situada numa aldeia isolada do interior de Portugal, assistimos à rememoração da vida em comum destes dois irmãos, incluindo o estranho episódio que ameaçou de forma dramática o seu relacionamento.
Encontra-se em tradução em Espanha e já foi publicado no Brasil e em Itália.

Prémio Europa David Mourão-Ferreira
Em 2017, Afonso Reis Cabral recebeu o Prémio Europa – Cátedra David Mourão-Ferreira, escolhido na categoria de Promessa, que tem por objetivo galardoar uma personalidade emergente no campo artístico. Atribuído pelo Centro Studi Lusofoni – Cátedra David Mourão-Ferreira da Universidade de Bari “Aldo Moro” e do Instituto Camões, e cujo júri é presidido por Eduardo Lourenço, este prémio foi criado em homenagem ao autor de “Um Amor Feliz”, com o objetivo de contribuir para divulgação da língua e da cultura portuguesas nos países da União Europeia e do Mediterrâneo.

No mesmo ano, António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, foi distinguido na categoria Mito, que visa “galardoar a carreira de uma personalidade eminente da cultura lusófona que se tenha distinguido no campo das letras, das artes e da política”.


Pão de Açúcar
Em fevereiro de 2006, Gisberta Salce Júnior foi vítima de múltiplas agressões por parte de 14 rapazes. O seu fim, no fundo de um poço num edifício abandonado no Porto – conhecido como Pão de Açúcar – despertou a atenção do país. Tanto pela identidade complexa de Gisberta, como pelas circunstâncias da morte, a história chocou e revoltou quem a ouviu ou leu. São os Bombeiros Sapadores do Porto que resgatam do poço de um prédio abandonado um corpo com marcas de agressões e nu da cintura para baixo. A vítima, que estava doente e se refugiara naquela cave, fora espancada ao longo de vários dias por um grupo de adolescentes, alguns dos quais tinham apenas doze anos.
Romance vertiginoso sobre um caso verídico que abalou o País, fascinante incursão nas vidas de uma vítima e dos seus agressores, Pão de Açúcar é uma combinação magistral de factos e ficção, com personagens reais e imaginárias meticulosamente desenhadas, que confirma o talento e a maturidade literária de Afonso Reis Cabral.

Em 2017, o jornal Expresso, para a comemoração dos seus 45 anos, publicou Uma História de Pássaros, um texto inédito de Afonso Reis Cabral.



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