De
ti só quero o cheiro dos lilases
De
ti só quero o cheiro dos lilases
e
a sedução das coisas que não dizes
De
ti só quero os gestos que não fazes
e
a tua voz de sombras e matizes
De
ti só quero o riso que não ouço
quando
não digo os versos que compus
De
ti só quero a veia do pescoço
vampira
que já sou da tua luz
De
ti só quero as rosas amarelas
que
há nos teus olhos cor das ventanias
De
ti só quero um sopro nas janelas
da
casa abandonada dos meus dias
De
ti só quero o eco do teu nome
e
um gosto que não sei de mar e mel
De
ti só quero o pão da minha fome
mendiga
que já sou da tua pele.
In
A Noite Inteira já não chega – Poesia 1983-2010 (Guimarães Editora,
2013)
Um
dia virá
Um
dia virá
em
que a minha porta
permanecerá
fechada
em
que não atenderei o telefone
em
que não perguntarei
se
querem comer alguma coisa
em
que não recomendarei
que
levem os casacos
porque
a noite se adivinha fresca.
Só
nos meus versos poderão encontrar
a
minha promessa de amor eterno.
Não
chorem; eu não morri
apenas
me embriaguei
de
luz e de silêncio.
In
A Noite Inteira já não chega – Poesia 1983-2010 (Guimarães Editora,
2013)
Conheço
esse Sentimento
Conheço
esse sentimento
que
é como a cerejeira
quando
está carregada de frutos:
excessivo
peso para os ramos da alma.
Conheço
esse sentimento
que
é o da orla da praia
lambida
pela espuma da maré:
quando
o mar se retira
as
conchas são pequenas saudades
que
doem no coração da areia.
Conheço
esse sentimento
que
é o dos cabelos do salgueiro
revoltos
pelas mãos ágeis da tempestade:
na
hora quieta do amanhecer
pendem-lhe
tristemente os braços
vazios
do amado corpo do vento.
Conheço
esse sentimento
que
passa nos teus olhos e nos meus
quando
de mãos dadas
ouvimos
o Requiem de Mozart
ou
visitamos a nave de Alcobaça.
Pedro
e Inês
a
praia e a maré
o
salgueiro e o vento
a
verdade e o sonho
o
amor e a morte
o
pó das cerejeiras
tu.
e
eu.
In Poemas escolhidos e Dispersos, 1997
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