Hoje, dia 21 de março, celebra-se o
Dia Mundial da Poesia. Este dia foi criado, em 16 de novembro de 1999, na 30.ª
Conferência Geral da UNESCO, com o objetivo de comemorar a diversidade do
diálogo, a livre criação de ideias através das palavras, da criatividade e da
inovação, porque a poesia contribui para a diversidade criativa, inferindo na
nossa perceção e compreensão do mundo.
Para assinalar o Dia Mundial da
Poesia, partilhamos poemas de dois grandes nomes da poesia portuguesa nas
últimas décadas, Herberto Hélder e Eugénio de Andrade.
até cada objecto se encher de luz e ser apanhado por todos os lados hábeis, e ser ímpar,
ser escolhido,
e lampejando do ar à volta,
na ordem do mundo aquela fracção real dos dedos juntos
como para escrever cada palavra:
pegar ao alto numa coisa em estado de milagre: seja:
um copo de água,
tudo pronto para que a luz estremeça:
o terror da beleza, isso, o terror da beleza delicadíssima
tão súbito e implacável na vida administrativa
Herberto Hélder, in Poemas Completos
As
Palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparados, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade, in Até Amanhã
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