Em
1972, Maria Teresa Horta (1937-), Maria Isabel Barreno (1939-2016) e Maria Velho da Costa (1938-2020) publicaram Novas Cartas Portuguesas,
livro que revelou ao mundo a existência de situações discriminatórias agudas em
Portugal, relacionadas com a repressão ditatorial e a condição da mulher
(casamento, maternidade, sexualidade feminina, trabalho), bem como denunciou as
injustiças de uma guerra que Portugal mantinha há mais de 10 anos em África. O livro foi editado pela Estúdios Cor, editora com
direção literária de Natália Correia.
Os
textos que compõem este livro, inspirado nas Lettres Portugaises (obra francesa publicada anonimamente
em Paris, em 1669, composta por cinco cartas supostamente escritas por Mariana
Alcoforado, uma freira portuguesa, após ter sido seduzida e abandonada pelo cavaleiro
francês Noel Bouton, no Convento da Conceição em Beja), foram considerados “imorais”
e “pornográficos”, pois retratavam mulheres que questionavam a sua condição e expressavam
o desejo de serem livres.
O
regime de Marcelo Caetano, apesar da prometida liberalização e abertura, reagiu,
tendo o livro sido proibido pela censura e as “três Marias” (nome por que
ficaram conhecidas nacional e internacionalmente as três autoras), juntamente
com o seu editor, Romeu de Melo, foram incriminados e levados a tribunal. Apesar
de proibido, o livro era já um “best-seller” dentro e fora de Portugal.
O
julgamento teve início em julho de 1973 e a leitura da sentença ficou agendada
para 18 de Abril de 1974, mas só foi possível realizá-la depois da revolução, a
7 de Maio. Sob o novo regime, as escritoras foram absolvidas.
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