Assente numa frágil
prosperidade que vinha desde o fim da Primeira Guerra Mundial, que elevou os
Estados Unidos à categoria de primeira potência mundial, nos finais da década de 1920 a economia americana
enfrentou uma crise sem precedentes que rapidamente se propagou a todos os
países que com eles tinham laços económicos e financeiras e que se arrastou
pelos primeiros anos da década de 1930, originando o que ficou conhecido na
História como a Grande Depressão.
Favorecidos por uma
conjuntura bélica que afastou do seu território os efeitos devastadores da
Grande Guerra, ao mesmo tempo que abasteciam a Europa e os mercados mundiais de
bens essenciais, os Estados Unidos saíram economicamente beneficiados do
conflito, apresentando, em 1919, uma imagem de sucesso, assente na sua
prodigiosa capacidade de produção e na prosperidade da sua balança de
pagamentos. Sob o lema de uma produção em massa para um consumo de massa,
viveram-se os anos da prosperidade americana e os “loucos anos 20” na Europa,
caracterizados por um clima de otimismo e de confiança no capitalismo liberal.
No entanto, essa era
de prosperidade era afinal precária. A mecanização da produção fez crescer o
desemprego crónico ou tecnológico, que chegou a atingir cerca de 2 milhões de pessoas; a
produção excedentária na agricultura originou a queda de preços e a queda de
lucros; a maior parte do consumo era realizada com recurso a créditos bancários,
incluindo a aquisição de ações, pois, acreditando na solidez da sua economia,
muitos americanos investiam na Bolsa, fazendo crescer a especulação financeira
e elevando cada ação a um valor que não era real.
A descida dos preços e
dos lucros industriais alarmou os grandes acionistas, que rapidamente começaram
a dar ordem de venda dos seus títulos.
A 21 de outubro de
1929, essas ordens de venda começaram a acumular-se na Bolsa de Nova Iorque. A 24
de outubro, o pânico instalou-se, quando 13 milhões de títulos foram colocados
à venda a preços baixíssimos e sem encontrarem comprador. Começava assim o crash de Wall Street e nos meses que se
seguiram centenas de milhares de acionistas conheceram a ruína, o que
significou também a ruína de todo o sistema bancário sobre o qual assentava a
aquisição da maior parte das ações. Entre 1929 e 1933, mais de 10 mil bancos encerraram
devido à falência, arrastando consigo toda a economia, com a falência de
empresas, a contração da produção e a queda dos preços. Da indústria à
agricultura, todo o aparelho produtivo dos Estados Unido ruiu e, em 1933, mais
de 12 milhões de americanos estavam desempregados.
Em 1939, o escritor
norte-americano John Steinbeck publicou As
Vinhas da Ira, romance que é ainda hoje universalmente considerado a
obra-prima de John Steinbeck, premiado com o Prémio Pulitzer em 1940 e que
haveria de justificar a atribuição do Prémio Nobel da Literatura, em 1962, a
este autor.
Passado durante a
Grande Depressão dos inícios dos anos 30, o romance centra-se nos Joads, uma
família pobre de rendeiros expulsos da sua quinta no Oklahoma pela seca, pelas
dificuldades económicas e pela execução de dívidas pelos bancos, que forçaram o
abandono pelos rendeiros do seu modo de vida. Numa situação desesperada, os
Joads, procurando emprego, terra, dignidade e um futuro e acompanhando cerca de
meio milhão de "Okies” sem casa, partiram para oeste, rumo à Califórnia, o
que provocou um dos maiores êxodos verificados no país. Este romance é ainda o
retrato épico do desapiedado conflito entre os poderosos e aqueles que nada
têm, do modo como um homem pode reagir à injustiça, e também da força tranquila
e estoica de uma mulher.
Em 1940, John Ford
realizou um filme homónimo, que contou com Henry Fonda numa magnífica
interpretação do papel de Tom Joad.
“[...]
e nos olhos dos famintos há uma ira crescente. Nas almas das pessoas, as vinhas
da ira estão engrossando e ficando mais pesadas, ficando mais pesadas para a
vindima.”
As
Vinhas da Ira é uma
obra intemporal, que ainda hoje nos faz refletir sobre a fragilidade dos seres
humanos e sobre a sua capacidade de reinvenção de uma nova vida.
Sem comentários:
Enviar um comentário