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terça-feira, 7 de novembro de 2017

Dez dias que abalaram o mundo, relato de uma revolução




A 7 de novembro de 2017 assinalam-se os 100 anos da Revolução Soviética, revolução que fez da Rússia o primeiro Estado socialista do mundo. A este propósito, recordamos também uma das obras clássicas da literatura ocidental.

Em 1919, o jornalista, ativista e escritor norte-americano John Reed publica nos Estados Unidos da América a obra que o tornaria célebre e que ainda hoje é encarada como um dos principais relatos da que foi a primeira revolução socialista no mundo: em Dez dias que abalaram o mundo (Ten Days That Shook the World, no original) descreve em primeira mão os acontecimentos que testemunha e que constituíram a que ficou conhecida como “Revolução de Outubro”, quando os bolcheviques tomaram o poder na Rússia.



(John Reed)

Governada autocraticamente pelo czar Nicolau II e composta maioritariamente por uma população camponesa explorada pelos proprietários das terras, a Rússia era, nos inícios do século XX, um imenso Império territorial, agregando muitas nacionalidades e palco de inúmeras tensões sociais e políticas. A participação na Primeira Guerra Mundial desorganizou a economia russa e agravou as condições de vida da população, desencadeando manifestações e greves, o que também contribuiu para expor as fraquezas do regime: liberais e socialistas denunciavam a incompetência do czar e dos seus ministros, incapazes de resistir às investidas da Alemanha.
A 23 de fevereiro de 1917 (de acordo com o calendário juliano, que a Rússia seguiu até fevereiro de 1918 e que tinha um atraso de 13 dias relativamente ao calendário gregoriano, correspondendo por isso esta data a 8 de março segundo o calendário ocidental) começam em Petrogrado, a capital do Império Russo, grandes manifestações de mulheres, acompanhadas de greves dos operários da cidade. Reunidos numa assembleia popular denominada Soviete, os operários exigiam o derrube do czar e a retirada da Rússia da Primeira Guerra Mundial. O apoio dos soldados ao Soviete de Petrogrado resultou no assalto ao Palácio de Inverno, conduzindo dias depois à abdicação do czar e à transformação da Rússia numa República.
O Governo Provisório que então entrou em funções, dirigido pelo Príncipe Lvov e mais tarde por Kerensky, instaurou uma democracia parlamentar à maneira ocidental e manteve a Rússia na Primeira Guerra Mundial. Entretanto, em todo o território se constituíram sovietes de operários, camponeses, soldados e marinheiros que, descontentes com o caráter burguês da nova República e com a permanência do conflito com a Alemanha, apelavam a uma nova revolução que, destituindo o governo, lhes entregasse o poder, retirasse o país da guerra e procedesse à abolição da propriedade privada. Estas reivindicações aparecem plasmadas nas “Teses de abril”, documento redigido por Lenine (pseudónimo de Vladimir Ilitch Ulianov), fundador e dirigente do Partido Social-Democrata Russo (mais tarde designado por Partido Bolchevique ou Partido Comunista), que havia regressado do exílio em Zurique.
Em 24 e 25 de outubro (7 e 8 de março no calendário ocidental), Petrogrado assistiu a uma nova revolução, protagonizadas por milícias bolcheviques que controlaram pontos estratégicos da cidade, assaltaram o Palácio de Inverno e derrubaram o Governo Provisório. O poder foi então entregue ao Conselho dos Comissários do Povo, composto exclusivamente por bolcheviques, presidido por Lenine e com Trotsky na Pasta da Guerra e Estaline na das Nacionalidades.


(Estaline, Lenine e Trotsky)

São então publicados os primeiros decretos revolucionários: o decreto sobre a guerra (que determina a retirada da Rússia da guerra, efetivada em março de 1918, com a assinatura de uma paz separada com a Alemanha, pelo Tratado de Brest-Litovsk); o decreto sobre a terra (que aboliu sem indemnização a propriedade privada das terras, entregando-a aos sovietes camponeses); o decreto sobre o controlo operário (que atribuía aos operários a superintendência e a gestão da produção nas fábricas); e o decreto sobre as nacionalidades (que conferia a todos os povos do antigo Império Russo o estatuto de igualdade e o direito à autodeterminação).
Pela primeira vez na História, os representantes do proletariado conquistavam o poder político recorrendo à luta de classes e à revolução, tal como Karl Marx havia preconizado em 1848, na obra Manifesto do Partido Comunista, escrita em coautoria com Friedrich Engels.


Logo em 1917, chegaram a todo o mundo notícias de que o Czar fora deposto na Rússia e que uma revolução estava em marcha. John Reed, jornalista e ativista político, nascido em Portland a 22 de outubro de 1887, que havia já feito a cobertura de greves e manifestações operárias nos Estados Unidos e da Revolução Mexicana de Pancho Villa, em 1913 (a partir da qual escreveu o livro México Rebelde, em 1914), e que se encontrava na Europa como correspondente durante a Primeira Guerra Mundial, interessou-se pela Revolução Bolchevique e, em setembro de 1917, partiu para Petrogrado, acompanhado da mulher, a escritora Louise Bryant.


(John Reed)

Testemunhando todos os acontecimentos que tiveram início no dia 7 de novembro, correndo de cena para cena, Reed tomou notas a uma velocidade incrível, reuniu folhetos, pósteres e manifestos. No início de 1918, regressou aos EUA e escreveu a sua história, relatando os grandes momentos, descrevendo as assembleias, resumindo os discursos, transcrevendo entrevistas e registando em anexos os principais documentos divulgados pelas forças em luta, incorporando também entrevistas que fez pessoalmente aos principais líderes políticos, como as conversas que manteve com Lenine, que entretanto conheceu.
Dez dias que abalaram o mundo transformou-se no relatório clássico de uma testemunha ocular da Revolução Bolchevique.

Nos Estados Unidos, John Reed ia a todos os lugares do país para dar palestras e aulas sobre a guerra e sobre a Revolução Russa, e, em setembro de 1918, depois de ter falado para uma plateia de quatro mil pessoas, foi preso sob acusação de desencorajar os jovens para o recrutamento nas forças armadas.
Em 1919, Reed envolveu-se na formação do Partido Comunista dos Trabalhadores nos EUA e, em março, foi à Rússia como delegado aos encontros da Internacional Comunista (ou Komintern).
É neste contexto que adoece e, a 17 de outubro de 1920, morreu de tifo num hospital de Moscovo. O corpo de John Reed foi sepultado perto do Kremlin, na Praça Vermelha, com honras de herói, sendo o único americano a quem tal foi concedido.


Em 1981, o ator e realizador norte-americano Warren Beatty adaptou ao cinema a obra de John Reed, no filme a que atribuiu o nome Reds e onde desempenha o papel de John Reed. Do elenco fazem ainda parte a atriz Diane Keaton, que interpreta o papel de Louise Bryant, mulher de Reed, e o ator Jack Nicholson, no papel do escritor Eugene O'Neill. O filme foi galardoado com três Óscares da Academia de Hollywood: melhor realizador, melhor atriz secundária e melhor fotografia.


(Warren Beatty e Diane Keaton no filme Reds)

Em junho de 2008, o American Film Institute revelou o "Ten Top Ten" – os melhores 10 filmes americanos em 10 categorias cinematográficas. O filme Reds surge em nono lugar na categoria de filme épico.


(Trailer do filme Reds

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