"Agora
ela sabia: um livro é uma canoa. [...] Tivesse livros e ela faria a travessia
para o outro lado do mundo, para o outro lado de si mesma."
Mia
Couto, em O outro pé da sereia.
Editorial Caminho, 2006.
Escritor,
biólogo e jornalista, Mia Couto (António
Emílio Leite Couto) nasceu
em 5 de Julho de 1955, na cidade da Beira, capital da província de Sofala, em
Moçambique. Adotou este pseudónimo porque tinha uma paixão por gatos e porque o
seu irmão não sabia pronunciar o seu nome.
Mia
Couto é considerado um dos escritores mais importantes de Moçambique e o mais
traduzido e divulgado no exterior. É também um dos autores estrangeiros mais
vendidos em Portugal. As suas obras estão traduzidas e publicadas em mais de 24 países.
Aos
14 anos publicou os primeiros poemas, no jornal Notícias da Beira.
Em
1972 começou a estudar Medicina em Lourenço Marques, curso que abandonaria em
1974, quando enveredou pelo jornalismo, tornando-se, com a independência de
Moçambique, repórter e diretor da Agência de Informação de Moçambique (AIM).
Esteve ainda na revista semanal Tempo
e no jornal Notícias. Em 1985
abandonou a carreira jornalística e reingressou na Universidade de Eduardo
Mondlane para se formar em Biologia, especializando-se na área de ecologia.
Como
biólogo, tem realizado trabalhos de pesquisa em diversas áreas, com incidência
na gestão de zonas costeiras e na recolha de mitos, lendas e crenças que
intervêm na gestão tradicional dos recursos naturais. É diretor da empresa
Impacto, Lda. - Avaliações de Impacto Ambiental, realizando estudos em
Moçambique. Em 1992, foi o responsável pela preservação da reserva natural da
Ilha de Inhaca. É professor da disciplina de Ecologia em diversos cursos da
Universidade Eduardo Mondlane.
Excelente
contador de histórias, Mia Couto é considerado um "escritor telúrico":
escreve e descreve as próprias raízes do mundo, explorando a natureza humana na
sua relação umbilical com a terra. A sua linguagem, extremamente rica e muito
fértil em neologismos, confere-lhe um atributo de singular perceção e
interpretação da beleza interna das coisas. Em muitas das suas obras, tenta
recriar a língua portuguesa com uma influência moçambicana, utilizando o léxico
de várias regiões do país e produzindo um novo modelo de narrativa africana.
Cada palavra inventada como que adivinha a secreta natureza daquilo a que se
refere, como se nenhuma outra pudesse ter sido utilizada no seu lugar. As
imagens de Mia Couto evocam mundos fantásticos e em certa medida surrealistas,
subjacentes ao mundo em que se vive, que envolve de uma ambiência terna e
pacífica de sonhos - o mundo vivo das histórias. Talvez por isso seja muitas
vezes comparado ao escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez ou ao brasileiro
Guimarães Rosa.
Em
1983, publicou o seu primeiro livro de poesia, Raiz de Orvalho.
Em
1992, surgiu o primeiro romance, Terra
Sonâmbula, com o qual ganhou o Prémio Nacional de Ficção da Associação dos
Escritores Moçambicanos em 1995 e que foi considerado um dos dez melhores
livros africanos do século XX por um júri criado pela Feira do Livro do
Zimbabué.
A
25 de Novembro de 1998 foi feito Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da
Espada.
Entre romances, poesia, contos, crónicas e livros infantis, tem publicados mais de 30 títulos.
OBRA PUBLICADA EM PORTUGAL:
(*) no catálogo da Biblioteca do ECB
Poesia
- (*) Raiz de orvalho e outros poemas. 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 1999.
- Idades, cidades, divindades. 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 2007.
- Tradutor de chuvas. 1ª ed., Lisboa/Portugal: Editorial Caminho, 2011.
- Vagas e lumes. 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 2014.
Contos
- (*) Vozes anoitecidas. 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho,1987.
- (*) Cada homem é uma raça. 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho,1990.
- (*) Estórias abensonhadas. 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho,1994.
- (*) Contos do nascer da terra. 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho,1997.
- (*) Na Berma de nenhuma estrada. 1ª ed., Lisboa/Portugal: Editorial Caminho, 1999.
- O fio das missangas. 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 2003.
Crónicas
- (*) Cronicando. 1ª ed. em 1988; 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 1991.
- Pensatempos. 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 2005.
- E se Obama fosse Africano? e outras interinvenções. 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 2009.
- (*) Pensageiro frequente. Lisboa: Editorial Caminho, 2010; 2ª ed., 2014.
Romances
- (*) Terra sonâmbula. 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 1992.
- (*) A varanda do frangipani. 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 1996.
- (*) Mar me quer. 1ª ed., Parque Expo/NJIRA em 1998, [como contribuição para o pavilhão de Moçambique na Exposição Mundial Expo '98 em Lisboa]; e 1ª ed., [ilustrações João Nasi Pereira]. Lisboa: Editorial Caminho, 2000.
- (*) Vinte e zinco. 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 1999.
- (*) O último voo do flamingo. 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 2000.
- (*) Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 2002.
- O outro pé da sereia. 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 2006.
- (*) Venenos de Deus, remédios do diabo. Lisboa: Editorial Caminho, 2008.
- (*) Jesusalém [no Brasil, o título do livro é "Antes de nascer o mundo"], Lisboa: Editorial Caminho, 2009.
- (*) A Confissão da leoa. 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 2012.
- Mulheres de cinza (1º livro da trilogia ”As areias do Imperador“). 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 2015.
- A Espada e a Azagaia (segundo volume da trilogia ”As Areias do Imperador“) 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 2016
- O Bebedor de Horizontes (terceiro volume da trilogia ”As Areias do Imperador“) 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 2017.
Literatura
Infantil
- O gato e o escuro. [Ilustrações de Danuta Wojciechowska], 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 2001.
- A chuva pasmada. [Ilustrações de Danuta Wojciechowska; 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 2004; 2ª ed., 2012.
- O beijo da palavrinha. [com ilustrações de Malangatana; 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 2008.
- O menino no sapatinho. [Ilustrações Danuta Wojciechowska], 1ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 2013.
Prémios
1989
– Prémio Anual de Jornalismo Areosa Pena (Moçambique) com o livro Cronicando
1995
– Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos, com o
livro Terra Sonâmbula
1999
– Prémio Vergílio Ferreira, pelo conjunto da sua obra
2001
– Prémio Mário António (ficção) da Fundação Calouste Gulbenkian, pelo livro O último voo do flamingo
2007
– Prémio União Latina de Literaturas Românicas
2007
– Prémio Passo Fundo Zaffari e Bourbon de Literatura, na Jornada Nacional de
Literatura, com o livro O Outro Pé da
Sereia
2011
- Prémio Eduardo Lourenço pelo seu contributo para o desenvolvimento da língua
portuguesa
2013
– Prémio Camões
2014
– Neustadt International Prize for Literature, da Universidade de Oklahoma,
Estados Unidos
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