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segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Autoras do mês de outubro - As irmãs Brontë


As irmãs Brontë, pintadas pelo irmão Branwell, em 1834.
Da esquerda para a direita: Anne, Emily e Charlotte (entre elas há a sombra de Branwell).

As irmãs Charlotte (1816-1855), Emily (1818-1848) e Anne (1820-1849) Brontë, filhas de Patrick Brontë (1777-1861) e Maria Branwell (1783-1821), nasceram no início do século XIX, com dois anos de intervalo entre si, e ficaram conhecidas como romancistas e poetisas, tendo publicado as suas obras em datas próximas e, como era comum na época, sob pseudónimos masculinos, cujas iniciais são as das respetivas autoras (Currer Bell, Ellis Bell e Acton Bell).
Em 2016, 2018 e 2020 celebram-se, respetivamente, os bicentenários dos nascimentos das três escritoras. A Biblioteca Nacional de Portugal, em parceria com o Centre for English, Translation and Anglo-Portuguese Studies, assinala estas efemérides através de uma mostra bibliográfica que decorre entre setembro e novembro de 2018, sob o título Irmãs Brontë: 200 anos.



Filhas de um pastor anglicano de origem irlandesa, as irmãs Brontë viveram a maior parte da infância e juventude em Haworth Parsonage, uma pequena reitoria perto do cemitério de uma aldeia fria e ventosa nas colinas de Yorkshire, onde o pai foi nomeado coadjutor perpétuo na Igreja de São Miguel e Todos os Anjos,em 1820.




A casa da família Brontë, a casa paroquial de Haworth em Yorkshire, atualmente o Brontë Parsonage Museum, visitado anualmente por milhares de pessoas todos os anos.

Patrick Brontë e Maria Branwell tiveram 6 filhos:

Maria, a filha mais velha, nasceu na Clough House, em High Town, no dia 4 de abril de 1814, e morreu em Haworth com 11 anos de idade, em 6 de maio de 1825.
Elizabeth, a segunda filha, nasceu em 1815 e morreu com 10 anos de idade, em 15 de junho de 1825.
Charlotte nasceu em Thornton, perto de Bradford, no dia 21 de abril de 1816. Autora do romance Jane Eyre, a sua obra mais conhecida, e de três outros romances, morreu em 31 de março de 1855, pouco antes do seu 39º aniversário.
Patrick Branwell nasceu em Thornton no dia 26 de junho de 1817. Único rapaz, conhecido como Branwell, era pintor e escritor e raramente trabalhava. Alcoólico e viciado em láudano, morreu em Haworth, no dia 24 de setembro de 1848, aos 31 anos.
Emily Jane, nasceu em Thorton no dia 30 de julho de 1818, e morreu em Haworth, no dia 19 de dezembro de 1848, aos 30 anos. Só conseguiu completar um romance em vida: Wuthering Heights.
Anne, nascida em Thorton no dia 17 de janeiro de 1820, foi poetisa e escritora. Escreveu os romances Agnes Grey e The Tenant of Wildfell Hall. Morreu em Scarborough, no dia 28 de maio de 1849, aos 29 anos.

A morte prematura da mãe e das duas irmãs mais velhas afetou profundamente a família e influenciou a sua educação, assim como contribuiu para o isolamento relativo em que cresceram Charlotte, Emily, Anne e o irmão Branwell.
As três irmãs e Branwell eram bastante próximos e na infância começaram a desenvolver a imaginação através das histórias que ouviam da empregada, Tabitha Ackroyd, e da criação de mundos imaginários que, mais tarde, desenvolveram na escrita. A grande biblioteca do seu pai era uma fonte de conhecimento. Os irmãos leram a Bíblia, Homero, Virgílio, Shakespeare, Milton, Byron, Scott. Charlotte e Branwell começaram a escrever histórias byronianas sobre um país que tinham inventado chamado Angria, ao mesmo tempo que Emily e Anne começaram a escrever artigos e poemas sobre Gondal, o país que também tinham inventado.
No início, estas histórias eram escritas em livros minúsculos do tamanho de uma caixa de fósforos (3,8 x 6,4 cm) e as suas páginas eram cuidadosamente unidas com fio. Para além de escrita, os pequenos livros continham ilustrações, mapas detalhados, esquemas, paisagens e plantas de edifícios. A complexidade das histórias foi evoluindo à medida que a imaginação das crianças se foi desenvolvendo, alimentada também pela leitura das revistas ou dos jornais que o seu pai recebia.
Em 1846, é publicada a primeira obra das irmãs Brontë, uma coletânea de poemas assinados por Currer, Ellis and Acton Bell, pseudónimo masculino que esconde as iniciais das irmãs (Currer – Charlotte; Ellis – Emily; e Acton – Anne) e que utilizam para ultrapassar o preconceito da época: uma carreira na literatura, mais particularmente na poesia, era do domínio masculino e não era apropriada para mulheres.

Capa da 1ª edição

O livro foi um falhanço completo, vendendo apenas três cópias. Porém, isso não desmotivou as irmãs, que continuaram a escrever e, um ano depois, em 1847, todas tinham terminado um livro: Jane Eyre, de Charlotte, foi o primeiro romance a ser publicado, seguido de Wuthering Heights, de Emily, e Agnes Grey, de Anne.

Em 1848, a família Brontë foi atingida pela tragédia. Num espaço de dez meses, três dos quatro irmãos que tinham atingido a idade adulta, faleceram.
O primeiro a morrer foi Branwell, em 24 de setembro de 1848, com 31 anos devido a complicações da bronquite crónica que sofria, apesar de se acreditar que ele poderia ter tuberculose. A família sofreu de tosse e constipações durante esse inverno de 1848 e Emily ficou gravemente doente. A 19 de dezembro Emily faleceu com 30 anos. Na época de Natal, Anne apanhou gripe. Nos inícios de janeiro de 1949, o médico chegou a um diagnóstico de tuberculose, num estado bastante avançado. Anne faleceu no dia 28 de maio de 1849.
Em Junho de 1854, Charlotte casou-se com Arthur Bell Nicholls, o coadjutor do pai. Ficou grávida pouco depois do casamento e a sua saúde começou a piorar rapidamente durante esta altura. Segundo Gaskell, a sua primeira biógrafa, Charlotte sofria de "náuseas permanentes e desmaiava frequentemente." Rejeitando tratamento, Charlotte morreu, juntamente com o filho que esperava, no dia 31 de Março de 1855, com trinta e oito anos de idade. A sua certidão de óbito diz que a causa de morte foi tuberculose, mas muitos biógrafos defendem que a escritora pode ter morrido de desidratação e subnutrição provocados pelos vómitos excessivos de que sofria. Também existem provas de que Charlotte pode ter morrido de febre tifóide que teria contraído com Tabitha Ackroyd, a criada mais antiga da família, que morreu pouco tempo antes dela. Charlotte foi enterrada na campa da família no cemitério da Igreja de São Miguel e Todos os Anjos em Haworth, West Yorkshire, Inglaterra.

Charlotte Brontë


Pintura de George Richmond 

Jane Eyre


Jane Eyre é a autobiografia ficcional da personagem principal. O livro retrata a emancipação da mulher e de seu espírito, ideias contrárias, na cabeça de Charlotte, aos livros de Jane Austen onde, segundo Brontë, as mulheres não eram aptas para trabalhar, devendo casar-se para garantir a sua sobrevivência. Neste livro, Charlotte Brontë, através de Jane Eyre, prova que as mulheres eram perfeitamente capazes de trabalhar e de ter uma vida, independentemente de se casarem ou não.
Jane, órfã de pai e mãe, vive infeliz na casa de uma tia que a detesta. Após um confronto entre as duas, Jane é enviada para uma escola, onde conhece os primeiros momentos de felicidade. Após seis anos como aluna e mais dois como professora, decide procurar uma nova posição. Encontra-a em Thornfield Hall, como preceptora da jovem Adèle, a pupila de Edward Rochester.
Quando conhece Rochester, ambos se apaixonam. Ele propõe-lhe casamento e ela aceita. Contudo, no dia do casamento, Jane descobre que Rochester já era casado, com uma mulher chamada Bertha, que conhecera na Jamaica e que entretanto enlouquecera. Para que ninguém soubesse, ele a mantinha escondida no sótão de Thornfield Hall. Perante isto, Jane decide fugir. Após alguns dias de fome, é recolhida por St John Rivers e pelas suas irmãs. Mais tarde, vem a descobrir que não só herdou dinheiro de um tio, como os seus anfitriões são na realidade também seus primos diretos (algo que todos desconheciam) e, decidida a recompensá-los, divide a herança com estes. St John Rivers decide partir como missionário e levar a prima consigo, como esposa. Jane hesita e resolve descobrir o que se passara com Rochester (pois havia um ano que fugira de sua casa), antes de dar uma resposta ao primo.
Vem a encontrá-lo cego e ao cuidado de dois criados fiéis, pois Thornfield Hall ardera num incêndio provocado por Bertha, e ele perdera a vista e uma das mãos ao tentar salvar todos que lá viviam. Bertha morre ao airar-se de cima da casa que está em chamas, e assim Jane decide assim casar finalmente com Rochester, que recupera a visão quando reencontra Jane, um ano depois do incidente, e após a morte da mulher.

Emily Brontë


Pintura de Branwell

Wuthering Heights


Wuthering Heights (traduzido para português como O Morro dos Ventos Uivantes, O Monte dos Vendavais ou ainda Colina dos Vendavais), lançado em 1847, foi o único romance de Emily Brontë. Hoje considerado um clássico da literatura inglesa, recebeu fortes críticas no século XIX.
O locatário da propriedade de Granja da Cruz dos Tordos, localizada em Gimmerton, Yorkshire, fica adoentado. Durante este período, a governanta Ellen Dean conta-lhe a história que presenciou da propriedade do Morro dos Ventos Uivantes.
No início da trama, o patriarca da família Earnshaw faz uma viagem e, ao retornar, traz consigo um pequeno órfão, que todos acham ser um cigano (a sua procedência, contudo, nunca é revelada ao longo da narrativa). O órfão recebe o nome de Heathcliff. Rapidamente, toda a afeição que o patriarca lhe demonstra provoca ciúmes no seu filho legítimo, Hindley, enquanto, Catherine, a irmã de Hindley, se afeiçoa a Heathcliff.
Quando os pais morrem, Hindley sujeita Heathcliff a várias humilhações. Este passa a ficar bruto e melancólico. Apesar do amor entre ele e Catherine, ela decide casar-se com Edgar Linton, por esse ter melhores condições de sustentá-la que Heathcliff.
Heathcliff parte do Morro dos Ventos Uivantes e, ao voltar, está rico, chamando a atenção de Catherine e despertando ciúmes em Edgar. Catherine e Edgar têm uma filha, Cathy, mas Catherine morre logo depois de dar à luz. Heathcliff fica destruído e decide vingar-se de Edgar e de Hindley. Para fazê-lo, primeiro, casa-se com Isabella, irmã de Edgar. Com o tempo, Isabella lamenta ter-se casado com Heathcliff e, descobrindo-se grávida, decide abandoná-lo. Enquanto está longe, tem um filho, Linton. Hindley cai no vício do jogo e da bebida e perde todos os seus bens para Heathcliff. Hareton, filho de Hindley, consequentemente, fica sem herança. Apesar disso, ele considera Heathcliff uma pessoa de alta moral, não permitindo que se fale mal dele. Antes da morte de Edgar, Heathcliff casa Linton e Cathy. Esta descobre-se sem bens quando Linton morre e Heathcliff apresenta um testamento onde o filho lhe passava tudo que possuía. Heathcliff acaba por morrer sozinho, louco e só. Como último desejo, é enterrado junto com Catherine, o seu grande amor. Deste então, muitos juram ver sempre um casal vagando pelas charnecas do Monte dos Ventos Uivantes.

The Wuthering Heights teve várias adaptações para a televisão e para o cinema, a mais antiga das quais foi filmada na Inglaterra, em 1920, e dirigida por A. V. Bramble. A mais famosa filmagem é a de 1939, com Laurence Olivier e Merle Oberon como protagonistas, sob a direção de William Wyler. Esta adaptação elimina a segunda geração da história (jovem Cathy, Linton e Hareton).
Em 1954 o realizador espanhol Luis Buñuel apesenta uma das adaptações mais interessantes da história, com Heathcliff e Cathy renomeados como Alejandro e Catalina.
A versão de 1992, do realizador Peter Kosminsky, conta com Ralph Fiennes e Juliette Binoche nos papéis principais e banda sonora de Ryuichi Sakamoto.
Na música, o romance de Emily Brontë esteve na origem do álbum Wind and Wuthering, do grupo musical Genesis. Também inspirou uma canção de sucesso, "Wuthering Heights", composta e interpretada por Kate Bush para o álbum The Kick Inside, de 1978, e posteriormente regravada pela banda Angra, no álbum Angels Cry, de 1993.

Anne Brontë


Pintura de Branwell

Agnes Grey


Agnes Grey é um retrato gritante do isolamento, estagnação intelectual e apatia emocional que rodeava muitas das governantas de meados do século XIX.
Um romance escrito num tom muito intimista, a partir da experiência da própria autora, afirmou-se como um marco da literatura que lida com a evolução social e moral da sociedade inglesa da era vitoriana. Narrado na primeira pessoa, sob a perspetiva de Agnes, o livro conta de forma crítica a história de uma aprendiza de preceptora, mostrando os bastidores do ensino de crianças de famílias aristocratas. A história aborda ainda o dilema educação versus caráter e compara a burguesia com a classe mais humilde, como a família Grey.

The Tenant of Wildfell Hall


Capa da 1ª edição

O segundo e último romance de Anne Brontë, The Tenant of Wildfell Hall, considerado um dos primeiros romances feministas, foi publicado em 1848 e um sucesso fenomenal, tendo esgotado em apenas seis semanas.
The Tenant of Wildfell Hall pode ser considerado um dos romances mais chocantes da Era Vitoriana, não só pelo retrato que faz do alcoolismo e da depravação (que feriram profundamente as susceptibilidades da sociedade de meados do século XIX), mas também pela caracterização da sua personagem principal, Helen Graham, que desafiou as estruturas sociais e legais da Inglaterra vitoriana. A heroína do romance de Anne deixa o marido para proteger o filho da sua influência e sustenta-se a si e ao filho ao trabalhar como pintora enquanto vive escondida e com medo de ser descoberta. Ao fazê-lo, a personagem estava a desafiar mais do que convenções sociais: estava a desafiar a lei inglesa. Até 1870, uma mulher casada não tinha uma existência independente legalmente reconhecida: não podia ter propriedades em seu nome, pedir o divórcio ou conseguir a custódia dos filhos. Se uma mulher tentasse viver sozinha, o seu marido tinha o direito de a reclamar como sua propriedade e, se tentasse levar os seus filhos consigo, podia ser acusada de rapto. Se uma mulher vivesse sozinha e com os seus próprios rendimentos, podia ser acusada de roubar o seu marido uma vez que qualquer rendimento era legalmente dele.


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