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quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Autor do mês de novembro - Albert Camus



Albert Camus foi um escritor, filósofo, romancista, dramaturgo, jornalista e ensaísta francês, a quem foi atribuído o Prémio Nobel da Literatura em 1957.
Nasceu na Argélia, a 7 de novembro de 1913, numa localidade chamada Mondovi (hoje denominada Dréan), durante a ocupação francesa, numa família pied-noir, termo usado para referir os cidadãos franceses, ou de ascendência europeia, que viveram por várias gerações no Norte da África francês, nomeadamente na Argélia francesa, no Protetorado Francês de Marrocos ou no Protetorado Francês da Tunísia, e que "regressaram" a França quando estes territórios se tornaram independentes, entre 1956 e 1962. Camus morreu em Villeblevin, França, a 4 de janeiro de 1960, vítima de um acidente de automóvel.

A morte do pai em 1914, na batalha do Marne, durante a Primeira Guerra Mundial, e a mudança da família para Argel, para casa da avó materna, no bairro operário de Belcourt (onde, anos mais tarde, durante a guerra da independência da Argélia, houve um massacre de muçulmanos) influenciaram a sua vida e a sua obra. No entanto, apesar de uma infância extremamente pobre, ela é também marcada por uma felicidade ligada à natureza, que Camus narra um pouco por toda a sua obra.
Devido às dificuldades económicas da família, Albert Camus quase abandonou os estudos ainda na escola primária para trabalhar com o tio numa oficina de tanoeiro. No entanto, o apoio do professor da escola primária, Louis Germain, que viu naquele pequeno pied-noir um futuro promissor, e de um professor da escola secundária, Jean Grenier, foi fundamental para que Camus seguisse os estudos e se licenciasse em Filosofia, apresentando ainda uma dissertação de mestrado sobre neoplatonismo e uma tese de doutoramento sobre Santo Agostinho. Será a Germain que Camus dedicará a obra Discursos da Suécia (que inclui o discurso que pronunciou ao receber o Nobel), enquanto O Homem Revoltado (1951) é dedicado a Grenier.

Os críticos consideram que Camus incorporou uma das mais elevadas consciências morais do século XX. O humanismo que perpassa nos seus escritos foi fundamentado na experiência de alguns dos piores momentos da história: Camus foi sobretudo uma testemunha do seu tempo. Intransigente, recusou qualquer filiação ideológica. Lutou energicamente contra todas as ideologias e abstrações que considerava deturpadoras a natureza humana.

O seu trabalho inclui peças de teatro, romances, notícias, filmes, poemas e ensaios, onde desenvolveu um humanismo baseado na consciência do absurdo da condição humana e na revolta como uma resposta a esse absurdo. Para Camus, essa revolta leva à ação e fornece sentido ao mundo e à existência. Daqui "Nasce então a estranha alegria que nos ajuda a viver e a morrer".
Em 1938, Camus ajudou a fundar o jornal Alger Républicain e colaborou nos jornais CombatParis-Soir.
A carreira de Camus como jornalista foi ousada: trabalhou com a Resistência Francesa durante a II Guerra Mundial, tomou posições incisivas em relação à Guerra de Independência da Argélia e ao Partido Comunista Francês e envolveu-se em diversas causas sociais, protestando veementemente contra as desigualdades que atingiam os muçulmanos no Norte de África, defendendo os exilados espanhóis antifascistas e as vítimas do estalinismo. Foi ainda defensor da objeção de consciência.

Camus morreu em janeiro de 1960, vítima de um acidente de automóvel, durante uma viagem a Paris com o seu editor Michel Gallimard. Cinquenta anos depois da sua morte, revelações do escritor e tradutor checo Jan Zabrana, incluídas no seu diário publicado postumamente, sugerem a possibilidade de Camus ter sido assassinado, por ordem do Ministro dos Negócios Estrangeiros da URSS, Dmitri Shepilov, em retaliação à oposição aberta que o escritor fazia a Moscovo - particularmente num artigo publicado na revista Franc-Tireur, de março de 1957, em que atacava pessoalmente o ministro, responsabilizando-o pelo que chamou "massacre", durante a repressão soviética à Revolução Húngara de 1956. Citando Walt Whitman, Camus afirmara "sem liberdade, nada pode existir", granjeando assim a inimizade de estalinistas e de simpatizantes do comunismo.
Quando morreu, Camus tinha já cerca de 30 obras publicadas, entre romances, contos, ensaios, peças de teatro, crónicas e correspondência. Em 1994, a sua filha publica Le Premier Homme (O primeiro homem), romance inacabado cujo manuscrito foi descoberto nos destroços do acidente de automóvel que vitimou Albert Camus.
Considerado o mais autobiográfico de todos os seus romances, em O primeiro homem Camus volta ao começo de tudo neste romance: a chegada dos pais a Argel, a infância e a adolescência marcadas pela pobreza, a dolorosa ausência do pai que nunca conheceu e a sua condição de “francês colonial” nascido na Argélia Francesa. É a história de Jacques Cormery, um rapaz que vive uma vida sem igual, e convoca o panorama, os sons e as texturas de uma infância circunscrita pela pobreza e pela morte de um pai, mas redimida pela beleza austera de Argel, pelo amor que Jacques tem à mãe e à avó, e por um professor que transformará a sua visão do mundo. O título, O primeiro homem, sugere a busca de uma identidade ligada à busca do pai desaparecido.


O Estrangeiro


Considerado o mais famoso romance de Albert Camus, romance estranho, desconcertante sob uma aparência de singeleza estilística, em O Estrangeiro joga-se o destino de um homem perante o absurdo e questiona-se o sentido da existência. Esta obra, publicada em 1942, faz parte do "ciclo do absurdo" de Camus, trilogia que inclui o ensaio Le mythe de Sisyphe (O mito de Sísifo) e a peça de teatro Calígula que descrevem o aspeto fundamental da filosofia de Camus: o absurdo.

“Hoje a mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: «Sua mãe falecida. Enterro amanhã. Sinceros sentimentos.» Isto não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem.”

O romance conta a história de um narrador personagem, Meursault, um homem que comete um assassinato e é julgado por esse ato. A ação desenrola-se na Argélia num tempo anterior à independência. A narrativa começa quando o protagonista, Mersault, recebe um telegrama a comunicar-lhe a morte da mãe, que seria enterrada no dia seguinte. Ele viaja até ao asilo onde a mãe morava e comparece ao funeral, sem, no entanto, expressar quaisquer emoções, não sendo praticamente afetado pelo acontecimento. O romance prossegue, documentando os acontecimentos seguintes na vida de Meursault, como a relação de amizade com um dos seus vizinhos, Raymond Sintès, a quem ajuda a livrar-se de uma de suas amantes árabes. Mais tarde, os dois confrontam-se com o irmão da mulher ("o árabe") numa praia e Raymond sai ferido de uma luta com facas. Depois disso, Meursault volta à praia e, num delírio induzido pelo calor e pela luz forte do sol (“o mesmo sol do dia em que minha mãe fora a enterrar”), dispara o revólver sobre o árabe causando a sua morte, dando mais quatro tiros sobre o corpo já morto.

“Compreendi que destruíra o equilíbrio do dia, o silêncio excecional de uma praia onde havia sido feliz. Voltei então a disparar mais quatro vezes sobre um corpo inerte, onde as balas se enterravam sem se dar por isso. E era como se batesse quatro breves pancadas à porta da desgraça.”

A segunda parte do romance narra todo o julgamento de Meursault, durante o qual a acusação se concentra no facto de Meursault não ter conseguido ou não ter tido vontade de chorar no funeral da mãe. O homicídio do árabe é aparentemente menos importante do que o facto de Meursault ser ou não capaz de sentir remorsos; o argumento é que, se ele é incapaz de sentir remorsos, deve ser considerado um misantropo perigoso e consequentemente executado para prevenir que repita os seus crimes, transformando-o também num exemplo.
A história chega ao fim com Meursault reconhecendo a indiferença do universo em relação à humanidade. Nas linhas finais ecoa essa ideia que ele agora toma como verdadeira:

“Como se esta grande cólera me tivesse limpo do mal, esvaziado de esperança, diante desta noite carregada de sinais e estrelas, eu abria-me, pela primeira vez, à terna indiferença do Mundo. Por o sentir tão parecido comigo, tão fraternal, senti que fora feliz e que ainda o era. Para que tudo ficasse consumado, para que me sentisse menos só, faltava-me desejar que houvesse muito público no dia da minha execução, e que os espectadores me recebessem com gritos de ódio.”


A Peste




"Na manhã do dia 16 de abril, o doutor Bernard Rieux saiu do seu consultório e tropeça num rato morto, no meio do patamar. Nesse momento, afastou o bicho sem lhe prestar atenção e desceu a escada."

Este é o primeiro sinal de uma epidemia de peste que em breve toma conta de toda a cidade de Orão, na Argélia. Sujeita a quarentena, a cidade torna-se um território irrespirável e os seus habitantes são conduzidos até estados de sofrimento, de loucura, mas também de compaixão de proporções desmedidas…

Publicado originalmente em 1947, o romance A Peste é uma história sobre o horror, a sobrevivência e a capacidade de resiliência do ser humano, uma parábola de ressonância intemporal, um romance magistralmente construído. A Peste foi interpretado por vários críticos como uma alegoria ao nazismo e, por extensão, a todos os regimes totalitários. O próprio autor admitia que o conteúdo evidente era a resistência a Hitler. Não bastasse ter sido escrito durante a Segunda Guerra Mundial e publicado em 1947, o livro contém alusões à Ocupação ou a ditaduras, como o decreto do estado de sítio na região onde se passa a história ou o facto de um dos personagens, o jornalista Raymond Rambert, ser proibido de sair da cidade, um sinal da limitação da liberdade de imprensa.

“[…] o doutor Rieux decidiu então redigir esta narrativa […], para não ser daqueles que se calam, para depor a favor destes pestíferos, para deixar ao menos uma recordação da injustiça e da violência que lhes tinham sido feitas e para dizer simplesmente o que se aprende no meio dos flagelos: que há nos homens mais coisas a admirar do que a desprezar. […] Porque ele sabia o que esta multidão eufórica ignorava e se pode ler nos livros: o bacilo da peste não morre nem desaparece nunca, pode ficar dezenas de anos adormecido nos móveis e na roupa, espera pacientemente nos quartos, nas caves, nas malas, nos lenços e na papelada. E sabia que viria talvez o dia em que, para desgraça e ensinamento dos homens, a peste acordaria os seus ratos e os mandaria morrer numa cidade feliz.”



Outros livros de Albert Camus que podemos encontrar
na Biblioteca do ECB:









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