"Eu nem
sequer gosto de escrever. Acontece-me às vezes estar tão desesperado que me
refugio no papel como quem se esconde para chorar. E o mais estranho é arrancar
da minha angústia palavras de profunda reconciliação com a vida."
Rosto Precário
Nasceu
a 19 de janeiro de 1923, em Póvoa de Atalaia, pequena aldeia da Beira Baixa. Filho
de camponeses, deram-lhe o nome de José Fontinhas. Após a separação dos pais,
viveu com a mãe em Castelo Branco, mudando-se em 1932 para Lisboa, onde
frequentou o Liceu Passos Manuel e a Escola Técnica Machado de Castro. Em 1936
começou a escrever os primeiros poemas. Em 1938, enviou alguns desses poemas ao
escritor António Botto que o incentivou a publicar: em 1940, aparecia assim Narciso, o seu primeiro livro de poesia,
assinado ainda com o seu verdadeiro nome, que mais tarde viria a rejeitar. No segundo
livro, Adolescente, publicado em
1942, é como Eugénio de Andrade que se dá a conhecer.
Depois
de prestar serviço militar em Coimbra, onde conviveu com Miguel Torga e Eduardo
Lourenço (foi Eduardo Lourenço quem disse que a poesia de Eugénio de Andrade
era a “primeira poesia da poesia da nossa literatura”), regressou a Lisboa, em
1947, passando a exercer funções de inspetor administrativo do Ministério da Saúde.
Em
1948 publicou As Mãos e os Frutos, livro
que o consagrou e mereceu os aplausos de críticos como Jorge de Sena ou
Vitorino Nemésio.
Em
1950 foi transferido para o Porto, cidade onde viverá até ao fim da vida,
sempre distanciado da vida social, literária ou mundana, justificando as suas
raras aparições públicas com «essa debilidade do coração que é a amizade».
Publicou
mais de vinte livros de poesia, obras em prosa, antologias, livros infantis e
traduziu poetas como Federico García Lorca, Jorge Luís Borges, René Char ou a poetisa
grega clássica Safo, entre outros.
Eugénio
de Andrade foi elemento da Academia Mallarmé (Paris) e membro fundador da
Academia Internacional "Mihail Eminescu" (Roménia).
Manteve
sempre uma postura de independência relativamente aos vários movimentos
literários com que a sua obra coexistiu ao longo de mais de cinquenta anos de
atividade poética.
O prestígio
nacional e internacional granjeou-lhe diversas distinções e prémios, entre os
quais, o Grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada (1982),
o Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários (1986), o Prémio D.
Dinis da Fundação Casa Mateus (1988), o Grande Prémio da Poesia da Associação
Portuguesa de Escritores (1989), o Prémio Europeu de Poesia da Comunidade de
Varchatz (República da Sérvia, 1996), a Grã-Cruz da Ordem do Mérito (1989) e o
Prémio Camões (2001).
Em
maio de 2001, recebeu o primeiro prémio de poesia "Celso Emilio
Ferreiro" atribuído em Orense, na Galiza. Ainda em maio de 2001, foi
homenageado na Universidade de Bordéus por altura da realização do
"Carrefour des Littératures", tendo sido considerado um dos mais
importantes escritores do século XX. Em 2003, com a obra Os Sulcos da Sede, recebeu o Prémio de Poesia do Pen Clube Português.
Em
1991, foi criada no Porto a Fundação Eugénio de Andrade, extinta em 2011. Para
além de ter servido de residência ao poeta, esta instituição teve como
principais objetivos o estudo e a divulgação da obra do autor assim como a
organização de diversos eventos como lançamentos de livros, recitais e
encontros de poesia.
Eugénio
de Andrade faleceu em Porto, a 13 de junho de 2005, após uma doença neurológica
prolongada. Encontra-se enterrado no Cemitério do Prado do Repouso, no Porto. A
sua campa é rasa em mármore branco, desenhada pelo arquiteto amigo Siza Vieira,
com versos do seu livro As Mãos e os
Frutos gravados.
Obra
(*) Disponível na Biblioteca do ECB
Poesia
Narciso,
José Fontinhas. Lisboa: ed. do Autor, 1940.
Adolescente,
1942.
Pureza,
1945.
As
Mãos e os Frutos, 1948, 21ª edição, 2000.
Os
Amantes sem Dinheiro, 1950, 16ª edição, 2000.
As
Palavras Interditas, 1951, 13ª edição, 2002.
Até
Amanhã, 1956, 13ª edição, 2002.
Coração
do Dia, 1958, 12ª edição, 1994.
Mar
de Setembro, 1961, 12ª edição, 1994.
Ostinato
Rigore, 1964, 11ª edição, 1997.
Obscuro
Domínio, 1971, 8ª edição, 2000.
O
Inverno
Véspera
de Água, 1973, 6ª edição, Limiar, 1990.
Escrita
da Terra, 1974, 7ª edição, 2002.
Homenagens
e outros Epitáfios, 1974, 8ª edição, 1993.
Limiar
dos pássaros, 1976, 7ª edição, 1994.
Primeiros
Poemas, 1977, 10ª edição, 2000.
Memória
Doutro Rio, 1978, 4ª edição, Limiar, 1985.
Matéria
Solar, 1980, 5ª edição, 2000. (*)
O
Peso da Sombra, 1982, 3ª edição, Limiar, 1989.
Branco
no Branco, 1984, 5ª edição, 19.
Vertentes
do Olhar, 1987, 5ª edição, 2003.
O
Outro Nome da Terra, 1988, 2ª edição, Limiar, 1989.
Contra
a Obscuridade, 1988, 5ª edição, 1993.
Rente
ao Dizer, 1992, 4ª edição, 2002.
Ofício
de Paciência, 1994, 2ª edição, 2000.
O
Sal da Língua, 1995, 4ª edição, Associação Portuguesa de Escritores, 2001.
Pequeno
Formato, 1997, 2ª edição, 1997.
Os
Lugares do Lume, 1998, 2ª edição, 1998.
Os
Sulcos da Sede, 2001, 3ª edição, 2002.
Antologias poéticas
Antologia
[1945-1961], Delfos, 1961.
Poemas
(1945-1966), 3ª edição, 1971.
Poesia
e prosa (1940-1979), 2 vol., 1980. (*)
Poesia
e prosa (1940-1980), 1981; 2a ed. e aumentada.
Poesia
e prosa (1940-1986). Lisboa: Círculo de Leitores, 1987, 3 vol.
Poesia
e Prosa (1940-1989), 4ª edição, O Jornal/Limiar, 1990.
Poemas
de Eugénio de Andrade, select., est. e notas de Arnaldo Saraiva, Nova
Fronteira, Rio de Janeiro, 1999.
Poesia,
2000.
Prosa
Os
afluentes do silêncio. Porto: Inova, 1968.
Rosto
precário. Porto: Limiar, 1979. (*)
À
sombra da memória. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 1993.
Antologias
Daqui
Houve Nome Portugal, 1968, 4ª edição, Edições Asa, 2000.
Memórias
da Alegria, 1971, 2ª edição, Campo das Letras, 1996.
Antologia
Breve, 1972, 7ª edição, 1999.
A
Cidade de Garrett, 1993, 3ª edição, 1997.
Fernando
Pessoa, Poesias Escolhidas, 1995, 6ª edição, Campo das Letras, 2001.
Versos
e Alguma Prosa de Luís de Camões, 1972, 5ª edição, Campo das Letras, 1996.
Erros
de Passagem, seleção e prefácio, 1982, 3ª edição, Campo das Letras, 1998.
Antologia
Pessoal da Poesia Portuguesa, 1999, 7ª edição, Campo das Letras, 2002. (*)
Sonetos
de Luís de Camões, Assírio & Alvim, 2000.
Poemas
Portugueses para a Juventude, Edições Asa, 2002.
Literatura Infantil
História
de égua branca. Porto: Asa, 1976. Com ilustrações de Manuela Bacelar.
Aquela
Nuvem e Outras, 1986, 10ª edição, Campo das Letras, 2002.
Tradução
Poemas
de García Lorca, 1946, 5ª edição, 2000.
Cartas
Portuguesas, 1969, 9ª edição, Assírio & Alvim, 1998.
Poemas
e Fragmentos de Safo, 1974, 5ª edição, 1995.
Trocar
de Rosa, 1980, 5ª edição, 1995.
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