E então a escrita tornou-se tão
fluída que eu às vezes me sentia como se estivesse a escrever pelo simples
prazer de contar uma história, que pode bem ser a condição humana que mais se
assemelha à levitação.
Gabriel José García Márquez nasceu em Aracataca, Colômbia, no dia 6 de março de
1927 e morreu a 17 de abril de 2014, na Cidade do México. Prémio Nobel da
Literatura em 1982, é sem dúvida um dos autores mais importantes do século XX, com
mais de 40 milhões de livros vendidos em 36 idiomas. Foi o maior representante
do que ficou conhecido como realismo mágico, uma escola literária surgida no
início do século XX e considerada a resposta latino-americana à literatura
fantástica europeia.
Na infância foi deixado ao cuidado dos seus avós maternos, Nicolás Márquez, coronel
na reserva, e Tranquilina Iguarán, apaixonada pelas tradições orais indígenas. Um e outro hão de ser forte influência em toda a sua obra literária.
Gabriel
García Márquez (Gabo para os amigos) refere na sua biografia que foi aos 17 anos que decidiu tornar-se
escritor, após ler A Metamorfose, de
Kafka, cuja escrita e
enredo lhe faziam lembrar as histórias que a sua avó contava. Ao ler a primeira
frase do livro, "Certa manhã, ao acordar após sonhos agitados, Gregor Samsa viu-se na sua cama metamorfoseado num monstruoso inseto", pensou "então eu posso fazer isso com as personagens?
Criar situações impossíveis?"
Em
1947, publicou o primeiro conto, La
Hojarasca (A revoada, em
português), no mesmo ano em que começava o curso de Direito na Universidade de
Bogotá, curso que abandonou, transferindo-se para a Universidade de Cartagena,
onde recebeu preparação académica em Jornalismo. Em 1948, começou a escrever
como jornalista e correspondente internacional, profissão que continuou a desempenhar ao longo da vida.
Em
1955, publicou o seu primeiro livro, uma coletânea de contos que já haviam
aparecido em publicações periódicas, e que levou o título do mais famoso, A revoada.
Ainda em 1955, publicou Relato de um náufrago, que conta a
história verídica do naufrágio de Luis Alejandro Velasco, publicado inicialmente
em edições semanais no jornal "El Espectador", e mais tarde em
formato de livro, sem que o autor soubesse.
Em
1961, publicou Ninguém escreve ao coronel,
obra que, embora tenha representado um grande avanço no sentido de alcançar o
domínio estrutural do romance, ainda não prenunciava o modo maravilhoso que
iria surgir nos seus romances futuros.
Ainda em 1962, publica outro romance, O veneno da madrugada, além de um volume
de contos, Os funerais da Mamã Grande.
“Muitos anos depois, diante do
pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela
tarde remota em que o seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então
uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de
águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e
enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas
careciam de nome e, para mencioná-las, era preciso apontar com o dedo.”
Assim
começa Cem Anos de Solidão, a obra
que, publicada em 1967, haveria de catapultar Gabriel García Márquez para o reconhecimento
internacional.
(capa da 1ª edição)
Este
romance, considerado a segunda obra mais importante de toda a literatura
hispânica, ficando apenas atrás de Dom
Quixote de la Mancha, é ainda hoje um marco da literatura latino-americana
e exemplo maior do "realismo fantástico ou mágico". Aqui encontramos a
história da família Buendía-Iguarán com os seus “milagres, fantasias,
obsessões, tragédias, incestos, adultérios, rebeldias, descobertas e
condenações”, que são a representação ao mesmo tempo do mito e da história, da
tragédia e do amor do mundo inteiro, na cidade fictícia de Macondo, desde a sua
fundação pela família Buendía até à sétima geração.
A
primeira geração da família é formada por José Arcadio Buendía e Úrsula
Iguarán. Este casal teve três filhos: José Arcadio, um rapaz forte, viril e
trabalhador; Aureliano, que contrasta interiormente com o irmão mais velho no
sentido em que era filosófico, calmo e terrivelmente introvertido; e por fim,
Amaranta, a típica dona
de casa de uma família de classe média do século XIX. Na família surge ainda Rebeca, uma filha adotiva.
A história desenrola-se à volta desta geração e dos seus filhos, netos, bisnetos e trinetos, com a particularidade de que todas as gerações foram acompanhadas por Úrsula (que viveu entre 115 e 122 anos). Esta personagem dará conta do facto de as características físicas e psicológicas dos seus herdeiros estarem associadas a um nome: todos os José Arcadio são impulsivos, extrovertidos e trabalhadores, enquanto os Aurelianos são pacatos, estudiosos e muito fechados no seu próprio mundo interior. Os Aurelianos terão ao longo do livro a missão de desvendar os misteriosos pergaminhos de Melquíades, o Cigano, que foi amigo de José Arcadio Buendía. Estes pergaminhos encerram em si a história dramática da família e apenas serão decifradas quando o último da estirpe estiver às portas da morte.
A história desenrola-se à volta desta geração e dos seus filhos, netos, bisnetos e trinetos, com a particularidade de que todas as gerações foram acompanhadas por Úrsula (que viveu entre 115 e 122 anos). Esta personagem dará conta do facto de as características físicas e psicológicas dos seus herdeiros estarem associadas a um nome: todos os José Arcadio são impulsivos, extrovertidos e trabalhadores, enquanto os Aurelianos são pacatos, estudiosos e muito fechados no seu próprio mundo interior. Os Aurelianos terão ao longo do livro a missão de desvendar os misteriosos pergaminhos de Melquíades, o Cigano, que foi amigo de José Arcadio Buendía. Estes pergaminhos encerram em si a história dramática da família e apenas serão decifradas quando o último da estirpe estiver às portas da morte.
(25ª edição em Portugal)
Ao
sucesso de Cem Anos de Solidão, seguiu-se a publicação de um outro volume de
contos, A incrível e triste história da
Cândida Erêndira e da sua avó desalmada (1972).
Depois
de anos sem publicar nenhum romance, García Márquez escreveu aquele que
considerou o seu maior logro literário, O
outono do patriarca (1975), livro que relata a história de um ditador
sul-americano, que vive a situação absurda e solitária do "poder
total".
Em 1981, publica novo romance, Crónica
de uma morte anunciada, baseado na trágica história de Santiago
Nasar, assassinado em frente à sua casa, em consequência da violação de um
código de honra, depois de a sua morte ter sido anunciada a toda a cidade, sem que
o próprio soubesse.
O seu
último grande livro foi O amor nos tempos
de cólera, publicado em 1985, após ter sido laureado com o prémio Nobel de
Literatura, em 1982. Este livro, que Gabo considerava o seu melhor romance e aquele
que mais gostou de escrever, narra a história do amor de Florentino Ariza por
Fermina Daza, a história de um amor obsessivo, nos moldes do amor romântico.
“Cinquenta anos, nove meses e quatro
dias é o tempo que Florentino Ariza espera para conquistar a sua amada. ”
Durante
a narrativa, a Colômbia está a ser flagelada por um surto de cólera, doença que
não poupou ricos nem pobres. O amor romântico aparece assim associado a uma
peste, a cólera: Florentino Ariza, que está loucamente apaixonado por Fermina, tem
sintomas que são confundidos com os da cólera: vómitos, diarreia e febre.
Em
2002, após lhe ter sido diagnosticado um tumor no sistema linfático, publicou a
sua autobiografia Viver para contá-la.
Em
abril de 2009, Gabriel García Márquez declarou que não pretendia escrever mais
livros, notícia confirmada em 2012, quando o seu irmão, Jaime García Márquez,
anunciou que lhe fora diagnosticada uma demência e que, embora estivesse em bom estado
físico, havia perdido a memória e não voltaria a escrever.
Gabriel
García Márquez morreu em 17 de abril de 2014, na Cidade do México, vítima de
uma pneumonia, pouco mais de um mês após completar 87 anos.
Não é verdade que as pessoas param
de perseguir os sonhos porque estão a ficar velhas, elas estão a ficar velhas
porque pararam de perseguir os sonhos.
OBRAS
(*) constam do catálogo da Biblioteca
do ECB
A
Revoada (1955) (*)
Relato
de um náufrago (1955) (*)
Em
Viagem pela Europa de Leste (1959)
Ninguém
escreve ao coronel (1961) (*)
Os
funerais da mamã grande (1962) (*)
A
sesta de terça-feira (1962)
A
hora má: o veneno da madrugada (1962) (*)
Cem
anos de solidão (1967) (*)
A
última viagem do navio fantasma (1968)
Um
senhor muito velho com umas asas enormes (1968)
A
incrível e triste história de Cândida Eréndira e da sua avó desalmada (1972)
Olhos
de cão azul (1972) (*)
O
outono do Patriarca (1975) (*)
Maria
dos prazeres (1979)
Crónica
de uma morte anunciada (1981) (*)
Textos
Caribenhos (1948-1952) - Obra Jornalística - Volume 1 (1981)
Textos
Andinos (1954-1955) - Obra Jornalística - Volume 2 (1982)
O
aroma da goiaba (1982) (Conversas de Plinio Apuleyo de Mendoza com Gabriel
García Márquez) (*)
Da
Europa e da América - (1955-1960) - Obra Jornalística - Volume 3 (1983)
Reportagens
Políticas (1974-1995) - Obra Jornalística - Volume 4 (1984)
O
Amor nos tempos de cólera (1985) (*)
O
verão feliz da senhora Forbes (1986)
A
aventura de Miguel Littín Clandestino no Chile (1986) (*)
O
general no seu labirinto (1989) (*)
Crónicas
(1961-1984) - Obra Jornalística - Volume 5 (1991)
Entre
amigos (1990)
Doze
contos peregrinos (1992) (*)
Do
amor e outros demónios (1994) (*)
Notícia
de um Sequestro (1996)
Como
contar um conto (1998)
Viver
para contar (2002)
Memória
das minhas putas tristes (2004) (*)
Eu
não vim fazer um discurso (2010)
PRÉMIOS
Prémio
de Novela ESSO por "A hora má: o veneno da madrugada" (1961)
Doutor
Honoris Causa da Universidade de Columbia em Nova Iorque (1971)
Prémio
Latino-Americano de Romance Rómulo Gallegos por “Cem anos de solidão” (1972)
Prémio
Internacional Neustadt de Lietratura (1972)
Medalha
da Legião Francesa em Paris (1981)
Condecoração
Águila Azteca no México (1982)
Nobel
de Literatura (1982)
Prémio
quarenta anos do Círculo jornalístico de Bogotá (1985)
Membro
honorário do Instituto Caro y Cuervo em Bogotá (1993)
Doutor
Honoris Causa da Universidade de Cádiz (1994)
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