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terça-feira, 1 de outubro de 2019

Italo Calvino - autor do mês de outubro


Italo Calvino, considerado um dos mais importantes escritores italianos do século XX, nasceu em Santiago de las Vegas, na ilha de Cuba, no dia 15 de outubro de 1923, quando os seus pais, cientistas italianos, estavam de passagem pelo país, e morreu a 19 de Setembro de 1985, em Siena, vítima de uma hemorragia cerebral.
Iniciou os estudos superiores de Agronomia, curso que abandonou em 1940 quando, recrutado para a Juventude Fascista, desertou, refugiando-se nas montanhas da Ligúria, onde se juntou à Resistência Comunista.
Em 1941, ingressou no curso de Literatura da Universidade Turim, licenciando-se em 1947, após a guerra.
Nesse mesmo ano, publicou o seu primeiro romance, Il sentiero dei nidi di ragno (O atalho dos ninhos de aranha, na tradução portuguesa). A obra remetia para as suas experiências enquanto membro da resistência italiana e foi bem acolhida pela crítica.
Entretanto, em 1945, Italo Calvino começou a colaborar com a imprensa italiana, no jornal comunista “L'Unittá”, prosseguindo em títulos como “Il Garibaldino, voce della Democracia” e “La Republica”.
Em 1949 publicou uma coletânea de contos, também dedicados à problemática de guerra, que haviam já aparecido em publicações periódicas.
Após a publicação de Il visconte dimezzato (O visconde cortado ao meio), em 1952, Calvino abandonou o tema da guerra, preferindo o absurdo e o fantástico ao neo-realismo que marcou os seus primeiros trabalhos. A obra, que inaugurava uma trilogia também composta pelos volumes Il barone rampante (O barão trepador, publicado em 1957) e Il cavaliere inesistente (O cavaleiro inexistente, de 1959), e que causou fortes polémicas no seio do Partido Comunista Italiano (do qual que fora membro até 1956), contava a história de um homem mutilado por uma bala de canhão durante a tomada de Constantinopla.
Em 1959, viajou pelos Estados Unidos da América. De regresso, começou a editar a revista “Il Menabó Di Letteratura”, em colaboração com Elio Vittorini. Mantendo sempre um olhar crítico sobre a sociedade, entrelaçada na consciência individual e na inércia dos eventos históricos, publicou Marcovaldo (1963), uma coletânea de fábulas em que criticava o modo de vida das cidades, considerado destrutivo e vazio: Marcovaldo, um homem de família, sonhador, permanece na sua cidade durante o mês de Agosto, quando todos os outros habitantes partiram para férias, e vê o seu descanso ser interrompido por uma equipa de televisão que o quer entrevistar, precisamente por ter sido o único a renunciar às estâncias balneares.

Em 1972, publicou Le Cittá Invisibli (As cidades invisíveis), romance em que o lendário explorador Marco Polo se dedicava a contar histórias de cidades fictícias para divertimento de Kublai Khan, o imperador dos Tártaros, e que valeu a Calvino o Prémio Felrinelli.



As cidades invisíveis
Em As Cidades Invisíveis, Italo Calvino imagina um diálogo fantástico entre Marco Polo, o maior viajante de todos os tempos, e Kublai Khan, em cuja corte o mercador veneziano terá desempenhado funções diplomáticas. Porque Kublai Khan não pode ver com os seus próprios olhos toda a extensão do seu império, Marco Polo será a sua visão, descrevendo-lhe minuciosamente 55 cidades (imaginárias) por onde teria passado, agrupadas em temas como “as cidades e a memória”, “as cidades e o céu”, “as cidades e os mortos”, “as cidades e o desejo” e todas com nome de mulher (Procópia, Ersília, Olinda, Sofrónia, Tecla, Trude, …).

«As Cidades Invisíveis apresenta-se como uma série de relatos de viagem que Marco Polo faz a Kublai Kan, imperador dos tártaros. [...] A este imperador melancólico, que percebeu que o seu poder ilimitado conta pouco num mundo que caminha em direção à ruína, um viajante visionário fala de cidades impossíveis, por exemplo, uma cidade microscópica que se expande, se expande até que termina formada por muitas cidades concêntricas em expansão, uma cidade teia de aranha suspensa sobre um abismo, ou uma cidade bidimensional como Moriana. [...] Creio que o livro não evoca apenas uma ideia atemporal de cidade, mas que desenvolve, ora implícita ora explicitamente, uma discussão sobre a cidade moderna. [...] Penso ter escrito algo como um último poema de amor às cidades, quando é cada vez mais difícil vivê-las como cidades.»

(Italo Calvino)

A sua obra mais conhecida, Se una notte d'inverno un viaggiatore (Se numa Noite de Inverno um Viajante), é publicada em 1979, após sete anos de silêncio.


Se numa Noite de Inverno um Viajante

Um romance que combina uma história de amor, uma história policial e uma análise sarcástica da indústria editorial numa brilhante alegoria da leitura. Com base numa analogia espirituosa entre o desejo do leitor de terminar de ler o romance e o desejo do amante de consumar a sua paixão, Se numa Noite de Inverno Um Viajante é a história de dois leitores confusos cujas tentativas de chegar ao fim do mesmo livro – o próprio Se numa Noite de Inverno Um Viajante de Italo Calvino – são constante e comicamente frustradas.
Este é por isso uma meditação ficcional sobre a natureza da própria ficção, um verdadeiro desafio para o leitor, desafiado a pensar a literatura com a própria literatura, bem como a envolver-se com outros personagens que fazem parte do universo literário, tais como o tradutor, o agente literário, o editor, o crítico literário ou o próprio autor.
Se numa Noite de Inverno Um Viajante é um romance sobre o prazer de ler romances, em que o protagonista é o Leitor, que dez vezes começa a ler um livro que, devido a vicissitudes estranhas à sua vontade, não consegue acabar. Temos assim o início de dez romances de autores imaginários, todos eles muito diferentes entre si. Subitamente a história interrompe-se, passando a ser a do Leitor ao ser confrontado com os sedutores mecanismos de expectativa que o autor prepara sempre com mestria e que depois perfidamente se recusa a satisfazer.

“Estás para começar a ler Se numa Noite de Inverno um Viajante de Italo Calvino. Descontrai-te. Recolhe-te. Afasta de ti todos os outros pensamentos. Deixa esfumar-se no indistinto o mundo que te rodeia. A porta é melhor fechá-la; lá dentro a televisão está sempre acesa. Diz aos outros: «Não, não quero ver televisão!». Levanta a voz, senão não te ouvem: «Estou a ler! Não quero que me incomodem!». Não devem ter-te ouvido, com aquele barulho todo; fala mais alto, grita: «Estou a começar a ler o novo romance de Italo Calvino!». Ou se não quiseres não digas nada; esperemos que te deixem em paz.”
(do primeiro parágrafo do livro)

“Pois bem, viste num jornal que saiu Se numa noite de Inverno um Viajante, um novo livro de Italo Calvino, que já não publicava nada há vários anos. Passaste pela livraria e compraste o volume. Fizeste bem”.
(pág. 8)

Em 1983, Italo Calvino publica o seu último romance, Palomar.


Palomar
Em Palomar (1983), Italo Calvino descreve as contemplações filosóficas de um homem aparentemente simples, o Senhor Palomar. Palomar é também o nome de um observatório astronómico localizado em San Diego, Califórnia, que durante muito tempo albergou o maior telescópio do mundo. Por intencional ironia, o senhor Palomar é todo olhos, mas funciona quase sempre como se fosse um telescópio ao contrário, voltado não para a amplidão do espaço, mas para as coisas próximas do quotidiano. Palomar é um livro sobre as observações minuciosas e os pensamentos que elas despertam, básicos, engraçados, estranhos, profundos, no senhor Palomar. A praia, o mar, o céu noturno, a cidade, um prado, répteis, girafas, queijos, pantufas ou morder a língua três vezes são algumas das coisas sobre as quais o senhor Palomar divaga, observa, seguindo um plano delineado ou deixando-se levar pelos pensamentos.
Neste romance, fazendo uma sábia mistura de descrição, narração e reflexão, Calvino revela a mesma inquietude de outras obras, sem esquecer aquela pitada de humor refinado que contribui para a leveza de seus textos.

“O senhor Palomar encontra-se na praia, de pé, e observa uma onda. Não se pode dizer que esteja absorto na contemplação das ondas. Não está absorto, porque sabe bem aquilo que faz: pretende observar uma onda e a observa. Não está contemplando, porque para a contemplação é necessário um temperamento adequado, um estado de espírito adequado e um conjunto de circunstâncias externas adequadas: e apesar do senhor Palomar não ter qualquer questão de princípio contra a contemplação, nenhuma destas três condições se verifica no seu caso. Finalmente, não são “as ondas” que ele pretende observar, mas uma única onda e basta: querendo evitar as sensações vagas, estabelece para cada um dos seus atos um objetivo limitado e bem definido.”

(p. 11)

Obras de Italo Calvino

(*) presentes no catálogo da Biblioteca do ECB

O atalho dos ninhos de aranha, 1947
O visconde cortado ao meio, 1952 (*)
Perde quem fica zangado primeiro, 1954
Fábulas e contos, 1956
O barão trepador, 1957 (*)
A especulação imobiliária, 1958
O cavaleiro inexistente, 1959
Um otimista na América, 1960
O dia de um escrutinador, 1963
Os oportunistas, 1963
Marcovaldo, 1963
A vida difícil, 1963
Os idílios difíceis, 1964
Cosmicómicas, 1965
A nuvem de smog e a formiga argentina, 1965
A memória do mundo, 1968
O castelo dos destinos cruzados, 1969 (*)
Os Amores Difíceis, 1970
As cidades invisíveis, 1972 (*)
Se numa noite de inverno um viajante, 1979 (*)
Ponto final, 1980
Um mistério no labirinto, 1981
Palomar, 1983 (*)
Novas cosmicómicas, 1984
Sob o sol jaguar, 1986 (edição póstuma)
Seis propostas para o próximo milénio, 1988 (edição póstuma)
Sobre o conto de fadas, 1988 (edição póstuma)
O caminho de San Giovanni, 1990 (edição póstuma)
Porquê ler os clássicos, 1991 (edição póstuma)
Um eremita em Paris, 1994 (edição póstuma)

As Cidades Invisíveis - uma exposição na Biblioteca do ECB

No ano letivo de 2016/2017, a partir da leitura de excertos da obra de Calvino, os alunos do 11º ano do curso de Artes Visuais imaginaram algumas dessas cidades, criando uma técnica mista de representação através da manipulação de mais do que um material.
O resultado do seu trabalho esteve patente numa Exposição no átrio da Biblioteca do ECB.










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