“Neste
mundo não existe estabilidade. Quem será capaz de exprimir o significado das
coisas? Quem pode prever o voo que uma palavra descreve depois de dita? É um
balão que plana sobre as árvores. E o esforço de conhecer é sempre inútil. Tudo
é experiência e aventura. Constantemente formamos novas combinações de
elementos desconhecidos. O que está para vir?“
Virginia Woolf, As Ondas
A 25
de janeiro de 1882, nascia em Londres Adeline Virginia Stephen, filha do escritor,
historiador ensaísta e biógrafo Sir Leslie Stephen. Conhecida como Virginia Woolf (após o seu casamento,
em 1912, com o escritor e editor Leonard Woolf), foi escritora, ensaísta e uma
das mais proeminentes figuras do modernismo britânico, tendo desempenhado um
papel significativo na sociedade literária londrina durante o período entre
guerras.
Sem
ter frequentado a escola (o próprio pai e professores particulares cuidaram da
sua educação), Virginia Woolf começou a escrever muito cedo. Com nove anos, redigia,
periodicamente, para uso da família, um jornalzinho a que deu o título de Hyde Park Gate News. Em 1900, começou a
escrever profissionalmente com um artigo jornalístico sobre Haworth, a casa da
família Brontë, para o Times Literary
Supplement.
Em
1905, a família Stephen mudou-se para o bairro londrino de Bloomsbury, onde se
viria a formar o “Grupo de Bloomsbury”, um grupo de intelectuais que se
posicionaria contra as tradições literárias, políticas e sociais da Era
Vitoriana e que, além da própria Virginia, reunia escritores como Saxon
Sydney-Turner, David Herbert Lawrence, Lytton Strachey, Leonard Woolf, pintores
como Mark Gertler, Duncan Grant, Roger Fry, Vanessa, a irmã de Virginia,
críticos como Clive Bell e Desmond MacCarthy, o economista John Maynard Keynes
e Bertrand Russell.
Entre
1905 e 1907, Virginia Woolf deu aulas de escrita e história no Morley College,
uma instituição de ensino noturno para pessoas da classe operária. Em 1910, participou
numa campanha a favor do voto feminino, sendo, durante toda a vida, uma
insistente defensora da causa da emancipação feminina, presente em algumas das
suas obras, como A Room of One’s Own
[Um quarto só seu] e Three Guineas [Três guinéus], onde examina a dificuldade que escritoras e
intelectuais mulheres enfrentam devido ao facto de os homens deterem
desproporcionalmente o poder legal e económico, assim como o futuro das
mulheres na educação e sociedade. Em O
Segundo Sexo (de 1949), Simone de Beauvoir considera-a, a par de Emily
Brontë e Katherine Mansfield, como uma das três únicas escritoras que
exploraram este tema.
Virginia
Woolf estreou-se na literatura em 1915, com o romance The Voyage Out, que abriu caminho para a sua carreira como
escritora. Além de romances, escreveu diversos contos e uma quantidade imensa
de resenhas e ensaios críticos, espalhados por diversas publicações periódicas.
Desde
cedo ligada a grupos de intelectuais, em 1917 fundou com o marido a editora
Hogarth Press, responsável pela revelação de autores como Katherine Mansfield e
T. S. Eliot e pela publicação das suas próprias obras.
Woolf
é considerada a maior romancista lírica do idioma inglês e a sua obra enquadra-se
nas vanguardas modernistas de inícios do século XX, ao lado de escritores como
James Joyce ou Joseph Conrad. Nos seus romances, experimentou o fluxo da
consciência e a psicologia íntima, bem como tramas emocionais dos seus
personagens: uma narrativa, frequentemente rotineira e comum, é trabalhada – e
algumas vezes quase que dissolvida – sob a consciência recetiva dos
personagens. Um lirismo intenso e um virtuosismo estilístico se unem para criar
um mundo superabundante de impressões audiovisuais.
Entre
os seus trabalhos podemos destacar os romances Mrs Dalloway (1925), Orlando
(1928) e As Ondas (1931), assim como
o ensaio Um Quarto que Seja Seu
(1929).
As suas
reflexões sobre a arte literária – da liberdade de criação ao prazer da leitura
–, baseadas nas obras de Joseph Conrad, Daniel Defoe, Dostoievski, Jane Austen,
James Joyce, Montaigne, Tolstoi, Tchekov, Sterne, entre outros clássicos, foram
reunidas em dois volumes publicados pela Hogarth Press em 1925 e 1932 sob o
título The Common Reader [O Leitor Comum], homenagem explícita de Virginia Woolf àquele que, livre de qualquer tipo de obrigação, lê para seu próprio
desfrute pessoal.
As crises
depressivas de que sofreu toda a vida, agravadas pela eclosão da II Guerra
Mundial e a destruição da sua casa em Londres durante o Blitz, levaram-na ao suicídio,
em 1941. No dia 28 de março, com 58 anos, Virginia Woolf vestiu o casaco,
encheu os bolsos com pedras, caminhou em direção ao Rio Ouse, perto da sua casa
em Lewes, e afogou-se. O seu corpo foi encontrado apenas três semanas mais
tarde, em 18 de abril de 1941, perto da ponte de Southease. Ao marido, deixou
as últimas palavras:
Querido,
Tenho a certeza de que estou a
enlouquecer de novo. Sinto que não poderemos atravessar outro desses tempos
horríveis. E desta vez não recuperarei. Começo a ouvir vozes e não consigo
concentrar-me. Por isso vou fazer o que creio ser o melhor.
Tens-me dado a maior felicidade
possível. Tens sido, em todos os sentidos, tudo o que alguém poderia ser. Não creio
que duas pessoas possam ter sido mais felizes, até à chegada dessa terrível
doença. Não consigo lutar mais, sei que estou a estragar a tua vida, que sem
mim poderias trabalhar. E trabalharás, eu sei. Como vês, nem isto consigo
escrever como deve ser. Não consigo ler.
O que quero dizer é que te devo toda a
felicidade da minha vida. Tens sido inteiramente paciente comigo… e
incrivelmente bom. Quero dizer isto – toda a gente o sabe. Se alguém me pudesse
salvar, esse alguém terias sido tu. Tudo desapareceu para mim, menos a certeza
da tua bondade. Não posso continuar a estragar a tua vida durante mais tempo.
Não creio que duas pessoas possam ter
sido mais felizes do que nós.
V.”
O
seu corpo foi cremado e as suas cinzas enterradas junto de um olmo no jardim de
Monk’s House, a casa do século XVIII onde Virginia viveu com o marido, desde
1919 até à sua morte.
Leonard e Virginia Woolf (Hyde
Park, Londres, Junho de 1925. Foto de Sydney J. Loeb
Obra literária
(*) – no catálogo da Biblioteca do ECB
Romances
The Voyage Out (1915)
Night and Day (1919)
O Quarto de Jacob (1922) (*)
Mrs. Dalloway (1925) (*)
To the Lighthouse(1927)
Orlando:
A Biography (1928) (*)
As Ondas (1931) (*)
Os
Anos (1937)
Entre
os Atos (1941)
Coleções
de contos
Kew
Gardens (1919)
Monday or Tuesday (1921)
A Haunted House and Other Short Stories (1944)
Mrs. Dalloway's Party (1973)
The Complete Shorter Fiction (1985)
A
Casa de Carlyle e Outros Esboços (2003)
Biografias
Flush: A Biography (1933)
Roger Fry: A Biography (1940)
Ensaios
Modern Fiction (1919)
The Common Reader (1925)
A Room of One's Own (1929)
On Being Ill (1930)
The London Scene (1931)
The Common Reader: Second Series (1932)
Three Guineas (1938)
The Death of the Moth and Other Essays (1942)
The Moment and Other Essays (1947)
The Captain's Death Bed and Other Essays (1950)
Granite and Rainbow (1958)
Books and Portraits (1978)
Women
and Writing (1979)
Teatro
Freshwater:
A Comedy (representado em 1923, revisto em 1935 e publicado em 1976)
Traduções
Stavrogin's
Confession & the Plan of 'The Life of a Great Sinner', dos rascunhos de
Fiódor Dostoiévski, traduzido em parceria com S. S. Koteliansky (1922)
Cartas
Congenial Spirits: The Selected Letters (1993)
The Letters of Virginia Woolf, 1888-1941 (1993)
Paper Darts: The Illustrated Letters of Virginia Woolf
(1991)
Sem comentários:
Enviar um comentário