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quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Virginia Woolf - Autora do mês de janeiro




“Neste mundo não existe estabilidade. Quem será capaz de exprimir o significado das coisas? Quem pode prever o voo que uma palavra descreve depois de dita? É um balão que plana sobre as árvores. E o esforço de conhecer é sempre inútil. Tudo é experiência e aventura. Constantemente formamos novas combinações de elementos desconhecidos. O que está para vir?“
Virginia Woolf, As Ondas

A 25 de janeiro de 1882, nascia em Londres Adeline Virginia Stephen, filha do escritor, historiador ensaísta e biógrafo Sir Leslie Stephen. Conhecida como Virginia Woolf (após o seu casamento, em 1912, com o escritor e editor Leonard Woolf), foi escritora, ensaísta e uma das mais proeminentes figuras do modernismo britânico, tendo desempenhado um papel significativo na sociedade literária londrina durante o período entre guerras.
Sem ter frequentado a escola (o próprio pai e professores particulares cuidaram da sua educação), Virginia Woolf começou a escrever muito cedo. Com nove anos, redigia, periodicamente, para uso da família, um jornalzinho a que deu o título de Hyde Park Gate News. Em 1900, começou a escrever profissionalmente com um artigo jornalístico sobre Haworth, a casa da família Brontë, para o Times Literary Supplement.
Em 1905, a família Stephen mudou-se para o bairro londrino de Bloomsbury, onde se viria a formar o “Grupo de Bloomsbury”, um grupo de intelectuais que se posicionaria contra as tradições literárias, políticas e sociais da Era Vitoriana e que, além da própria Virginia, reunia escritores como Saxon Sydney-Turner, David Herbert Lawrence, Lytton Strachey, Leonard Woolf, pintores como Mark Gertler, Duncan Grant, Roger Fry, Vanessa, a irmã de Virginia, críticos como Clive Bell e Desmond MacCarthy, o economista John Maynard Keynes e Bertrand Russell.
Entre 1905 e 1907, Virginia Woolf deu aulas de escrita e história no Morley College, uma instituição de ensino noturno para pessoas da classe operária. Em 1910, participou numa campanha a favor do voto feminino, sendo, durante toda a vida, uma insistente defensora da causa da emancipação feminina, presente em algumas das suas obras, como A Room of One’s Own [Um quarto só seu] e Three Guineas [Três guinéus], onde examina a dificuldade que escritoras e intelectuais mulheres enfrentam devido ao facto de os homens deterem desproporcionalmente o poder legal e económico, assim como o futuro das mulheres na educação e sociedade. Em O Segundo Sexo (de 1949), Simone de Beauvoir considera-a, a par de Emily Brontë e Katherine Mansfield, como uma das três únicas escritoras que exploraram este tema.
Virginia Woolf estreou-se na literatura em 1915, com o romance The Voyage Out, que abriu caminho para a sua carreira como escritora. Além de romances, escreveu diversos contos e uma quantidade imensa de resenhas e ensaios críticos, espalhados por diversas publicações periódicas.
Desde cedo ligada a grupos de intelectuais, em 1917 fundou com o marido a editora Hogarth Press, responsável pela revelação de autores como Katherine Mansfield e T. S. Eliot e pela publicação das suas próprias obras.
Woolf é considerada a maior romancista lírica do idioma inglês e a sua obra enquadra-se nas vanguardas modernistas de inícios do século XX, ao lado de escritores como James Joyce ou Joseph Conrad. Nos seus romances, experimentou o fluxo da consciência e a psicologia íntima, bem como tramas emocionais dos seus personagens: uma narrativa, frequentemente rotineira e comum, é trabalhada – e algumas vezes quase que dissolvida – sob a consciência recetiva dos personagens. Um lirismo intenso e um virtuosismo estilístico se unem para criar um mundo superabundante de impressões audiovisuais.
Entre os seus trabalhos podemos destacar os romances Mrs Dalloway (1925), Orlando (1928) e As Ondas (1931), assim como o ensaio Um Quarto que Seja Seu (1929).




As suas reflexões sobre a arte literária – da liberdade de criação ao prazer da leitura –, baseadas nas obras de Joseph Conrad, Daniel Defoe, Dostoievski, Jane Austen, James Joyce, Montaigne, Tolstoi, Tchekov, Sterne, entre outros clássicos, foram reunidas em dois volumes publicados pela Hogarth Press em 1925 e 1932 sob o título The Common Reader [O Leitor Comum], homenagem explícita de Virginia Woolf àquele que, livre de qualquer tipo de obrigação, lê para seu próprio desfrute pessoal.

As crises depressivas de que sofreu toda a vida, agravadas pela eclosão da II Guerra Mundial e a destruição da sua casa em Londres durante o Blitz, levaram-na ao suicídio, em 1941. No dia 28 de março, com 58 anos, Virginia Woolf vestiu o casaco, encheu os bolsos com pedras, caminhou em direção ao Rio Ouse, perto da sua casa em Lewes, e afogou-se. O seu corpo foi encontrado apenas três semanas mais tarde, em 18 de abril de 1941, perto da ponte de Southease. Ao marido, deixou as últimas palavras:


Querido,

Tenho a certeza de que estou a enlouquecer de novo. Sinto que não poderemos atravessar outro desses tempos horríveis. E desta vez não recuperarei. Começo a ouvir vozes e não consigo concentrar-me. Por isso vou fazer o que creio ser o melhor.
Tens-me dado a maior felicidade possível. Tens sido, em todos os sentidos, tudo o que alguém poderia ser. Não creio que duas pessoas possam ter sido mais felizes, até à chegada dessa terrível doença. Não consigo lutar mais, sei que estou a estragar a tua vida, que sem mim poderias trabalhar. E trabalharás, eu sei. Como vês, nem isto consigo escrever como deve ser. Não consigo ler.
O que quero dizer é que te devo toda a felicidade da minha vida. Tens sido inteiramente paciente comigo… e incrivelmente bom. Quero dizer isto – toda a gente o sabe. Se alguém me pudesse salvar, esse alguém terias sido tu. Tudo desapareceu para mim, menos a certeza da tua bondade. Não posso continuar a estragar a tua vida durante mais tempo.
Não creio que duas pessoas possam ter sido mais felizes do que nós.
V.

O seu corpo foi cremado e as suas cinzas enterradas junto de um olmo no jardim de Monk’s House, a casa do século XVIII onde Virginia viveu com o marido, desde 1919 até à sua morte.

Leonard Virginia Woolf (Hyde Park, Londres, Junho de 1925. Foto de Sydney J. Loeb



Obra literária
(*) – no catálogo da Biblioteca do ECB

Romances
The Voyage Out (1915)
Night and Day (1919)
O Quarto de Jacob (1922) (*)
Mrs. Dalloway (1925) (*)
To the Lighthouse(1927)
Orlando: A Biography (1928) (*)
As Ondas (1931) (*)
Os Anos (1937)
Entre os Atos (1941)

Coleções de contos
Kew Gardens (1919)
Monday or Tuesday (1921)
A Haunted House and Other Short Stories (1944)
Mrs. Dalloway's Party (1973)
The Complete Shorter Fiction (1985)
A Casa de Carlyle e Outros Esboços (2003)
Biografias
Flush: A Biography (1933)
Roger Fry: A Biography (1940)

Ensaios
Modern Fiction (1919)
The Common Reader (1925)
A Room of One's Own (1929)
On Being Ill (1930)
The London Scene (1931)
The Common Reader: Second Series (1932)
Three Guineas (1938)
The Death of the Moth and Other Essays (1942)
The Moment and Other Essays (1947)
The Captain's Death Bed and Other Essays (1950)
Granite and Rainbow (1958)
Books and Portraits (1978)
Women and Writing (1979)

Teatro
Freshwater: A Comedy (representado em 1923, revisto em 1935 e publicado em 1976)

Traduções
Stavrogin's Confession & the Plan of 'The Life of a Great Sinner', dos rascunhos de Fiódor Dostoiévski, traduzido em parceria com S. S. Koteliansky (1922)

Cartas
Congenial Spirits: The Selected Letters (1993)
The Letters of Virginia Woolf, 1888-1941 (1993)
Paper Darts: The Illustrated Letters of Virginia Woolf (1991)

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