A
16 de novembro de 2022 assinala-se o centenário do nascimento de José Saramago.
Antecipando as comemorações que irão decorrer a partir de novembro de 2021, a
biblioteca do ECB presta homenagem à sua figura como cidadão e escritor e volta
a eleger como autor do mês o até agora único português galardoado com o Prémio
Nobel de Literatura, considerado como responsável pelo efetivo reconhecimento
internacional da prosa em língua portuguesa. Segundo a Academia Sueca, o prémio
foi-lhe atribuído "... pela sua
capacidade de tornar compreensível uma realidade fugidia, com parábolas
sustentadas pela imaginação, pela compaixão e pela ironia".
Foi
autor de 18 romances (dois deles, Claraboia
e Alabardas, Alabardas, Espingardas,
Espingardas, publicados postumamente), cinco peças de teatro, três livros
de poesia, além de vários livros de contos e de viagem, crónicas, diários e
memórias.
De
acordo com os responsáveis pelo programa oficial das comemorações deste
centenário, “a efeméride constituirá uma oportunidade privilegiada para a
consolidação da presença do escritor na história cultural e literária, em
Portugal e no estrangeiro”.
José Saramago nasceu na aldeia da Azinhaga do Ribatejo, uma freguesia do concelho da Golegã, Santarém, a 16 de novembro de 1922,
"[...] numa família de camponeses sem terra, em Azinhaga, uma pequena povoação situada na província do Ribatejo, na margem direita do rio Almonda, a uns cem quilómetros a nordeste de Lisboa." (Autobiografia, in https://www.josesaramago.org/biografia/)
Em 1924, a família muda-se para Lisboa, onde o pai irá trabalhar na Polícia de Segurança Pública. Em 1929 é inscrito na escola primária da Rua Martens Ferrão, mudando-se em 1930 para a escola primária do Largo do Leão. Em 1932 matricula-se no Liceu Gil Vicente, onde inicia estudos secundários, frequentando dois cursos (liceal e técnico). A falta de recursos económicos da família obriga-o, em 1935, a transferir-se para a Escola Industrial de Afonso Domingues, onde estudará até 1940.
"Entretanto, meus pais haviam chegado à conclusão de que, por falta de meios, não poderiam continuar a manter-me no liceu. A única alternativa que se apresentava seria entrar para uma escola de ensino profissional, e assim se fez: durante cinco anos aprendi o ofício de serralheiro mecânico.
Como não tinha livros em casa (livros meus, comprados por mim, ainda que com dinheiro emprestado por um amigo, só os pude ter aos 19 anos), foram os livros escolares de Português, pelo seu carácter “antológico”, que me abriram as portas para a fruição literária: ainda hoje posso recitar poesias aprendidas naquela época distante. Terminado o curso, trabalhei durante cerca de dois anos como serralheiro mecânico numa oficina de reparação de automóveis." (Autobiografia, in https://www.josesaramago.org/biografia/)
Após
a conclusão dos estudos de Serralharia Mecânica na Escola Industrial de Afonso
Domingues, consegue o seu primeiro emprego como serralheiro mecânico nas
oficinas dos Hospitais Civis de Lisboa.
À noite frequenta a biblioteca municipal do Palácio das Galveias, "lendo ao acaso de encontros e de catálogos, sem orientação, sem ninguém que me aconselhasse, com o mesmo assombro criador do navegante que vai inventando cada lugar que descobre", nas palavras do próprio Saramago.
"E foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender, que o meu gosto pela leitura se desenvolveu e apurou." (Autobiografia, in https://www.josesaramago.org/biografia/)
Depois
de, em 1942, ir trabalhar para os serviços administrativos dos Hospitais Civis
de Lisboa, em 1943 é na Caixa de Abono de Família do Pessoal da Indústria de
Cerâmica que o encontramos, sendo afastado em 1949 em consequência do seu apoio
à campanha eleitoral de Norton de Matos, o candidato da oposição à Presidência
da República.
Em
1944, casa-se com a pintora Ilda Reis e em 1947 nasce a sua única filha,
Violante.
Em
1947, publica o seu primeiro livro, intitulado A Viúva, mas que, por razões editoriais, viria a sair com o título
de Terra do Pecado.
Em
1950, começa a trabalhar na Caixa de Previdência do Pessoal da Companhia
Previdente, fazendo cálculos de subsídios e de pensões.
Em
1953, termina o romance Clarabóia, que
será publicado apenas após a sua morte.
No
final dos anos 50 torna-se responsável pela produção na editora Estúdios Cor,
função que conjugaria com a de tradutor e de crítico literário. Em 1959 abandona
a Companhia Previdente para trabalhar exclusivamente na editora Estúdios Cor, continuando
a sua atividade de tradutor.
Depois
de 19 anos de ausência do mundo literário
português, regressa à escrita em 1966 com a edição do seu primeiro livro de
poesia, Os Poemas Possíveis.
Em
1970, surge novo livro de poesia, Provavelmente
Alegria.
Em
1975, publica o poema longo O Ano de 1993.
É também em 1975 que publica no
Diário de Notícias o "Primeiro e Segundo Poema dos Mortos". Nomeado diretor-adjunto
deste jornal, será mais tarde afastado, por acusações de radicalismo marxista.
Os momentos de crise que entretanto vive levam-no à decisão de se dedicar exclusivamente
à escrita e à tradução, atividade de onde provêm os seus únicos rendimentos.
No
princípio de 1976 instala-se no Lavre, antiga freguesia do município de
Montemor-o-Novo, no distrito de Évora, para documentar o seu projeto de
escrever sobre os camponeses sem terra. Desta estadia nasce o romance Levantado do Chão, que será publicado em
1980 e que marca o início do estilo saramaguiano, um modo de narrar que
caracteriza a sua ficção novelesca.
Em
1979 publica a peça de teatro A Noite,
com a qual recebe o Prémio da Associação Portuguesa de Críticos.
Em 1980 publica a peça de teatro Que Farei com
Este Livro?, pergunta que, segundo Saramago teria feito Camões ao
contemplar o seu poema Os Lusíadas por fim impresso. A peça foi representada
nesse ano no Teatro de Almada.
Em
1988 casa-se com a jornalista Pilar del Río.
Na
sequência da desilusão que este veto provoca, em 1993 transfere a sua
residência para a ilha de Lanzarote, nas Canárias.
Ainda
em 1993, publica a sua quarta peça de teatro, In Nomine Dei, de que seria extraído o libreto da ópera Divara, com
música do compositor italiano Azio Corghi, estreada em Münster (Alemanha).
Em
1994, dá início à publicação dos Cadernos
de Lanzarote, um
conjunto de cinco diários escritos entre 1993 e 1998, onde narra episódios do
seu quotidiano, faz críticas literárias, reflexões filosóficas e trata de
outros temas. Segundo o autor, o lema que regeu este relato diarístico foi "Contar os dias pelos dedos e encontrar
a mão cheia." (Revista Blimunda n.º 77, outubro de 2018, pág. 20). Em
outubro de 2018, já após a morte de Saramago, será lançado o sexto caderno,
encontrado por Pilar del Rio num computador antigo.
José
Saramago faleceu no dia 18 de junho de 2010, aos 87 anos de idade, na sua casa
em Lanzarote onde residia com a mulher Pilar del Rio. O seu funeral teve honras
de Estado, tendo o seu corpo sido cremado no Cemitério do Alto de São João, em
Lisboa. As cinzas do escritor foram depositadas aos pés de uma oliveira, junto
à Fundação que tem o seu nome, em Lisboa, em 18 de junho de 2011.
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