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sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Dia 10 do Advento - A bibliotecária de Auschwitz


“O que a literatura faz é o mesmo que um fósforo no meio de um campo em plena noite. Um fósforo quase nada ilumina, mas permite-nos ver quanta escuridão há à nossa volta.“ (William Faulkner, citado por Javier Marías in A bibliotecária de Auschwitz) 

António G. Iturbe – A bibliotecária de Auschwitz. Lisboa: Editora Planeta. 1ª edição 2013. Traduzido por Mário Dias Correia.

Dita Polachova é uma jovem checa de 14 anos que, tal como muitas crianças de origem judaica, conheceu o horror e o martírio no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, considerado o campo mais mortífero e implacável.

Dita nasceu em Praga, então capital da Checoslováquia (hoje República Checa), em de julho de 1929, numa família de classe média. Quando tinha 10 anos de idade, começou a Segunda Guerra Mundial.

Em 1942, a família Polachova foi deportada para o campo de concentração de Theresienstadt, na Boémia-Morávia (região da Checoslováquia), onde 150 mil judeus foram alojados em condições deploráveis. Em dezembro de 1943, foram transferidos para o campo familiar BIIb, em Auschwitz-Birkenau, na Polónia.

Dita Polachova foi para o Bloco das Crianças, cujo chefe, Fredy Hirsch, era um dos líderes do movimento juvenil sionista, movimento nacionalista que defendia o direito à autodeterminação do povo judeu e a criação de um estado soberano e independente no território onde historicamente existiu o antigo Reino de Israel. Hirsch conseguiu convencer as autoridades alemãs do campo de que ter as crianças entretidas durante o dia num barracão separado facilitaria o trabalho dos pais do campo BIIb, a que chamavam «campo familiar». Os alemães concordaram, mas com duas condições: no barracão infantil haveria apenas atividades lúdicas e seria terminantemente proibido o ensino de qualquer conteúdo escolar. Mas, de modo clandestino, Fredy Hirsch ergueu uma escola dentro de um barracão no pavilhão 31.

E aí, num lugar onde os livros são proibidos, contra todas as expectativas, existem oito livros em papel que Fredy Hirsch mantinha em segredo, dos quais Dita se torna guardiã e distribuidora, recrutando igualmente “livros vivos” para contarem histórias e ensinarem as crianças. Num campo onde o terror domina, a biblioteca clandestina, que para todos os efeitos nunca existiu, é uma forma de voar para bem longe daquela prisão. No meio do horror, a jovem Dita dá-nos uma maravilhosa lição de coragem e de esperança: não se rende e nunca perde a vontade de viver nem de ler porque, mesmo naquele terrível campo de extermínio nazi, «abrir um livro é como entrar para um comboio que nos leva de férias».


A jovem Dita Polachova

Em junho de 1944, Dita Polachova foi encaminhada para um campo de concentração alemão em Hamburg. Em abril do ano seguinte, ela e a mãe foram para Bergen Belsen, onde quase morreram de desnutrição e de tifo. Dita recuperou, mas a mãe viria a morrer em junho de 1945. O pai morrera entretanto em Auschwitz.

No dia 15 de abril de 1945, o exército aliado resgatou os prisioneiros do campo. Dita Polachova, com 16 anos de idade, voltou para Praga em julho desse mesmo ano. Descobriu então que somente a sua avó e a mulher do primo do pai estavam vivas. Reencontrou depois o também sobrevivente de Auschwitz Ota Kraus, um jovem “professor” da escola de Fredy Hirsch, dos “livros vivos” que contavam histórias no Bloco 31, e que se tornou mais escritor. Casaram em 1947 e, em 1949, foram viver para Israel fugindo ao autoritarismo do regime comunista que se instalara na Checoslováquia.

O jornalista espanhol Antonio G. Iturbe descobriu, no livro A biblioteca à noite, de Alberto Manguel, referências à existência de uma pequena biblioteca num campo de concentração e a partir daí deu início a uma investigação que o conduziria até Dita Krauss. Quis então dar a conhecer ao mundo esta bibliotecária de Auschwitz, que, quase 70 anos depois, com mais de 80 anos, vive ainda em Netanya, Israel. Quando Iturbe decidiu procurar Dita, não foi difícil encontrá-la: o nome da bibliotecária de Auschwitz está na lista de sobreviventes do Holocausto do Yad Vashem (Museu do Holocausto), em Jerusalém…


Dita Polachova na atualidade

António González Iturbe


António González Iturbe nasceu em Saragoça (Espanha), em 1967, e cresceu em Barcelona. Publicou os romances Rectos Torcidos (2005), Dias de Sal (2008), A Bibliotecária de Auschwitz (2012) e A Céu Aberto (2017). Dedica-se há mais de vinte anos ao jornalismo cultural e atualmente dá aulas na Universidade de Barcelona e na Universidade Autónoma de Madrid.

Para conhecer mais sobre esta obra, ver Magazine literário da RTP, com apresentação de Teresa Sampaio, dedicado ao livro A Bibliotecária de Auschwitz, comentado pelo próprio autor.

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/a-bibliotecaria-de-auschwitz/


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