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sábado, 11 de dezembro de 2021

Dia 11 do Advento - O último cabalista de Lisboa

 


“Estava uma manhã resplandecente, como uma pérola opalina do colar daquele mês primaveril. Era o ano de 5266 para os cristãos-novos. O sexto dia de abril de 1506 para os [...] cristãos de alma e coração. [...] O dia do nosso primeiro seder da Páscoa ergueu-se fusco e seco, como todas as manhãs ultimamente. Há mais de onze semanas que não recebíamos a benção da chuva. E também hoje não choveria...”

Richard Zimler – O último cabalista de Lisboa. Lisboa: Livros Quetzal. 1ª edição 1996. Tradução de José Lima

Lisboa, abril de 1506. Durante as celebrações da Páscoa, cerca de dois mil cristãos-novos foram mortos num pogrom (movimento popular violento organizado contra uma comunidade, em especial uma comunidade judaica) e os seus corpos queimados no Rossio. Reinava então D. Manuel, o Venturoso, e os frades incitavam o povo à matança, acusando os cristãos-novos de serem a causa da fome e da peste que flagelavam a cidade.

Em dezembro de 1496, quatro anos depois de expulsarem do seu reino todos os judeus, os soberanos de Espanha, D. Fernando e Dona Isabel, haviam convencido o rei de Portugal, D. Manuel, a expulsar todos os judeus de Portugal como condição para lhe concederem a mão da sua filha. Segue-se um processo de conversão forçada dos judeus ao cristianismo – que passam a ser designados por «cristãos-novos» –, mas muitos continuam clandestinamente a praticar os seus rituais religiosos.

Em 1506, Portugal vive um período de seca prolongada e de peste que dizima milhares de habitantes; é preciso encontrar um culpado, um bode expiatório para esses males. Os judeus (a quem chamam «marranos») são então o alvo a abater. Os frades dominicanos dirigiam e incitavam as levas de cristãos sedentos de violência, vingando-se nos judeus e cristãos-novos acusados de todos os males que então se viviam.

O relato que constitui O Último Cabalista de Lisboa é feito a partir de uns manuscritos escritos entre 1507 e 1530 por Berequias Zarco e encontrados nos anos 90 do século XX numa velha casa de Istambul. Neles descreve-se o massacre de Lisboa em 1506 e conta-se a odisseia vivida pela família Zarco, uma família de cristãos-novos residente em Alfama naquele período de convulsão. Berequias Zarco, Pedro por batismo cristão forçado, é sobrinho e discípulo de Abraão Zarco – iluminador e membro respeitado da célebre escola cabalística de Lisboa.

No domingo de Páscoa, Berequias encontra o tio e uma jovem desconhecida mortos na cave que servia de templo secreto desde que a sinagoga fora encerrada pelos cristãos-velhos. Abraão Zarcoi e a jovem misteriosa estão ambos nus e envoltos num mar de sangue; as suas gargantas parecem ter sido cortadas por uma faca judaica, uma shoet, e o alçapão da cave está fechado por dentro.  Também desapareceu do seu esconderijo um valioso manuscrito iluminado, a Haggada (o texto utilizado para os serviços da noite do Pessach, a Páscoa judaica, que contém a história da libertação do povo de Israel do Egito conforme é descrito no Livro do Êxodo e as orações, canções e provérbios judaicos que acompanham esta festividade). Estarão os dois incidentes relacionados? Terá sido um cristão ou um judeu, como os indícios fazem crer, a assassinar o tio? Quem será a rapariga morta?

Beremias, um dos sobreviventes do massacre de Lisboa, decidiu fugir para Constantinopla quando percebeu que em Portugal não havia futuro para si e para a sua família, pelo facto de serem judeus. O relato escrito dessa experiência terrível em Lisboa esteve interrompido durante largos anos, mas em 1530 quis terminá-lo quando decidiu regressar a Lisboa, na sequência de uma visão do seu grande mestre o tio Abraão Zarco...


Richard Zimler


Richard Zimler nasceu em 1956, em Roslyn Heights, um subúrbio de Nova Iorque. Fez um bacharelato em Religião Comparada na Duke University e um mestrado em Jornalismo na Stanford University. Trabalhou como jornalista durante oito anos, principalmente na região de São Francisco. Em 1990 foi viver para o Porto, onde lecionou Jornalismo, primeiro na Escola Superior de Jornalismo e depois na Universidade do Porto. Tem atualmente dupla nacionalidade, americana e portuguesa. Desde 1996, publicou doze romances, uma coletânea de contos e seis livros para crianças. O Último Cabalista de Lisboa, o seu primeiro romance publicado, catapultou Zimler para o sucesso internacional, tendo sido publicado em toda a Europa, nos Estados Unidos e Brasil, onde depressa se tornou uma obra de referência.

Com uma obra muito marcada pela experiência judaica (a história, a cultura, as perseguições, o antissemitismo), Richard Zimler centra-se sempre nas relações humanas e nos sentimentos que atravessam gerações, abordando também questões tão pungentes e controversas como a homossexualidade, a emigração e a dificuldade de relacionamento entre as pessoas, obrigando-nos a uma reflexão sobre a essência do ser humano e de como as situações que se nos deparam podem alterar irremediavelmente a forma como olhamos o mundo.

Para mais informações sobre Richard Zimler e a sua obra, visite o site 

https://www.zimler.com/pt/bem-vindo


Na biblioteca do ECB pode encontrar também as obras de Richard Zimler:


À procura de Sana, 2005

Em fevereiro do ano 2000, Richard Zimler desloca-se à Austrália para participar no Encontro de Escritores de Perth. Aí, conhece Sana, uma bailarina brasileira que lhe diz que o seu livro O Último Cabalista de Lisboa influenciou profundamente a sua vida. Um dia depois, Sana suicida-se, atirando-se da janela do hotel em que ambos estão hospedados.

Zimler torna-se então personagem do seu romance e, simultaneamente, investigador e narrador. As suas buscas levá-lo-ão a Paris, onde conhece Helena, amiga de infância de Sana. Porém, à medida que vai desenrolando o fio da vida de ambas – que começa em Haifa, numa época em que a convivência pacífica entre uma palestiniana e uma judia era ainda possível –, vê-se envolvido numa teia de ilusões, crueldade e vingança que culminará no 11 de Setembro de 2001.


A sétima porta, 2007

Em Berlim, na década de Trinta, Isaac Zarco, descendente de Berequias Zarco, protagonista de O último cabalista de Lisboa, está determinado a descobrir o que revelavam seis manuscritos escritos por Berequias Zarco e encontrados em 1990 numa cave de Istambul. Isaac está convencido que o pacto entre Hitler e Estaline, o Pacto Molotov–Ribbentrop, assinado em agosto de 1939 e que estabelecia esferas de influência entre as duas potências, anuncia uma profecia apocalíptica feita pelo seu antepassado que está prestes a concretizar-se. Acredita também que, se conseguir descodificar esses textos cabalísticos medievais, pode salvar o mundo.

Passado durante a subida ao poder de Hitler, o romance A Sétima Porta junta Sophie Riedesel e um grupo clandestino de ativistas judeus e antigos fenómenos de circo liderados por Isaac Zarco. Quando uma série de esterilizações forçadas, estranhos crimes e deportações para campos de concentração dizimam o grupo, Sophie, já adulta, tem de lutar com todo o seu engenho para salvar tudo o que ama na Alemanha.


Os anagramas de Varsóvia, 2009

Polónia, ano de 1940. Os nazis isolam milhares de judeus num pequeno gueto em Varsóvia. Erik Cohen, um velho psiquiatra judeu, vê-se obrigado a partilhar um pequeno apartamento com a sobrinha e o sobrinho-neto de nove anos, Adam.

Certo dia, Adam desaparece e o seu corpo, estranhamente mutilado, só é encontrado na manhã seguinte, no arame farpado sobre o muro que rodeia o gueto. Quando um segundo cadáver aparece em circunstâncias muito similares – desta vez o de uma rapariga judia –, Erik e o seu velho amigo Izzy tentam obter respostas, lançando-se numa investigação tão sinistra quanto perigosa.

O mistério adensa-se e as dúvidas também. Serão os próprios nazis responsáveis por aquelas mortes ou estará um traidor judeu envolvido nos crimes?


O evangelho segundo Lázaro, 2016

Partindo do episódio da ressurreição de Lázaro por Jesus, descrito no Novo Testamento, no Evangelho segundo São João, Richard Zimler procura resposta para as questões que rodeiam essa ressurreição: como é que Jesus Cristo realizou o milagre? Teria algum motivo especial para o fazer?. Em O Evangelho segundo Lázaro, preenche estas e outras lacunas, narrando a história da perspetiva de Lázaro, descrevendo como ele e Jesus se conheceram em crianças, a transcendência da ligação que os une e o momento em que Lázaro acordou no túmulo, desorientado e sem qualquer memória de uma vida após a morte.

Apenas trinta anos depois da crucificação do seu velho amigo, Lázaro começa a entender a extensão do papel que sempre ocupou na vida de Jesus e talvez ainda venha a ocupar. É que a derradeira prenda de Jesus a Lázaro – deixada num dos locais malditos de Jerusalém – parece conter a chave que ajudará Lázaro a concretizar os desígnios de uma Terra Prometida. Deverá ele arriscar tudo e levar a cabo os perigosos planos de Jesus?


Os dez espelhos de Benjamin Zarco, 2018

Benjamin Zarco e o seu primo Shelly foram os únicos membros da família a escapar ao Holocausto. Cada um à sua maneira, ambos carregam o fardo de ter sobrevivido a todos os outros. Benjamin recusa-se a falar do passado, procurando as respostas na cabala, que estuda com avidez, em busca daquilo a que chama os fios invisíveis que tudo ligam. E Shelly refugia-se numa hipersexualidade, seu único subterfúgio para calar os fantasmas que o atormentam.

Construído como um mosaico e dividido em seis peças, Os dez espelhos de Benjamin Zarco entretecem-se entre 1944, com a história de Ewa Armbruster, professora de piano cristã que arrisca a vida para esconder Benni em sua casa, e 2018, com o testemunho do filho de Benjamin acerca do manuscrito de Berequias Zarco, herança do pai, talvez a chave para compreender a razão por que Benjamin e Shelly se salvaram e o vínculo único que os une.


Insubmissos, 2020

Publicado originalmente em 1996, e inédito até agora em Portugal, Insubmissos é um romance vívido e intimista que ousa dar luz a temas como a SIDA, a homossexualidade, a solidão, o luto e o amor nas suas imensas variantes.

Depois da morte de muitos dos seus amigos, um professor de guitarra clássica, mundano, judeu e antiga estrela da equipa de basquetebol de Greenwich Village, decide abandonar os Estados Unidos e procurar uma nova vida em Portugal. Mas aquilo a que ele chama o eclipse viral da sexualidade persegue-o até ali, quando António, o seu mais talentoso aluno, testa positivo para VIH e ameaça desistir da vida aos vinte e quatro anos. Desesperado por mostrar ao jovem que ele ainda tem um futuro pela frente, «o Professor» organiza uma viagem de carro com destino a Paris, esperando ser capaz de convencer um virtuoso a aceitá-lo como aluno. O pai de António, um homem rígido e presença distante na sua vida, decide acompanhá-los e, de passagem, os três mergulham num triângulo de aventuras, violência e revelações pessoais. Será que de caminho vão encontrar uma oportunidade de redenção?


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