“Ainda me lembro daquele amanhecer em que o meu pai me levou pela
primeira vez a visitar o Cemitério dos Livros Esquecidos. Desfiavam-se os
primeiros dias do verão de 1945 e caminhávamos pelas ruas de uma Barcelona
apanhada sob céus de cinza e um sol de vapor que se derramava sobre a Rambla de
Santa Mónica numa grinalda de cobre líquido.”
Carlos Ruiz Zafón. A Sombra do Vento. Lisboa: D. Quixote,
2004. Tradução de J. Teixeira de Aguilar.
Poucos foram os leitores que não
se deixaram fascinar pelas primeiras linhas deste romance fantástico publicado
em 2001 pelo escritor catalão Carlos Ruiz Zafón.
Barcelona, 1945. Daniel Sempere acorda na noite do
seu décimo primeiro aniversário e percebe que já não se lembra do rosto da
falecida mãe. Para consolá-lo, o pai decide dar-lhe um presente e, de
madrugada, leva-o pela primeira vez ao Cemitério dos Livros Esquecidos, um
lugar misterioso, oculto no coração da cidade velha, uma biblioteca secreta e
labiríntica que guarda obras abandonadas pelo mundo, à espera de alguém que as
descubra. É aqui que Daniel encontra A sombra
do vento, um romance escrito por Julián Carax, livro maldito que muda o
rumo da sua vida e o arrasta para um labirinto de intrigas e segredos
enterrados na alma obscura de Barcelona.
Juntando as técnicas do relato de
intriga e suspense, o romance histórico e a comédia de costumes, A Sombra do Vento é um mistério literário
passado na Barcelona da primeira metade do século XX, desde os últimos
esplendores do Modernismo até às trevas do pós-guerra, passando pela Guerra
Civil Espanhola e a ditadura franquista, mas é também uma trágica história de
amor cujo eco se projeta através do tempo, um inesquecível relato sobre os
segredos do coração e o feitiço dos livros. A “Barcelona literária e
tenebrosa”, a “Barcelona gótica”, é, como afirmou o próprio autor, uma
personagem, mais do que um cenário.
A sombra do vento é o primeiro livro da série “O Cemitério dos Livros Esquecidos”, a que se seguiram O Jogo do Anjo (2008), O Prisioneiro do Céu (2011) e O Labirinto dos espíritos (2016). Esta tetralogia, que não precisa de ser lida pela ordem de publicação, tem como ponto comum o Cemitério dos Livros Esquecidos e os mistérios que envolvem três gerações da família Sempere.
Carlos Ruiz Zafón nasceu em Barcelona, a 25 de setembro de 1964. Iniciou a sua carreira literária em 1993 com a publicação de O Príncipe da Névoa, primeiro livro da série infanto-juvenil “Trilogia da Névoa”, a que se seguiram O Palácio da Meia-Noite (1994) e As luzes de Setembro (1995). Em 1999 publicou Marina e em 2001 surge A Sombra do Vento, cujas vendas em todo o mundo já ultrapassaram a marca dos quinze milhões de exemplares, considerada por isso a obra de ficção em língua espanhola mais popular a seguir a Dom Quixote.
Entre os vários prémios que
recebeu pela sua obra, conta-se o Prémio Literário Casino da Póvoa, que foi
atribuído em 2016 durante o festival literário Correntes d’Escritas da Póvoa de
Varzim.
Em junho de 2020, Carlos Ruiz
Zafón voltou a surpreender o mundo com a sua morte precoce em Los Angeles,
cidade onde residia desde os anos 90 do século XX.
Em 2020, foi publicada A Cidade de Vapor, obra póstuma que
reúne, pela primeira vez, 11 contos inéditos de Carlos Ruiz Zafón.
Nas estantes da biblioteca do ECB encontram-se também os romances
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