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quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Autor do mês de novembro – Jorge de Sena




Jorge de Sena nasceu em Lisboa, a 2 de Novembro de 1919, e faleceu na Califórnia, a 4 de Junho de 1978. Só em 2009 os seus restos mortais foram trasladados para Portugal, tendo a viúva doado o espólio literário à Biblioteca Nacional.
Cadete na Escola Naval, de onde foi expulso em 1938, formou-se em Engenharia Civil (1944), trabalhando na Junta Autónoma de Estradas entre 1948 e 1959. Exilado no Brasil, doutorou-se em Letras, lecionando em universidades do Brasil e, a partir de 1965, em consequência do golpe militar brasileiro, na universidade de Santa Bárbara, nos Estados Unidos, onde leciona até ao ano da sua morte.
Divide a sua vastíssima obra pela poesia – é um dos grandes poetas do século XX, introdutor da poesia da inteligibilidade que até hoje frutifica; pelo teatro, com O Indesejado e Mater Imperialis: Amparo de Mãe, entre outras peças; pela narrativa, com seis livros de contos, a admirável novela O Físico Prodigioso, e este romance, Sinais de Fogo; pelo ensaio crítico, sendo o inaugurador da crítica literária moderna em Portugal, especialmente no que se refere aos estudos camonianos.
O seu intenso labor intelectual levou-o ainda à crítica de cinema e à tradução de ficção e de poesia para português. Sem este admirável trabalho de tradução e divulgação, em que foi pioneiro absoluto, e de que ficou testemunho nas antologias Poesia de 25 séculos e Poesia do século XX, quantos de nós teriam podido ler, ou mesmo ter sabido da existência de grandes poetas de outras línguas, como Kavafis, Montale, Ezra Pound, Omar Kayyam ou Ana Akmàtova?
Conhecido também pelo seu génio irascível e pelo ressentimento amargo contra a pátria que ele amou e que o desprezou, Sena é um artista e um pensador a quem Portugal não fez ainda justiça.
«Sinais de fogo, os homens se despedem,
exaustos e tranquilos, destas cinzas frias.
E o vento que essas cinzas nos dispersa
não é de nós, mas é quem reacende
outros sinais ardendo na distância,
um breve instante, gestos e palavras,
ansiosas brasas que se apagam logo.»



Sinais de Fogo é um dos romances mais importantes da literatura portuguesa do séc. XX. Romance inacabado, por morte do autor aos cinquenta e nove anos, faria parte de uma trilogia a intitular “Monte Cativo”.
O primeiro romance desta trilogia, que não chegou a ser escrito, abarcaria a infância e parte da juventude do estudante do liceu, Jorge, até 1936; o segundo, este mesmo Sinais de Fogo, cuja ação decorre em escassos meses do ano de 1936, tem como pano de fundo a guerra civil espanhola; e o terceiro, não escrito pela mesma razão do primeiro, iria até 1959, ano em que Sena e a família tiveram de se exilar no Brasil, devido a uma conjura falhada para depor Salazar.
A ação de Sinais de Fogo decorre maioritariamente na Figueira da Foz, durante o verão. É talvez a única narrativa iniciática do nosso séc. XX: um romance de juventude da personagem central, da sua paixão amorosa por Mercedes e da progressiva consciencialização social e política que se consolidava também pela observação do drama dos espanhóis, apanhados em Portugal pelo eclodir da guerra civil no seu país. Iniciação, portanto, à vida adulta, à consciência de si no mundo, ao amor, à sexualidade, ao compromisso. E à poesia, esse outro sinal de fogo que, num deslumbramento quase rimbaudiano, fere o protagonista como uma revelação. A aprendizagem da poesia faz-se, ao longo da obra, indissociável de outras aprendizagens de vida – e tão essenciais como elas. Romance inaugural na literatura portuguesa, marca o início da viragem de toda uma época que, encetada com a guerra civil de Espanha, prossegue com a 2ª guerra mundial, com a da Coreia, do Vietname, e com as guerras pontualmente localizadas, como foi a colonial portuguesa, a qual fecha este ciclo.

Da extensa galeria de personagens do romance, inesquecível é a figura do tio de Jorge. E também as de alguns dos jovens companheiros deste, nos quais a sexualidade irrompe e se manifesta de forma aviltada e violenta.

[Professora Soledade Santos]

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