“Já se sabe que todas as
aventuras têm um princípio, mas muitas vezes, quando esse princípio acontece,
nós não nos damos conta. Quero dizer: não percebemos quando a aventura
começou.”
João Aguiar - Um estranho Natal. Porto: Edições Asa, 1998. 1ª edição
“[…] continuo a sentir-me intrigado com esta aventura que o nosso Bando viveu. Sobretudo, continuo intrigado com o que se passou numa certa véspera de Natal. […] Isto pode parecer-lhes incrível, mas…”
É com esta introdução «à maneira»
que o Carlos começa a contar mais uma aventura do Bando dos Quatro: quatro
amigos, quatro companheiros de aventuras, sempre prontos para enfrentar o
desconhecido. Desta vez, o mistério surge a menos de um mês das férias de
Natal. O Carlos, o Álvaro, a Catarina e o Frederico nem sonham o que vão
encontrar no sapatinho...
Nada menos que uma aventura
incrível, que os leva a lutar contra gente poderosa que quer fazer de Vila Rica
um depósito de lixo nuclear!
Como não podia deixar de ser, o Tio João mete-se no barulho…
O Bando dos Quatro, da autoria de
João Aguiar e com ilustrações de António Jorge Gonçalves, é uma coleção de
livros juvenis, publicada pela Editora ASA, com trinta volumes publicados. O
título da série provém de uma série que a RTP passava no início dos anos 90 com
o mesmo nome.
Na aldeia fictícia de Vila Rica, situada, segundo algumas referências, no concelho da Lourinhã, a vida corre devagar e nada de especial parece acontecer. Porém, de um momento para outro, estranhos assaltos começam a ocorrer, luzes estranhas aparecem no céu, pessoas nunca antes vistas chegam à aldeia. Então, um grupo de quatro jovens em idade pré-adolescente, os irmãos Carlos e Álvaro, com os amigos Frederico e Catarina, começam a investigar por sua conta e risco o que se passa, formando assim um grupo de investigação chamado "O Bando dos Quatro". Inicialmente, a ideia não agrada nada aos adultos da terra, pois os quatro jovens irão correr os mais perigosos riscos. Mas, com o passar dos tempos, o Professor João dos Santos, outro filho da terra, historiador recém-reformado que regressara à aldeia após um longo período de trabalho em Lisboa e tio materno dos irmãos Carlos e Álvaro, decide dar todo o apoio aos quatro jovens durante as investigações, correndo também ele sérios riscos.
João Aguiar nasceu em Lisboa, a 28
de Outubro de 1943, e faleceu na mesma cidade, a 3 de Junho de 2010. Viveu
durante a infância em Moçambique, na cidade da Beira, e licenciou-se em jornalismo
pela Universidade Livre de Bruxelas. Trabalhou nos centros de turismo de Portugal
em Bruxelas e Amesterdão e, em 1976, regressou a Portugal, para se dedicar ao jornalismo, tendo trabalhado para a RTP e em diversos diários,
semanários e revistas. Em 1984, iniciou a sua carreira literária, com a
publicação daquele que viria a ser um dos seus romances mais emblemáticos, A Voz dos Deuses. Publicou ao todo quinze romances, dois livros de
contos, uma obra de não ficção (Lapedo-Uma
Criança no Vale) e três séries juvenis: O Bando dos Quatro, Pedro &
Companhia e Sebastião e Os Mundos Secretos.
Parte da sua obra está traduzida
em Espanha, França, Itália, Alemanha e Bulgária.
Em 2005 foi galardoado com o
Prémio Literário 2004 da Casa da Imprensa.
Entre a obra de João Aguiar, destacamos
A Voz dos Deuses, com o subtítulo Memórias de um companheiro de Viriato, foi publicado em 1984 e tornou-se, ao longo de sucessivas edições, um "clássico" do romance histórico português contemporâneo.
Através de uma leitura apaixonante, João Aguiar dá-nos a
conhecer a história de Viriato, um dos construtores da realidade ibérica. O
autor, apoiando-se com fidelidade em dados etnográficos, históricos e
arqueológicos para escrever o seu romance, colocou-se na pele de Tongio, velho
sacerdote do deus Endovélico, que narra a história da sua vida e o seu encontro
com Viriato.
“Os deuses falam aos homens com vozes diferentes, conforme eles são capazes de entender. Os jovens ouvem essas vozes no estrépito das batalhas ou no acto do amor, os velhos aprendem a escutar de outra maneira. Outrora, também eu ouvi a voz dos deuses no amor, na guerra, nos sonhos e na tempestade – até mesmo na fala de outros mortais. Agora, que já passaram oitenta invernos na minha vida – se é que não deixei escapar alguns sem dar por tal – resta-me o silêncio.”
Esta é a voz de Tongio e
leva-nos até ao ano 147 a. C., quando alguns milhares de guerrilheiros lusitanos
se encontram cercados pelas tropas do pretor Caio Vetílio. Em princípio,
trata-se apenas de mais um episódio da guerra que a República Romana trava há
longos anos para se apoderar da Península Ibérica. Mas os Lusitanos, acossados
pelo inimigo, elegem um dos seus e entregam-lhe o comando supremo. Esse homem,
que durante sete anos vai ser o pesadelo de Roma, chama-se Viriato.
Entre 147 e 139 a. C., ano em que foi assassinado, Viriato derrotou sucessivos exércitos romanos, levou à revolta grande parte dos povos ibéricos e foi o responsável pelo início da Guerra de Numância (conflito de 20 anos entre as tribos celtiberas da Hispânia Citerior e o governo romano. Começou em 154 a.C., com a revolta dos Celtiberos da Numância no Douro, um povoado celtibero, localizado a 7 km ao norte da cidade de Sória, situada nas margens do Rio Douro, na Espanha. A primeira fase da guerra acabou em 151, mas, em 143, a guerra reiniciou com uma nova insurreição na Numância e Roma enviou uma série de generais para a Península Ibérica para lidar com os Numantinos. Em 133 a.C., a Numância foi destruída pelas tropas romanas de Cipião Emiliano, após um cerco de onze meses que pôs fim a uma feroz resistência de vinte anos aos invasores).
Viriato foi um verdadeiro génio militar, político e diplomático. Mas Viriato foi, sobretudo, o defensor de um mundo que morria asfixiado pelo poderio romano: o mundo em que mergulham as raízes mais profundas de Portugal e de Espanha. É esse mundo, já então em declínio, que este livro tenta evocar.
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