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segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Dia 6 do Advento - Um deus passeando pela brisa da tarde

 


“[...] resolvi escrever sobre os acontecimentos que ocorreram em Tarcisis, durante a minha magistratura. [Quero] que este livro sirva de lição a quem o ler. Seja eu, então, claro, preciso, atento, verdadeiro, hábil, imaginativo, e assim me inspire a Providência. E não recusarei sequer a intercessão de certo deus que, nos primórdios, ao que parece, passeava num jardim, pela brisa da tarde.”

Mário de Carvalho. Um Deus passeando pela brisa da tarde. Lisboa: Editorial Caminho, 1994, 1ª edição

Neste romance de caráter histórico, passado em Tarcisis, cidade fictícia da Lusitânia do séc. III d.C., Mário de Carvalho (que garante, numa epígrafe provocatória, não se tratar de um romance histórico, pois “Tarcisis nunca existiu...”) reconstitui as características culturais, políticas e quotidianas do Império Romano, sem nunca esquecer a «intercessão de certo deus que, nos primórdios, ao que parece, passeava num jardim pela brisa da tarde...».

Aos 213 anos da era de Augusto, Lúcio Valério Quíncio é um duúnviro que governa Tarcisis, cidade romana da Lusitânia, região do império romano sob a liderança do imperador Marco Aurélio Antonino, e exerce a magistratura juntamente com Gaio Cecílio Trifeno. Embora seja um cargo exercido por dois magistrados, Lúcio vê-se, por força morte inesperada de Trifeno, obrigado a desempenhá-lo sozinho, num momento político difícil. Em Tarcisis, apesar de coabitarem diversas religiões e deuses, um grupo de cristãos vai merecer a desconfiança e a ira dos restantes habitantes. Como dirigente máximo, cabe a Lúcio Valério Quíncio tomar todas as decisões, enquanto tumultuosos acontecimentos conduzem a pequena cidade ao descontentamento geral. No exterior, notícias de uma invasão bárbara iminente, proveniente do Norte de África, obrigam-no a drásticas medidas, enquanto, no interior das muralhas, uma nova seita, a Congregação do Peixe, põe em causa os valores da romanidade, evocando os ensinamentos de um obscuro crucificado.

Duas ameaças põem então Lúcio Valério Quíncio à prova: o ataque dos povos famintos que vêm do outro lado do estreito (os mouros) e a paixão devastadora por Iunia Cantaber, filha de um amigo aristocrata que se converteu ao Cristianismo e desafia as autoridades temporais.

O tempo corre, os acontecimentos precipitam-se fora do controlo de Lúcio, que, solitário no exercício do poder, apenas pode contar com o apoio de Mara, sua mulher.

Em Um Deus passeando pela brisa da tarde, Mário de Carvalho oferece-nos uma história contada na primeira pessoa, de uma impressionante sobriedade e solidez. Lúcio, a personagem principal, surge como uma luz límpida, mas ténue, prenunciando a queda do Império Romano e o surgimento de uma nova era.


Mário Costa Martins de Carvalho nasceu em Lisboa, em 1944, e tem publicada uma vasta obra que integra romances, contos, peças de teatro, ensaios e argumentos para cinema.

Em 1981, com a publicação do seu primeiro livro, Contos da Sétima Esfera, causou surpresa pelo inesperado da abordagem ficcional e pelas peculiares atmosferas em que decorrem os contos, entre o maravilhoso e o fantástico.

Com Um Deus passeando pela brisa da tarde, publicado pela primeira vez em 1994 e do qual já surgiram muitas reedições, Mário de Carvalho obteve sucessivos prémios, entre os quais o Prémio Pégaso de Literatura, o Prémio Fernando Namora, o Prémio de Romance e Novela da APE e o Prémio Literário Giuseppe Arcebi. Traduzido para inglês, francês, alemão, italiano e outras línguas, em capa dura e edições de bolso, é um livro recomendado para o Ensino Secundário como sugestão de leitura.

Para conhecer mais sobre a vida e a obra de Mário de Carvalho, consultar neste blogue

https://bibliotecaecb.blogspot.com/2017/09/autor-do-mes-de-setembro-mario-de.html




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