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domingo, 23 de abril de 2017

Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor



“O livro é uma extensão da memória e da imaginação. [...] é a grande memória dos séculos. Se os livros desaparecessem, desapareceria a história e, seguramente, o homem.”
Jorge Luís Borges
A UNESCO instituiu em 1995 o dia 23 de abril como Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor: foi neste dia que, em 1616, morreu Miguel de Cervantes e, em 1899, nasceu Vladimir Nabokov, romancista de origem russa e naturalizado norteamericano em 1945. O dia 23 de abril é também recordado como o dia em que nasceu e morreu William Shakespeare.

De acordo com o artigo 27º da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
  1. Todo o ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e dos seus benefícios.
  2. Todo o ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.

Assim, com a comemoração do Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, pretende-se defender e cumprir estes direitos, promovendo, sobretudo junto dos mais jovens, o prazer da leitura e da descoberta dos livros e a proteção dos direitos autorais e da propriedade intelectual.


Todos os anos são organizados eventos para celebrar este dia, com o objetivo de chamar a atenção para a importância do livro como bem cultural, essencial para o desenvolvimento da literacia e para o desenvolvimento económico.

sábado, 22 de abril de 2017

Dia da Terra



“A Terra é um palco muito pequeno numa imensa arena cósmica. (...) é um espécime solitário na grande e envolvente escuridão cósmica (...) um pálido ponto azul. (...)
Gostemos ou não, por enquanto, a Terra é o único lugar onde podemos viver (...).”

Carl Sagan (1990)
Quando, em 12 de abril de 1961, o cosmonauta russo Yuri Gagarin, a bordo da nave Vostok-1, completou uma volta em torno da Terra numa órbita a 315 km de altitude, sendo o primeiro ser humano a viajar pelo espaço, terá comentado, fascinado: "A Terra é azul!".
Desde então, o nosso planeta é conhecido como “o planeta azul”, fazendo sentido as palavras de Carl Sagan.

Em 2009, a ONU reconheceu a importância do tema da preservação do Planeta Terra e instituiu o dia 22 de abril como Dia Internacional da Mãe Terra, celebrado hoje em mais de 190 países, com a participação de cerca de 1 bilião de pessoas.
principal objetivo  deste dia é consciencializar todos os povos sobre a importância e a necessidade de conservar os recursos naturais do planeta e defender a harmonia entre todos os seres vivos. Só assim será possível assegurar às gerações presentes e futuras qualidade de vida ambiental, social, económica, cultural, estética.
Para o ano de 2017, o tema das atividades é "Instrução ambiental e climática".
Como afirmou o professor universitário e coordenador de vários movimentos cívicos em torno de questões ambientais nacionais e internacionais Viriato Seromenho Marques, em 2016, “um dos mais seguros sinais de civilização que hoje existe é o da qualidade do ambiente e das respetivas políticas. Um país que trata bem da sua paisagem e dos seus recursos naturais é um país que respeita a sua população, não só na saúde ambiental, mas também na esfera social e dos direitos humanos em geral. Não admira que nos índices internacionais de desenvolvimento humano, os indicadores ambientais surjam com enorme destaque”.
Por isso, a literacia ambiental e climática deve ser uma das competências adquiridas e trabalhadas nas escolas, tendo em vista o estudo e a preservação do meio ambiente, da qualidade da água para consumo humano, a proteção do litoral e dos oceanos, passando pelo ordenamento do território, por políticas urbanas, de conservação da natureza e da biodiversidade, energia e alterações climáticas.


Porquê comemorar o Dia da Terra?
As origens desta celebração remontam a 1970, quando o senador e ativista ambiental norte-americano Gaylord Nelson propôs que o dia 22 de abril fosse consagrado à defesa do Planeta Terra, depois de verificar as consequências do desastre petrolífero de Santa Bárbara.
Este desastre ocorreu no dia 28 de janeiro de 1969, depois de a rutura de um oleoduto em Santa Bárbara, Califórnia provocar aquele que foi considerado na altura o maior desastre ambiental de que se tinha conhecimento. Durante cerca de 10 dias, mais de 80 000 barris de petróleo (16 000 m3) foram derramados no canal de Santa Bárbara, com consequências dramáticas para o ambiente e toda a vida marinha da região (aves, golfinhos, elefantes e leões marinhos).
Em abril de 1970, Gaylord Nelson organizou uma campanha de protesto, com o objetivo de colocar o tema da preservação da Terra na agenda política norte-americana. Nesta manifestação participaram duas mil universidades, dez mil escolas primárias e secundárias e centenas de comunidades, num total de mais de 20 milhões de americanos que aderiram à causa a favor da preservação da Terra e do ambiente. A pressão social teve efeitos e o governo dos Estados Unidos criou a Agência de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency) e aprovou uma série de leis destinadas à proteção do meio ambiente.
Em 1972 realizou-se, em Estocolmo, a primeira conferência internacional sobre o meio ambiente, com o objetivo de sensibilizar os líderes mundiais sobre a magnitude dos problemas ambientais e que se instituíssem as políticas necessárias para erradicá-los.
No entanto, ao longo dos anos, continuámos a ser surpreendidos com notícias de desastres ambientais, na maior parte das vezes causados pelo homem e, por isso, evitáveis, embora também decorram de causas naturais. Destes, os mais dramáticos e cujas consequências se revelam mais perduráveis são os que derivam de acidentes que envolvem navios transportadores de petróleo.
A 24 de março de 1989, o navio petroleiro Exxon Valdez encalhou na Enseada do Príncipe Guilherme (Prince William Sound), na costa do Alasca, derramando cerca de 750 000 barris de petróleo (41 000 m3) e provocando a morte a mais de 260 000 pássaros marinhos, 2800 lontras, 250 águias e 22 orcas, além da perda de biliões de ovos de salmão. Foi o segundo maior derramamento de petróleo da história dos Estados Unidos.
Em 20 de abril de 2001, a plataforma petrolífera Deepwater Horizon explodiu no Golfo do México, derramando 4,9 milhões de barris (780 000 m3) e causando a morte de 11 pessoas, sendo até hoje considerado o maior desastre petrolífero da História. Não foi possível extinguir o incêndio provocado e, dois dias depois, a 22 de abril, a plataforma afundou-se. Depois de muitas tentativas infrutíferas para estancar o fluxo petrolífero, só em 2010 o poço foi declarado encerrado. Apesar disso, em 2013 ainda foram retiradas cerca de 2200 toneladas de crude das praias e continuou a registar-se a morte ou a deformação genética de muitos animais marinhos como consequência do derrame.
Bem perto de Portugal, na costa da vizinha Galiza, em novembro de 2002 começou a maior catástrofe ambiental até então registada nesta costa atlântica: o afundamento do petroleiro Prestige e posterior derramamento de milhares de toneladas de fueloil. O navio transportava cerca de 77 mil toneladas de fueloil e um dos seus 12 tanques rebentou durante uma tempestade nas costas da Galiza. A partir daquele momento, e até ao seu afundamento, estima-se que foram derramadas mais de 5000 toneladas de fueloil.
O governo espanhol, temendo uma rutura no tanque e um derramamento de petróleo na costa da Galiza, decidiu manter o Prestige ao largo da costa galega. Durante cinco dias o navio fica à deriva no Oceano Atlântico, deixando, atrás de si, um rasto de combustível.
Na manhã de 19 de Novembro, o barco partiu-se em dois, a cerca de 250 km da costa da Galiza, tendo-se afundado, o que provocou um incremento no volume da mancha negra.
Após o afundamento, o Prestige continuou a libertar cerca de 125 toneladas de fueloil por dia, contaminando o fundo do mar e a linha de costa, especialmente ao longo da Galiza. No leito do Atlântico, a 3600 metros abaixo do nível do mar, o Prestige continuou a largar combustível até agosto de 2003.
Um ano depois do acidente, um relatório da organização ambientalista internacional WWF - World Wildlife Fondation quantificou em pelo menos 64 mil toneladas a quantia de fuelóleo libertada para o mar e, dessas, entre cinco a dez mil continuavam à deriva.
Só nos três meses a seguir ao acidente foram recolhidas em Portugal 439 aves marinhas atingidas pela maré negra, das quais 186 ainda vivas, que foram enviadas para tratamento.
A pesca foi também prejudicada pelo desastre ecológico, não só em Espanha, mas também em Portugal, pois muitos consumidores recearam que o peixe e marisco pudessem estar contaminados e a procura diminuiu consideravelmente, afetando em muito a economia da região.


Para mais informações, consultar:




A Carta da Terra

Em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas idealizou um documento para defender os interesses sustentáveis, a paz e a justiça socioeconómica, uma espécie de código de ética planetário, semelhante à Declaração Universal dos Direitos Humanos, só que voltado à sustentabilidade, à paz e à justiça socioeconómica. Este documento, conhecido como a Carta da Terra, ganhou impulso na Cimeira da Terra, realizada no Rio de Janeiro, em 1992. O documento ficou concluído em 2000, foi traduzido para 40 idiomas e é atualmente apoiado por 4,6 mil organizações em todo o mundo.
A erradicação da pobreza, com acesso à água potável, ao ar puro e à segurança alimentar, e a construção de sociedades democráticas, sustentáveis e justas são dois princípios expressos pela Carta da Terra, que também defende a promoção de uma cultura de tolerância e não-violência e a distribuição equitativa dos recursos da Terra. 

Para conhecer a Carta da Terra, consultar:




[Link da imagem


terça-feira, 18 de abril de 2017

Dia Internacional dos Monumentos e Sítios



O Dia Internacional dos Monumentos e Sítios é celebrado a 18 de abril. A data foi instituída a 18 de Abril de 1982 pelo ICOMOS (Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios), uma associação de profissionais da conservação do património, e aprovada pela UNESCO em 1983.
A data visa promover os monumentos e sítios históricos, valorizar o património e sensibilizar os cidadãos para a sua diversidade e vulnerabilidade, bem como para a necessidade da sua conservação e proteção.
Celebrar o património nacional é comemorar também a solidariedade internacional em torno do conhecimento, da salvaguarda e da valorização do património em todo o mundo.
O tema de 2017 é "Património Cultural e Turismo Sustentável". A escolha deste tema prende-se com a definição pelas Nações Unidas de 2017 como Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento e no contexto da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

Para mais informação sobre este assunto, consultar


Os monumentos mais visitados em Portugal são:
  • Mosteiro dos Jerónimos
  • Torre de Belém
  • Mosteiro da Batalha

O Palácio Nacional de Mafra é o palácio mais visitado, enquanto o Museu Nacional dos Coches é o museu mais visitado em Portugal.


quinta-feira, 6 de abril de 2017

O estranho caso Elena Ferrante, a amiga genial



Quando, em 1991, a escritora italiana Elena Ferrante publicou o seu primeiro romance, Um Estranho amor, deveria estar longe de imaginar o tumulto que a sua obra causaria, inicialmente em Itália e depois em todos os países onde foi sendo traduzida. Porque, à medida que o livro se ia tornando um sucesso de vendas, os leitores foram-se apercebendo de duas coisas: primeiro, Elena Ferrante era apenas um pseudónimo; segundo, a autora recusava divulgar o seu verdadeiro nome. E se este facto por si só não é de estranhar (afinal, por alguma razão se opta por escrever sob pseudónimo), o mais desconcertante é que, a acompanhar esta recusa, Elena Ferrante também se negava a divulgar um rosto e uma identidade.
Enquanto o sucesso se mantinha, merecendo inclusive uma adaptação cinematográfica pelo realizador italiano Mario Martone, em 1995, muitas interrogações se foram levantando: quem é Elena Ferrante? Será um homem ou uma mulher? Será italiana? Porque se recusa a “dar a cara”?
A resposta a esta última questão é-nos dada pela própria Ferrante: “Não tenciono fazer nada em relação a Um Estranho Amor, nada que implique o compromisso público da minha pessoa. Já fiz o suficiente por essa longa história: escrevi-a; se o livro valer alguma coisa, isso deverá bastar. Não participarei em debates e conferências, se me convidarem. Não irei receber prémios, se mos quiserem dar. Nunca promoverei o livro, sobretudo na televisão, nem em Itália nem eventualmente no estrangeiro.[...] Eu acredito que os livros não precisam dos seus autores para nada, depois de escritos. Se tiverem alguma coisa para contar, mais cedo ou mais tarde encontrarão os seus leitores; se não, não.” (in Elena Ferrante, Escombros, Relógio D’Água, 2016).
Nas várias entrevistas concedidas (apenas por escrito e por intermédio dos seus editores), ou nas cartas a que respondeu (e que se encontram reunidas no livro Escombros, publicado em Portugal em 2016, pela editora Relógio D’Água), a escritora sempre afirmou que a obra é a única parte que interessa de um escritor e que nunca estaria presente em qualquer sessão de promoção do livro porque isso equivaleria a promover-se a si própria e não à obra. É da obra que os leitores têm de gostar, não de quem a produz.
Quando a jornalista portuguesa Isabel Lucas, que a entrevistou para o jornal Público, em 2015, lhe perguntou “Quem é a Elena Ferrante escritora? Como a definiria?”, responderia “Elena Ferrante? Treze letras, nem mais nem menos. A sua definição está toda contida nelas.”.
Ao primeiro livro seguiram-se Os Dias do Abandono (também adaptado ao cinema, por Roberto Faenza) e A Filha Obscura. Estes três romances foram editados em Portugal num único volume sob o título Crónicas do Mal de Amor, em 2014.
O sucesso mantinha-se e o mistério adensava-se. A publicação do seu quarto romance, A amiga genial, uma obra que, por razões editoriais, foi dividida em 4 volumes e que cedo se transformou num best seller e livro de culto, veio realçar a insustentabilidade de se continuar sem saber quem é a pessoa que se “esconde” por detrás deste êxito.
Jornalistas, biógrafos, investigadores puseram mãos à obra e encetaram uma verdadeira demanda, na ânsia de finalmente lhe atribuírem um rosto, uma identidade, uma personalidade.
Se a todos pareceu consensual que a escolha do nome Elena Ferrante é uma homenagem à escritora italiana Elsa Morante, facto, aliás, nunca confirmado nem desmentido pela própria Ferrante nas entrevistas concedidas, já a procura da verdadeira identidade produziu resultados muito díspares, alguns defenderam até a hipótese de ser um dos realizadores que adaptaram as suas primeiras obras. Nos últimos meses, começou a surgir com alguma força a convicção de Elena Ferrante ser a escritora italiana Anita Raja, ou o seu marido, o escritor Domenico Starnone.
O mais curioso é que, quando foram sendo divulgadas estas revelações, de forma mais ou menos sensacionalista (ou pretensas revelações, pois a própria Anita Raja não o desmentiu nem confirmou...), alguns leitores afirmaram não estar interessados nesta polémica, que admirar uma obra e o escritor que a produziu é também respeitar as suas vontades e opções.

A Amiga Genial, também conhecido como O Quarteto de Nápoles (embora a autora sempre tenha frisado que se trata de apenas um romance dividido em quatro partes), é a história de uma amizade que percorre várias décadas, que começa com o primeiro encontro entre duas crianças de 6 anos, num bairro popular nos arredores de Nápoles, Elena Greco (Lenù) e Raffaella Cerullo (Lina para todos, Lila para Lenù), até ao misterioso desaparecimento da segunda, quando ambas têm 66 anos. Ao desaparecimento de Lila, Lenù responde escrevendo a história dessa amizade. A história é então narrada na primeira pessoa por Lenú, a que das duas se pode considerar a certinha, sossegada, estudiosa e muito inteligente, a que vai para a universidade e se torna uma escritora de sucesso em Itália e no estrangeiro; Lila é o seu oposto, uma menina igualmente inteligente, mas com uma personagem irascível e rebelde, que ajuda muitas vezes a esconder o seu brilhantismo, e que preferiu não estudar e continuar a vida no bairro. Da infância à adolescência, da juventude à idade adulta, e desta até à velhice, A Amiga Genial é a narrativa de uma estranha, hipnótica e visceral amizade, feita de afetos e cumplicidades, mas também de antagonismos e rivalidades.
A Amiga Genial, História do Novo Nome, História de quem vai e de quem fica e História da Menina Perdida são os títulos de cada um dos quatro volumes.
São muitas as personagens que povoam este romance, além das duas protagonistas: as respetivas famílias (e como são grandes as famílias napolitanas!), os vizinhos, os colegas de escola, da faculdade, do trabalho; os negócios, aqui e ali a presença da Máfia. Mas é sobretudo a cidade de Nápoles, e em concreto o pequeno bairro em que a maior parte da narrativa acontece, e também as mulheres que se tornam as principais personagens deste longo romance que nos prende do princípio ao fim.

Já em 2017, numa iniciativa da Livraria Bertrand, o último volume do romance, História da Menina Perdida, foi o vencedor do Prémio Livro do Ano Bertrand.
(T.A.)

sábado, 1 de abril de 2017

Autor do mês de abril - Milan Kundera



MILAN KUNDERA


São precisamente as perguntas para as quais não há resposta que marcam os limites das possibilidades humanas e que traçam as fronteiras de nossa existência.
(
A alma e o corpo, de A insustentável leveza do ser)
Sim, é louco. O amor ou é louco ou então não é nada. (A Vida Está Noutro Lugar)
A vida é a memória do povo, a consciência coletiva da continuidade histórica,
a maneira de pensar e de viver.
Milan Kundera nasceu no dia 1 de abril de 1929, em Brno, na então Checoslováquia, hoje República Checa, no seio de uma família erudita da classe média. Kundera aprendeu a tocar piano com o seu pai, Ludvik Kundera, musicólogo e pianista da Academia Musical de Brno. Muitas podem ser as referências musicológicas encontradas na sua obra literária.
Depois de terminar os estudos secundários, em 1948, Kundera começou a estudar literatura e estética na Faculdade de Artes da Universidade Charles, curso que a certa altura trocou pelo de Cinema, na Academia de Artes Performativas de Praga, onde iniciou a sua aprendizagem em direção cinematográfica e na produção de guiões.
Em 1950, a sua atividade política obrigou-o a interromper os estudos e levou à sua expulsão do Partido Comunista Checo, onde seria readmitido em 1956.
Kundera usou este incidente como inspiração para o tema principal de seu primeiro romance, A Brincadeira, de 1967. Pelo seu envolvimento na “Primavera de Praga” e pelas críticas à invasão soviética em agosto de 1968, foi novamente expulso do Partido. Após a publicação de O Livro dos Amores Risíveis, em 1969, pelo qual recebeu o Prémio da União dos Escritores Checoslovacos, foi vítima da repressão soviética, os seus livros foram proibidos e perdeu o direito de publicar.
Em 1975 foi viver para França, sendo cidadão francês desde 1980, depois de lhe ter sido retirada a nacionalidade checoslovaca, como consequência da publicação em França de O Livro do Riso e do Esquecimento.
Apesar de a crítica ao regime comunista e à posterior ocupação soviética do seu país ser tema recorrente na sua obra, Kundera sempre afirmou publicamente que deseja ser entendido como romancista, não escritor político. É notório que o conteúdo político foi, a partir de A Imortalidade (1990), substituído pela temática filosófica.
Entre outros prémios, Milan Kundera recebeu, pelo conjunto da sua obra, o “Common Wealth Award” de Literatura (1981), o “Prémio Jerusalém” (1985) e o “Prémio Nacional de Literatura da República Checa” (2007).
Toda a sua obra, entre contos, romances, ensaios e peças de teatro, está traduzida em Portugal e publicada pelo Grupo Editorial Leya.
Foi através da publicação em Portugal, em 1988, daquela que é considerada a sua principal obra, A Insustentável Leveza do Ser, que Milan Kundera se tornou conhecido do público português. O livro é como uma grande crónica acerca da frágil natureza do destino, do amor e da liberdade humana. Mostra como uma vida é sempre um rascunho de si mesma, como nunca é vivida por inteiro, como o amor pode ser frágil e como é impossível de repetir-se.
Sobre o fundo real da história da Checoslováquia antes e após a “Primavera de Praga”, o romance acompanha os amores e os desamores de quatro pessoas: Tomas, Tereza, Sabina e Franz.
Nele encontramos conteúdos essencialmente filosóficos, tais como a questão da Leveza e do Peso, partindo da obra de Parménides, mas deslocando Kundera a dualidade do peso e da leveza para uma perspetiva existencialista, aliando-a ao problema da liberdade humana: a leveza decorre de uma vida levada sob o signo da liberdade descomprometida, aproximando-se, nesse sentido, das ideias de Jean-Paul Sartre sobre a condição humana. O personagem Tomas é a metáfora através da qual Kundera ilustra as consequências existenciais do compromisso da liberdade para com uma situação qualquer - no caso, o vínculo afetivo com Tereza. A partir de então Tomas experimenta o peso do compromisso, peso opressivo de um envolvimento qualquer, uma situação qualquer.
O Eterno Retorno é outro dos temas filosóficos presentes neste romance. Kundera entrevê na noção de Eterno Retorno da filosofia nietzschiana a escapatória para o arrependimento que pode decorrer da escolha entre a leveza e o peso, o compromisso e a liberdade pura. O argumento do Eterno Retorno assume então uma espécie de "convite à vida", com as suas alegrias e tristezas. De certa forma, a ideia do Eterno Retorno convida o homem a fazer a vida valer a pena de ser vivida, e viver cada momento como se fosse o último, pois quando este chegar e o retorno acontecer, nada de negativo será vivido novamente pelo indivíduo.
Um capítulo inteiro é dedicado à questão da atitude humana de compaixão. Sob uma perspetiva filológica, Kundera compara o sentido da expressão nas línguas latinas e nas línguas germânicas, e as implicações das diferenças desse sentido na vida psicológica e sentimental dos indivíduos. Enquanto as derivações latinas da palavra compaixão significam simplesmente piedade, um sentimento que se impõe quando um indivíduo está em posição de superioridade frente a um outro que sofre, nas línguas germânicas compaixão assume um sentido de "co-sentimento": o indivíduo que sente compaixão sofre com o seu próximo, tendo o mesmo sentimento. A metáfora utilizada para ilustrar o problema da compaixão é, mais uma vez, a relação de Tomas com Tereza. É através da compaixão que ele sente por ela que ela consegue prender-se a ele desde o primeiro momento.
Em 1988, o cineasta norte-americano Philip Kaufman realizou a adaptação cinematográfica deste romance, com Daniel Day-Lewis, Juliette Binoche, Lena Olin e Derek de Lint no elenco. O filme recebeu duas nomeações para os Óscares e reconhecimento mundial. No entanto, Kundera proibiu, a partir de então, a adaptação cinematográfica dos seus outros livros.
Obra (data da edição original)
Ficção
·         A Brincadeira (1967) (*)
·         O livro dos amores risíveis (1969)
·         A Vida Não É Aqui (1973) (*)
·         A Valsa do Adeus (1976) (*)
·         O Livro do Riso e do Esquecimento (1978) (*)
·         A Insustentável Leveza do Ser (1983) (*)
·         A Imortalidade (1990) (*)
·         A Lentidão (1995)
·         A Identidade (1997)
·         A Ignorância (2000) (*)
·         A Festa da Insignificância (2014)
Teatro
·         Jacques e o seu amo (1981)
Ensaios
·         A Arte do Romance (1986)
·         Os testamentos traídos (1993)
·         A Cortina (2005)
·         Um encontro (2009) (*)

(*) Consta do catálogo da Biblioteca do ECB.