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quarta-feira, 1 de julho de 2020

Pablo Neruda - autor do mês de julho



De quanto deixei escrito nestas páginas se desprenderão sempre - como nos arvoredos do outono e como no tempo das videiras - as folhas amarelas que vão morrer e as uvas que reviverão no vinho sagrado. A minha vida é uma vida feita de todas as vidas: as vidas do poeta.
Pablo Neruda, Confesso que vivi

A 12 de julho de 1904, nascia em Parral, no Chile, Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto que se deu a conhecer ao mundo como Pablo Neruda. Recebeu o Prémio Nobel de Literatura em 1971 e é considerado um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX. Além da escrita, seguiu também carreira diplomática, desempenhando o cargo de cônsul do Chile em vários países asiáticos, em Espanha, na Argentina e no México e de embaixador em França. Viveu durante uma época conturbada da história do seu país, do qual se ausentou com frequência, quer no desempenho das funções de cônsul e de embaixador, quer em consequência das suas ideias políticas (foi membro do Partido Comunista chileno), por causa das quais se viu por mais de uma vez forçado à clandestinidade e ao exílio. Pablo Neruda faleceu em Santiago, Chile, no dia 23 de setembro de 1973.

Começou a escrever aos 10 anos de idade, ainda estudante no Liceu de Temuco, cidade no sul do Chile. Publicou os seus primeiros poemas no periódico regional A Manhã. Quando tinha apenas 12 anos, conheceu a poetisa chilena Gabriela Mistral, que lhe deu a conhecer os escritores clássicos que iriam influenciar a sua carreira e as suas decisões políticas.
Em 1919, obteve o terceiro lugar nos Jogos Florais de Maule com o poema “Noturno Ideal”.
Aos 15 anos entrou no Instituto Pedagógico da Universidade de Santiago. Tornou-se militante anarquista e traduziu o trabalho de Jean Grave, um anarquista comunista.
A partir de 1920, começou a usar o nome Pablo Neruda, como uma forma de homenagem ao poeta, contista, dramaturgo e romancista checo Jan Neruda (Praga, 9 de julho de 1834 — Praga, 22 de agosto de 1891). Este nome literário seria utilizado durante toda a vida, adotando-o legalmente em 1946, após modificação do nome civil.
Em 1921, Neruda deixou Temuco e mudou-se para Santiago, a capital do país, para estudar pedagogia e francês na Universidade do Chile. Neste ano ganhou o prémio da federação chilena de estudantes de poesia com “La canción de la fiesta” e começou a publicar poemas na revista da federação, Claridad.
Em 1923, publicou o primeiro livro, Crepusculario, a que se seguiu, em 1924, aquele que lhe traria mais notoriedade, Vinte poemas de amor e uma canção desesperada.
Aos vinte anos e com dois livros publicados, Pablo Neruda tornou-se o poeta chileno mais conhecido. Abandonou os estudos de francês para se dedicar inteiramente à poesia.
Em 1927, foi nomeado cônsul em Rangoon, Birmânia (atualmente Myanmar), e durante cinco anos representou o Chile na Ásia. Viajou para o Sri Lanka, Singapura e Indonésia, onde casou com Maruca Reyes, de origem holandesa. Durante os anos em que viveu na Ásia escreveu Residência na terra.
Em 1933, foi nomeado cônsul em Buenos Aires, onde conheceu e se tornou amigo do poeta espanhol Federico García Lorca. No ano seguinte foi transferido para Barcelona e depois para Madrid onde voltou a casar, com Delia del Carril.
Escritor bem acolhido em Espanha, Neruda foi destituído do cargo consular quando, em 1936, eclodiu a Guerra Civil espanhola. A execução do seu amigo García Lorca, a prisão de Miguel Hernández e o sangue nas ruas contribuíram para a maturidade do poeta e para as suas atitudes políticas. Escreveu então Espanha no coração, publicado em 1937 nas linhas da frente republicanas. A guerra determinou uma mudança na atitude do poeta, que aderiu ao marxismo e decidiu consagrar a sua vida e obra à defesa dos ideais políticos e sociais inspirados no comunismo.
Pablo Neruda regressou ao Chile em 1938, com um grupo de refugiados espanhóis, após o que o governo o enviou para o México, onde conheceu o poeta mexicano Octavio Paz e produziu intensamente textos poéticos.
Em 1939, foi nomeado cônsul especial para a imigração espanhola, na cidade de Paris, pelo próprio presidente chileno Aguirre Cerda. Nesse período, foi responsável pelo projeto Winnipeg, que encaminhou dois mil imigrantes espanhóis de França para o Chile.

Quando em 1943 regressou ao Chile, recebeu uma grande ovação dos seus conterrâneos. Casou-se segunda vez com a artista argentina Delia de Carril, ou la Hormiguita, num matrimónio declarado ilegal pela justiça do país, por não considerar lícito o seu primeiro divórcio.
Em 1945, atingiria o pináculo da literatura nacional, ao receber o Premio Nacional de Literatura, e foi eleito senador pelo Partido Comunista; nos três anos seguintes consagrou a maior parte do seu tempo aos problemas do país.
A atividade política de Neruda foi interrompida quando foi eleito o governo de Gabriel Gonzálvez Videla que, em 1948, decretou a ilegalidade do Partido Comunista.
Pablo Neruda foi então forçado a viver na clandestinidade, durante anos que foram, no entanto, proveitosos do ponto de vista da obra literária, redigindo 250 poemas, organizados por quinze ciclos literários.
Ainda em fevereiro de 1948, deixou o Chile, atravessando a zona sul das montanhas dos Andes a cavalo. Em junho de 1949 visitou a União Soviética para participar na celebração dos 150 anos de Aleksandr Pushkin. Visitou depois outros países da Europa e o México.
No exílio escreveu Canto Geral, publicado apenas em 1950, um dos grandes poemas épicos escritos no continente americano, impregnado de intenção social, ética e política.
Regressou ao Chile em 1952, quando o governo chileno restabeleceu as liberdades políticas, casando-se pela terceira vez com a chilena Matilde Urrutia, a quem dedica Os Versos do Capitão, publicados no mesmo ano (apenas em 1966, após a morte da primeira mulher, Maruca, o casamento com Matilde seria oficializado, numa sessão privada na sua residência na Isla Negra).
Em 1953, recebeu o Prémio Lenine da Paz.
Em 1954, publicou As uvas e o vento e Odes Elementares.
Em 1965, recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Oxford, Grã-Bretanha.
Em 1970, Salvador Allende é eleito Presidente da República do Chile, como candidato da coligação de esquerda Unidade Popular, que integrava comunistas, socialistas, radicais e outras correntes populares.


(Salvador Allende)

Em outubro de 1971, quando desempenhava funções de embaixador do Chile em Paris, Pablo Neruda recebeu o Prémio Nobel de Literatura.
Após o prémio, foi homenageado por Salvador Allende que o convida para ler para mais de 70 mil pessoas no Estádio Nacional de Chile, em Santiago.
Em 1972, já doente, deixa a embaixada chilena em França e regressa a Santiago.
Em 11 de setembro de 1973, tropas lideradas pelo general Augusto Pinochet tomaram controle de todo o país e cercaram o palácio presidencial de La Moneda. O golpe militar derruba o presidente Salvador Allende e instala a ditadura militar no Chile. Allende fez ainda um discurso, transmitido pelas rádios fiéis ao governo, informando que não renunciaria. Morre no mesmo dia, em circunstâncias nunca completamente determinadas. Há duas versões sobre a morte de Allende: a mais difundida é que ele se suicidara no Palácio de La Moneda, cercado por tropas do exército, com uma AK-47, arma que lhe fora dada por Fidel Castro; a outra versão defende que foi assassinado pelas tropas de Pinochet. A escritora Isabel Allende, sua sobrinha, acredita que o seu tio foi assassinado. A filha do ex-presidente, a deputada Isabel Allende, declarou que a versão do suicídio era a correta. Em 2011, na sequência de um pedido feito em representação dos familiares pela sua filha Isabel, para determinar com "certeza jurídica as causas da morte", os restos mortais do ex-presidente do Chile foram exumados. A perícia então realizada confirmou que a sua morte fora ocasionada "por ferimento de projétil" e que a "forma corresponde a suicídio".

Doze dias após o golpe militar e a morte de Allende, a 23 de setembro de 1973, morre Pablo Neruda. A realidade social turbulenta após o golpe militar de 11 de setembro parece agravar o estado de saúde do poeta. De acordo com a sua sobrinha Isabel Allende, no seu livro Paula, Neruda teria morrido de "tristeza", ao ver dissolvido o governo de Allende. Outros defenderão a tese de assassinato político a mando de Pinochet. A versão do regime é a de que morreu devido a um cancro na próstata, o que viria a ser confirmado em 2013, após um juiz chileno ter ordenado a exumação do corpo do poeta, no âmbito de uma investigação sobre as circunstâncias da morte do poeta.
Depois do golpe de Estado, "La Chascona", a casa de Neruda e Matilde em Santiago (construída em 1953, uma das suas três casas no Chile – sendo as outras a "Casa de Isla Negra", na localidade de El Quisco, e "La Sebastiana", em Valparaíso), seria vandalizada e saqueada e os seus livros queimados por forças associadas ao general Augusto Pinochet.
Encontra-se sepultado no jardim da sua propriedade em Isla Negra, na localidade de El Quisco, próximo de Santiago, no Chile, ao lado de Matilde Urrutia.
Em 1974, foram publicadas as suas memórias a título póstumo, na obra Confesso que vivi.


Em 1985, o escritor chileno Antonio Skármeta homenageou o amigo Pablo Neruda com o romance Ardiente Paciencia, que em Portugal recebeu o título de O Carteiro de Pablo Neruda e que, em 1994, seria adaptado ao cinema pelo realizador Michael Radford.


Por ocasião das comemorações do centenário do nascimento de Pablo Neruda, em 2004, Antonio Skármeta publica Neruda por Skármeta, obra que se apresenta, mais uma vez, como uma homenagem ao poeta de quem teve o privilégio de ser amigo, apresentando igualmente uma antologia pessoal e sentimental de alguns dos seus poemas.
Em 2004, também por ocasião das comemorações do centenário do seu nascimento, foi instituído o Prémio Iberoamericano de Poesia Pablo Neruda.
Em 2016, o realizador chileno Pablo Larraín dirigiu o filme Neruda, que aborda aspetos da vida de Neruda no final da década de 1940, com foco na perseguição anticomunista.


Bibliografia consultada:



Pablo Neruda. In Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2011.



Obras de Pablo Neruda na Biblioteca do ECB: