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quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Concurso Nacional de Leitura 2020-2021 | Ensino Secundário

 


CONCURSO NACIONAL DE LEITURA

14ª EDIÇÃO – 2020 | 2021

FASES DO CONCURSO

Fase Escolar/Municipal

1º momento – Externato Cooperativo da Benedita: 6 de janeiro de 2021, 14:30 – apresentação oral

2º momento – Biblioteca Municipal de Alcobaça (prova realizada online)22 de fevereiro de 2021

Fase intermunicipal

Comunidade Intermunicipal do Oeste – Prova realizada onlinede 8 de março a 26 de abril de 2021

Fase Nacional

19 de maio de 2021, com uma prova escrita de pré-seleção online;

5 de junho de 2021:

  • questionário online- Quiz “Leitura e Cultura”, no período da manhã;
  • prova pública de palco, no período da tarde.

REGULAMENTO DA PROVA A REALIZAR NO ECB

ENSINO SECUNDÁRIO

Destinatários: Alunos do Ensino Secundário

Obra selecionada: Tanta Gente, Mariana, de Maria Judite de Carvalho

Condições de participação:

  • Inscrever-se no Concurso.
  • Ler a obra selecionada.
  • Respeitar as regras constantes do Regulamento, bem como as decisões do júri.
  • Participar, de modo disciplinado, nas eliminatórias.
  • Entregar ao DT uma autorização do Encarregado de Educação (caso o aluno seja selecionado para as fases seguintes).

Calendarização:

  • Inscrição, junto da professora de Português, até ao dia 14 de dezembro de 2020.
  • Leitura autónoma da obra.
  • Apresentação oral da leitura efetuada (se houver recurso a power point, terá limite máximo de 5 diapositivos) (em sala a designar).

Normas de participação:

  • Caso o aluno concorrente falte à prova, não poderá realizá-la noutra data.
  • O aluno que perturbe a realização da prova fica impedido de participar no concurso.
  • Cabe ao júri decidir todas as situações omissas neste regulamento.

O regulamento geral do concurso deve ser consultado em: 

http://www.pnl2027.gov.pt/np4/file/2122/regulamento.pdf



Concurso Nacional de Leitura 2020-2021 | 3º ciclo

 



CONCURSO NACIONAL DE LEITURA

14ª EDIÇÃO – 2020 | 2021

FASES DO CONCURSO

Fase Escolar/Municipal

1º momento – Externato Cooperativo da Benedita: 6 de janeiro de 2021, 14:30 – apresentação oral

2º momento – Biblioteca Municipal de Alcobaça (prova realizada online): 22 de fevereiro de 2021

Fase intermunicipal

Comunidade Intermunicipal do Oeste – Prova realizada online, de 8 de março a 26 de abril de 2021

Fase Nacional

19 de maio de 2021, com uma prova escrita de pré-seleção online;

5 de junho de 2021:

  • questionário online- Quiz “Leitura e Cultura”, no período da manhã;
  • prova pública de palco, no período da tarde.



REGULAMENTO DA PROVA A REALIZAR NO ECB

3º CICLO DO ENSINO BÁSICO

Destinatários: Alunos do 3º Ciclo do Ensino Básico

Obra selecionada: O Fantasma de Canterville, de Oscar Wilde

Condições de participação:

  • Inscrever-se no Concurso.
  • Ler a obra selecionada.
  • Respeitar as regras constantes do Regulamento, bem como as decisões do júri.
  • Participar, de modo disciplinado, nas eliminatórias.
  • Entregar ao DT uma autorização do Encarregado de Educação (caso o aluno seja selecionado para as fases seguintes).

Calendarização:

  • Inscrição, junto da professora de Português, até ao dia 14 de dezembro de 2020.
  • Leitura autónoma da obra.
  • Apresentação oral da leitura efetuada (se houver recurso a power point, terá limite máximo de 5 diapositivos) (em sala a designar).

Normas de participação:

  • Caso o aluno concorrente falte à prova, não poderá realizá-la noutra data.
  • O aluno que perturbe a realização da prova fica impedido de participar no concurso.
  • Cabe ao júri decidir todas as situações omissas neste regulamento.

O regulamento geral do concurso deve ser consultado em:

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Jane Austen - autora do mês de dezembro

 

Único retrato oficial de Jane Austen, aos trinta e cinco anos em 1810;
aguarela feita pela sua irmã Cassandra Austen.

A 16 de dezembro de 1775, nascia em Steventon, Hampshire, na zona rural da Inglaterra, a escritora Jane Austen, numa família abastada e religiosa, pertencente à aristocracia rural, sétima filha do pároco anglicano local, o reverendo George Austen, e da sua mulher Cassandra Leigh. Numa família com oito filhos, a sua condição social e ambiente serviram de contexto para todas as suas obras.

Oriunda de uma família que promovia a aprendizagem, a leitura e as letras (o pai era uma espécie de professor-tutor, dando aulas particulares a alunos que residiam em sua casa, e tinha uma ampla biblioteca), a própria Jane Austen conta nalgumas cartas que, tanto ela quanto a sua família, eram "ávidos leitores de romances, e não se envergonhavam disso".

A jovem Jane Austen desenvolveu um talento especial que a levou a compor textos, representando neles os valores familiares que considerava importantes. É difícil precisar o momento em que começou a escrever. Alguns cadernos de notas assinalam que o “talento” despertou em tenra idade. Adolescente, revelava inclinação e talento para a escrita, desenvolvendo contos, romances e peças que lia em voz alta e apresentava à família. Em 1791, aos 16 anos, já dispunha de um bom número de exemplares armazenados. A habilidade de escrever sobre personagens femininas complexas e de explorar os conflitos das relações de classe e género fez dela uma escritora à frente do seu tempo.

Durante a época em que Jane Austen viveu, não existia um sistema de educação propriamente dito e a instrução das crianças era feita em escolas dominicais (instituições de ensino cristãs, tipicamente protestantes), ou, no caso das famílias mais abastadas, através de tutores. Por outro lado, existiam algumas "escolas para damas", que tinham má reputação, pois considerava-se que ofereciam uma educação deficiente. Também era comum enviar os filhos homens para viver na casa de um tutor, como o era o pai de Jane Austen. Jane e a sua irmã mais velha, Cassandra, eram as únicas raparigas da família e, em 1783 (tinha Jane 8 anos), foram enviadas para estudar num colégio interno em Southampton, sob a tutela de Mrs. Cawley. Regressadas a casa pouco tempo depois, entre 1785 e 1786 continuaram os estudos num internato em Reading. Crescendo neste ambiente, pode-se supor que Jane foi uma jovem privilegiada e instruída para o seu tempo.

Jane Austen ficou conhecida principalmente por seis grandes obras que interpretam, criticam e comentam a alta burguesia inglesa no final do século XVIII: Sensibilidade e Bom Senso, Orgulho e PreconceitoMansfield Park, Emma, A Abadia de Northanger e Persuasão.



Sabe-se que, após 1787, Jane Austen escreveu Juvenilia, para divertimento da família, obra que inclui diversas paródias da literatura da época. Entre 1795 e 1799 começou a redigir as primeiras versões dos romances que se publicariam sob os nomes Sensibilidade e Bom Senso, Orgulho e Preconceito e A Abadia de Northanger. Em 1797, o pai quis publicar Orgulho e Preconceito, mas nenhum editor o aceitou.

Em 1800, a família foi residir para a cidade de Bath, ponto de encontro da aristocracia britânica que Jane não apreciava muito, mas para onde teve de seguir a família, mesmo que contrariada: tinha 25 anos e continuava dependente da vontade paterna.

Em 1803, Jane Austen conseguiu vender o romance A Abadia de Northanger (então intitulado Susan) por 10 libras esterlinas, apesar de o livro ter sido publicado somente 14 anos depois.

Em janeiro de 1805, morria George Austen, deixando a mulher e as filhas numa situação precária, passando a depender economicamente dos irmãos.

Em 1809, vivendo em Chawton, perto de Alton e Winchester, onde residia um dos irmãos, Jane retomou a atividade literária, revendo Sensibilidade e Bom Senso, que um editor aceitou publicar em 1810 ou 1811, assumindo a autora os riscos da publicação. Foi publicado de forma anónima, quando a escritora tinha já 35 anos, referindo-se apenas "By a Lady". Teve algumas críticas favoráveis e sabe-se que os lucros foram de 140 libras esterlinas.

Animada por este êxito, Jane tentou publicar também Orgulho e Preconceito, que foi vendido em novembro de 1812 e publicado em janeiro de 1813. Ao mesmo tempo, começou a trabalhar em Mansfield Park, obra que publicaria em 1814 e da qual se venderam todos os exemplares em seis meses, e Emma, publicada em dezembro de 1815.

O romance Persuasão será iniciado em agosto de 1815 e Sanditon em princípios de 1817, numa época em que a sua saúde começa a estar bastante debilitada. Agravada a sua situação, foi levada para Winchester para receber tratamento médico, falecendo em 18 de julho de 1817. Tinha 41 anos e viu publicadas apenas quatro das suas obras.

Na altura, a causa da sua morte ficou desconhecida; hoje, considera-se que terá sido por Doença de Addison. Está sepultada na Catedral de Winchester.

Retrato a óleo de Jane Austen, feito em 1875, de autor desconhecido,
baseado na aquarela feita pela irmã em 1810

As obras de Jane Austen deram ao romance inglês o primeiro impulso para a modernidade. Com o seu poder de observação do quotidiano de pessoas comuns, Jane Austen reuniu material suficiente para dar vida aos seus personagens com uma aguda perceção psicológica e uma ironia subtil, dissimulada pela leveza da narrativa, retratando a sociedade provinciana da época e o casamento como a única forma de as mulheres ascenderem socialmente.

Os romances Persuasão e A Abadia de Northanger foram publicados em 1817, numa edição de quatro volumes organizada pelo irmão Henry Austen. Da mesma forma que nas obras anteriores, o nome de Jane Austen não consta, sendo citado apenas que se trata da mesma autora das outras obras, e traz uma "nota biográfica sobre o autor", anunciando a sua morte.

Na verdade, todas as obras de Jane Austen foram publicadas sob anonimato, as primeiras mencionando o já referido "By a Lady" e as últimas referindo: “by the author of Sense and Sensibility”. É provável que Jane Austen tenha escolhido publicar incógnita como forma de se proteger, uma vez que a literatura continuava a ser vista, no século XVIII, como uma atividade predominantemente masculina.

O seu primeiro livro, Lady Susan, escrito quando tinha 17 anos, só foi publicado em 1871. As obras Os Watsons e Sanditon, deixadas inacabadas, foram completadas e publicadas por um sobrinho, também em 1871.

Na British Library, em Londres, podemos encontrar uma caderneta, ilustrada pela irmã Cassandra, onde Jane escreveu as suas primeiras histórias, manuscritos dos últimos capítulos de Persuasão e um pequeno escritório em madeira.

Existem dois museus dedicados a Jane Austen: o "Jane Austen Centre", em Bath, situado numa casa georgiana em Gay Street, a alguns metros do número 25, onde residiu em 1805, e o "Jane Austen's House Museum", na cabana de Chawton, em Hampshire, lugar onde viveu de 1809 até 1817.

"Jane Austen Centre" (Bath)

Residência da família Austen em Chawton, onde Jane viveu de 1809 a 1817
(hoje 
o "Jane Austen's House Museum")

Erradamente considerada uma “escritora vitoriana”, Jane Austen viveu na época da Regência, período da história de Inglaterra que compreende a regência de Jorge IV como Príncipe de Gales, durante a enfermidade do seu pai, o rei Jorge III (que morreu em 1820, vítima de uma doença neurológica hoje diagnosticada como porfíria), e constitui uma ponte entre o período georgiano e o vitoriano (Vitória nasceria apenas em 1819, tornando-se Rainha do Reino Unido e Irlanda em 1837).

Na literatura, a época georgiana caracterizou-se pelo ressurgimento do romance, intrinsecamente associado ao crescimento de uma classe média que não tinha sido educada com os clássicos, não conhecia o latim nem o grego e não partilhava o interesse pelos temas clássicos da literatura. Além disso, o desenvolvimento da imprensa tornou possível a aquisição de livros pelas classes mais pobres; o número de livros publicados cresceu, permitindo um incremento no número de escritores profissionais. Assim, um novo tipo de leitores propiciou um novo tipo de literatura.

As obras de Jane Austen marcaram o aparecimento de um romance diferente dos demais pelos temas que abordava, contendo uma mensagem instrutiva, assinalando o bom comportamento e mostrando uma espécie de experiência fictícia, mas mantendo sempre os princípios da verosimilhança, isto é, estão de acordo com a realidade, oferecendo, por isso, uma história onde os elementos que a constituem se prestam à veracidade dos factos narrados. A obra de Austen centra-se em aspetos do quotidiano, alinhados com a vida real. Descreve com precisão a sociedade rural georgiana e não tanto as mudanças sofridas com o advento da modernidade: a revolução agrícola, que constitui o começo da revolução industrial e das suas repercussões sociais; e o colonialismo, as Guerras Napoleónicas e a extensão do Império Britânico. Nenhum destes temas está presente nos livros de Jane Austen, mas estes são filhos do seu tempo, de alguma forma uma crónica social dos tempos da Regência, da vida rural da pequena nobreza, dos clérigos de boas famílias, dos proprietários de terras ricos.

Esta época ficou marcada, também, pelas mudanças sociais no aspeto político. Das campanhas para a abolição da escravatura à reforma das prisões e às críticas pela ausência de uma justiça social, foi também a época em que os intelectuais começaram a defender políticas de bem-estar social e se construíram orfanatos, hospitais e escolas dominicais.

No entanto, Jane Austen não pretende subverter a ordem social, nem pode ser considerada uma feminista precoce, apesar de ser impossível não ler uma crítica mordaz à necessidade de as mulheres, excetuando as herdeiras, se casarem para terem uma vida financeiramente segura. Quase todas as protagonistas de Jane são raparigas sem boas perspetivas financeiras, obrigadas a casarem “bem”, ou seja, com detentores de fortunas ou rendimentos apreciáveis, o que mostra a precariedade das mulheres nessa posição, sem heranças, sem maridos e sem possibilidade de se sustentarem adequadamente numa atividade digna, sujeitas a um esquema de heranças que transmite as propriedades indivisas pela linha masculina, impedindo as mulheres de herdarem bens imóveis geradores de grandes rendimentos, como retratado nos romances Orgulho e Preconceito e Sensibilidade e Bom Senso. A própria Jane Austen recusa a segurança económica e a importância social que o casamento lhe traria, por não querer casar “sem amor”, sem “inclinação romântica”, o que implicava prescindir da sua independência e, porventura, da sua escrita.

Excluídas e ignoradas na altura, reconhece-se hoje que mais de metade dos autores dessa época eram mulheres que, através da escrita, conseguiam alguma independência económica.

Alguns críticos referem que Jane Austen foi uma escritora isolada da influência de outros escritores do seu tempo e da vida social além da reitoria de Steventon, bem como da burguesia rural que formava a sociedade que a rodeava. No entanto, isto não parece ser totalmente correto, pois sabe-se, através de cartas trocadas com a irmã Cassandra, que as duas viajavam com frequência para a casa de amigos e familiares, e também que Austen estava familiarizada com muitas das obras publicadas na época. Prova disso é a intertextualidade que aparece nas suas obras, pois às vezes permite ao leitor formular juízos sobre os personagens através de um simples contraste nas leituras que estes recomendam, ou dos fragmentos dos textos que leem.

Fruto do que alguns críticos denominam de “austenmania”, quer a vida de Jane Austen, quer muitas das suas obras foram adaptadas e readaptadas para cinema e para televisão, como Orgulho e Preconceito, Emma, Sensibilidade e Bom Senso, Persuasão, Mansfield Park ou A Abadia de Northanger. Livros e filmes “roubaram” os enredos de Austen: O Diário de Bridget Jones, realizado por Sharon Maguire a partir do romance de Helen Fielding, por exemplo, segue o enredo de Orgulho e Preconceito, com um Mark Darcy de personalidade semelhante ao Mr. Darcy original (e com a particularidade de Mark Darcy ser interpretado pelo ator britânico Colin Firth, que havia desempenhado o papel de Mr. Darcy na adaptação de Orgulho e Preconceito para série televisiva que a BBC produziu em 1995).

Obras de Jane Austen na biblioteca do ECB

  • Sensibilidade e Bom Senso (1808)
  • Orgulho e Preconceito (1813)
  • Mansfield Park (1814)
  • Emma (1815)
  • Persuasão (1818) - póstuma
  • Amor e amizade (1790) – publicação póstuma de 1922


quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Dia Mundial do Cinema

 

Em 2020, celebram-se os 125 anos da primeira sessão pública de cinema, a sessão do cinematógrafo dos Irmãos Lumière que, após inventarem o cinematógrafo, fizeram a primeira exibição pública e paga da arte do cinema: uma série de dez filmes, com duração de 40 a 50 segundos cada. Estávamos em 1895 e, na cave do Grand Café, em Paris, os primeiros espetadores puderam assistir à projeção dos filmes "A saída dos operários da Fábrica Lumière" e "A chegada do comboio à Estação Ciotat".


Os irmãos Lumière

A chegada do comboio à Estação Ciotat


Já nos inícios do século XX, o mágico ilusionista francês Georges Méliès realizou, produziu e exibiu "Le Voyage dans la Lune" (ou "Viagem à Lua"), um filme de apenas 14 minutos, cujo argumento se inspira na obra de Jules Verne, tornando pioneiro em alguns efeitos especiais, criador da fantasia na produção e realização de filmes.

Georges Meliès

Viagem à Lua

Auguste e Louis Lumière e Georges Meliès deram assim origem a dois géneros fundamentais do cinema: o cinema documental e o cinema de ficção.



domingo, 1 de novembro de 2020

Poemas de António Gedeão

Pedra filosofal

Eles não sabem que o sonho

é uma constante da vida

tão concreta e definida

como outra coisa qualquer,

como esta pedra cinzenta

em que me sento e descanso,

como este ribeiro manso

em serenos sobressaltos,

como estes pinheiros altos

que em verde e oiro se agitam,

como estas aves que gritam

em bebedeiras de azul.

 

Eles não sabem que o sonho

é vinho, é espuma, é fermento,

bichinho álacre e sedento,

de focinho pontiagudo,

que fossa através de tudo

num perpétuo movimento.

 

Eles não sabem que o sonho

é tela, é cor, é pincel,

base, fuste, capitel,

arco em ogiva, vitral,

pináculo de catedral,

contraponto, sinfonia,

máscara grega, magia,

que é retorta de alquimista,

mapa do mundo distante,

rosa-dos-ventos, Infante,

caravela quinhentista,

que é Cabo da Boa Esperança,

ouro, canela, marfim,

florete de espadachim,

bastidor, passo de dança,

Colombina e Arlequim,

passarola voadora,

pára-raios, locomotiva,

barco de proa festiva,

alto-forno, geradora,

cisão do átomo, radar,

ultra-som, televisão,

desembarque em foguetão

na superfície lunar.

 

Eles não sabem, nem sonham,

que o sonho comanda a vida.

Que sempre que um homem sonha

o mundo pula e avança

como bola colorida

entre as mãos de uma criança.



Lágrima de preta

Encontrei uma preta

que estava a chorar

pedi-lhe uma lágrima

para a analisar


Recolhi a lágrima

com todo o cuidado

num tubo de ensaio

bem esterilizado

 

Olhei-a de um lado

do outro e de frente

tinha um ar de gota

muito transparente

 

Mandei vir os ácidos

as bases e os sais

as drogas usadas

em casos que tais

 

Ensaiei a frio

experimentei ao lume

de todas as vezes

deu-me o qu'é costume

 

Nem sinais de negro

nem vestígios de ódio

água (quase tudo)

e cloreto de sódio



Fala do homem nascido

Venho da terra assombrada

do ventre de minha mãe

não pretendo roubar nada

nem fazer mal a ninguém

 

Só quero o que me é devido

por me trazerem aqui

que eu nem sequer fui ouvido

no acto de que nasci

 

Trago boca pra comer

e olhos pra desejar

tenho pressa de viver

que a vida é água a correr

 

Venho do fundo do tempo

não tenho tempo a perder

minha barca aparelhada

solta o pano rumo ao norte

meu desejo é passaporte

para a fronteira fechada

 

Não há ventos que não prestem

nem marés que não convenham

nem forças que me molestem

correntes que me detenham

 

Quero eu e a natureza

que a natureza sou eu

e as forças da natureza

nunca ninguém as venceu

 

Com licença com licença

que a barca se fez ao mar

não há poder que me vença

mesmo morto hei-de passar

com licença com licença

com rumo à estrela polar

Autor do mês - Rómulo de Carvalho / António Gedeão ou a simbiose entre ciência e poesia

 


(fotografia de Eduardo Gageiro)


No mês em que se comemora o Dia Mundial da Ciência, em homenagem a Charles Darwin e à data da primeira edição do livro A Origem das Espécies, 24 de novembro de 1859, prestamos tributo a Rómulo de Carvalho, o professor de Ciências Físico-Químicas que para muitos será sempre conhecido e reconhecido como o poeta António Gedeão.

Cientista, poeta, investigador, historiador, escritor, fotógrafo, pintor e ilustrador, Rómulo de Carvalho nasceu em Lisboa, num outro 24 de novembro, mas de 1906, e faleceu em Lisboa, a 19 de fevereiro de 1997, com 90 anos. Além de professor de ciências e de poeta, juntando na mesma pessoa duas sensibilidades diferentes, destacou-se também como divulgador e historiador da ciência, da pedagogia e, em geral, da cultura portuguesa.

Em 1996, foi instituído em Portugal o dia 24 de novembro como Dia Nacional da Cultura Científica, escolhido precisamente para comemorar o nascimento de Rómulo de Carvalho, um dos grandes responsáveis pela promoção do ensino de ciência e da cultura científica em Portugal.

Licenciado em Ciências Físico-Químicas pela Universidade do Porto em 1931, Rómulo de Carvalho formou-se um ano depois em Ciências Pedagógicas na Faculdade de Letras da mesma Universidade, iniciando a que foi a sua atividade principal durante 40 anos: professor e pedagogo.

Para Rómulo de Carvalho, ensinar era uma paixão, uma dedicação. Durante muitos anos, concentrou os seus esforços no ensino, dedicando-se, também, à elaboração de manuais escolares, inovadores pelo grafismo e pela forma de abordar matérias tão complexas como a física e a química. Assinou com o seu nome numerosos volumes de divulgação da cultura científica, publicados, entre os anos 50 e 70 do século XX, na coleção "Ciência para gente nova" e nos "Cadernos de iniciação científica”. Desenvolveu ainda trabalhos de investigação sobre a história da ciência e do ensino em Portugal.

Na Universidade de Coimbra, o seu nome continua a inspirar cientistas e estudantes através do RÓMULO Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra, inaugurado a 24 de Novembro de 2008, Dia Nacional da Cultura Científica e dia do seu nascimento, e dirigido atualmente pelo professor Carlos Fiolhais.

Apesar da intensa atividade científica, Rómulo de Carvalho dedicou-se também à poesia. Em 1956, aos 50 anos, publicou o primeiro livro de poemas, Movimento Perpétuo. No entanto, o livro surge como tendo sido escrito por outro, António Gedeão, e o professor de física e química, Rómulo de Carvalho, permanece no anonimato. O livro é bem recebido pela crítica e António Gedeão continua a publicar poesia, aventurando-se, anos mais tarde, no teatro, no ensaio e na ficção.

A obra de Gedeão, que parece não se enquadrar claramente em qualquer movimento literário, revela as suas preocupações com os problemas comuns da sociedade portuguesa.

Vários dos seus poemas foram divulgados através das músicas compostas por José Niza, compiladas no álbum "Fala do Homem Nascido", como Calçada de Carriche (para a voz de Carlos Mendes), Fala do Homem Nascido (cantado por Adriano Correia de Oliveira) ou Lágrima de Preta, simbiose perfeita entre a ciência e a poesia, além do intemporal Pedra Filosofal, hino à liberdade e ao sonho que Manuel Freire musicou e cantou.

Aos 83 anos, em 1990, Rómulo de Carvalho assumiu a direção do Museu Maynense da Academia das Ciências de Lisboa, sete anos depois de se ter tornado sócio correspondente da Academia de Ciências, função que desempenhou até ao fim dos seus dias.

Rómulo de Carvalho deu origem a uma família de cientistas e escritores: o filho, Frederico de Carvalho, é físico nuclear; a filha, Cristina Carvalho, é escritora; a neta, Margarida Gama Carvalho, é bióloga no Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa.

Jaz no Jazigo dos Escritores Portugueses, no Talhão dos Artistas do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, junto de outros notáveis da literatura portuguesa, como José Cardoso Pires ou Fernando Namora.


Obras de Rómulo de Carvalho na Biblioteca do ECB

  • História do Gabinete de Física da Universidade de Coimbra: desde a fundação (1772) até ao jubileu do professor italiano Giovanni Antonio Dalla Bella (1790)
  • História do ensino em Portugal: desde a fundação da nacionalidade até ao fim do regime de Salazar-Caetano
  • História dos balões
  • O texto poético como documento social
  • As origens de Portugal: história contada a uma criança
  • A composição do ar (Cadernos de iniciação científica)
  • As reacções químicas (Cadernos de iniciação científica)
  • Moléculas, átomos e iões (Cadernos de iniciação científica)
  • A estrutura cristalina (Cadernos de iniciação científica)
  • A energia (Cadernos de iniciação científica)
  • A descoberta do mundo físico (Cadernos de iniciação científica)

Obras de António Gedeão na Biblioteca do ECB

  • Poesias completas: (1956-1967)
  • Poesias escolhidas: antologia organizada pelo autor
  • História Breve da Lua


Para conhecer melhor a vida e a obra de Rómulo de Carvalho/António Gedeão, sugerimos os sítios:

António é meu nome. Biblioteca Nacional

http://purl.pt/12157/1/#ant#rec#rec


Sítio desenvolvido por Ana Carolina Cassoni © 2007

http://www.romulodecarvalho.net/content/view/1/2/


RÓMULO Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra

Rómulo de Carvalho, Alquimista, pelo professor Carlos Fiolhais

https://www.uc.pt/iii/romuloccv/romulo





quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Um Nobel para Louise Glück

 


A Academia Sueca atribuiu hoje, 8 de outubro de 2020, o Prémio Nobel da Literatura à escritora norte americana Louise Glück, justificando-o, nas palavras do júri, “pela sua inconfundível voz poética que, com austera beleza, torna universal a existência individual”.

Muitas vezes descrita como uma poeta autobiográfica, que se inspira na sua própria vida e memória e na mitologia clássica, que aprendeu em pequena através das leituras da mãe, Louise Glück, a primeira poeta dos Estados Unidos da América, a terceira escritora norte-americana e a 16ª mulher a receber este Prémio, nasceu em Nova Iorque, em 1943, e publicou o primeiro livro, Firstborn, em 1968. Com 12 livros de poesia, foi também professora de poesia em diversas instituições universitárias dos Estados Unidos.

Antes de ser galardoada com o Nobel da Literatura, Louise Glück viu várias vezes o seu trabalho reconhecido e valorizado através da atribuição de muitos outros Prémios e distinções: o National Book Critics Circle Award, em 1985; o Prémio Nacional Rebekah Johnson Bobbitt de Poesia, em 1992; o Lannan Literary Award for Poetry, em 1999; o Prémio Pulitzer de Poesia, em 1993; nomeada Ambassador Book Award for Poetry, 2000 e 2007; o Prémio Bollingen de Poesia, em 2001; o PEN/Winship Award for Poetry, em 2006; o Wallace Stevens Award, em 2008; o Los Angeles Times Book Prize, em 2012; e o National Book Award for Poetry, em 2014; foi ainda poeta laureado do Congresso dos Estados Unidos, em 2001 e 2003.

Considerada uma das mais importantes poetas norte-americanas, a sua obra tem recebido pouca atenção em Portugal, onde nenhum dos seus livros se encontra publicado.

Em 2001, a antologia Rosa do Mundo. 2001 Poemas Para o Futuro, da Assírio & Alvim, incluiu os poemas “O Poder de Circe” e a terceira parte de “Paisagem”.



O Poder de Circe *

Nunca transformei ninguém em porco.

Algumas pessoas são porcos; faço-os

parecerem-se a porcos.


Estou farta do vosso mundo

que permite que o exterior disfarce o interior.


Os teus homens não eram maus;

uma vida indisciplinada

fez-lhes isso. Como porcos,


sob o meu cuidado

e das minhas ajudantes,

tornaram-se mais dóceis.


Depois reverti o encanto,

mostrando-te a minha boa vontade

e o meu poder. Eu vi


que poderíamos ser aqui felizes,

como o são os homens e as mulheres

de exigências simples. Ao mesmo tempo,


previ a tua partida,

os teus homens, com a minha ajuda, sujeitando

o mar ruidoso e sobressaltado. Pensas


que algumas lágrimas me perturbam? Meu amigo,

toda a feiticeira tem

um coração pragmático; ninguém


vê o essencial que não possa

enfrentar os limites. Se apenas te quisesse ter

podia ter-te aprisionado.


* Poema publicado originalmente na coletânea Meadowlands (1996), com o título “Circe’s Power”. Editado em Portugal na antologia Rosa do Mundo. 2001 Poemas Para o Futuro (2001), da Assírio & Alvim, numa tradução de José Alberto Oliveira.

Esta antologia faz parte do catálogo da Biblioteca do ECB.


O poema “O poder de Circe” remete-nos para a mitologia grega e para a Odisseia, o longo poema épico de Homero.

Circe era uma deusa menor, filha do deus do Sol Hélios e de Persede, e irmã de Pasífae e Eetes. Feiticeira, especialista em venenos e drogas, Circe era considerada a Deusa da Lua Nova, do amor físico, feitiçaria, encantamentos, sonhos precognitivos, maldições, vinganças, magia negra, bruxaria e caldeirões. Com os seus filtros, transformava em animais todos os que entravam no seu território na ilha de Era.

Circe desempenha um papel importante na lenda de Ulisses, descrita por Homero como “a pérfida deusa de belos cabelos”. Transformou em porcos os companheiros de Ulisses que tinham partido numa missão de reconhecimento da ilha. Avisado, Ulisses é o único que escapa ao sortilégio e recebe de Hermes uma planta mágica que lhe permite resistir aos malefícios de Circe. Este episódio da Odisseia de Homero tem sido interpretado como ilustrativo do conflito entre a inteligência e a sensualidade.