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segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Sugestão de leitura - A bibliotecária de Auschwitz


No dia em que se comemoram os 75 anos da libertação do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, apresentamos A bibliotecária de Auschwitz, um romance do autor espanhol Antonio G. Iturbe, baseado na história verídica de Dita Dorachova, uma jovem checa de 14 anos que arriscou a vida para manter viva a magia do livro, ao esconder dos nazis durante anos a sua pequena biblioteca, de apenas oito volumes.
Conhecida como a bibliotecária do Bloco 31 do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, o campo do horror, infernal, o mais mortífero e implacável, onde os livros eram proibidos , Dita dá-nos uma maravilhosa lição de coragem: não se rende e nunca perde a vontade de viver nem de ler porque, mesmo naquele terrível campo de extermínio nazi, «abrir um livro é como entrar para um comboio que nos leva de férias».

Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto



Há 75 anos, a 27 de janeiro de 1945, as tropas soviéticas libertavam o maior campo de extermínio nazi, em Auschwitz-Birkenau, na Polónia. Em dezembro de 2005, a Assembleia Geral das Nações Unidas, durante a sua 42ª sessão plenária, estabeleceu este dia como o Dia Internacional da Comemoração em Memória das Vítimas do Holocausto.

No dia em que se recordam os milhões de vítimas do genocídio da Alemanha nazi sobre os judeus, ciganos, homossexuais, entre outros, ocorrido durante a II Guerra Mundial, pretende-se preservar a memória do holocausto, sensibilizando as novas gerações para a dimensão e consequências do genocídio, de forma a que acontecimentos como este não se repitam.

Algumas ligações da Organização das Nações Unidas sobre esta temática:




Mensagem de António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas:






quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Exposição de trabalhos dos alunos de Artes Visuais



PINTURA CALIGRÁFICA: A POESIA DE JOSÉ SARAMAGO

A partir da leitura dos livros Poemas possíveis e Provavelmente Alegria, de José Saramago, os alunos do 12º ano do Curso de Artes Visuais apresentam a Exposição “Pintura Caligráfica”. Este trabalho, desenvolvido na disciplina de Desenho A, integra-se no Projeto Formar Leitores.










Poemas possíveis é a primeira obra poética de José Saramago, lançada em 1966 pela Portugália Editora, quando o autor tinha 40 anos, reunindo 148 poemas.


Provavelmente Alegria foi lançado em 1970 pela Editora Livros Horizonte. Trata-se de uma recolha poética de quatro anos, entre 1966 até 1970, sucedendo a Os Poemas Possíveis.



sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

"As Horas" e "Mrs. Dalloway", ou quando a literatura se alimenta da literatura



Em 1998, o escritor norte-americano Michael Cunningham (nascido em Cincinnati, a 6 de Novembro de 1952) entrou para a história da literatura com o romance As Horas, pelo qual ganhou o Prémio Pulitzer para ficção e o PEN / Faulkner Award de 1999, e que foi adaptado para o cinema, em 2002, pelo realizador britânico Stephen Daldry.


Michael Cunningham

O livro é uma releitura da obra Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf, acompanhando as vidas de Clarissa, editora nova-iorquina, Laura, dona de casa que vive em Los Angeles, e a própria Virginia Woolf. As horas narra um dia na vida destas três mulheres de gerações diferentes, cujas vidas foram mudadas pelo romance Mrs. Dalloway, como se fossem as suas três faces: Virginia escreve-o, Laura lê-o e Clarissa vive-o.
Virginia Woolf vive num subúrbio de Londres em 1923, preparando os manuscritos do seu romance Mrs. Dalloway – ainda nessa fase intitulado The Hours (As Horas); trinta anos depois (nos anos 50 do século XX), este romance será lido por Laura Brown, uma jovem deprimida mãe e dona de casa que vive nos arredores de Los Angeles; no final dos anos 1990, Clarissa Vaughan, editora de livros que vive em Greenwich Village, Nova Iorque, dedica os seus dias a um amigo e ex-amante, Richard, que está a morrer. São três mulheres, em três épocas distintas, com três destinos, ligadas por um romance que irá alterar as suas vidas.
A história de Clarissa é a peça central. O seu apelido, Mrs. Dalloway, foi-lhe dado por Richard, um atormentado poeta homossexual, doente de SIDA em fase terminal. Como no romance original de Virginia Woolf, Clarissa sai para comprar flores e enquanto caminha pelas ruas da cidade reflete sobre a sua vida, reencontra conhecidos e esforça-se para que a festa em homenagem ao prémio literário recebido por Richard seja perfeita.
As questões com que se debatem Virginia Woolf, Laura Brown e Clarissa Vaughan prendem-se essencialmente com o tédio, implantado como uma doença crónica, progressivamente destrutiva, que vai corroendo o quotidiano. O maior legado de Virginia foi a lição de que o mais próximo da ideia de felicidade é viver intensamente cada hora da nossa vida
Laura e Clarissa encontram o caminho para a sobrevivência e estabilidade ao refugiarem-se no trabalho, no reconhecimento do seu valor pessoal e ao tomarem as rédeas da própria vida.
As outras duas personagens, Virginia e Richard são, por sua vez, consumidas pela doença que as afeta e pelo vazio das horas. Optam, no entanto, por fugir-lhes e suprimir a lenta espera dos dias sempre iguais, na antecâmara da morte.


Em 1925, Virginia Woolf publicou Mrs. Dalloway, um dos seus romances mais famosos, inicialmente pensado com o título As Horas, e que narra um dia na vida de Clarissa Dalloway, uma mulher da alta sociedade britânica que vive na Inglaterra pós-Primeira Guerra Mundial.

Criado a partir de dois contos, Mrs. Dalloway in Bond Street e o inacabado The Prime Minister, o romance, cuja ação decorre num único dia de junho (com exceção dos flashbacks e flashforwads), começa com a preparação da festa que Clarissa Dalloway vai dar nessa noite. Numa clara manhã de primavera, Clarissa resolve sair para comprar flores. À medida que caminha pelas ruas de Londres, o bom tempo do dia leva-a a lembrar-se da sua juventude vivida no campo, em Bourton, recolhendo imagens, sensações e ideias, entrelaçadas com as personagens que habitam o seu mundo – o marido, Richard Dalloway, a filha, Elizabeth, e Peter Walsh, amigo de juventude acabado de voltar da Índia. Num outro cenário de Londres, desenrola-se a vida de Septimus Warren Smith, veterano da Primeira Guerra Mundial que sofre de frequentes e indecifráveis alucinações, relacionadas com a morte na guerra do seu grande amigo Evans. Septimus nunca se cruza com Clarissa, mas é como que um seu duplo, com quem a protagonista parece partilhar a mesma consciência num jogo de opostos. Mais tarde, no mesmo dia, após receber a recomendação de internamento forçado num hospital psiquiátrico, Septimus suicida-se, atirando-se de uma janela.
A festa de Clarissa nessa noite é um lento sucesso. Nela ouve falar no suicídio de Septimus e gradualmente passa a admirar esse ato alheio, que vê como uma tentativa de preservar a pureza da sua felicidade.
Ao penetrar no interior de cada personagem, Virgínia Woolf vai tecendo uma imagem integral da vida de Clarissa, mas também da estrutura da sociedade londrina no início dos anos 20, ainda marcada pelo fim da Grande Guerra.

Este romance, que revelou em pleno o talento de Virginia Woolf, a sua perspicácia, a sensibilidade transparente e, sobretudo, a arte suprema de descrever os segredos das almas, é considerado uma obra-prima indiscutível da literatura universal e o primeiro grande romance modernista de Virginia Woolf. Em 2002, foi incluído na lista dos 100 melhores livros de todos os tempos pelo jornal The Guardian, e, em 2005, foi considerado pela revista Time um dos 100 melhores livros escritos em inglês desde 1923.

A publicação, em 1998, do romance de Michael Cunningham ofereceu-nos uma homenagem do autor a Virginia Woolf, tanto no estilo intimista com que escreve, próprio de Woolf, quanto ao colocá-la como uma das protagonistas do livro.

Aquando da publicação de As Horas em Portugal, a jornalista e escritora Alexandra Lucas Coelho escrevia no Jornal Público
"O livro vencedor do Pulitzer não é uma reescrita, é um mergulho no abismo de Virginia Woolf, que traz à tona o que faz dele uma obra: o abismo singular do seu autor, com o seu próprio poeta demente (Richard, que podemos fazer equivaler a Septimus, mas também a Virginia), os seus beijos inesquecíveis (o de Clarissa e Richard, junto a uma lagoa, ao crepúsculo, e, sobretudo, o de Laura e Kitty, ajoelhadas no chão de uma cozinha na Los Angeles do pós-guerra), a sua cidade (da West e da Greenwich Villages, com os seus quiosques de flores, os seus garotos de patins, a sua experiência da sida, a sua sexualidade difusa, as suas horas monótonas, o seu brilho incandescente, as suas horas de desistir e as suas horas de ressuscitar), a Manhattan em que em vez do primeiro-ministro ou da Rainha as estrelas que suscitam burburinho quando saem à rua são Meryl Streep, Vanessa Redgrave ou Susan Sarandon, e em que a filha de Clarissa já não passeará etérea no vestido justo mas usará ténis como tijolos, um piercing e cabelo rapado."

Uma referência final para o filme homónimo que Stephen Daldry realizou para o cinema em 2002, com argumento adaptado de David Hare e com as inesquecíveis interpretações de Nicole Kidman (no papel de Virginia, com o qual ganhou o Oscar de Melhor Atriz em 2003), Julianne Moore (no papel de Laura), Meryl Streep (no papel de Clarissa) e Ed Harris (no papel de Richard).






quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Virginia Woolf - Autora do mês de janeiro




“Neste mundo não existe estabilidade. Quem será capaz de exprimir o significado das coisas? Quem pode prever o voo que uma palavra descreve depois de dita? É um balão que plana sobre as árvores. E o esforço de conhecer é sempre inútil. Tudo é experiência e aventura. Constantemente formamos novas combinações de elementos desconhecidos. O que está para vir?“
Virginia Woolf, As Ondas

A 25 de janeiro de 1882, nascia em Londres Adeline Virginia Stephen, filha do escritor, historiador ensaísta e biógrafo Sir Leslie Stephen. Conhecida como Virginia Woolf (após o seu casamento, em 1912, com o escritor e editor Leonard Woolf), foi escritora, ensaísta e uma das mais proeminentes figuras do modernismo britânico, tendo desempenhado um papel significativo na sociedade literária londrina durante o período entre guerras.
Sem ter frequentado a escola (o próprio pai e professores particulares cuidaram da sua educação), Virginia Woolf começou a escrever muito cedo. Com nove anos, redigia, periodicamente, para uso da família, um jornalzinho a que deu o título de Hyde Park Gate News. Em 1900, começou a escrever profissionalmente com um artigo jornalístico sobre Haworth, a casa da família Brontë, para o Times Literary Supplement.
Em 1905, a família Stephen mudou-se para o bairro londrino de Bloomsbury, onde se viria a formar o “Grupo de Bloomsbury”, um grupo de intelectuais que se posicionaria contra as tradições literárias, políticas e sociais da Era Vitoriana e que, além da própria Virginia, reunia escritores como Saxon Sydney-Turner, David Herbert Lawrence, Lytton Strachey, Leonard Woolf, pintores como Mark Gertler, Duncan Grant, Roger Fry, Vanessa, a irmã de Virginia, críticos como Clive Bell e Desmond MacCarthy, o economista John Maynard Keynes e Bertrand Russell.
Entre 1905 e 1907, Virginia Woolf deu aulas de escrita e história no Morley College, uma instituição de ensino noturno para pessoas da classe operária. Em 1910, participou numa campanha a favor do voto feminino, sendo, durante toda a vida, uma insistente defensora da causa da emancipação feminina, presente em algumas das suas obras, como A Room of One’s Own [Um quarto só seu] e Three Guineas [Três guinéus], onde examina a dificuldade que escritoras e intelectuais mulheres enfrentam devido ao facto de os homens deterem desproporcionalmente o poder legal e económico, assim como o futuro das mulheres na educação e sociedade. Em O Segundo Sexo (de 1949), Simone de Beauvoir considera-a, a par de Emily Brontë e Katherine Mansfield, como uma das três únicas escritoras que exploraram este tema.
Virginia Woolf estreou-se na literatura em 1915, com o romance The Voyage Out, que abriu caminho para a sua carreira como escritora. Além de romances, escreveu diversos contos e uma quantidade imensa de resenhas e ensaios críticos, espalhados por diversas publicações periódicas.
Desde cedo ligada a grupos de intelectuais, em 1917 fundou com o marido a editora Hogarth Press, responsável pela revelação de autores como Katherine Mansfield e T. S. Eliot e pela publicação das suas próprias obras.
Woolf é considerada a maior romancista lírica do idioma inglês e a sua obra enquadra-se nas vanguardas modernistas de inícios do século XX, ao lado de escritores como James Joyce ou Joseph Conrad. Nos seus romances, experimentou o fluxo da consciência e a psicologia íntima, bem como tramas emocionais dos seus personagens: uma narrativa, frequentemente rotineira e comum, é trabalhada – e algumas vezes quase que dissolvida – sob a consciência recetiva dos personagens. Um lirismo intenso e um virtuosismo estilístico se unem para criar um mundo superabundante de impressões audiovisuais.
Entre os seus trabalhos podemos destacar os romances Mrs Dalloway (1925), Orlando (1928) e As Ondas (1931), assim como o ensaio Um Quarto que Seja Seu (1929).




As suas reflexões sobre a arte literária – da liberdade de criação ao prazer da leitura –, baseadas nas obras de Joseph Conrad, Daniel Defoe, Dostoievski, Jane Austen, James Joyce, Montaigne, Tolstoi, Tchekov, Sterne, entre outros clássicos, foram reunidas em dois volumes publicados pela Hogarth Press em 1925 e 1932 sob o título The Common Reader [O Leitor Comum], homenagem explícita de Virginia Woolf àquele que, livre de qualquer tipo de obrigação, lê para seu próprio desfrute pessoal.

As crises depressivas de que sofreu toda a vida, agravadas pela eclosão da II Guerra Mundial e a destruição da sua casa em Londres durante o Blitz, levaram-na ao suicídio, em 1941. No dia 28 de março, com 58 anos, Virginia Woolf vestiu o casaco, encheu os bolsos com pedras, caminhou em direção ao Rio Ouse, perto da sua casa em Lewes, e afogou-se. O seu corpo foi encontrado apenas três semanas mais tarde, em 18 de abril de 1941, perto da ponte de Southease. Ao marido, deixou as últimas palavras:


Querido,

Tenho a certeza de que estou a enlouquecer de novo. Sinto que não poderemos atravessar outro desses tempos horríveis. E desta vez não recuperarei. Começo a ouvir vozes e não consigo concentrar-me. Por isso vou fazer o que creio ser o melhor.
Tens-me dado a maior felicidade possível. Tens sido, em todos os sentidos, tudo o que alguém poderia ser. Não creio que duas pessoas possam ter sido mais felizes, até à chegada dessa terrível doença. Não consigo lutar mais, sei que estou a estragar a tua vida, que sem mim poderias trabalhar. E trabalharás, eu sei. Como vês, nem isto consigo escrever como deve ser. Não consigo ler.
O que quero dizer é que te devo toda a felicidade da minha vida. Tens sido inteiramente paciente comigo… e incrivelmente bom. Quero dizer isto – toda a gente o sabe. Se alguém me pudesse salvar, esse alguém terias sido tu. Tudo desapareceu para mim, menos a certeza da tua bondade. Não posso continuar a estragar a tua vida durante mais tempo.
Não creio que duas pessoas possam ter sido mais felizes do que nós.
V.

O seu corpo foi cremado e as suas cinzas enterradas junto de um olmo no jardim de Monk’s House, a casa do século XVIII onde Virginia viveu com o marido, desde 1919 até à sua morte.

Leonard Virginia Woolf (Hyde Park, Londres, Junho de 1925. Foto de Sydney J. Loeb



Obra literária
(*) – no catálogo da Biblioteca do ECB

Romances
The Voyage Out (1915)
Night and Day (1919)
O Quarto de Jacob (1922) (*)
Mrs. Dalloway (1925) (*)
To the Lighthouse(1927)
Orlando: A Biography (1928) (*)
As Ondas (1931) (*)
Os Anos (1937)
Entre os Atos (1941)

Coleções de contos
Kew Gardens (1919)
Monday or Tuesday (1921)
A Haunted House and Other Short Stories (1944)
Mrs. Dalloway's Party (1973)
The Complete Shorter Fiction (1985)
A Casa de Carlyle e Outros Esboços (2003)
Biografias
Flush: A Biography (1933)
Roger Fry: A Biography (1940)

Ensaios
Modern Fiction (1919)
The Common Reader (1925)
A Room of One's Own (1929)
On Being Ill (1930)
The London Scene (1931)
The Common Reader: Second Series (1932)
Three Guineas (1938)
The Death of the Moth and Other Essays (1942)
The Moment and Other Essays (1947)
The Captain's Death Bed and Other Essays (1950)
Granite and Rainbow (1958)
Books and Portraits (1978)
Women and Writing (1979)

Teatro
Freshwater: A Comedy (representado em 1923, revisto em 1935 e publicado em 1976)

Traduções
Stavrogin's Confession & the Plan of 'The Life of a Great Sinner', dos rascunhos de Fiódor Dostoiévski, traduzido em parceria com S. S. Koteliansky (1922)

Cartas
Congenial Spirits: The Selected Letters (1993)
The Letters of Virginia Woolf, 1888-1941 (1993)
Paper Darts: The Illustrated Letters of Virginia Woolf (1991)