Portentosas foram antigamente
aquelas façanhas, ó portugueses, com que descobristes novos mares e novas
terras, e destes a conhecer o mundo ao mesmo mundo […]. Em nada é segundo e
menor este meu descobrimento, senão maior em tudo: […] maior cabo, maior
esperança, maior império.
Pe. António Vieira (1608-1697)
Padre António
Vieira, religioso, filósofo, escritor e orador português da Companhia de
Jesus, nasceu em Lisboa, a 6 de fevereiro de 1608, e morreu em Salvador da Baía,
Brasil, no dia 18 de julho de 1697.
É considerado uma das mais influentes personagens
do século XVII em termos de política e oratória e destacou-se também como
missionário da Companhia de Jesus no Brasil. Defendeu os direitos dos povos
indígenas, combatendo a sua exploração e escravização e fazendo a sua
evangelização. Era por eles chamado de "Paiaçu" (Grande Pai, em
tupi). Foi ainda um defensor dos judeus e da abolição da distinção entre
cristãos-novos e cristãos-velhos.
Padre António Vieira chegou ao Brasil em 1614, onde
o pai desempenhava o cargo de escrivão do Tribunal da Relação da Baía. Começou
os seus estudos no Colégio dos Jesuítas de Salvador e em 1623 entrou como
noviço na Companhia de Jesus, tendo sido ordenado sacerdote em 1634.
Conhecido pelos seus primeiros sermões, foi
professor de Retórica em Olinda a partir de finais de 1626 e, em 1638, foi
nomeado professor de Teologia do Colégio Jesuíta de Salvador.
Em 1641, após a Restauração, regressou a Portugal
numa missão diplomática, pois integrava a comitiva que veio ao Reino prestar
obediência ao novo monarca. Ganhou a confiança de D. João IV e foi por este enviado
em missões diplomáticas aos Países Baixos e à França.
As suas pregações a favor dos judeus e os conflitos
daí decorrentes com a Inquisição levam-no a regressar ao Brasil onde, entre
janeiro de 1653 e setembro de 1661, dirigiu uma Missão no Grão-Pará e Maranhão,
defendendo sempre a liberdade dos índios. Vários dos seus Sermões versavam
precisamente esta temática, o que o obrigou a deixar o Brasil por reações
contrárias às suas ações contra a escravatura, regressando a Portugal.
A partir de então, a sua vida será marcada por conflitos
constantes com o Santo Ofício. Procurou proteção junto do Papa, em Roma, obtendo
a anulação das suas penas e condenações.
Depois de nova passagem por Lisboa, regressou
definitivamente ao Brasil em 1681, por questões de saúde. Em 1688, exerceu a
função de Visitador-Geral das Missões do Brasil e dedicou o final da vida à
edição dos Sermões, Cartas e de Clavis
Prophetarum, uma obra de interpretação profética das Escrituras que
iniciara em Roma, mas que não chegou a concluir.
Padre António Vieira morreu em São Salvador da Baía
a 18 de julho de 1697, com 89 anos, deixando uma obra complexa que exprime muitas
das suas opiniões políticas.
Entre os seus sermões, alguns dos mais célebres
são: o "Sermão da Quinta Dominga da Quaresma", o "Sermão da
Sexagésima", o "Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra
as de Holanda", o "Sermão do Bom Ladrão", o "Sermão de
Santo António aos Peixes", entre outros.
Vieira deixou cerca de 700 cartas e 200 sermões,
reunidos numa Obra Completa em 30 volumes que começou a ser publicada em 2013
e que inclui cartas, sermões, obras proféticas, escritos políticos, sobre os
judeus e sobre os índios, bem como a sua poesia e teatro.
Este projeto, resultado de uma cooperação internacional entre várias
instituições de investigação e academias científicas, culturais e literárias
luso-brasileiras, sob a égide da Reitoria da Universidade de Lisboa e sob a
direção de José Eduardo Franco e Pedro Calafate, foi desenvolvido pelo CLEPUL
em parceria com a Santa Casa da Misericórdia e publicado pelo Círculo de
Leitores, com o último volume lançado em 2014. Além desta edição portuguesa, será
ainda publicada uma seleção de textos em 12 línguas.
Obras de Padre António Vieira no
catálogo da Biblioteca do ECB:
Obra Completa (30 volumes)
Sermões
Livro anteprimeiro da história do
futuro
Obras escolhidas