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quinta-feira, 23 de maio de 2019

Exposição Ilustrações e criações



A partir da leitura de livros como "As crónicas de Narnia", de C. S. Lewis; "Sexta-feira ou a vida selvagem", de Miguel Tournier; "A história de Robinson Crusoé e do seu criado Sexta Feira", de Daniel Defoe; "As minas de Salomão" de Rider Haggard; "Cinco Semanas em Balão", "Viagem à Lua", "Volta ao Mundo em 80 dias" ou "Viagem ao Centro da Terra", de Júlio Verne, os alunos do 8º ano apresentam uma ilustração de um excerto da história, representada em três vinhetas. Na primeira vinheta, o aluno narra o conteúdo do excerto, na segunda e na terceira a ilustração será da imaginação do aluno.
O resultado deste trabalho foi realizado na disciplina de Educação Visual, no âmbito do Projeto Formar Leitores, e a Exposição está patente na Biblioteca do ECB.




quarta-feira, 1 de maio de 2019

Romance policial: um género literário menor ou um nicho de culto?



Considerado por alguns como um género menor da literatura, o romance policial ganhou nos últimos anos um novo fulgor e reconhecimento com a chamada “literatura policial nórdica”. Nomes como os dos suecos Stieg Larsson, Henning Mankell, Camilla Läckberg ou Lars Kepler (pseudónimo do casal formado pelo sueco Alexander Ahndoril e pela portuguesa Alexandra Coelho Ahndoril); dos noruegueses Jo Nesbø e Jørn Lier Horst, ou ainda dos islandeses Arnaldur Indridason e Yrsa Sigurdardóttir tornaram-se conhecidos de grande parte dos leitores deste género literário que esperam ansiosamente pela publicação ou reedição de mais um dos seus romances.





O romance policial terá surgido em abril de 1841, nas colunas de um jornal de Filadélfia, o Graham's Magazine, com a publicação de Os Crimes da Rua Morgue, de Edgar Allan Poe, a história do assassinato brutal de duas mulheres em Paris, investigados pelo detetive C. Auguste Dupin. A este, seguiram-se O Mistério de Marie Roget (publicado entre 1842 e 1843, a partir da história verídica do assassinato de uma jovem em Nova Iorque) e A Carta Roubada (publicado em 1844, o último caso do detetive Dupin, sobre o roubo de uma carta dos aposentos privados da rainha e cujo conteúdo seria muito comprometedor se revelado).


Edgar Allan Poe

O surgimento deste tipo de narrativa no século XIX (as chamadas “narrativas de enigma”) tem sido associado à explosão urbana, ao aumento do crime, à ascensão da ideologia burguesa e ao aumento do público leitor ocorridos nesse século.
[A este propósito, recomenda-se a leitura das obras O crime em lisboa, 1850-1910 e Crime e sociedade. Portugal na segunda metade do século XIX, da historiadora portuguesa Maria João Vaz.]


O universo do romance policial clássico caracteriza-se, em termos estruturais, pela presença de elementos como o crime/a vítima, a investigação/revelação do culpado, a que se acrescenta uma dose de medo, mistério, investigação, curiosidade, espanto e inquietação, procurando sempre uma completa verossimilhança.
O foco do romance policial remete, assim, para o processo do esclarecimento do mistério, geralmente a cargo de um detetive, seja ele profissional ou amador, adotando muitos detetives, como por exemplo, Sherlock Holmes, criado por Arthur Conan Doyle, métodos científicos em busca da verdade. O romance ou conto policial tenta sempre responder às questões: Quem é o culpado? Qual a razão do crime? Que processos se utilizaram para resolver esse mesmo crime?
Entre os grandes nomes da literatura policial clássica, em que a identidade do culpado só é revelada nas últimas páginas do livro, contam-se, além dos dos já referidos Edgar Allan Poe e Arthur Conan Doyle, Agatha Christie, P. D. James, Raymond Chandler, Erle Stanley Gardner, Dashiell Hammett ou Georges Simenon, mas também o italiano Andrea Camilleri ou o espanhol Manuel Vásquez Montalbán.


Num registo diferente, entrando naquilo que alguns críticos classificam como romance policial psicológico, destacam-se os já referidos autores nórdicos, mas também a norte-americana Patricia Highsmith ou a inglesa Ruth Rendell (que também publicou sob o pseudónimo Barbara Vine), que terão sido as percursoras deste estilo, que, mantendo a estrutura clássica da trilogia crime/investigação/revelação, dá mais importância à narrativa em si mesma, com a descrição da personalidade e do tipo psicológico do ou dos suspeitos, criando entre o leitor e o criminoso uma empatia, como a que vivenciamos com o falsário sedutor Tom Ripley, de Highsmith, chegando muitas vezes o leitor a esperar que o crime compense e o suspeito seja absolvido.

Em Portugal, um dos primeiros livros policiais publicados terá sido O Mistério da Estrada de Sintra, um romance da autoria conjunta de Eça de Queirós e de Ramalho Ortigão, publicado no Diário de Notícias, de Lisboa, sob a forma de cartas anónimas, entre 24 de Julho e 27 de Setembro de 1870, recebendo a primeira versão em livro em 1884.

Outros nomes se distinguem, entre os quais o de Dennis McShade, pseudónimo de Dinis Machado, criado em 1967, Francisco José Viegas, Pedro Garcia Rosado, Francisco Moita Flores ou Nuno Nepumoceno.


E que dizer de Quaresma, Decifrador, título geral que se atribuiu ao conjunto das treze novelas policiárias escritas por Fernando Pessoa e que a editora Assírio & Alvim publicou em maio de 2014?


Para Fernando Pessoa, a literatura policial seria um dos «poucos divertimentos intelectuais que ainda restam ao que resta de intelectual na humanidade». Para além de um leitor entusiasta de todas as novidades que as editoras inglesas publicavam nesta área, Pessoa foi também, ao longo da sua vida literária, escritor de histórias policiais, dedicando a esta vertente da sua obra muito tempo e atenção.
O fio condutor das novelas de Quaresma, Decifrador é a figura de Abílio Fernandes Quaresma, médico sem clínica, raciocinador e decifrador de charadas, sua leitura preferida, e das da vida real, uma figura paradoxal pelo contraste criado entre a debilidade física e o fulgor do raciocínio dedutivo. Raciocinador minucioso e analítico, tal como o autor, Quaresma é apresentado no «Prefácio» das novelas como um amigo de longa data, recentemente falecido, alguém que realmente conduz os seus passos pelas Ruas de Lisboa, tal como outros alter-egos pessoanos.

[Temos consciência de que muitos são os nomes que faltam nesta breve resenha sobre romance policial: clássicos americanos como Rex Stout, Ellery Queen ou Ed McBain, ou os mais recentes Dennis Lehane, James Patterson, Daniel da Silva ou  Stephen King; as britânicas Robert Galbraith (pseudónimo de J. K. Rowling), Paula Hawkings ou Val McDermid; os espanhóis Arturo Pérez-Reverte, Domingo Villar ou  Antonio Muñoz Molina; o suiço Joel Dicker; ou ainda o improvável zimbabweano Alexander McCall Smith, com a detetive Preciosa Ramotswe, fundadora da Agência Nº 1 de Mulheres Detetives, no Botswana.
Aqui fica apenas um piscar de olhos a todo um mundo por descobrir... 

Para saber mais sobre romance policial, consultar: 

literatura policial in Artigos de apoio Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2019. Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$literatura-policial. [consult. 2019-04-28].





Sir Arthur Conan Doyle - Autor do mês de maio


Arthur Conan Doyle, criador do famoso detetive Sherlock Holmes, nasceu em Edimburgo, no dia 22 de maio de 1859, e morreu em Crowborough, a 7 de julho de 1930. Médico de formação, as suas 60 histórias protagonizadas pelo detetive Sherlock Holmes foram consideradas uma grande inovação no campo da literatura criminal. O seu trabalho literário incluiu também histórias de ficção científica, novelas históricas, peças e romances, poesias e obras de não-ficção.

Educado numa família tradicionalmente católica, Conan Doyle fez os seus estudos iniciais no colégio jesuíta da vila de Hodder Place, Stonyhurst (em Lancashire) e no Colégio Stonyhurst. Em 1875, rejeitou o cristianismo e afirmou-se como agnóstico, talvez por influência do escritor Thomas Babington Macauley ou do médico Dr. Bryan Charles Waller, ambos agnósticos e críticos do catolicismo. Literariamente, foi fortemente marcado por Walter Scott e Edgar Allan Poe, além do referido Thomas Macauley.

Entre 1876 e 1881, estudou medicina na Universidade de Edimburgo, passando também um tempo na cidade de Aston e em Sheffield. Em 1878, por exemplo, trabalhou por três semanas, em troca de casa e comida, como médico aprendiz nos subúrbios de Sheffield, de cuja experiência relatou em carta: "Esta gente de Sheffield preferiria ser envenenada por um homem com barba do que ser salva por um homem imberbe".



Foi enquanto estudava que começou a escrever pequenas histórias; a sua primeira obra foi publicada no Chambers’s Edinburgh Journal, ainda não tinha completado 20 anos. Foi também durante o seu tempo de estudante de medicina que teve a sua primeira experiência naval, como médico numa baleeira que navegava no Oceano Ártico, onde ficou sete meses.

Após a sua formação universitária, serviu como médico de bordo no navio "Mayumba" em viagem à costa Oeste da África.
Em 1882, Conan Doyle e o seu antigo colega de curso George Budd riaram uma sociedade numa clínica médica em Plymouth, mas a relação entre os dois tornou-se difícil, optando Doyle por trabalhar de forma independente, em Portsmouth. O consultório não teve muito sucesso e, enquanto aguardava por pacientes, voltou a escrever.
A sua primeira obra notável foi Um Estudo em Vermelho, publicada no Beeton’s Christmas Annual de 1887, e foi a primeira vez que apareceu a personagem Sherlock Holmes, que terá sido parcialmente inspirado num professor da universidade, Joseph Bell, a quem Conan Doyle escreveu: "É mais do que certo que é a você que eu devo Sherlock Holmes… Com base no centro de dedução, na interferência e na observação que o ouvi inculcar, tentei construir um homem.". Outros autores outras sugerem influências, como o personagem de Edgar Allan Poe, C. Auguste Dupin.


Em fevereiro de 1890, Conan Doyle publicou a segunda história com Sherlock Holmes, intitulada O Sinal dos Quatro, publicada na revista Lipincott’s Magazine.


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O verdadeiro sucesso dos contos de Arthur Conan Doyle teve início em julho de 1891, quando a revista Strand Magazine publicou Um Escândalo na Boémia.
Outra personagem de grande destaque nas suas histórias é o doutor “Watson”, um médico leal, porém intelectualmente mais fraco, que acompanha Sherlock e escreve as suas aventuras.
Em 1893 Arthur Conan Doyle publicou O Problema Final, quando resolveu matar Sherlock Holmes, juntamente com o vilão Moriarty, o seu inimigo mortal, no entanto, as manifestações de desagrado e a pressão dos leitores, fizeram o escritor trazer de volta o detetive na história A Casa Vazia, com a explicação de que apenas Moriarty tinha caído nas Cataratas de Reichenbach. O conto foi publicado no livro O regresso de Sherlock Holmes (1905), uma coletânea de treze contos originalmente publicados na revista Strand Magazine, entre 1903 e 1904.

Em 9 de agosto de 1902, Arthur Conan Doyle foi condecorado com o título de Cavaleiro pela sua participação na Guerra dos Bóeres. Trabalhou na linha da frente da batalha como cirurgião e foi elogiado pelos compatriotas pela coragem e determinação na prestação de socorro. Após o regresso a Inglaterra, e tendo em conta as críticas vindas de todo o mundo por causa da conduta do Reino Unido na África do Sul, escreveu um livro com o título A Grande Guerra Boer (1900) e também um pequeno panfleto intitulado “A Guerra na África do Sul: Causa e Conduta”, justificando o papel do Reino Unido nessa guerra. Este panfleto foi traduzido para vários idiomas e Conan Doyle acreditava que foi por sua causa que recebeu o título de Cavaleiro e foi indicado como deputado-tenente de Surrey.
Nas suas causas públicas e políticas, Conan Doyle envolveu-se também na campanha pela reforma do Estado Livre do Congo, liderada pelo jornalista E. D. Morel e pelo diplomata Roger Casement. Em 1909, escreveu “O Crime do Congo”, um grande panfleto no qual denunciava os horrores daquele país. Tornou-se grande amigo de Morel e Casement e é possível que estes, juntamente como Bertram Fletcher Robinson, tenham servido de inspiração para vários personagens do livro O Mundo Perdido, publicado em 1912. Rompeu relações com ambos quando Morel se tornou um dos líderes do movimento pacifista da Primeira Guerra Mundial, e quando Casement foi acusado de traição contra o Reino Unido durante a revolta da Páscoa. Conan Doyle tentou, sem sucesso, salvar Casement da pena de morte, alegando que ele estava louco e não era responsável por suas ações.

Uma das facetas mais enigmáticas da personalidade de Arthur Conan Doyle relaciona-se com o seu envolvimento com o Espiritualismo. No ano de 1887, travou o seu primeiro contacto com o Espiritualismo, iniciando neste mesmo ano, com o seu amigo Ball, arquiteto de Portsmouth, sessões mediúnicas que o fizeram rever alguns dos seus conceitos.
Após as mortes da primeira mulher (1906), do seu filho Kingsley (1918), do seu irmão Innes (1919), de dois cunhados e de dois netos, também após a Primeira Guerra Mundial, Conan Doyle mergulhou num profundo estado de depressão. Terá então encontrado conforto e consolação no Espiritualismo, e esse envolvimento levou-o a escrever sobre o assunto, tornando-se um dos seus maiores divulgadores e defensores. No auge da fama, em 1918, enfrenta todos os céticos e publica "A Nova Revelação", obra em que manifesta a sua convicção na explicação espírita para as manifestações paranormais estudadas durante o século XIX, e inicia uma série de outras, dando também palestras sobre o tema. Em "A Chegada das Fadas" (1921) reproduziu teorias sobre a natureza e a existência das fadas e de espíritos. Posteriormente, em "The History of Spiritualism" (1926), aborda a história do movimento espiritualista anglo-saxónico e do Espiritismo (codificado pelo pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, conhecido pelo pseudónimo Allan Kardec). Além desses movimentos, Conan Doyle enfatizou igualmente os movimentos espiritualistas alemão e italiano, com destaque para os fenómenos físicos e as materializações espirituais produzidas por Eusápia Paladino e Mina "Margery" Crandon. Este assunto foi retomado em "The Land of Mist" (1926), de natureza ficcional, com o personagem "Professor Challenger".
Por algum tempo, Conan Doyle foi amigo do mágico Harry Houdini, que se tornaria um grande opositor do movimento moderno espiritualista na década de 1920. Embora Houdini insistisse que os médiuns da época faziam truques de ilusionismo (e expunha tais médiuns como fraudes), Conan Doyle já estava convencido de que o próprio Houdini possuía mediunidade ativa. Aparentemente, Houdini não foi capaz de convencer Conan Doyle de que os seus feitos eram puras ilusões, levando a uma amarga e pública quebra de relações entre ambos.
A sua convicção foi ao ponto de rejeitar o título de Par (Peer) do Reino Britânico, oferecido sob condição de renunciar às suas crenças. Confrontando todos, permaneceu fiel à fé que abraçara e que acompanhou até aos seus últimos dias. Foi Presidente Honorário da International Spiritualist Federation, Presidente da Aliança Espírita de Londres e Presidente do Colégio Britânico de Ciência Espírita.

Conan Doyle morreu de ataque cardíaco aos 71 anos, na sua casa em Crowborough, East Sussex, no dia 7 de julho de 1930.

A 27 de março de 1990, foi fundado em Londres o Museu Sherlock Holmes, situado na Baker Street, a mesma rua onde Arthur Conan Doyle fez residir Holmes, no fictício prédio 221B. Atualmente o museu, que atrai um grande número de visitantes de várias partes do mundo, é gerido pela Sherlock Holmes Society of England, uma organização privada sem fins lucrativos.







Obras de Arthur Conan Doyle no catálogo da Biblioteca do ECB:
Um Estudo em Vermelho / Os sete mistérios
O Signo dos Quatro
As Aventuras de Sherlock Holmes
O Cão de Baskervilles
O regresso de Sherlock Holmes
O Vale do Terror / A caixa macabra
As nódoas de sangue / O último adeus
A ciclista solitária / A escola do priorado / Pedro Negro

Edições em inglês:
Sherlock Holmes: the original ilustrated strand (edição facsimilada)
The return of Sherlock Holmes
Sherlock Holmes: the complete novels and stories