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sexta-feira, 14 de julho de 2017

14 de julho – Dia Mundial da Liberdade de Pensamento


[Estátua O Pensador, uma das mais famosas esculturas de bronze do escultor francês Auguste Rodin. Retrata um homem em meditação soberba, lutando com uma poderosa força interna.
Originalmente com o nome O Poeta, esta escultura fazia parte de um conjunto resultante de uma encomenda de uma comissão do Museu de Arte Decorativa em Paris com vista à criação de um portal monumental baseado na obra A Divina Comédia, de Dante Alighieri. Cada uma das estátuas representava uma das personagens principais do poema épico. O Pensador procurava retratar Dante em frente dos Portões do Inferno, criando o seu longo poema. A escultura está nua porque Rodin queria uma figura heróica inspirada em Miguel Ângelo para representar o pensamento, assim como a poesia. Encontra-se atualmente no Museu Rodin, em Paris.]


“Quando não há, entre os homens, liberdade de pensamento, não há liberdade."
Voltaire
No dia 14 de julho comemora-se o Dia Mundial da Liberdade de Pensamento.

A 14 de julho de 1789, com a tomada da Bastilha, fortaleza-prisão que se tornou símbolo da arbitrariedade do poder real, começava em França a Revolução que seria considerada o “paradigma das revoluções liberais e burguesas”.
Inspirado nas ideias Iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade, defendidas por Diderot, D’Alembert, Rousseau e Voltaire, entre outros, entre 1789 e 1804, a França viveu um processo revolucionário que, além de ter destruído as estruturas políticas, sociais e económicas do Antigo Regime, influenciou uma série de experiências políticas noutras sociedades, de Portugal à Bélgica, da Grécia à América Latina, e teve repercussões no mundo contemporâneo.
Entre as primeiras medidas tomadas pelos deputados da Assembleia Nacional Constituinte, encontra-se a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que, no seu artigo 11º, afirmava que
A livre comunicação dos pensamentos e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do Homem; todo o cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na Lei.
Em 1948, três anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas aprova a Declaração Universal dos Direitos do Homem, tendo ainda como fonte de inspiração o texto francês. Novamente se estabelece que, entre os direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da família humana, se encontram os seguintes:
Artigo 18º
Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.
Artigo 19º
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.

O dia 14 de julho pretende ser um dia de reflexão sobre o significado de liberdade de pensamento, ao mesmo tempo que se apela à extinção do fosso existente entre esta liberdade e a liberdade de expressão, entre os pensamentos interiores e as manifestações exteriores dessas visões pessoais.

“Só conheço uma liberdade, e essa é a liberdade do pensamento.”
Antoine de Saint-Exupéry

sábado, 1 de julho de 2017

Autor do mês de julho - Hermann Hesse


Herman Hesse
“Não sou aquele que sabe, mas aquele que busca.”
O escritor alemão Herman Hesse nasceu a 2 de julho de 1877, na cidade de Calw, na orla da Floresta Negra, Estado de Wüttenberg, e morreu no dia 9 de agosto de 1962, em Montagnola, uma comuna localizada na Suíça, que fica a poucos quilómetros a sul da cidade de Lugano, no cantão de Ticino.
Aos 14 anos, os pais enviaram-no para o seminário protestante de Maulbronn esperando que seguisse a tradição familiar em teologia (os pais foram missionários protestantes do movimento luterano pietista e chegaram a pregar o Cristianismo na Índia), mas Hermann acabou por ser expulso. Transferido para uma escola secular, continuou a revelar inadaptação, pelo que abandonou os estudos, começando a trabalhar, primeiro como aprendiz de relojoeiro, depois como empregado de balcão numa livraria, em Tübingen, onde se juntou a uma tertúlia literária, "Le Petit Cénacle". Terá sido esta experiência que estimulou a voracidade de leitura em Hesse, como também terá determinado a sua vocação para a escrita. Em 1899, Hermann Hesse publicou os seus primeiros trabalhos, Romantischer Lieder e Eine Stunde Hinter Mitternacht, volumes de poesia de juventude.
Em 1904, após a publicação de Peter Camenzind, Hesse tornou-se escritor a tempo inteiro. Este romance, que justapõe à parábola do filho pródigo o mito da viagem iniciática, contém muitos dos temas que foram as preocupações de Hesse, como a busca individual pela unidade espiritual e a identidade física, a natureza e a civilização moderna, e o papel da arte na formação da identidade pessoal.
“No princípio, era o mito. E assim como o grande Deus fazia poesia na alma dos hindus, gregos e germanos, procurando expressar-se, assim de novo ele faz poesia, dia após dia, na alma de cada criança.” (in Peter Camenzind)


Em 1911, e durante quatro meses, Hermann Hesse visitou a Índia, país que, apesar de o ter desiludido, constituiu uma motivação para o estudo das religiões orientais.
Em 1912, emigrou com a sua família para a Suíça. Nesse período, não só a sua mulher, Maria Bernoulli, começou a dar sinais de instabilidade mental, como um dos seus filhos adoeceu gravemente. No romance Rosshalde, de 1914, o autor explora a questão do casamento ser ou não conveniente para os artistas, fazendo, no fundo, uma introspeção dos seus problemas pessoais.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Hesse demonstrou ser desfavorável ao militarismo e ao nacionalismo que se faziam sentir e, da Suíça, procurou defender os interesses e a melhoria das condições dos prisioneiros de guerra, o que lhe valeu ser considerado como traidor pelos seus compatriotas.
Finda a guerra, Hesse publicou o seu primeiro grande romance de sucesso, Demian (1919), obra de caráter faustiano, que narra a história de uma difícil caminhada para a maturidade e que culmina nos dias sombrios da Primeira Guerra Mundial. As personagens principais, Max Demian e Emil Sinclair, erguem um grito de revolta contra os processos de uniformização então predominantes e contra a barbárie massificada que viria a constituir uma das marcas mais características do século XX.


Em 1919, deixou a família e mudou-se para o Sul da Suíça, para Montagnola, onde se dedicou à escrita de Siddharta (1922), romance largamente influenciado pela sua passagem pela Índia e pelas culturas hindu e chinesa e que, recriando a fase inicial da vida de Buda, nos conta a vida do filho de um brâmane que se revolta contra os ensinamentos e tradições do seu pai, até poder encontrar a iluminação espiritual.


O escritor renunciou à cidadania alemã, em 1923, optando pela suíça. Divorciando-se da sua primeira mulher, casou com Ruth Wenger em 1924, tendo o casamento durado apenas alguns meses. Dessa experiência resultou uma das suas obras mais importantes, O Lobo das Estepes (1927). No romance, o protagonista Harry Haller confronta a sua crise de meia-idade com a escolha entre a vida da ação ou da contemplação, numa dualidade que acaba por caracterizar toda a estrutura da obra.
Em 1930, publicou Narciso e Goldmundo, romance que marca o seu apogeu literário e que narra a história da amizade entre Narciso, noviço culto e racional, e Goldmundo, jovem belo e audacioso, de quem Narciso é professor. Apesar de tão diferentes, demonstram curiosidade e admiração recíprocas. São as suas diferenças que os instigam, aproximam, separam, reaproximam, instigam novamente e se perpetuam. Mais uma vez, o autor enfrenta dualidades: o racional e o emocional; o conhecimento e a sensualidade; o ascetismo e a libertinagem.


Outras das obras mais conhecidas do autor foi O Jogo das Contas de Vidro (publicada em 1943), livro dedicado “aos peregrinos do Oriente” e que marca a reaproximação de Hesse ao pietismo cristão que constituía o universo familiar da sua infância e a sua reconciliação com as tradições espirituais e filosóficas do pensamento europeu. Colocada na lista negra pelo regime nacional-socialista, esta obra valeu-lhe, contudo, o Prémio Nobel da Literatura em 1946, ano em que recebeu também o Prémio Goethe.



Após a atribuição do Prémio Nobel, Hesse não publicou mais nenhuma obra considerada de vulto. No entanto, entre 1945 e 1962, escreveu cerca de meia centena de poemas e trinta e dois artigos para os jornais suíços, além de muitos contos (principalmente lembranças da sua infância) e poemas (frequentemente tendo a natureza como tema). Hesse escreveu também ensaios irónicos sobre a sua alienação de escrever (por exemplo, as autobiografias simuladas, História da vida resumidamente dita e Aus den Briefwechsel eines Dichters) e passou muito tempo a desenvolver o seu interesse por aguarelas, cujas reproduções enviava em postais aos amigos.
Hermann Hesse morreu a 9 de agosto de 1962, aos oitenta e cinco anos, durante o sono, vítima de uma hemorragia cerebral.
“Sempre andaram em busca de Deus, mas nunca em busca de si mesmos. E Ele não está em outro lugar. Não há um Deus senão aquele dentro de cada um...”