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sexta-feira, 5 de abril de 2019

Em Monsanto com Fernando Namora: Retalhos da vida de um médico




Alunos do 11º ano de Línguas e Humanidades, a recriar a vida e a obra de Fernando Namora, o escritor e médico português que ali começou a sua carreira, em 1944.




“Com vinte e quatro anos medrosos e um diploma de médico, tinha começado a minha vida em Monsanto. Ali, a província bravia despede-se da campina, ergue-se nos degraus das fragas para olhar com altivez as serras de Espanha, enquanto o friso de planaltos que corre as linhas da fronteira espreita as surtidas do contrabando e a fuga dos rios.
Aquele povo soturno, endurecido a subir e descer abismos, frutificando uma terra alheia, pressentiu o perigo da minha inexperiência. […] Esta gente granítica, com os ossos a esticarem uma pele morena, esperava de mim, como esperara e exigira do antigo médico, antes de o aceitar, a prova indiscutível que decidisse da minha reputação: um parto, por exemplo, com o seu assombroso mistério, as suas horas de mortificada expectativa. […]"

Fernando Namora, Retalhos da vida de um médico, 1ª série, Mem Martins: Publicações Europa-América, 2000, pp. 17-18




© Fotos Teresa Dias e Graça Silva

terça-feira, 2 de abril de 2019

Dia Mundial do Livro Infantil - Vida e obra de Hans Christian Andersen



Hans Christian Andersen nasceu no dia 2 de abril de 1805, na cidade de Odense, parte do então Reino Unido da Dinamarca e Noruega, no coração da ilha da Fiónia, a leste da península dinamarquesa, hoje território da atual Dinamarca.
Foi graças ao seu contributo para a literatura juvenil que a data do seu nascimento foi decretada como o Dia Internacional do Livro Infanto-juvenil, por iniciativa do Conselho Internacional sobre Literatura para os Jovens (IBBY), em 1967. Além disso, o mais importante prémio internacional do género, o Prémio Hans Christian Andersen, tem seu nome.

Com uma infância Hans Christian marcada pela pobreza (filho de um sapateiro e de uma lavadeira, seria o único a sobreviver à primeira infância), apesar de viver num lar humilde, foi o pai que, mesmo sem ter aprendido a ler e a escrever, fomentou no pequeno Hans a imaginação e a criatividade, contando-lhe histórias, apresentando-lhe obras como As Mil e Uma Noites e fabricando-lhe um teatrinho de marionetas. As dificuldades do quotidiano e a sua infância pobre permitiram-lhe conhecer os contrastes da sociedade em que vivia, o que terá influenciado as histórias infantis e adultas que viria a escrever.
A morte do pai, quando Hans Christian tinha apenas onze anos, obrigou-o a abandonar a escola, começando a trabalhar como aprendiz de tecelão e, mais tarde, para um alfaiate. Aos catorze anos, mudou-se para Copenhaga para procurar emprego como ator. Tendo uma excelente voz de soprano, foi aceite no Teatro Real da Dinamarca, mas, com o avançar da puberdade, sua voz mudou. Um colega do teatro disse-lhe que o considerava um poeta. Levando a sugestão a sério, Hans começou a dedicar-se à escrita.
Em 1822, publicou o seu primeiro conto, O Fantasma da Tumba de Palnatoke.
Jonas Collin, o diretor do Teatro Real da Dinamarca, enviou-o para uma escola em Slagelse, pagando todas as despesas. Embora não tenha sido um aluno exemplar, frequentou mais tarde a escola em Elsinore, até 1827, sempre financiado por Collin.
Em 1828, foi admitido na Universidade de Copenhaga. Em 1829, obteve grande sucesso com Um passeio desde o canal de Holmen até à ponta leste da ilha de Amager.
O lançamento do romance O Improvisador, em 1835, escrito na sequência de viagens que o levaram a vários países da Europa trouxe-lhe o início do reconhecimento internacional.
Hans Christian Andersen visitou Portugal em 1866 a convite da família O'Neill, cuja amizade terá sido alimentada nos bancos da escola em Copenhaga. Durante a sua estadia de cerca de dois meses em Portugal, regista as suas impressões sobre várias cidades portuguesas (Lisboa, Setúbal, Palmela, etc.) fazendo grandes elogios à sua paisagem.

"O sol brilhava no céu claro e sobre as águas tranquilas. Em frente erguia-se Lisboa nas suas soberbas colinas, como uma monumental ampliação fotográfica. À medida que nos afastávamos, evidenciavam-se os recortes como vagas enormes de casas e palácios. […]" 

(in ANDERSEN, Hans Christian - Uma visita em Portugal em 1866. 4.ª ed. [S.l.]: Gailivro, 2003. p. 54).



Apesar de ter escrito diversos romances adultos, livros de poesia e relatos de viagens, foram os contos de fadas que tornaram Hans Christian Andersen famoso, especialmente numa altura em que eram muito raros livros destinados especificamente a crianças.
Entre os melhores contos de Hans Christian Andersen destacam-se:
O Patinho Feio
A Caixinha de Surpresas
Os Sapatos Vermelhos
O Pequeno Cláudio e o Grande Cláudio
O Soldadinho de Chumbo
A Pequena Sereia
A Princesa e a Ervilha
O Rei Vai Nu
O Abeto de Natal
O Rouxinol
A Vendedora de Fósforos
A Polegarzinha
A Rainha da Neve
A Pastora e o Limpa-chaminés








Para alguns estudiosos, Hans Christian Andersen foi a "primeira voz autenticamente romântica a contar histórias para as crianças", nas quais procurava passar padrões de comportamento que deveriam ser adotados pela sociedade, apontando os confrontos entre "poderosos" e "desprotegidos", "fortes" e "fracos", "exploradores" e "explorados", demonstrando a ideia de que todos os homens deveriam ter direitos iguais.
No início, escrevia contos baseados na tradição popular, especialmente no que ele ouvia durante a infância, mas depois desenvolveu histórias do mundo das fadas ou que traziam elementos da natureza.
Entre 1835 e 1842, Andersen lançou seis volumes de Contos, livros com histórias infantis que foram sendo traduzidos para diversas línguas.
Escreveu contos infantis até 1872, ano em ficou gravemente ferido ao cair da sua própria cama. A partir de então a sua saúde ficou muito debilitada, morrendo em 4 de agosto de 1875, em Copenhaga.



Dia Internacional do Livro Infantil



No dia 2 de abril comemora-se em todo o mundo o nascimento de Hans Christian Andersen. A partir de 1967, este dia tornou-se o Dia Internacional do Livro Infantil, tendo sido a sua comemoração inicialmente da responsabilidade do IBBY Internacional (Conselho Internacional sobre Literatura para os Jovens), mas alargada depois a todas as instituições que chamam a atenção para a importância da leitura e dos livros para a infância.
Para assinalar o Dia Internacional do Livro Infantil 2019, a Direção Geral do Livro dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) convidou a ilustradora Abigail Ascenso, vencedora de uma Menção Especial do Prémio Nacional de Ilustração do ano passado, para ser a autora da imagem do cartaz.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Fernando Namora - autor do mês de abril



No mês em que se comemora o centenário do seu nascimento, prestamos homenagem a um dos grandes nomes da literatura portuguesa.

Romancista, ensaísta, poeta, pintor e também médico, Fernando Namora nasceu em Condeixa-a-Nova, no dia 15 de abril de 1919, e morreu em Lisboa, a 31 de Janeiro de 1989.
Fez a escola primária em Condeixa, iniciou o liceu em Coimbra, terminado depois em Lisboa, no Liceu Camões, a Coimbra voltaria para ingressar no curso de Medicina.
O seu volume de estreia foi Relevos, livro de poesia, a que se seguiu o romance As Sete Partidas do Mundo, ambos publicados em 1938, ainda estudante de Medicina na Universidade de Coimbra (curso que terminaria em 1942). Com As Sete Partidas do Mundo viria a ser receber o Prémio Almeida Garrett, no mesmo ano em que recebe o Prémio Mestre António Augusto Gonçalves, de artes plásticas - na categoria de pintura.
Ainda estudante e com outros companheiros de tertúlia em Coimbra, fundou a revista Altitude e envolveu-se no projeto do Novo Cancioneiro, coleção poética de 10 volumes que se inicia com o seu livro-poema Terra (1941), assinalando o advento do neorrealismo, ponto de viragem na literatura portuguesa.
Em 1943, o romance Fogo na Noite Escura é publicado na coleção dos Novos Prosadores, pela Coimbra Editora, coleção que reunirá romances como Casa na Duna, de Carlos de Oliveira, Onde Tudo Foi Morrendo, de Vergílio Ferreira, Nevoeiro, de Mário Braga ou O Dia Cinzento, de Mário Dionísio, entre outros.
O exercício da profissão médica, primeiro na sua terra natal, depois na Beira Baixa (em Tinalhas, concelho de Castelo Branco, e Monsanto, concelho de Idanha-a-Nova) e no Alentejo (Pavia), e, a partir de 1951, em Lisboa, como médico assistente do Instituto Português de Oncologia, reflete-se em muitos dos textos que escreveu: com uma grande capacidade de análise social e psicológica, Fernando Namora apresenta-nos retratos com aspetos de picaresco, observações naturalistas e existencialistas.

A sua obra pode ser dividida e sistematizada em fases distintas de criação literária:
(1) o ciclo de juventude, principalmente enquanto estudante em Coimbra, coincidente com o livro-poema Terra e o romance Fogo na Noite Escura;
(2) o ciclo rural, entre 1943 e 1950, representado pelas novelas Casa da Malta e Minas de San Francisco, ou pelos romances A Noite e a Madrugada, O Trigo e o Joio e ainda Retalhos da Vida de um Médico;
(3) o ciclo urbano, coincidente com a sua vinda para Lisboa, marcado pela solidão e vivências do quotidiano, e que se terá refletido nos romances O Homem Disfarçado, Cidade Solitária ou Domingo à Tarde;
(4) o ciclo cosmopolita, entre finais dos anos 60 e durante a década de 70, explicado pelas muitas viagens que fez;
(5) o ciclo final, entre a ficção contemporânea, onde se inserem os romances O Rio Triste ou Resposta a Matilde, e as reflexões íntimas de Jornal sem Data.

Várias das obras de Fernando Namora foram adaptadas ao cinema ou para televisão, tais como Retalhos da Vida de um Médico, talvez uma das suas obras mais conhecidas e a primeira a ser adaptada ao cinema, pelo realizador Jorge Brum do Canto (em 1962), seguindo-se a série televisiva, dirigida por Artur Ramos e Jaime Silva (1979-1980). O Trigo e o Joio foi adaptado para o cinema em 1965, por Manuel Guimarães. Domingo à Tarde foi realizado por António de Macedo em 1965 e contou com atores como Isabel de Castro, Ruy de Carvalho e Isabel Ruth. Em 1975, surge Fernando Namora – Vida e Obra, realizado por Sérgio Ferreira. A Noite e a Madrugada deve a sua realização a Artur Ramos, em 1985. Resposta a Matilde, de 1986, foi adaptado a televisão por Dinis Machado e Artur Ramos, com a participação de Raúl Solnado e Rogério Paulo. Em 1990, Vítor Silva realiza a curta-metragem O Rapaz do Tambor.

Fernando Namora morreu em Lisboa, no dia 31 de Janeiro de 1989. Foi sepultado no Talhão dos Artistas do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.

Obras
(*) incluídas no catálogo da Biblioteca do ECB

As Sete Partidas do Mundo, romance, 1938 (*)
Terra, romance, 1941
Fogo na Noite Escura, romance, 1943 (*)
Casa da Malta, romance, 1945 (*)
Minas de San Francisco, romance, 1946 (*)
Retalhos da Vida de um Médico, narrativas / primeira série, 1949 (*)
A Noite e a Madrugada, romance, 1950 (*)
Deuses e Demónios da Medicina, biografias romanceadas, 1952 (*)
O Trigo e o Joio, romance, 1954 (*)
O Homem Disfarçado, romance, 1957 (*)
Cidade Solitária, narrativas1959 (*)
As Frias Madrugadas, poesia / antologia1959 (*)
Domingo à Tarde, romance1961 (*)
Retalhos da Vida de um Médico, narrativas / segunda série1963 (*)
Diálogo em Setembro, crónica romanceada1966 (*)
Um Sino na Montanha, cadernos de um escritor1968 (*)
Marketing, poesia1969 (*)
Os Adoradores do Sol, cadernos de um escritor1971 (*)
Os Clandestinos, romance1972 (*)
Estamos no Vento, narrativa literário-sociológica1974 (*)
A Nave de Pedra, cadernos de um escritor1975 (*)
Cavalgada Cinzenta, narrativa1977 (*)
Encontros, entrevistas1979 (*)
Resposta a Matilde, divertimento1980 (*)
O Rio Triste, romance1982 
Nome para uma Casa, poesia1984
URSS mal amada, bem amada, crónica1986
Sentados na Relva, cadernos de um escritor1986
Jornal sem Data, cadernos de um escritor1988

Prémios e honras
Prémio Ricardo Malheiros (1953)
Medalha de Ouro da "Societé d'Encouragement au Progrés" (1979)
Grande Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (1979)
Prémio D. Dinis (1982)
Casa-Museu de Fernando Namora, em Condeixa



A casa-museu de Fernando Namora, em Condeixa (a casa onde nasceu, inaugurada em 1990), sublinha as três facetas de Namora: o escritor, simbolizado no seu escritório, a sua poltrona de pele, a secretária e a máquina de escrever, ídolos e amigos na parede (Jorge Amado) e prémios literários, condecorações, primeiras edições e dedicatórias. Mas também o médico e o pintor







Em Monsanto, a casa onde exerceu atividade como médico municipal