Natália
Correia nasceu na Fajã de Baixo, ilha de São Miguel, a 13 de setembro de 1923,
e morreu em Lisboa, a 16 de março de 1993.
No
ano em que se comemora o centenário do seu nascimento, recordamos este nome grande
da literatura portuguesa, cuja obra percorreu vários géneros: poesia, romance, contos,
ensaio, teatro, além da tradução e de colaborações com revistas e jornais nacionais e
estrangeiros.
A viver
em Lisboa desde os 11 anos, cidade onde inicia os estudos liceais, Natália
Correia publicou a sua primeira obra em 1945, o romance infantil Grandes Aventuras de um Pequeno Herói. Depois
de um segundo romance, Anoiteceu no
Bairro, publicado em 1946, Natália Correia estreia-se na poesia, saindo em 1947,
Rio de Nuvens. Afirma-se então como
poetisa, como gostava de ser chamada: «...poetisa. Sim, chamar-lhe-ei poetisa.
A homenagem que distingue o génio poético feminino com o prémio de lhe
masculinizar o estro ultraja uma poesia que quer feminizar o mundo com a magia
da sua claridade lunar» (do prefácio que escreveu à obra Diário do Último Ano, autobiografia de Florbela Espanca, publicada
em 1981).
Até
1993, ano da sua morte, foram mais de 40 os títulos que deu à estampa, entre os
quais se contam, além da poesia e do romance, antologias, ensaios, peças de
teatro, o livro de viagens Descobri Que
Era Europeia: impressões duma viagem à América (1951) e o diário Não Percas a Rosa. Diário e algo mais (25 de
Abril de 1974 - 20 de Dezembro de 1975), publicado em 1978.
Politicamente
ativa e comprometida, com uma forte e polémica personalidade, livre de
convenções sociais, ainda durante a ditadura do Estado Novo reunia na sua casa uma
das mais vibrantes tertúlias de Lisboa, onde compareciam destacadas figuras das
artes, das letras e da política (oposicionista), quer portuguesas, quer
internacionais. Tomou parte ativa nos movimentos de oposição ao Estado Novo,
tendo participado no MUD (Movimento de Unidade Democrática, 1945), no apoio às
candidaturas à Presidência da República de Norton de Matos (1949) e de Humberto
Delgado (1958) e na CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, 1969),
liderada por Mário Soares.
Em
1966, foi condenada a três anos de prisão, com pena suspensa, pela publicação
da Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, considerada ofensiva dos
costumes. Em 1972, foi processada por ter tido a responsabilidade editorial das Novas Cartas Portuguesas, de Maria
Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta, processo que ficaria
conhecido como Três Marias.
Após
o 25 de abril, foi eleita Deputada à Assembleia da República nas listas do PSD,
em 1980, passando mais tarde a deputada independente ao entrar em conflito
com o que considerava serem posições conservadoras do partido em matérias de costumes, acabando por sair do PSD:
Em
1985, deu apoio ao Partido Renovador Democrático, do general Ramalho Eanes,
onde acreditou ver uma alternativa de reformismo progressista para o país.
Voltou então a ser deputada, por este partido, entre 1987 e 1991.
As
suas intervenções ao nível da cultura e do património, e sobretudo na defesa
dos direitos humanos e dos direitos das mulheres não deixavam ninguém
indiferente.
Nos
anos 80, tornou-se conhecida do grande público através do programa televisivo Mátria, onde advogou uma forma especial
de feminismo, o matricismo,
identificador da mulher como arquétipo da liberdade erótica e passional e fonte
matricial da humanidade; mais tarde, à noção de Pátria e de Mátria acrescenta a
de Frátria.
Em
1981, Natália Correia foi condecorada como Grande-Oficial da Ordem Militar de
Sant'Iago da Espada e em 1991 foi feita Grande-Oficial da Ordem da Liberdade. Neste
ano, recebeu o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores
pelo livro Sonetos Românticos.
Natália
Correia morreu em casa, na madrugada de 16 de Março de 1993, vítima de um
ataque cardíaco. Legou a maioria dos seus bens à Região Autónoma dos Açores,
que lhe dedicou uma exposição permanente na nova Biblioteca Pública de Ponta
Delgada, instituição que tem à sua guarda parte do seu espólio literário (que
partilha com a Biblioteca Nacional de Lisboa) constante de muitos volumes
éditos, inéditos, documentos biográficos, iconografia e correspondência,
incluindo obras de arte e a sua biblioteca privada.
Foi
sepultada originalmente no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, e posteriormente
trasladada para a ilha de São Miguel, nos Açores, em outubro de 2015.
Obra publicada
(*) presente no catálogo da Biblioteca
do ECB
Poesia
Rio
de Nuvens (poesia), 1947
Poemas
(poesia), 1955
Dimensão
Encontrada (poesia), 1957
Passaporte
(poesia), 1958
Comunicação
(poema dramático), 1959
Cântico
do País Emerso (poesia), 1961
O
Vinho e a Lira (Poesia), 1969
Mátria
(Poesia), 1967
As
Maçãs de Orestes (Poesia), 1970
Trovas
de D. Dinis, [Trobas d'el Rey D. Denis] (Poesia), 1970
A
Mosca Iluminada (Poesia), 1972
O
Anjo do Ocidente à Entrada do Ferro (Poesia), 1973
(*) Poemas a Rebate, (poemas censurados
de livros anteriores) (poesia), 1975
Epístola
aos Iamitas (poesia), 1976
O
Dilúvio e a Pomba (poesia), 1979
(*) O Armistício (poesia), 1985
Sonetos
Românticos (poesia), 1990; 1991
(*) O Sol nas Noites e o Luar nos Dias
(poesia completa), 1993; 2000
Memória
da Sombra, versos para esculturas de António Matos (poesia), 1993
Ficção
Grandes
Aventuras de um Pequeno Herói (romance infantil), 1945
Anoiteceu
no Bairro (romance), 1946; 2004
(*) A Madona (Romance), 1968; 2000
(*) A Ilha de Circe (romance), 1983;
2001
Onde
está o Menino Jesus? (contos), 1987
As
Núpcias (romance), 1992
Literatura
de viagens
Descobri
Que Era Europeia: impressões duma viagem à América (viagens), 1951; 2002
Diário
Não
Percas a Rosa. Diário e algo mais (25 de Abril de 1974 - 20 de Dezembro de
1975) (Diário), 1978; 2003
Teatro
Sucubina
ou a Teoria do Chapéu (teatro), em colab. com Manuel de Lima, 1952
O
Progresso de Édipo (poema dramático), 1957
D.
João e Julieta, peça escrita em 1959 (teatro), 1999
O
Homúnculo, tragédia jocosa (teatro), 1965
O
Encoberto (Teatro), 1969; 1977
Erros
Meus, Má Fortuna, Amor Ardente (teatro), 1981; 1991
(*) A Pécora, peça escrita em 1967
(teatro), 1983; 1990
Ensaio
Poesia
de Arte e Realismo Poético (ensaio), 1959
A
Questão Académica de 1907 (ensaio), 1962
Uma
Estátua para Herodes (Ensaio), 1974
Notas
para uma Introdução às Cantigas de Escárnio e de Mal-Dizer Galego-Portuguesas
(ensaio), 1982
Somos
Todos Hispanos (ensaio), 1988; 2003
Antologias
Antologia
de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica: dos cancioneiros medievais à
actualidade (Antologia), 1965; 2000
(*) Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses
(Antologia), 1970; 1998
O
Surrealismo na Poesia Portuguesa (Antologia), 1973; 2002
A
Mulher, antologia poética (Antologia), 1973
Antologia
de Poesia do Período Barroco (antologia), 1982
A
Ilha de Sam Nunca: atlantismo e insularidade na poesia de António de Sousa
(antologia), 1982
A
Ibericidade na Dramaturgia Portuguesa (ensaio), 2000
Breve
História da Mulher e outros escritos (antologia de textos de imprensa), 2003
A
Estrela de Cada Um (antologia de textos de imprensa), 2004