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quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Eugénio de Andrade - centenário do nascimento

 


"Eu nem sequer gosto de escrever. Acontece-me às vezes estar tão desesperado que me refugio no papel como quem se esconde para chorar. E o mais estranho é arrancar da minha angústia palavras de profunda reconciliação com a vida."

Rosto Precário


Nasceu a 19 de janeiro de 1923, em Póvoa de Atalaia, pequena aldeia da Beira Baixa. Filho de camponeses, deram-lhe o nome de José Fontinhas. Após a separação dos pais, viveu com a mãe em Castelo Branco, mudando-se em 1932 para Lisboa, onde frequentou o Liceu Passos Manuel e a Escola Técnica Machado de Castro. Em 1936 começou a escrever os primeiros poemas. Em 1938, enviou alguns desses poemas ao escritor António Botto que o incentivou a publicar: em 1940, aparecia assim Narciso, o seu primeiro livro de poesia, assinado ainda com o seu verdadeiro nome, que mais tarde viria a rejeitar. No segundo livro, Adolescente, publicado em 1942, é como Eugénio de Andrade que se dá a conhecer.
Depois de prestar serviço militar em Coimbra, onde conviveu com Miguel Torga e Eduardo Lourenço (foi Eduardo Lourenço quem disse que a poesia de Eugénio de Andrade era a “primeira poesia da poesia da nossa literatura”), regressou a Lisboa, em 1947, passando a exercer funções de inspetor administrativo do Ministério da Saúde.
Em 1948 publicou As Mãos e os Frutos, livro que o consagrou e mereceu os aplausos de críticos como Jorge de Sena ou Vitorino Nemésio.
Em 1950 foi transferido para o Porto, cidade onde viverá até ao fim da vida, sempre distanciado da vida social, literária ou mundana, justificando as suas raras aparições públicas com «essa debilidade do coração que é a amizade».
Publicou mais de vinte livros de poesia, obras em prosa, antologias, livros infantis e traduziu poetas como Federico García Lorca, Jorge Luís Borges, René Char ou a poetisa grega clássica Safo, entre outros.
Eugénio de Andrade foi elemento da Academia Mallarmé (Paris) e membro fundador da Academia Internacional "Mihail Eminescu" (Roménia).
Manteve sempre uma postura de independência relativamente aos vários movimentos literários com que a sua obra coexistiu ao longo de mais de cinquenta anos de atividade poética.
O prestígio nacional e internacional granjeou-lhe diversas distinções e prémios, entre os quais, o Grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada (1982), o Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários (1986), o Prémio D. Dinis da Fundação Casa Mateus (1988), o Grande Prémio da Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1989), o Prémio Europeu de Poesia da Comunidade de Varchatz (República da Sérvia, 1996), a Grã-Cruz da Ordem do Mérito (1989) e o Prémio Camões (2001).
Em maio de 2001, recebeu o primeiro prémio de poesia "Celso Emilio Ferreiro" atribuído em Orense, na Galiza. Ainda em maio de 2001, foi homenageado na Universidade de Bordéus por altura da realização do "Carrefour des Littératures", tendo sido considerado um dos mais importantes escritores do século XX. Em 2003, com a obra Os Sulcos da Sede, recebeu o Prémio de Poesia do Pen Clube Português.
Em 1991, foi criada no Porto a Fundação Eugénio de Andrade, extinta em 2011. Para além de ter servido de residência ao poeta, esta instituição teve como principais objetivos o estudo e a divulgação da obra do autor assim como a organização de diversos eventos como lançamentos de livros, recitais e encontros de poesia.
Eugénio de Andrade faleceu em Porto, a 13 de junho de 2005, após uma doença neurológica prolongada. Encontra-se enterrado no Cemitério do Prado do Repouso, no Porto. A sua campa é rasa em mármore branco, desenhada pelo arquiteto amigo Siza Vieira, com versos do seu livro As Mãos e os Frutos gravados.

Obra
(*) Disponível na Biblioteca do ECB

Poesia
Narciso, José Fontinhas. Lisboa: ed. do Autor, 1940.

Adolescente, 1942.

Pureza, 1945.
As Mãos e os Frutos, 1948, 21ª edição, 2000.
Os Amantes sem Dinheiro, 1950, 16ª edição, 2000.
As Palavras Interditas, 1951, 13ª edição, 2002.
Até Amanhã, 1956, 13ª edição, 2002.
Coração do Dia, 1958, 12ª edição, 1994.
Mar de Setembro, 1961, 12ª edição, 1994.
Ostinato Rigore, 1964, 11ª edição, 1997.
Obscuro Domínio, 1971, 8ª edição, 2000.
O Inverno
Véspera de Água, 1973, 6ª edição, Limiar, 1990.
Escrita da Terra, 1974, 7ª edição, 2002.
Homenagens e outros Epitáfios, 1974, 8ª edição, 1993.
Limiar dos pássaros, 1976, 7ª edição, 1994.
Primeiros Poemas, 1977, 10ª edição, 2000.
Memória Doutro Rio, 1978, 4ª edição, Limiar, 1985.
Matéria Solar, 1980, 5ª edição, 2000. (*)
O Peso da Sombra, 1982, 3ª edição, Limiar, 1989.
Branco no Branco, 1984, 5ª edição, 19.
Vertentes do Olhar, 1987, 5ª edição, 2003.
O Outro Nome da Terra, 1988, 2ª edição, Limiar, 1989.
Contra a Obscuridade, 1988, 5ª edição, 1993.
Rente ao Dizer, 1992, 4ª edição, 2002.
Ofício de Paciência, 1994, 2ª edição, 2000.
O Sal da Língua, 1995, 4ª edição, Associação Portuguesa de Escritores, 2001.
Pequeno Formato, 1997, 2ª edição, 1997.
Os Lugares do Lume, 1998, 2ª edição, 1998.
Os Sulcos da Sede, 2001, 3ª edição, 2002.

Antologias poéticas
Antologia [1945-1961], Delfos, 1961.
Poemas (1945-1966), 3ª edição, 1971.
Poesia e prosa (1940-1979), 2 vol., 1980. (*)
Poesia e prosa (1940-1980), 1981; 2a ed. e aumentada.
Poesia e prosa (1940-1986). Lisboa: Círculo de Leitores, 1987, 3 vol.
Poesia e Prosa (1940-1989), 4ª edição, O Jornal/Limiar, 1990.
Poemas de Eugénio de Andrade, select., est. e notas de Arnaldo Saraiva, Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1999.
Poesia, 2000.

Prosa
Os afluentes do silêncio. Porto: Inova, 1968.
Rosto precário. Porto: Limiar, 1979. (*)
À sombra da memória. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 1993.

Antologias
Daqui Houve Nome Portugal, 1968, 4ª edição, Edições Asa, 2000.
Memórias da Alegria, 1971, 2ª edição, Campo das Letras, 1996.
Antologia Breve, 1972, 7ª edição, 1999.
A Cidade de Garrett, 1993, 3ª edição, 1997.
Fernando Pessoa, Poesias Escolhidas, 1995, 6ª edição, Campo das Letras, 2001.
Versos e Alguma Prosa de Luís de Camões, 1972, 5ª edição, Campo das Letras, 1996.
Erros de Passagem, seleção e prefácio, 1982, 3ª edição, Campo das Letras, 1998.
Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa, 1999, 7ª edição, Campo das Letras, 2002. (*)
Sonetos de Luís de Camões, Assírio & Alvim, 2000.
Poemas Portugueses para a Juventude, Edições Asa, 2002.

Literatura Infantil
História de égua branca. Porto: Asa, 1976. Com ilustrações de Manuela Bacelar.
Aquela Nuvem e Outras, 1986, 10ª edição, Campo das Letras, 2002.

Tradução
Poemas de García Lorca, 1946, 5ª edição, 2000.
Cartas Portuguesas, 1969, 9ª edição, Assírio & Alvim, 1998.
Poemas e Fragmentos de Safo, 1974, 5ª edição, 1995.
Trocar de Rosa, 1980, 5ª edição, 1995.