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quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Valter Hugo Mãe - autor do mês de setembro

 


As bibliotecas só aparentemente são casas sossegadas. O sossego das bibliotecas é a ingenuidade dos ignorantes e dos incautos. Porque elas são como festas ou batalhas contínuas e soam canções ou trombetas a cada instante. E há invariavelmente quem discuta com fervor o futuro, quem exija o futuro e seja destemido, merecedor da nossa confiança e da nossa fé.

(Do conto “Bibliotecas”, in Contos de cães e maus lobos)


No dia 25 de setembro, Valter Hugo Mãe comemora 50 anos de vida e 25 desde que publicou o primeiro livro. Para assinalar esta data duplamente festiva, promete a apresentação de novo romance.

Valter Hugo Mãe, pseudónimo literário de Valter Hugo Lemos, nasceu em Angola, a 25 de setembro de 1971. Escritor, editor, artista plástico e músico, tem editados mais de 30 livros, entre romances, poesia e literatura infantil.

Com obra publicada desde 1996, o livro de poesia Silencioso corpo de fuga, o reconhecimento de Valter Hugo Mãe como um dos nomes mais destacados da atual literatura portuguesa surge em 2007, com a atribuição do Prémio Literário José Saramago ao romance o remorso de baltazar serapião. O próprio José Saramago o descreveria como um “tsunami literário”.

Em Contra mim, publicado em 2020, num registo pessoal e intimista, apresenta-nos uma ideia de biografia composta por retalhos da infância e adolescência, desde o nascimento na antiga Vila Henrique de Carvalho (atual Saurimo, cidade angolana, capital da província de Lunda Sul), até às vivências já em Portugal, entre Paços de Ferreira e Vila do Conde, onde a família foi morar em 1980.


«Estamos sempre à procura das nossas grandes crianças. Essas que começámos por ser e que se tornam paulatinamente inacessíveis, como irreais e até proibidas. Crianças que caducaram, partiram, tantas por ofensa, tantas apenas por esquecimento.»

Licenciado em Direito e com uma pós-graduação em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Valter Hugo Mãe tem publicados sete romances. Os quatro primeiros, o nosso reino (2004), o remorso de baltazar serapião (2006), o apocalipse dos trabalhadores (2008) e a máquina de fazer espanhóis (2010) são conhecidos como a “tetralogia das minúsculas”, pois foram escritos sem qualquer maiúscula, incluindo o nome do autor, que pretendia assim chamar a atenção para a natureza oral dos textos e a recondução da literatura à liberdade primeira do pensamento, além de que, como o próprio autor tem afirmado, as minúsculas aludem também a uma utopia de igualdade, uma certa democracia que equiparava as palavras na sua grafia para deixar ao leitor definir o que devia ou não ser acentuado. Estes quatro romances, sem ligação narrativa entre si, acompanham as quatro fases da vida de todos nós: n’ o nosso reino, conhecemos a história de um menino de oito anos que vive numa pequena aldeia portuguesa nos anos 1970; em o remorso de baltazar serapião, romance cruel, é-nos revelado um mundo em que a mulher mais não é do que um instrumento da vida do homem; o apocalipse dos trabalhadores, talvez o romance mais divertido de valter hugo mãe, é feito da história sempre trágica de duas empregadas de limpeza e carpideiras profissionais que, entre cansaços e desilusões, encontram ainda motivos de esperança; finalmente, em a máquina de fazer espanhóis, romance que ilustra os conceitos de família e solidão, amizade e compromisso, é a velhice que encontramos descrita através da história de António Jorge da Silva, um barbeiro de 84 anos que, após perder a mulher, vai viver num lar de idosos.



A esta tetralogia, seguir-se-ão O Filho de Mil Homens (2011), A Desumanização (2013) e Homens Imprudentemente Poéticos (2013).



A Verdadeira História dos Pássaros (2009), A História do Homem Calado (2009), O Rosto (2010), As mais belas coisas do mundo (2010), Quatro Tesouros (2011) e O Paraíso são os Outros (2014) são obras dedicadas aos leitores mais pequenos.


Em 2015, publica Contos de cães e maus lobos,
que considera um livro para todas as idades e feito de uma esperança profunda.

Em 2018, reuniu a sua poesia no livro publicação da mortalidade.

Como editor, em 1999 fundou com o escritor Jorge Reis-Sá a Quasi edições (na qual publicou obras de Mário Soares, Caetano Veloso, Adriana Calcanhotto, Manoel de Barros, António Ramos Rosa, Artur do Cruzeiro Seixas, Ferreira Gullar, Adolfo Luxúria Canibal, entre outros). Em 2006, fundou a editora Objecto Cardíaco, votada à edição de “textos menos óbvios”. Entre 2001 e 2004, co-dirigiu a revista Apeadeiro.

No cinema, colaborou no guião da curta metragem Bicicleta, de 2014, realizada por Luís Vieira Campos, e de Surdina, filme realizado por Rodrigo Areias em 2020.

Para além da escrita, Valter Hugo Mãe tem-se dedicado à música (tendo colaborado em vários projetos, como vocalista, no grupo Governo, ou como letrista, caso do álbum Disco de Cabeceira, de Paulo Praça, de 2009, ou do álbum Animal, dos Osso Vaidoso, em 2010), e ao desenho, com uma primeira exposição individual de 2020 em Vila Nova de Gaia.


“Todos os livros são infinitos. Começam no texto e estendem-se pela imaginação. Por isso é que os textos são mais do que gigantescos, são absurdos de um tamanho que nem dá para calcular. Mesmo os contos, de pequenos não têm nada. Se soubermos entender, crescemos também, até nos tornarmos monumentais pessoas. Edifícios humanos de profundo esplendor.

Devemos sempre lembrar que ler é esperar por melhor."

(Do conto “Bibliotecas, in Contos de cães e maus lobos)

 

Bibliografia

(*) disponível na Biblioteca do ECB 

Poesia

1996 - Silencioso corpo de fuga. A Mar Arte. Coimbra

1997 - O sol pôs-se calmo sem me acordar. A Mar Arte. Coimbra

1999 - Entorno a casa sobre a cabeça. Silêncio da Gaveta Edições. Vila do Conde

1999 - Egon schielle auto-retrato de dupla encarnação, Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto

2000 - Estou escondido na cor amarga do fim da tarde, editora Campo das Letras

2000 - Três minutos antes de a maré encher, editora Quasi Edições

2001 - A cobrição das filhas, editora Quasi Edições

2003 - Útero, editora Quasi Edições

2003 - O resto da minha alegria seguido de a remoção das almas, editora Cadernos do Campo Alegre

2006 - Livro de maldições, editora Objecto Cardíaco

2007 - Pornografia erudita, editora Edições Cosmorama

2007 - Bruno, editora Littera Libros

2008 - Folclore íntimo, editora Edições Cosmorama

2010 - Contabilidade, editora Objectiva

2018 - Publicação da mortalidade, Porto Editora (Assírio & Alvim)

Romance

2004 - O nosso reino, editora Temas e Debates (em 2015 foi publicado pela Porto Editora com prefácio de Ferreira Gullar) (*)

2006 - O remorso de baltazar serapião, editora QuidNovi (em 2015 foi publicado pela Porto Editora com prefácio de José Saramago) (*)

2008 - O apocalipse dos trabalhadores, editora QuidNovi ( m 2015 foi publicado pela Porto Editora com prefácio de Adonis(

2010 - A máquina de fazer espanhóis, editora Alfaguara (em 2016 foi publicado pela Porto Editora) (*)

2011 - O Filho de Mil Homens, editora Alfaguara (em 2015 foi publicado pela Porto Editora com prefácio de Alberto Manguel) (*)

2013 - A Desumanização, Porto Editora. Finalista do Prémio Oceanos 2015 (*)

2013 - Homens Imprudentemente Poéticos, Porto Editora, com prefácio de Miguel Gonçalves Mendes

2020 - Contra mim, Porto Editora

Contos

2015 - Contos de Cães e Maus Lobos, Porto Editora, com prefácio de Mia Couto

Infantil

2009 - A Verdadeira História dos Pássaros, editora QuidNovi

2009 - A História do Homem Calado, editora QuidNovi

2010 - O Rosto, editora Objectiva, ilustrações de Isabel Lhano

2010 - As mais belas coisas do mundo, editora Objectiva, ilustrações de Paulo Sérgio Beju

2011 - Quatro Tesouros, editora Algaguara, ilustrações de Patrícia Furtado

2014 - O Paraíso são os Outros, Porto Editora, ilustrações de Esgar Acelerado (*)

Prémios e Reconhecimento

2007 - Prémio Literário José Saramago, com o livro o remorso de baltazar serapião atribuído pela Fundação Círculo de Leitores, em Lisboa.

2010 - Pena de Camilo Castelo Branco no Famafest – Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Vila Nova de Famalicão

2012 - Grande Prémio Portugal Telecom de Literatura Melhor Romance do Ano, com o livro a máquina de fazer espanhóis

2021 - Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, com a obra Contra Mim.