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quinta-feira, 31 de outubro de 2019
O Corvo, de Edgar Allan Poe, através dos desenhos de Gustave Doré
Gustave Doré
Paul
Gustave Doré foi um pintor, desenhista e o mais produtivo e bem-sucedido
ilustrador francês de livros de meados do século XIX. Nasceu em Estrasburgo, no
dia 6 de janeiro de 1832, e morreu em Paris, a 23 de janeiro de 1883. O seu
estilo caracterizava-se pela inclinação para a fantasia, mas também produziu
trabalhos mais sóbrios, como os notáveis estudos sobre as áreas pobres de
Londres, realizados entre 1869 e 1871.
Apaixonado
pela literatura, ilustrou mais de cento e vinte obras, entre as quais Contos jocosos, de Honoré de Balzac
(1855); Dom Quixote de la Mancha, de
Miguel de Cervantes (1863); O Paraíso
Perdido, de Milton; Gargântua e Pantagruel,
de Rabelais (1851); a Bíblia (1843); A Balada do Velho Marinheiro, de Samuel
Taylor Coleridge (1876); Fábulas, de La Fontaine (1868); Contos de fadas de Charles Perrault, como O Capuchinho Vermelho, O Gato de Botas, A Bela Adormecida e Cinderela; As Trevas e Manfredo, de Lorde Byron. Entre as suas obras mais famosas e
conseguidas, encontram-se os três livros de A
Divina Comédia, de Dante Alighieri (entre 1861 e 1868), além de O Corvo, de Edgar Allan Poe,
aqui reproduzidos.
No Halloween, um poema de Edgar Allan Poe
O Corvo, Edgar Allan Poe
(tradução de Fernando Pessoa)
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e
triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
“Uma visita”, eu me disse, “está batendo a meus
umbrais.
É só isto, e nada mais.”
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu’ria a madrugada, toda a noite aos livros
dada
P’ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes
celestiais –
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
“É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais”.
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
“Senhor”, eu disse, “ou senhora, decerto me
desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi…” E abri largos, franqueando-os, meus
umbrais.
Noite, noite e nada mais.
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou
iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.
Para dentro estão volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
“Por certo”, disse eu, “aquela bulha é na minha
janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.”
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
“É o vento, e nada mais.”
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos
ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus
umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
“Tens o aspecto tosquiado”, disse eu, “mas de nobre e
ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.”
Disse o corvo, “Nunca mais”.
Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus
umbrais,
Com o nome “Nunca mais”.
Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera,
augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em
ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu
pensamento
Perdido, murmurei lento, “Amigo, sonhos – mortais
Todos – todos já se foram. Amanhã também te vais”.
Disse o corvo, “Nunca mais”.
A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
“Por certo”, disse eu, “são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp’rança de seu canto cheio de ais
Era este “Nunca mais”.
Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha
amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu’ria esta ave agoureira dos maus tempos
ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele “Nunca mais”.
Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!
Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
“Maldito!”, a mim disse, “deu-te Deus, por anjos
concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus
ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!”
Disse o corvo, “Nunca mais”.
“Profeta”, disse eu, “profeta – ou demónio ou ave
preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus
umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este
segredo,
A esta casa de ânsia e medo, dize a esta alma a quem
atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem
atrais!
Disse o corvo, “Nunca mais”.
“Profeta”, disse eu, “profeta – ou demónio ou ave
preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!”
Disse o corvo, “Nunca mais”.
“Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!”, eu disse.
“Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas
infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!”
Disse o corvo, “Nunca mais”.
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus
umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demónio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e
mais,
Libertar-se-á… nunca mais!
Halloween ou o Dia das Bruxas
A festa do Halloween celebra-se em
vários países no dia 31 de outubro, véspera da festa cristã do Dia de Todos os
Santos.
Alguns estudiosos do assunto
defendem que a sua origem remonta às tradições celtas do festival Samhain,
celebrado na Irlanda, Escócia e Ilha de Man entre 30 de outubro e 2 de novembro,
e que marcava o fim do verão (samhain
significa "fim do verão"), associado também às festas das colheitas e
ao culto dos mortos. Outros afirmam que a festa do Halloween começou
independentemente do Samhain e tem raízes cristãs. Pensa-se que o primeiro
registo do termo "Halloween" seja de cerca de 1745, uma contração do
termo escocês All Hallows' Eve, que
significa “véspera [do Dia de] Todos os Santos”, o que dá mais força à teoria
da origem cristã da festa.
A romanização e consequente
cristianização das Ilhas Britânicas terão contribuído para a fusão das duas
tradições, a pagã e a cristã, e já em finais da Idade Média surge o costume dos
"disfarces", muito possivelmente nascido na França por altura do
flagelo da Peste Negra, que criou entre os católicos um grande temor e
preocupação com a morte.
No entanto, se analisarmos o modo
como o Halloween é celebrado hoje, veremos que pouco tem a ver com as suas
origens: só restou uma alusão aos mortos, mas com um caráter completamente
distinto do que tinha ao princípio. Além disso, foi sendo pouco a pouco
incorporada toda uma série de elementos estranhos tanto à festa de Finados como
à de Todos os Santos, a maior parte com origem nos Estados Unidos da América
(onde a tradição da celebração do Halloween terá chegado com os colonos
irlandeses), tais como as lanternas feitas de abóbora, o jogo do "doce ou
travessura", contar histórias assustadoras, assistir a atrações
"assombradas” ou a filmes de terror. Na verdade, tornou-se uma celebração
mais comercial e secular, perdendo parte do seu cariz religioso.
A atual festa
do Halloween é assim produto da fusão de muitas tradições, levadas pelos colonos britânicos
no século XVIII para os Estados Unidos e ali integradas de modo peculiar na sua
cultura. Muitas delas já foram esquecidas na Europa, onde hoje, por colonização
cultural dos Estados Unidos, aparece o Halloween, enquanto desaparecem algumas
tradições locais.
Em Portugal, nos
últimos dias do mês de Outubro e até ao dia 1 de Novembro, Dia de
Todos-os-Santos, as crianças saem à rua e, sozinhas ou em pequenos grupos,
andam de porta em porta de saco na mão para pedir o Pão por Deus.
Antigamente, era no dia do Pão por Deus que se repartia pão cozido pelos
pobres. As pessoas iam pedir Pão por Deus às portas para colmatar a pobreza. A
tradição deste peditório está associada ao antigo costume que se
tinha de oferecer pão, bolos, vinho e outros alimentos aos defuntos. Quem pedia
à porta era encarado como a alma do morto a errar pelo mundo e a pedir. O Pão
por Deus é assim uma oferta às almas que partiram.
Nos
últimos anos, temos assistido a ameaças à continuidade desta tradição, em particular
nas vilas e cidades, com a progressiva substituição do Pão por Deus pelo
“Halloween”, festa importada da cultura norte-americana, mas com semelhanças à
tradição nacional, como por exemplo o peditório de guloseimas que as crianças
realizam pelas casas da sua comunidade ou as expressões que utilizam.
terça-feira, 15 de outubro de 2019
Prémio de Escrita Gonçalves Sapinho - edição 2019/2020
Edição 2019/2020
1.
Criação e Justificação
O Prémio de Escrita Gonçalves Sapinho, instituído pela Direção
Pedagógica do Externato Cooperativo da Benedita, e sob a forma de concurso,
surge com um triplo objetivo:
1. Homenagear a memória do Dr. José
Gonçalves Sapinho por ter amado, lutado e desenvolvido a educação, a comunidade
da vila da Benedita e a região de Alcobaça;
2. Desenvolver as boas práticas de
escrita, de leitura e de envolvimento da comunidade escolar na promoção da
língua portuguesa;
3. Promover o sentido estético e a
fruição artística.
2.
Regulamento
O Prémio de Escrita Gonçalves Sapinho, na sua sexta edição, pretende
ser um espaço de reflexão sobre a TERRA
(e a sua sustentabilidade).
1. Cada participante concorre apenas
com uma FÁBULA.
2. Poderão concorrer ao Prémio de Escrita Gonçalves Sapinho, na
edição 2019/2020, os ex-alunos do Externato Cooperativo da Benedita, todos os
alunos e professores da comunidade escolar beneditense, i.e. do Agrupamento de
Escolas da Benedita, do Externato Cooperativo da Benedita e da Universidade
Sénior da Benedita.
3. Os concorrentes, consoante o ano
de escolaridade que frequentam, inserir-se-ão num dos oito escalões, a saber:
Escalão 1 — 1.º Ciclo do Ensino Básico
Escalão 2 — 2.º Ciclo do Ensino Básico
Escalão 3 — 3.º Ciclo do Ensino Básico
Escalão 4 — Ensino Secundário
Escalão 5 — Universidade Sénior
Escalão 6 — Professores
Escalão 7 — Alunos de Educação Especial
Escalão 8 – Ex-alunos do Externato
Cooperativo da Benedita
3.1. Os concorrentes dos diferentes
escalões candidatam-se por iniciativa própria e por pertencerem à comunidade
escolar beneditense.
Atenção: Os textos dos concorrentes
do escalão 7 terão como responsáveis os professores de Educação Especial que os
acompanham no ano letivo relativo ao concurso.
4. As obras concorrentes deverão
respeitar as NORMAS de PARTICIPAÇÃO
que a seguir se apresentam:
4.1. O texto deve ser processado em Word,
tipo de letra Calibri, tamanho 11, margens de 1.5, espaçamento entre linhas 1.5
e esquema de página vertical;
4.2. A dimensão do texto: mínimo uma página e meia e máximo quatro
páginas com a formatação referida na alínea anterior.
4.3. Dos trabalhos a concurso
deverão constar as seguintes informações:
Nome do concorrente, Escola que frequenta e o endereço eletrónico.
4.4. Os ex-alunos concorrentes deverão indicar o último ano que
frequentaram o Externato Cooperativo da Benedita.
5. Os trabalhos a concurso serão
enviados para o email premiogoncalvessapinho@gmail.com.
A comissão organizadora acusará a receção do texto até 24 horas após o envio.
6. O prazo de entrega dos textos originais termina no dia 31 de janeiro de
2020, às 23:59.
7. Os três melhores trabalhos de
cada escalão serão publicados na Antologia intitulada Terra.
8. O Prémio de Escrita Gonçalves Sapinho será entregue a 24 de março de 2020 às 14.30, no Auditório
Gonçalves Sapinho, Benedita. Será divulgado nos órgãos de comunicação social.
9. O júri, nomeado pela comissão
organizadora, será constituído por cinco elementos de reconhecido mérito, no
âmbito da escrita e da ilustração.
10. As deliberações do júri serão
tomadas por maioria. Das suas decisões não haverá recurso.
11. Neste concurso poderá haver
textos em ex-aequo e textos com
menções honrosas.
12. O júri poderá não atribuir o
Prémio a um ou vários escalões se entender que as produções não possuem a
qualidade adequada.
13. Os concorrentes premiados serão
informados através do email premiogoncalvessapinho@gmail.com
no dia 14 de fevereiro de 2020.
14. Da publicação da Antologia Terra, junto ao texto premiado constará
o nome do autor, a escola a que pertence, o escalão em que concorreu e o prémio
atribuído (1.º, 2.º ou 3.º).
15. Os textos premiados serão
ilustrados pelos alunos de Artes Visuais e de Educação Visual do Externato
Cooperativo da Benedita.
16. As ilustrações apresentadas
também estarão a concurso, havendo dois escalões, a saber:
Escalão de Ilustração
1 – Para os alunos
ilustradores do Ensino Básico;
Escalão de Ilustração
2 – para os alunos
ilustradores do Ensino Secundário e Profissional.
17. À semelhança dos prémios de
escrita também serão premiadas as três melhores ilustrações em cada escalão.
18. A antologia estará à venda na
Feira do Livro do Externato Cooperativo da Benedita, na Biblioteca do Externato
Cooperativo da Benedita e no dia da Cerimónia junto ao Auditório do Centro
Cultural Gonçalves Sapinho.
19. As obras não premiadas serão
arquivadas pela comissão organizadora em arquivo digital.
20. O não cumprimento da Normas de Participação apresentadas conduzirá à
exclusão da participação neste concurso.
21. Os casos omissos nestas Normas
serão resolvidos pela comissão organizadora.
Comissão Organizadora
Maria
Isabel Neto
Marisela
Marques
Paula
Cristina Ferreira (coordenadora)
sábado, 12 de outubro de 2019
Afonso Reis Cabral – Prémio Literário José Saramago 2019
Com apenas
29 anos, o escritor Afonso Reis Cabral foi galardoado no dia 8 de outubro com o
Prémio José Saramago pela obra Pão de
Açúcar, depois de em 2014 ter recebido o Prémio Leya e em 2017 o Prémio
Europa David Mourão-Ferreira, pelo romance O
meu irmão.
Pão de Açúcar é um livro que retrata um caso
verídico que aconteceu no Porto, o caso real da vida de Gisberta Salce Júnior,
sem-abrigo transsexual assassinada na cidade do Porto, em 2006, depois de
sucessivos atos de violência e na sequência de um ataque, perpetrado por jovens
entre os 12 e os 16 anos, à guarda da instituição católica Oficina de São José.
Prémio Literário José Saramago
O
Prémio Literário José Saramago, instituído pela Fundação Círculo de Leitores em
1999, celebra a atribuição do Prémio Nobel da Literatura de 1998 ao escritor
português José Saramago, tem uma periodicidade bienal e o valor pecuniário do
prémio é de 25 mil euros. É atribuído a uma obra literária, ficção, romance ou
novela, escrita por jovens autores em língua portuguesa e publicada em qualquer
país da lusofonia nos dois anos anteriores à atribuição do galardão, cuja
primeira edição tenha sido publicada num país da lusofonia.
Depois
da atribuição do Prémio aos autores Paulo José Miranda (1999, Natureza
Morta, Portugal), José Luís Peixoto (2001, Nenhum Olhar, Portugal), Adriana
Lisboa (2003, Sinfonia em Branco, Brasil), Gonçalo M. Tavares (2005, Jerusalém,
Portugal), Valter Hugo Mãe (2007, O Remorso de Baltazar Serapião,
Portugal), João Tordo (2009, As Três Vidas, Portugal), Andréa del
Fuego (2011, Os Malaquias, Brasil), Ondjaki (2013, Os Transparentes, Angola),
Bruno Vieira Amaral (2015, As Primeiras Coisas, Portugal), Julián
Fuks (2017, A Resistência, Brasil), o júri do Prémio José Saramago, presidido
pela editora Guilhermina Gomes e do qual fizeram também parte a poetisa
angolana Ana Paula Tavares, o autor português António Mega Ferreira, a
escritora brasileira Nélida Piñon e a presidente da Fundação Saramago, Pilar
del Rio, decidiu reconhecer em 2019 Afonso Reis Cabral e a obra Pão de Açúcar, editada em2018.
Afonso Reis Cabral
Afonso
Reis Cabral nasceu em 1990, escreve desde os nove anos e em 2005 publicou o
livro Condensação, no qual reuniu poemas escritos até aos 15 anos. Licenciou-se
em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
da Universidade Nova de Lisboa (tendo recebido o Prémio Mérito e Excelência atribuído
ao melhor aluno do curso), fez mestrado na mesma área e tem uma pós-graduação
em Escrita de Ficção.
Entre
Abril e Maio de 2019, percorreu Portugal a pé ao longo dos 738,5 quilómetros da
Estrada Nacional 2, tendo registado essa viagem no livro Leva-me Contigo. Nos tempos livres, dedica-se à ornitologia, faz
Scuba Diving e pratica boxe.
Ainda
estudante, começou a trabalhar como revisor freelancer, recebeu uma proposta de
trabalho da Editorial Presença, onde seria coordenador do departamento de
revisão, orientando trabalhos e distribuindo revisões para os revisores
freelancers. Mais tarde, uma oportunidade de emprego na editora Alêtheia permitiu-lhe
passar pelas várias fases do processo de edição, revisão, comunicação e até
produção.
Em 2014, Afonso Reis Cabral, por decisão unânime do júri, ganhou o Prémio LeYa com O Meu Irmão, considerado “um romance notável e de grande maturidade literária que, tratando o tema sensível da deficiência, nunca cede ao sentimentalismo, oferecendo-nos um retrato social objetivo e muitas vezes até impiedoso."
O meu irmão é a história de Miguel, de
40 anos, que nasceu com síndrome de Down, e o irmão, um ano mais velho, professor
universitário divorciado e misantropo e que, após a morte dos pais, se
confronta com a questão de saber com quem fica Miguel, surpreendendo (e até
certo ponto alivia) a família, ao chamar a si a grande responsabilidade. A
recordação do afeto e da cumplicidade que ambos partilharam na infância leva-o
a acreditar que a nova situação acabará por resgatá-lo da aridez em que se
transformou a sua vida e redimi-lo da culpa por tantos anos de afastamento. Numa
casa de família, situada numa aldeia isolada do interior de Portugal, assistimos
à rememoração da vida em comum destes dois irmãos, incluindo o estranho
episódio que ameaçou de forma dramática o seu relacionamento.
Encontra-se em tradução em Espanha
e já foi publicado no Brasil e em Itália.
Prémio Europa David Mourão-Ferreira
Em 2017,
Afonso Reis Cabral recebeu o Prémio Europa – Cátedra David Mourão-Ferreira,
escolhido na categoria de Promessa, que tem por objetivo galardoar uma
personalidade emergente no campo artístico. Atribuído pelo Centro Studi
Lusofoni – Cátedra David Mourão-Ferreira da Universidade de Bari “Aldo Moro” e
do Instituto Camões, e cujo júri é presidido por Eduardo Lourenço, este prémio
foi criado em homenagem ao autor de “Um Amor Feliz”, com o objetivo de
contribuir para divulgação da língua e da cultura portuguesas nos países da
União Europeia e do Mediterrâneo.
No mesmo
ano, António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, foi distinguido na
categoria Mito, que visa “galardoar a carreira de uma personalidade eminente da
cultura lusófona que se tenha distinguido no campo das letras, das artes e da
política”.
Pão de Açúcar
Em
fevereiro de 2006, Gisberta Salce Júnior foi vítima de múltiplas agressões por
parte de 14 rapazes. O seu fim, no fundo de um poço num edifício abandonado no
Porto – conhecido como Pão de Açúcar – despertou a atenção do país. Tanto pela
identidade complexa de Gisberta, como pelas circunstâncias da morte, a história
chocou e revoltou quem a ouviu ou leu. São os Bombeiros Sapadores do Porto que resgatam
do poço de um prédio abandonado um corpo com marcas de agressões e nu da
cintura para baixo. A vítima, que estava doente e se refugiara naquela cave,
fora espancada ao longo de vários dias por um grupo de adolescentes, alguns dos
quais tinham apenas doze anos.
Romance
vertiginoso sobre um caso verídico que abalou o País, fascinante incursão nas
vidas de uma vítima e dos seus agressores, Pão
de Açúcar é uma combinação magistral de factos e ficção, com personagens
reais e imaginárias meticulosamente desenhadas, que confirma o talento e a
maturidade literária de Afonso Reis Cabral.
Em 2017, o jornal Expresso, para a comemoração dos seus 45 anos, publicou Uma História de Pássaros, um texto inédito de Afonso Reis Cabral.
quinta-feira, 10 de outubro de 2019
A Angústia do Guarda-redes antes do Penalti
Neste
livro, publicado em 1970 e cuja primeira edição em Portugal data de 1987, Peter
Handke retrata o drama de um canalizador, antigo guarda-redes, que fica
desempregado, sendo que o desespero causado pela situação o leva a cometer um
crime. Neste âmbito, a descrição da sua habitual angústia antes do penalty corresponde a uma metáfora da
vida: o guarda-redes não sabe para onde vai ser dirigido o remate mas, pelo que
conhece do jogador, atira-se para onde espera que ele remate. No entanto,
fica-lhe sempre a angústia: e se ele desta vez remata para outro lado? E se o
jogador que vai marcar o penalty
pensa também que o guarda-redes o está a tentar descobrir e acaba por decidir
atirar para o canto para o qual costumava atirar? Da mesma forma, na vida surgem-nos
muitas vezes situações que não esperamos, e com as quais por vezes não
conseguimos lidar.
Em
1972, este livro foi adaptado ao cinema pelo cineasta alemão Wim Wenders, com
guião do próprio Peter Handke.
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