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terça-feira, 24 de outubro de 2017

24 de outubro de 1929: a “quinta-feira negra” nos Estados Unidos da América e uma sugestão de leitura


Assente numa frágil prosperidade que vinha desde o fim da Primeira Guerra Mundial, que elevou os Estados Unidos à categoria de primeira potência mundial, nos finais da década de 1920 a economia americana enfrentou uma crise sem precedentes que rapidamente se propagou a todos os países que com eles tinham laços económicos e financeiras e que se arrastou pelos primeiros anos da década de 1930, originando o que ficou conhecido na História como a Grande Depressão.
Favorecidos por uma conjuntura bélica que afastou do seu território os efeitos devastadores da Grande Guerra, ao mesmo tempo que abasteciam a Europa e os mercados mundiais de bens essenciais, os Estados Unidos saíram economicamente beneficiados do conflito, apresentando, em 1919, uma imagem de sucesso, assente na sua prodigiosa capacidade de produção e na prosperidade da sua balança de pagamentos. Sob o lema de uma produção em massa para um consumo de massa, viveram-se os anos da prosperidade americana e os “loucos anos 20” na Europa, caracterizados por um clima de otimismo e de confiança no capitalismo liberal.
No entanto, essa era de prosperidade era afinal precária. A mecanização da produção fez crescer o desemprego crónico ou tecnológico, que chegou a atingir cerca de 2 milhões de pessoas; a produção excedentária na agricultura originou a queda de preços e a queda de lucros; a maior parte do consumo era realizada com recurso a créditos bancários, incluindo a aquisição de ações, pois, acreditando na solidez da sua economia, muitos americanos investiam na Bolsa, fazendo crescer a especulação financeira e elevando cada ação a um valor que não era real.
A descida dos preços e dos lucros industriais alarmou os grandes acionistas, que rapidamente começaram a dar ordem de venda dos seus títulos.
A 21 de outubro de 1929, essas ordens de venda começaram a acumular-se na Bolsa de Nova Iorque. A 24 de outubro, o pânico instalou-se, quando 13 milhões de títulos foram colocados à venda a preços baixíssimos e sem encontrarem comprador. Começava assim o crash de Wall Street e nos meses que se seguiram centenas de milhares de acionistas conheceram a ruína, o que significou também a ruína de todo o sistema bancário sobre o qual assentava a aquisição da maior parte das ações. Entre 1929 e 1933, mais de 10 mil bancos encerraram devido à falência, arrastando consigo toda a economia, com a falência de empresas, a contração da produção e a queda dos preços. Da indústria à agricultura, todo o aparelho produtivo dos Estados Unido ruiu e, em 1933, mais de 12 milhões de americanos estavam desempregados.

Em 1939, o escritor norte-americano John Steinbeck publicou As Vinhas da Ira, romance que é ainda hoje universalmente considerado a obra-prima de John Steinbeck, premiado com o Prémio Pulitzer em 1940 e que haveria de justificar a atribuição do Prémio Nobel da Literatura, em 1962, a este autor.
Passado durante a Grande Depressão dos inícios dos anos 30, o romance centra-se nos Joads, uma família pobre de rendeiros expulsos da sua quinta no Oklahoma pela seca, pelas dificuldades económicas e pela execução de dívidas pelos bancos, que forçaram o abandono pelos rendeiros do seu modo de vida. Numa situação desesperada, os Joads, procurando emprego, terra, dignidade e um futuro e acompanhando cerca de meio milhão de "Okies” sem casa, partiram para oeste, rumo à Califórnia, o que provocou um dos maiores êxodos verificados no país. Este romance é ainda o retrato épico do desapiedado conflito entre os poderosos e aqueles que nada têm, do modo como um homem pode reagir à injustiça, e também da força tranquila e estoica de uma mulher.
Em 1940, John Ford realizou um filme homónimo, que contou com Henry Fonda numa magnífica interpretação do papel de Tom Joad.

“[...] e nos olhos dos famintos há uma ira crescente. Nas almas das pessoas, as vinhas da ira estão engrossando e ficando mais pesadas, ficando mais pesadas para a vindima.”


As Vinhas da Ira é uma obra intemporal, que ainda hoje nos faz refletir sobre a fragilidade dos seres humanos e sobre a sua capacidade de reinvenção de uma nova vida.


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