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segunda-feira, 6 de novembro de 2017

João Botelho adapta ao cinema "Peregrinação", de Fernão Mendes Pinto




Depois de Frei Luís de Sousa (2001), de Almeida Garrett; A Corte do Norte (2009), de Agustina Bessa-Luís; Livro do Desassossego (2010), de Fernando Pessoa; e Os Maias (2014), de Eça de Queirós, o realizador português João Botelho regressa à literatura portuguesa com a adaptação cinematográfica de Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto.

João Botelho, que em abril de 2016 esteve no Externato Cooperativo da Benedita no âmbito da Semana Cultural e das atividades do Plano Nacional de Cinema, para conversar com os alunos sobre a sua adaptação de Os Maias, considera ter "o dever de pegar em textos importantes na Cultura e na Literatura portuguesas".

Peregrinação, impresso pela primeira vez em 1614, é um relato da presença dos portugueses no Oriente e uma crónica de viagens de duas décadas de vivência de Fernão Mendes Pinto naquelas paragens.
O filme de João Botelho, que estreou nas salas de cinema portuguesas no passado dia 1 de novembro, é uma evocação das viagens de Fernão Mendes Pinto, no século XVI, integrando a recriação de alguns temas do álbum “Por Este Rio Acima” (1982), de Fausto Bordalo Dias, "como se fosse uma introdução à leitura" da obra, disse o realizador à Agência Lusa, em abril passado, mês em que começaram as filmagens.



Apesar de a maior parte das filmagens ter sido feita em Portugal, João Botelho e uma equipa reduzida (produtor, diretor de fotografia e um assistente) estiveram "a filmar todos os fundos" em sete cidades chinesas, no Japão, na Malásia e no Vietname e o resultado final surge-nos como se tudo tivesse sido registado do outro lado do mundo.
O filme é protagonizado por Cláudio da Silva, que, além de Fernão Mendes Pinto, interpreta também a personagem de António Faria, "um corsário terrível que decapita, viola, rouba, tudo em nome de deus". Do elenco fazem ainda parte, entre outros, Catarina Wallenstein, Pedro Inês, Maya Booth, Cassiano Carneiro, Rui Morisson, Jani Zhao e Zia Soares.


Peregrinação relata a chegada e a estadia de Fernão Mendes Pinto no Oriente, apresentando a descrição das expedições dos descobridores e conquistadores portugueses. A imagem dos navegadores portugueses que perpassa nesta obra, e em particular a do próprio Fernão Mendes Pinto, é sobretudo picaresca, assumindo-se este como um anti-herói, capaz das piores façanhas para alcançar os seus objetivos (geralmente pilhar e roubar as populações nativas para enriquecer e regressar à pátria).
O autor é perito na descrição da geografia da Índia, China e Japão e da etnografia: leis, costumes, moral, festas, comércio, justiça, guerras, funerais, etc. Notável é também a previsão da derrocada do Império Português, corroído por vícios e abusos.
Fernão declara que são três os objetivos que o levaram a escrever o livro: dar a conhecer os seus trabalhos aos filhos (função autobiográfica), encorajar os desesperados e os que se veem em dificuldades (função moral), ter que dar graças a Deus (função religiosa).


Escrita entre 1570 e 1578, após o regresso de Fernão Mendes Pinto a Portugal, a obra só viria a ser publicada cerca de 30 anos após a morte do autor, receando-se que o original tenha sofrido alterações às quais não seriam alheios os Jesuítas. O texto original fora deixado à Casa Pia dos Penitentes que submete os escritos de Fernão Mendes Pinto ao crivo da Inquisição, que o aprova em 1603, o mesmo ano em que o processo de análise se iniciou. No entanto, somente em 1614 Pedro Craesbeeck, tipógrafo e impressor de origem flamenga, aceita a empreitada. O livro, organizado por Frei Belchior Faria, foi publicado com o seguinte título (na íntegra e em português clássico):

"Peregrinaçam de Fernam Mendez Pinto em que da conta de muytas e muyto estranhas cousas que vio & ouvio no reyno da China, no da Tartaria, no de Sornau, que vulgarmente se chama de Sião, no de Calaminhan, no do Pegù, no de Martauão, & em outros muytos reynos & senhorios das partes Orientais, de que nestas nossas do Occidente ha muyto pouca ou nenhua noticia. E também da conta de muytos casos particulares que acontecerão assi a elle como a outras muytas pessoas. E no fim della trata brevemente de alguas cousas, & da morte do Santo Padre Francisco Xavier, unica luz & resplandor daquellas partes do Oriente, & reitor nellas universal da Companhia de Iesus."



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