Júlio
Verne, um dos escritores cuja obra foi mais traduzida em toda a história, com
traduções em 148 línguas, segundo estatísticas da UNESCO, tendo escrito mais de
100 livros, nasceu em Nantes, a 8 de fevereiro de 1828, e morreu em Amiens, a
24 de março de 1905.
Filho
primogénito do advogado e magistrado Pierre Verne e de Sophie Allote de la
Fuÿe, oriunda de uma família burguesa de Nantes, é considerado pelos críticos
literários como o precursor da moderna literatura de ficção científica, tendo
previsto nos seus livros o aparecimento de novos avanços científicos e tecnológicos,
como os submarinos, o helicóptero, máquinas voadoras, naves espaciais ou a
viagem à Lua.
A
cidade de Nantes, localizada nas margens do rio Loire, na região da Alta
Bretanha, oeste da França, com uma longa história como centro portuário e
industrial, terá servido de estímulo para o desenvolvimento da imaginação deste
autor sobre a vida marítima e viagens a terras distantes.
Aos seis
anos começou os estudos com a viúva de um capitão, e aos oito entrou no
seminário. Em 1839, apenas com onze anos, começou uma aventura ao embarcar para
a Índia como aprendiz de marinheiro, mas foi intercetado pelo pai em Paimboeuf,
a quem confessou ter tentado a viagem com a finalidade de comprar um colar de
coral [ou de diamantes, as versões não coincidem] para a prima, Carolina
Tronson, por quem estava apaixonado.
Em
1844, Júlio Verne estudou retórica e filosofia no Liceu de Nantes, viajando
para Paris onde, seguindo os passos do pai, se formou em Direito, em 1864, e
onde o pai esperava que seguisse a carreira de advogado. No entanto, começou a
interessar-se mais pelo teatro do que pelas leis, tendo escrito alguns libretos
de operetas e pequenas histórias de viagens. Durante esse período, conheceu os
escritores Alexandre Dumas e Victor Hugo. Uma das peças de Verne, As palhas rompidas, agrada a Dumas e a
peça estreia no Teatro Histórico em 12 de junho de 1850. Sem a ajuda financeira
do pai, que não apoiou a sua decisão de seguir uma carreira literária, Júlio
Verne começou a dar aulas em Paris, sem parar de escrever.
Entre
1852 e 1854 trabalhou como secretário no Teatro Lírico. Nessa época, publicou
alguns textos no periódico Musée des
Famílles, entre os quais, “Martin Paz” (1852). Em 1857 trabalhou como
agente da Bolsa de Valores e em 1859 casou-se com Honorine de Model, uma viúva,
mãe de dois filhos. Em 1861 nasceu Michel Jean Pierre Verne, o único filho do
casal.
Entre
1859 e 1861 viajou pela Inglaterra, Escócia, Noruega e Escandinávia. De 1872 a
1886 viveu o apogeu da fama e fortuna, advindas do sucesso literário.
Além
das muitas viagens que fez, Júlio Verne terá tido como influências nas suas
obras os autores Jonathan Swift, e o livro Viagens
de Gulliver, Daniel Defoe e Robinson
Crusoe, Edgar Allan Poe e os seus contos macabros.
Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift
Robinson Crusoe, de Daniel Defoe
A
carreira literária de Júlio Verne começou a destacar-se quando se associou a
Pierre-Jules Hetzel, editor experiente que lhe foi apresentado pelo amigo
Alexandre Dumas Filho e que trabalhava com grandes nomes da época, como Alfred
de Brehat, Victor Hugo, George Sand e Erckmann-Chatrian.
[Pierre-Jules Hetzel, fotografado por Félix Nadar]
Hetzel
publicou a primeira grande novela de sucesso de Júlio Verne em 1862, o relato
de uma viagem a África em balão, intitulado Cinco
semanas em balão. Esta história continha tais detalhes de coordenadas
geográficas, culturas, animais, etc., que os leitores se perguntavam se era
ficção ou um relato verídico. Na verdade, Júlio Verne nunca tinha estado num
balão nem ido a África. Toda a informação sobre a história veio da sua
imaginação e capacidade de pesquisa.
O
sucesso de Cinco semanas em balão
rendeu fama e dinheiro a Júlio Verne. A sua produção literária seguia um ritmo
acelerado, a parceria entre Verne e Hetzel duraria cerca de 20 anos e quase
todos os anos Hetzel publicava novos livros, quase todos grandes sucessos, como
Viagem ao Centro da Terra (1864), Vinte Mil Léguas Submarinas (1870,
escrito no regresso de uma viagem aos Estados Unidos, a bordo de um dos iates
que adquiriu) ou A Volta ao Mundo em
Oitenta Dias (1873).
Foi Hetzel
quem apresentou Verne a Félix Nadar, um cientista interessado em navegação
aérea e balonismo, de quem se tornou grande amigo e que introduziu Verne no seu
círculo de amigos cientistas, de cujas conversações o autor provavelmente tirou
algumas ideias e a quem homenageia na obra Da
Terra à Lua, talvez a mais visionária das suas obras, com o personagem
Michel Ardan, anagrama de "Nadar" (nesta obra, muitos encontram
coincidências do que foi em 1969 a primeira ida do Homem à Lua, como o nome do
astronauta, Michel Ardan, ser semelhante ao Michael de Michael Collins; e
Ardan, ao do astronauta Edwin Aldrin).
[Félix Nadar, autorretrato]
O
romance (juntamente com The First Men in
the Moon, de H. G. Wells) inspirou o primeiro filme de ficção científica, Le Voyage dans la Lune, feito em 1902
por Georges Méliès.
Nos
últimos anos, Verne escreveu muitos livros sobre o uso incorreto da tecnologia
e os seus impactos ambientais, que se haviam tornado uma das suas principais preocupações.
O
último livro que publicou em vida foi O
senhor do mundo, no ano de 1904.
A
morte do pai em 1871, seguida pela da mãe em 1887 e a do irmão em 1897,
mergulharam-no numa profunda melancolia, agravada com o aparecimento de
cataratas, em 1902. Escreveu que Paris não voltará a vê-lo, e que, se não
trabalha, não se sente vivo. Morreu em 24 de março de 1905, na casa de Amiens. Encontra-se
sepultado no Cemitério de La Madeleine, Amiens, em França.
O
seu filho Michel editou alguns dos trabalhos deixados incompletos e terá mesmo escrito
alguns capítulos que faltavam.
Até
hoje, Júlio Verne é considerado o escritor cuja obra foi mais traduzida em toda
a história, com traduções em 148 línguas, segundo estatísticas da UNESCO, tendo
escrito mais de 100 livros.
Algumas das principais obras:
(*) - no catálogo da biblioteca do ECB
O
tio Robinson, 1861
Cinco semanas em balão, 1863 (*)
Paris
no século XX, 1863 (publicado apenas em 1989)
Aventuras do capitão Hatteras,
1864-1867 (*)
Viagem ao centro da terra, 1864 (*)
Da Terra à Lua, 1865 (*)
Os Filhos do Capitão Grant, 1866-1868 (*)
À
roda da Lua, 1869
Vinte mil léguas submarinas, 1870 (*)
Os
conquistadores, 1870
Uma
cidade flutuante, 1871
As aventuras de três russos e de três
ingleses, 1872 (*)
A volta ao mundo em oitenta dias, 1872 (*)
A ilha misteriosa, 1873-1875 (*)
Martin
Paz, 1874
A galera Chancellor, 1875 (*)
Miguel Strogoff, 1876 (*)
Um
drama no México, 1876 (*)
Heitor Servadac, 1874-1876 (*)
As Índias Negras, 1876-1877 (*)
Um herói de quinze anos, 1878 (*)
História
das grandes viagens e dos grandes viajantes, 1878
O doutor Ox, 1878 (*)
As atribulações de um chinês na China,
1879 (*)
Os quinhentos milhões da Begum, 1879 (*)
A revolta da Bounty, 1879 (*)
A jangada, 1880 (*)
A casa a vapor, 1880 (*)
Os navegadores do século XVIII, 1880 (*)
Os exploradores do século XIX, 1882 (*)
A escola dos Robinsons, 1882 (*)
O raio verde, 1882 (*)
Dez
horas de casa, 1882
Os piratas do arquipélago, 1883 (*)
Kerabán, o cabeçudo, 1883 (*)
A estrela do Sul, 1884 (*)
Um bilhete de lotaria, 1885 (*)
Matias Sandorf, 1885 (*)
O náufrago do Cynthia, 1885 (*)
Robur, o conquistador, 1886 (*)
Norte contra Sul, 1887 (*)
O caminho da França, 1887 (*)
Dois anos de férias, 1888 (*)
Família sem nome, 1888-1889 (*)
César Cascabel, 1890 (*)
A mulher do Capitão Branican, 1891 (*)
A carteira do repórter, 1892 (*)
O castelo dos Cárpatos, 1892 (*)
A esfinge dos gelos, 1895 (*)
Clovis Dardentor, 1896 (*)
Em frente da bandeira, 1896 (*)
O
segredo de Wilhelm Storitz, 1898 (revisto em 1901 e publicado apenas em 1985)
O soberbo Orenoco, 1898 (*)
A ilha da hélice 2: Distúrbios no
Pacífico, 1898 (*)
A Aldeia Aérea, 1901 (*)
Os
irmãos Kip, 1902
Um drama na Livonia, 1904 (*)
O
senhor do mundo, 1904
A invasão do mar, 1905 (*)
O farol do cabo do mundo, 1905 (*)
A caça ao meteoro, 1908 (*)
Os náufragos de Jonathan, 1909 (*)
O
Eterno Adão, 1910.
A agência Thompson & C.ª, 1910 (*)
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