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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina



No Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, assinalado a 6 de fevereiro, a Organização das Nações Unidas reafirma o seu compromisso em acabar com esta “violação dos direitos humanos.”
A Mutilação Genital Feminina (MGF) refere-se a todos os procedimentos que envolvem a alteração ou ferimento dos órgãos genitais femininos por razões que não sejam médicas. É reconhecida internacionalmente como uma violação dos direitos humanos das meninas e mulheres e constitui uma ameaça para a sua saúde, bem-estar e autoestima, pondo muitas vezes em risco a própria vida.
Esta prática, ainda presente em diversos países e culturas, realiza-se geralmente quando as vítimas são crianças ou jovens, por vontade da família e do grupo social onde vivem ou de onde são originárias (no caso das famílias migrantes). São diversas as razões que motivam a persistência da MGF, podendo destacar-se razões sociais, estéticas, religiosas, sexuais e económicas (as pessoas que executam este ritual auferem rendimentos que garantem o seu sustento).
As Nações Unidas estimam que, no mundo inteiro, pelo menos 200 milhões de meninas e mulheres tenham sido vítimas de MGF e que a cada ano há quase 4 milhões de meninas a mais em risco, vítimas de “um dos atos mais desumanos de violência baseada em género no mundo.”
Na União Europeia, 500 mil mulheres já terão sido excisadas e 180 mil estão em risco a cada ano que passa.

Este ano, o Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, por iniciativa da ONU e das suas agências, como a OMS, a UNICEF ou o Fundo das Nações Unidas para a População, apela à mobilização dos jovens para a eliminação de práticas prejudiciais, incluindo a MGF. Estas agências.
Na sua mensagem especial para este dia, o secretário-geral da ONU, António Guterres, chama precisamente a atenção para o poder que as gerações jovens têm em fazer ouvir as suas vozes contra esta prática
(cf. https://www.un.org/sg/en/content/sg/statement/2020-02-06/secretary-generals-message-the-international-day-of-zero-tolerance-for-female-genital-mutilation).

Já em 2019, António Guterres destacava que a MGF “está enraizada nas desigualdades de género e nos desequilíbrios de poder” e, por sua vez, contribui para mantê-las, porque limita as oportunidades de mulheres e meninas de realizar seus direitos e seu pleno potencial.” 
(https://news.un.org/pt/story/2019/02/1658551)

As agências da ONU, que trabalham em 17 países africanos para garantir que mulheres e meninas não sofram mais com este procedimento, alertam para o facto de a MGF ser uma “violação dos direitos das mulheres à saúde sexual e reprodutiva, integridade física, não-discriminação e liberdade de tratamento cruel ou degradante”, uma prática nefasta que constitui uma “violação da ética médica.”
A mutilação genital feminina leva a consequências físicas, psicológicas e sociais a longo prazo.

A OMS revela que os custos totais do tratamento dos impactos da MGF na saúde ascenderiam a 1,4 mil milhões de dólares (1,2 mil milhões de euros) por ano, a nível mundial. Além dos custos económicos, a MGF representa vários riscos para as mulheres e meninas sujeitas a este procedimento, seja imediatamente após o corte – como infeções, hemorragias ou traumas psicológicos – ou a nível crónico através de problemas que podem ocorrer ao longo da vida.
As mulheres sujeitas à MGF têm mais probabilidades de risco de vida durante o parto, além de poderem vir a sofrer de distúrbios ao nível da saúde mental.
Devido a este procedimento, estas mulheres e meninas ficam em risco de ter dores ou problemas quando menstruam, urinam ou têm relações sexuais.
Com a assinatura dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS, os países firmaram o compromisso de erradicar o procedimento até 2030. Essa meta faz parte do ODS 5, sobre igualdade de género, e envolve também o fim do casamento infantil. Promover o fim da prática depende do diálogo com as comunidades, focando nos direitos humanos e na igualdade de género.

Portugal

Em Portugal, a Mutilação Genital Feminina nunca teve grande expressão. A cada ano, a identificação em território nacional de mulheres ou crianças sujeitas a essa prática andou sempre por volta da meia centena, com altos e baixos pouco pronunciáveis, subindo e descendo sem uma tendência certa.
No nosso país, a MGF é crime autónomo desde 2015, conforme artigo 144º A do Código Penal, cuja pena aplicável é de prisão de dois a dez anos. A legislação portuguesa permite a adoção de medidas que protejam as meninas ou mulheres que estejam em risco de serem levadas para outros países de forma a serem submetidas à prática da MGF.
Em 2019, registaram-se Portugal 129 casos de mutilação genital feminina, número que duplicou em relação ao ano anterior (64 casos em 2018), representando uma subida de 101%. No entanto, mais do que um aumento da prática, terá havido uma maior capacidade de deteção de casos (novos e antigos) por profissionais de saúde, educação, forças de segurança e segurança social, que durante o último ano tiveram formação específica no âmbito do projeto "Práticas Saudáveis – Fim à Mutilação Genital Feminina", coordenado pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), o Alto Comissariado para as Migrações (ACM) e a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) e que visou desencobrir a dimensão do fenómeno com trabalho de proximidade nas zonas de maior prevalência e formação de profissionais de saúde, educação, forças de segurança e segurança social.
“O trabalho de prevenção da MGF em Portugal ganhou muita força nos últimos anos. O nosso Código Penal reconhece esta prática como crime desde 2015, mas sabemos que a criminalização não basta e por isso temos envolvido todos os setores da sociedade no trabalho de terreno – hospitais, escolas, autarquias, líderes religiosos, entre outros", explicou ao jornal Expresso a secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, que garante "existirem cada vez mais pessoas conscientes e empenhadas neste desígnio coletivo". (in https://expresso.pt/sociedade/2020-02-06-Portugal-registou-129-casos-de-mutilacao-genital-em-2019)
A formação e sensibilização para a erradicação da MGF estende-se ainda a professores, técnicos da Segurança Social, elementos das forças de segurança, funcionários das autarquias visadas ou lideranças religiosas, num total de mais de 5600 pessoas abrangidas em 2019.
Para reforçar essa vertente formativa, hoje, 6 de fevereiro de 2020, vai também ser apresentada mais uma pós-graduação em MGT, na Escola Nacional de Saúde Pública, da Universidade Nova de Lisboa.

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