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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

"O silêncio das lágrimas", sugestão de leitura no Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina



Fauziya Kassindja nasceu em 1977 no Togo, África. Em 1998, publicou Do They Hear You When You Cry? (com tradução portuguesa pela Bertrand Editora, sob o título O silêncio das lágrimas), uma história autobiográfica sobre a sua fuga ao ritual da mutilação genital feminina e a um casamento forçado.
Oriunda de uma família privilegiada económica e culturalmente, com uma infância protegida pelo pai progressista que rejeitava a prática tribal da poligamia e da mutilação genital feminina, a Kakia, Fauziya Kassindja viu a sua vida completamente alterada com a morte do pai, quando tinha 16 anos, e as leis tribais atiraram para as mãos do tio mais velho, muçulmano ortodoxo, o destino da família. O tio retirou Fauziya da escola e forçou-a a casar com um homem de 45 anos que mal conhecia, já possuía três mulheres e insistia no ritual tribal da Kakia – prática realizada sem anestesia e sem antibióticos. No entanto, horas antes da cerimónia, Fauziya conseguiu fugir, ajudada por uma irmã: apanhou um avião para a Alemanha, onde obteve um passaporte falso, e daí conseguiu seguir para os Estados Unidos, onde imediatamente informou as autoridades que os seus documentos eram falsos e que pretendia obter asilo. Ao contrário do que esperava, Fauziya foi detida pelos Serviços da Imigração norte americanos, algemada, agrilhoada e trancada durante dezoito meses em diversas instalações dos serviços prisionais norte-americanos. A família contratou então uma jovem estudante de Direito, Layli Miller Bashir, que se entregou de corpo e alma à defesa deste caso. A 13 de junho de 1996, o asilo foi concedido a Fauziya Kassindja, abrindo o precedente para a concessão, pelos Estados Unidos, de asilo baseado na fuga à mutilação genital feminina.


Fauziya Kassindja

A menina do Togo nunca foi cortada. Conseguiu intuir a dor, a humilhação e o sofrimento. Mas só depois de ver a ferida numa amiga, já nos Estados Unidos, percebeu a importância de ter escapado das lâminas, bocados de vidro e facas mal afiadas e ficou a saber que o resto do mundo dera à misteriosa Kakia um nome muito mais violento porque muito mais real: mutilação genital feminina.
Por tradição, a mutilação é feita por mulheres da aldeia que se especializaram no uso de lâminas, bocados de vidro ou facas mal afiadas, que não são desinfetados antes de voltarem a ser usados. Nem há anestesia.
Por ano, morrem milhares de mulheres: esvaem-se em sangue, sucumbem a partos, apodrecem com infeções. Ao contrário de Fauziya, a maior parte das mulheres que são submetidas à mutilação genital têm menos de 14 anos, são iletradas e vivem numa pobreza extrema. Não só não têm forma de a evitar como, muitas vezes e apesar do medo, não querem viver com o estigma de ser diferentes das outras.

O livro O silêncio das lágrimas é escrito em coautoria com Layli Miller Bashir, hoje advogada na cidade de Washington e que entretanto fundou o Centro de Justiça Tahirih, onde dá apoio e assistência às mulheres vítimas de abuso dos seus direitos humanos.


Fauziya Kassindja e Layli Miller Bashir

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