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quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Dia 15 do Advento - A Louca da Casa

 

"Regressamos assim à imaginação. A essa louca às vezes fascinante e às vezes furiosa que mora no sótão. Ser romancista é conviver harmoniosamente com a louca de cima. É não ter medo de visitar todos os mundos possíveis e alguns impossíveis.”

Rosa Montero – A Louca da Casa. Alfragide: Edições Asa, 2004. Traduzido do espanhol por Helena Pitta.

Em A Louca da Casa, um livro algures entre o romance, a autobiografia e o ensaio, Rosa Montero apresenta-nos um tratado sobre a imaginação. Misturando literatura e vida, nesta obra que é considerada a mais pessoal da autora, seguimos numa viagem através das suas recordações mais secretas, mas também do misterioso universo da fantasia e da criação artística rumo ao mais profundo do seu ser, num jogo narrativo cheio de surpresas.

“Um livro sobre a fantasia e os sonhos, a loucura e a paixão, os medos e as dúvidas dos escritores – mas também de cada um de nós –, A Louca da Casa é, sobretudo, a tórrida história de amor que existe entre Rosa Montero e a sua própria imaginação.” – lemos na contracapa deste livro.

De Sherazade à Segunda Guerra Mundial, passando pela paixão amorosa e pela Peste Negra, ao mesmo tempo que partilha com o leitor um pouco das suas memórias pessoais, Rosa Montero traça um panorama da imaginação e das possibilidades do uso da palavra escrita, analisando as reviravoltas que a criatividade pode dar na nossa vida. Dessa aventura, nasce este livro inesquecível para todos aqueles que amam boas histórias.

“[…] falar de literatura é falar da vida; da vida própria e da vida dos outros, da felicidade e da dor. E é também falar do amor, porque a paixão é a maior invenção das nossas existências inventadas, a sombra de uma sombra, o adormecido que sonha que está a sonhar.”

E assim descobrimos, por exemplo, que Goethe adulava os poderosos, que Tolstoi era um energúmeno, que Rosa, ela própria, em criança, se julgava anã, e que, com vinte e três anos, manteve um extravagante e arrebatador romance com um ator famoso. Todavia, não devemos fiar-nos por completo em tudo o que a autora conta sobre si mesma: as recordações não são sempre o que parecem.

“[…] inventamos para nós as nossas lembranças, que é o mesmo que dizer que nos inventamos a nós mesmos, porque a nossa identidade reside na memória, no relato da nossa biografia.”

A Louca da Casa é uma história de amor e de salvação entre Rosa Montero e o seu imaginário, um livro sobre a fantasia e os sonhos, a loucura e a paixão, os medos e as dúvidas dos escritores, mas também dos leitores. É uma homenagem à imaginação e à literatura como uma das suas máximas expressões, uma ode aos romances, às boas histórias e aos escritores, estas criaturas abrasadas pela imaginação, que se arriscam na furiosa labuta de recriar a vida, matéria mágica e estilhaçada, com as suas palavras e personagens.

Porque a imaginação, a “louca da casa”, como lhe chamou Santa Teresa de Jesus, é uma luz que nasce dentro de todos nós. Na infância, a imaginação guia-nos e ilumina os nossos dias, o nosso quotidiano é povoado pelo fantástico e todo o impossível é plausível. Porém, à medida que vamos crescendo, a sensatez vai apagando a nossa imaginação, perdemos o olhar múltiplo, mágico, que nos eleva acima da realidade óbvia, da vida monumental, diz Rosa Montero. Todos aqueles que criam precisam de manter a sua ingenuidade infantil, guardar a sua criança viva dentro de si.


Rosa Montero nasceu em Madrid, em 1951. Aos cinco anos foi-lhe diagnosticada uma tuberculose e até aos nove anos esteve retida em casa. Foi nesse período que começou a ler e a escrever. Quando se curou, regressou à escola para frequentar o instituto Beatriz Galindo em Madrid. Em 1968, com 17 anos, entrou na faculdade de filosofia, curso que abandonou no ano seguinte para estudar jornalismo. Concluiu ainda o curso de psicologia pela Universidade Complutense de Madrid.

Em 1970, começou a escrever alguns artigos no diário Informaciones, de Alicante, seguindo-se uma colaboração na revista Tele-Radio e em diversos órgãos da Imprensa. A partir de 1976, passou a trabalhar exclusivamente para o diário espanhol El Pais e, dois anos depois, ganhou o prémio Mundo de entrevistas, área onde se especializou. Recebeu ainda o Prémio Nacional de Jornalismo (1980) e o Prémio da Associação da Imprensa de Madrid, por toda a sua vida profissional (2005). Hoje continua a colaborar com o jornal El País como colunista.

Em 1999, ganhou o Primeiro Prémio Literário e de Jornalismo Gabriel García Marquez do Instituto La Laguna de Madrid em reconhecimento pelo seu trabalho no El Pais.

Realizou o sonho de se tornar escritora, em 1979, com o lançamento do seu primeiro romance Crónica del desamor.

Foi professora convidada em universidades Americanas, onde ensinou escrita criativa, e recebeu uma bolsa para dar conferências na Universidade de Belfast no Reino Unido. Ensinou também literatura e jornalismo na escola de Letras e na escola Contemporânea de Humanidades, ambas em Madrid. Tem dado palestras em aberturas de cursos de Pós-graduação e cerimónias em várias universidades, como em Salamanca, na Complutense e na Carlos III. É presença assídua nas Correntes d’Escritas, na Póvoa do Varzim.

Com A Louca da Casa recebeu o Prémio Grinzane Cavour de literatura estrangeira e o Prémio Qué Leer para o melhor livro espanhol, distinção que também foi atribuída, em 2006, a História do Rei Transparente. A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te viria a ganhar o Prémio da Crítica de Madrid 2014.

Recebeu, já em 2017, e pelo conjunto da sua obra, o Prémio Nacional das Letras Espanholas, galardão que o júri fundamentou com a «sua longa trajetória no romance, jornalismo e ensaio».

Desde a morte de Pablo Lizcano, seu companheiro durante 21 anos, em 2009, Rosa Montero passa alguns meses por ano num condomínio em Cascais, Portugal.


Na biblioteca do ECB, encontram-se as seguintes obras desta autora:

A filha do canibal, 1998


Ramón, homem aparentemente pacato casado com Lúcia Romero há mais de dez anos (mais por hábito do que por amor), é vítima de um sequestro. Lúcia é uma mulher de quarenta anos, a quem a vida já magoou, mas que nem por isso perdeu o implacável sentido de humor - à boa maneira do detetive do policial negro. Mas este romance transcende exuberantemente os cânones do policial clássico: o percurso da heroína é antes uma deriva que a conduz à descoberta de verdades insuspeitadas. Adrián, um jovem de vinte e um anos, e Félix, um anarquista octogenário, acompanham-na no desvendar do mistério. Todos três constituem um triângulo que confere substância a três idades da vida, encenando o drama em que se joga o obscuro sentido da passagem do tempo. A Filha do Canibal foi agraciado com o Prémio Primavera Narrativa de 1997.



Amantes e inimigos, 1999

Uma coletânea de contos sobre o amor e sobre as relações amorosas, nem sempre fáceis, nem sempre possíveis. “O amor é uma mentira, mas funciona”. É com esta frase que Rosa Montero termina o último conto numa obra onde ressaltam os seus notáveis dotes de contadora de histórias. É esta frase também que, para a autora, melhor resume toda a obra. Plena de momentos narrativos brilhantes vistos através da moldura da relação a dois, esse obscuro lugar da dor e do prazer onde cabem o desejo carnal, a paixão, o desespero, a felicidade e a amargura.


Paixões: amores e desamores que mudaram a história, 2000

Através de dezoito histórias publicadas inicialmente no jornal El País e mais tarde revistas para esta edição, Rosa Montero dá-nos a conhecer histórias de amor de grande intensidade vividas por casais famosos como Marco António e Cleópatra, Oscar Wilde e Alfred Douglas ou Arthur Rimbaud e Paul Verlaine. Será eterno o amor? Existirá a paixão perfeita? Será perigoso amar? Esta obra não dá resposta a questões tão profundas, mas contribui para a reflexão acerca de um dos temas que mais tem preocupado o ser humano desde o princípio dos tempos.


História do rei transparente, 2006

Uma viagem a uma Idade Média desconhecida, quando, no século XII, as cruzadas, torneios e guerras ocupam os homens. Leola, uma camponesa adolescente, despe um guerreiro morto num campo de batalha e veste as suas roupas para se proteger sob um disfarce viril e sobreviver num mundo de homens. Assim começa o vertiginoso e emocionante relato da sua vida, cheia de perigos, com amigos e inimigos, no meio de cortes, damas e condes, combates e torneios, numa peripécia existencial que não é apenas de Leola mas também nossa, porque este romance de aventuras com ingredientes de fantástico fala-nos, na verdade, do mundo atual e do que todos nós somos.



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