«Possa este conjunto proporcionar aos leitores o prazer e as surpresas
que eu mesmo tive ao reler e organizar sequencialmente textos em que eu nunca
tinha pensado na perspetiva de uma antologia», (Vasco Graça
Moura no prefácio desta antologia)
Gloria in Excelsis: Histórias portuguesas de Natal. Organização de Vasco Graça Moura. Porto: Edição Público, 2003
Nesta antologia, encontramos vinte
e oito contos sobre o Natal, escritos por autores portugueses dos séculos XIX e
XX, organizados, selecionados e apresentados pelo poeta Vasco Graça Moura.
«[…] podem agora ser traçadas algumas das grandes linhas que caracterizam a história ou o conto de Natal na nossa literatura de ficção: a festividade religiosa (do presépio à missa do Galo) e a sua paralela celebração secular e jubilante quase sempre no plano da família; o contraste mais ou menos chocante entre Graça e desgraça, ou entre grupos e condições sociais; o regresso de alguém que, regra geral, estava ausente havia muito; a evocação do tempo e das vivências do passado; a reconciliação entre os homens; por vezes o sofrimento, a tragédia ou a violência numa quadra que não deveria comportá-los; quase sempre a ruralidade do meio em que a acção decorre (nesta colectânea, todavia, com algumas excepções nítidas); como cenário de fundo, é frequente a contraposição do mau tempo (chuva, frio, neve, ventania) a um ambiente aconchegado e familiar.» (Do Prefácio).
Como é, então, o Natal português?
Numa entrevista publicada no jornal Público
por altura da primeira edição desta coletânea, em 2003 (patrocinada por este
jornal, revertendo parte das vendas para Ajuda de Berço, associação que apoia
crianças até aos 3 anos em situações de risco, abandono e exclusão social), Vasco
Graça Moura explica que os autores portugueses são "sobretudo sensíveis a
um certo clima social, em que convergem a crença, as tradições, a afectividade,
as coordenadas culturais ligadas à quadra do Natal, a própria ideia de paz
entre os homens que hoje não é necessariamente um valor de matriz
religiosa". E diz também que se deparou
com algumas surpresas – a principal das quais foi verificar que quase todos os
grandes nomes da ficção portuguesa não deixaram de escrever sobre o Natal.
Vasco Graça Moura selecionou textos de José
Maria de Andrade Ferreira, Ramalho Ortigão, Eça de Queirós, D. João da Câmara,
Abel Botelho, Fialho de Almeida, Raul Brandão, Aquilino Ribeiro, Ferreira de
Castro, Vitorino Nemésio, José Régio, José Rodrigues Miguéis, Domingos
Monteiro, Miguel Torga, Manuel da Fonseca, Jorge de Sena, Maria Judite de
Carvalho, Natália Nunes, José Saramago, Urbano Tavares Rodrigues, Alexandre
O'Neill, Altino do Tojal e José Eduardo Agualusa.
Vasco Graça Moura
Poeta, romancista, ensaísta,
tradutor, Vasco Graça Moura nasceu na Foz do Douro, Porto, em janeiro de 1942, e
morreu em Lisboa, em abril de 2014. Figura incontornável da vida cultural
portuguesa, destacou-se também por uma forte intervenção política: foi secretário de
Estado de dois Governos provisórios a seguir ao 25 de abril de 1974, desempenhou funções diretivas na RTP, na
Imprensa Nacional, na Comissão para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses e na Fundação Casa de Mateus, foi comissário-geral de Portugal para a Exposição
Universal de Sevilha e diretor do Serviço de Bibliotecas e Apoio à Leitura da
Fundação Calouste Gulbenkian.
Juntamente com António Mega
Ferreira, foi o autor da proposta de realização da Exposição Mundial de 1998 em
Lisboa, que seria considerada pelo Bureau International de
Expositions uma das melhores exposições internacionais de sempre.
Em 1999, foi eleito deputado ao
Parlamento Europeu.
Licenciado em Direito pela
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, exerceu advocacia entre 1966 e
1983, após o que enveredou definitivamente pela carreira literária, que o haveria
de confirmar como um nome central da literatura portuguesa da segunda metade
século XX e um dos maiores defensores da língua portuguesa.
Considerado um dos maiores, se
não o maior, poeta português contemporâneo, Vasco Graça Moura publicou uma
vastíssima obra poética, ensaística e ficcional, e foi um nobilíssimo tradutor
e divulgador das literaturas clássicas.
Dos títulos deste autor, podemos
salientar os romances Quatro Últimas
Canções (1987) e Meu Amor Era de
Noite (2001), os livros de poesia Uma
Carta no Inverno, que lhe valeu o prémio da APE, e Poemas com Pessoas (ambos de 1997). Foi ainda autor de três ensaios
sobre Camões: Luís de Camões: Alguns
Desafios (1980), Camões e a Divina
Proporção (1985) e Sobre Camões,
Gândavo e Outras Personagens (2000).
A sua tradução de A Divina Comédia, de Dante, valeu-lhe em
1995 o Prémio Pessoa, e, em 1998, a medalha de ouro da Comuna de Florença.
Recebeu ainda o Prémio de Poesia
do Pen Club (1997), o Grande Prémio de Poesia da APE (1997) e o Grande Prémio
de Romance e Novela APE/IPLB (2004). Em 2007 foi galardoado com o Prémio
Vergílio Ferreira e com o prémio de poesia Max Jacob Étranger.
Em Janeiro de 2012, Vasco Graça Moura foi nomeado para a presidência da Fundação Centro Cultural de Belém, substituindo António Mega Ferreira, mantendo-se no cargo até à sua morte, a 27 de Abril de 2014.
Na biblioteca do ECB, encontram-se disponíveis as seguintes obras de Vasco Graça Moura:
Poesia: 1997-2000 (2002)
Alfreda ou a quimera (romance, 2008)
Por detrás da magnólia (romance, 2008)
As botas do sargento (conto infantil inspirado na obra de Paula Rego, 2008)
Os Lusíadas para gente nova
(2012)
A identidade cultural europeia
(2013)
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