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quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Dia 23 do Advento - 2 histórias de Natal

 


Duas histórias de Alice Vieira, com belíssimas ilustrações de João Caetano, para ler com os mais pequenos (e que os graúdos também vão gostar de ler) neste Natal.

Mistérios de Natal – Uma criança não quer acreditar que o Pai Natal não existe, como os pais lhe querem fazer crer.

“Quando o despertador tocou, a casa inteira parecia ainda adormecida. Lavínia sentou-se na cama e, de repente, lembrou-se que o Natal estava à porta.

– Meu Deus, exclamou, tanta coisa para fazer e eu aqui deitada!

Não tardaria a ver a Mãe chegar a pedir-lhe o pequeno-almoço, ou o Pai a resmungar porque queria ter ficado mais tempo na cama. «Adultos...», pensou, «é preciso ter muita paciência com eles...»

A Mãe andava agora com aquela mania de que o Pai Natal não existia!

Lavínia sorrira, e cheia de boa vontade lá lhe explicara que isso era mentira, que ela não devia acreditar em tudo o que lhe diziam no emprego.”

A primeira prenda do Pai Natal – Um Pai Natal que acha que também tem direito a receber presentes.

“O Pai Natal acordou muito cedo. Olhou para o lado: a Mãe Natal ainda dormia. Levantou-se com muito cuidado (se ela acordava de repente ficava impossível de aturar) e, em bicos de pés, foi até à porta da rua. Abriu-a muito devagar e lançou os olhos, ainda vagamente piscos de sono, pela imensidão gelada à sua frente. Neve, neve e nada mais além de neve. Uma brancura que até fazia arder a vista.

– Ainda não é desta … – murmurou desanimado.

Voltou a fechar a porta e sentiu-se muito cansado.

– Mas por que é que, em todo o mundo, só eu é que não tenho direito a receber um presente de Natal? – murmurou [o Pai Natal], olhando a lista que a Mãe Natal lhe tinha deixado em cima da mesa, para que não se esquecesse de nada.

Até ela, até ela tinha direito à sua prenda. Durante muitos anos, limitara-se a pedir «umas luvas de lã, pois tenho sempre as mãos enregeladas». Mas ao fim de tantos anos já não havia gavetas que chegassem para guardar as luvas – e as mãos continuavam enregeladas …”



Alice Vieira, considerada uma das mais importantes escritoras portuguesas de literatura infanto-juvenil, nasceu em Lisboa, no dia 20 de março de 1943. Define-se profissionalmente como jornalista, mas tornou-se conhecida pela publicação de livros infanto-juvenis.

Orienta regularmente oficinas de escrita criativa e desloca-se quase diariamente a escolas e bibliotecas de todo o país – e também de países onde os seus livros estão traduzidos.

As suas obras, muitas das quais constam da lista do Plano Nacional de Leitura, foram traduzidas para várias línguas, como o alemão, o búlgaro, o espanhol, o galego, o catalão, o francês, o húngaro, o holandês, o russo, o italiano, o chinês, o servo-croata e o coreano.

Alice Vieira nunca quis ser escritora. Mas desde pequena que dizia que queria ser jornalista. Começou a escrever porque a filha disse que já não tinha mais livros para ler. Em 1979, no Ano Internacional da Criança, a editora Caminho promoveu um concurso para o melhor texto para crianças e jovens desse ano. Alice Vieira enviou Rosa, Minha Irmã Rosa e ganhou o “Prémio de Literatura do Ano Internacional da Criança”. Foi o seu primeiro livro. Como referiu numa entrevista, “a partir daí nunca mais teve sossego”.

Desde esse primeiro livro, tem escrito sobretudo literatura infanto-juvenil, com mais de 50 títulos publicados. Ultimamente tem-se também dedicado à literatura para adultos: livros de crónicas, romance histórico, biografias e poesia. Participou ainda, com mais seis autores, em romances coletivos como Novos Mistérios de Sintra, O Código de Avintes, Eça Agora, 13 Gotas ao Deitar e, mais recentemente, A Misteriosa Mulher da Ópera.

Entre os Prémios que recebeu, destacam-se o Prémio Calouste Gulbenkian (1983); o Grande Prémio Gulbenkian (1984); o Prix Octogone (2000); o Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho (2007); a Estrela de Prata do Prémio Peter Pan (2010). Em 2016, recebeu, no Brasil, da Fundação Nacional para o Livro Infantil e Juvenil, o Prémio pelo Melhor livro em língua portuguesa editado naquele país.

A 7 de Março de 1997, recebeu das mãos do Senhor Presidente da República Jorge Sampaio a Comenda da Ordem do Mérito. A 17 de Novembro de 2020, foi feita Grande-Oficial da Ordem da Instrução Pública pelo Senhor Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.


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