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quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Han Kang - Prémio Nobel da Literatura 2024

 


A Academia Sueca atribuiu hoje o Prémio Nobel da Literatura à escritora sul-coreana Han Kang, nascida em 1970, em Gwangju, na Coreia do Sul. Entre 121 laureados, é a 18.ª mulher a receber este galardão.

De acordo com o comunicado da Academia Sueca, Han Kang é premiada com o Nobel da Literatura de 2024 pela sua “intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana. […] Na sua obra, Han Kang confronta traumas históricos e normas invisíveis e, em cada um dos seus trabalhos, expõe a fragilidade da vida humana. A autora tem uma consciência única das ligações entre o corpo e a alma, os vivos e os mortos, e, com o seu estilo poético e experimental, tornou-se uma inovadora na prosa contemporânea”.

Formada em Literatura Coreana pela Universidade de Yonsei, estreou-se como autora publicada em 1993, ao assinar cinco poemas numa edição da revista local Literatura e Sociedade.

Apesar de ter lançado dois romances e uma coleção de contos antes, foi com A Vegetariana, com o qual venceu o Internacional Booker, em 2016, que ganhou protagonismo internacional. Foi o seu primeiro livro a ser traduzido para inglês e ser editado em Portugal, em 2016, pela Dom Quixote.



Ela era absolutamente normal. Não era bonita, mas também não era feia. Fazia as coisas sem entusiasmo de maior, mas também nunca reclamava. Deixava o marido viver a sua vida sem sobressaltos, como ele sempre gostara. Até ao dia em que teve um sonho terrível e decidiu tornar-se vegetariana. E esse seu ato de renúncia à carne – que, a princípio, ninguém aceitou ou compreendeu – acabou por desencadear reações extremadas da parte da sua família. Tão extremadas que mudaram radicalmente a vida a vários dos seus membros – o marido, o cunhado, a irmã e, claro, ela própria, que acabou internada numa instituição para doentes mentais. A violência do sonho aliada à violência do real só tornou as coisas piores; e então, além de querer ser vegetariana, ela quis ser puramente vegetal e transformar-se numa árvore.

Talvez uma árvore sofra menos do que um ser humano.

(da sinopse da edição portuguesa de 2016, disponível na Biblioteca da Escola Secundária Dona Inês de Castro, Agrupamento de Escolas de Cister)



Atos Humanos (2017), sexto romance da autora e o segundo a ser publicado em Portugal, recupera o massacre de 18 de maio de 1980 na região de Gwangju, na Coreia do Sul. Em 1980, estudantes de norte a sul do país revoltaram-se contra o fecho de universidades e a falta de liberdade de expressão. Porém, foi na região de Gwangju que a repressão foi mais violenta, acabando a população por se juntar ao protesto, dando origem a um dos piores massacres na história do país. Os mortos e desaparecidos ainda estão, ainda, por contabilizar. Como lidar com a morte de alguém quando o seu corpo não aparece? Kang e a família deixaram Gwangju quatro meses antes dos massacres, mudando-se para Seul.

Atos Humanos é a história de Dong-ho, um rapaz que não resistiu a seguir o melhor amigo até à manifestação, mas, quando ouviu os tiros, largou-lhe a mão, procurando-o agora entre os cadáveres de uma morgue improvisada. E é também a história dos que cruzaram o caminho de Dong-ho antes e depois dessa noite infame – os que caíram por terra desarmados e os que foram levados para a prisão e torturados; os que sobreviveram ao terror mas nunca mais conseguiram falar do assunto e os que, tantos anos passados, sabem, tal como Han Kang, que a história pode repetir-se a qualquer momento e que é preciso lembrar os atos brutais de que os humanos são capazes. Este é um romance universal e moderno sobre a batalha que os fracos travam contra os fortes na luta pela justiça.

(da sinopse da edição portuguesa de 2017)



O Livro Branco, publicado em Portugal em 2019, pelas Publicações Dom Quixote, é uma meditação sobre luto e memória, considerado o mais autobiográfico e simultaneamente experimental livro de Han Kang.

O livro começa com uma simples lista de coisas brancas: a neve, o sal, a espuma das ondas, o papel, o arroz, os cabelos dos velhos, as cobertas em que a mãe da autora embrulhou a primeira filha, que nasceu prematura, muitos anos antes de existir este livro. É também uma reflexão sobre o luto, o renascimento e a tenacidade do espírito humano e uma investigação sobre a beleza, a fragilidade e a estranheza da vida: se, por exemplo, a sua irmã tivesse sobrevivido, teria Han Kang chegado a nascer? Poderíamos nós ler a sua história tão tocante?

(da sinopse da edição portuguesa de 2019)



Lições de Grego (2023), o seu último livro, conta a história de um professor de Grego que está a perder a visão e de uma aluna que está a perder a voz. Ambos descobrem, porém, que existe uma dor ainda mais funda a uni-los: numa questão de meses, ela perdeu a mãe e a batalha pela custódia do filho; já ele ganhou o medo de perder a autonomia e o incómodo de, por ter crescido entre a Coreia do Sul e a Alemanha, estar sempre dividido entre duas culturas e duas línguas tão diferentes.

Lições de Grego fala de um homem e de uma mulher comuns que se conhecem num momento de angústia privada – a perspetiva da cegueira dele encontra-se com o silêncio dela. Mas são justamente estes handicaps que os atraem um para o outro, levando-os a encontrar uma saída da escuridão para a luz, do silêncio para a expressão.

Com uma estrutura em espiral e a sensibilidade a que Han Kang já nos habituou, o presente romance é como uma terna carta de amor à intimidade humana, um texto que desperta os nossos sentidos e reflete sobre a essência do que realmente significa estar vivo.

(da sinopse da edição portuguesa de 2023)


Saúde Mental e Biblioterapia

 

Com o objetivo de combater o preconceito, o estigma e promover o conhecimento sobre saúde mental, a Federação Mundial da Saúde Mental criou, em 1992, o Dia Mundial da Saúde Mental, uma data que se assinala anualmente a 10 de outubro.

Este ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS), escolheu como lema It is time to Prioritize Mental Health in the Workplace (“É Hora de Priorizar a Saúde Mental no Local de Trabalho”). De acordo com a Direção-Geral da Educação, o lema para este ano está perfeitamente alinhado com os princípios que tem vindo a defender em prol de Escolas Saudáveis, promotoras e garante do Bem-Estar integral das crianças e jovens, e onde a saúde mental e as competências socioemocionais estão na base de todos os comportamentos em saúde.


Saúde Mental e Biblioterapia

Num texto publicado originalmente em 1905, Marcel Proust dizia

“A leitura está no limiar da vida espiritual; pode introduzir-nos nela: não a constitui. Há, contudo, alguns casos, alguns casos patológicos por assim dizer, de depressão espiritual, em que a leitura se pode tornar uma espécie de disciplina curativa e ser encarregada, através de incitamentos repetidos, de reintroduzir perpetuamente um espírito preguiçoso na vida do espírito. Os livros desempenham então junto dele um papel análogo ao dos psicoterapeutas junto de certos neurasténicos.”

(Marcel Proust, O Prazer da Leitura, Editora Teorema, 2011: 31)


Etimologicamente oriundo do grego biblios (livro) e therapeia (terapia), apenas no princípio do século XX o termo “biblioterapia” entra no léxico ocidental pela palavra inglesa bibliotherapy, conceito associado a práticas em hospitais que usam a literatura como suporte do processo de cura, sobretudo com vista à promoção da saúde mental.

Na biblioteca medieval da Abadia de São Galo, na Suiça (uma das mais ricas e antigas do Mundo, classificada em 1983 como Património Mundial da UNESCO), existia a inscrição

"Tesouro dos remédios da alma"


Neste dia dedicado à Saúde Mental, apresentamos como sugestão de leitura a obra Ler para Viver – Como a biblioterapia pode melhorar as nossas vidas, de Sandra Barão Nobre. (disponível no catálogo da Biblioteca do ECB)


Publicado em 2024, com este livro a autora deseja partilhar o seu saber, trazendo a biblioterapia do mundo quase exclusivamente académico e teórico para a vida do dia-a-dia, ajudando também o leitor a viver melhor.

Considerando que a biblioterapia permite cuidar do desenvolvimento contínuo do ser humano, através da relação subjetiva e existencial que cada um estabelece com as histórias, sejam elas lidas em silêncio, narradas por outrem ou dramatizadas, Sandra Barão Nobre apresenta-nos uma “farmácia literária” com mais de 200 sugestões de leitura, para ganhar confiança, combater a discriminação, melhorar o humor, aproveitar o tempo, e muitas outras formas de aplicar o poder transformador dos livros, com o objetivo de melhorar o estado de espírito e o bem-estar de qualquer pessoa.


 


terça-feira, 1 de outubro de 2024

Sugestões de leitura no Dia Mundial da Música

 


Uma aventura musical, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada

O desaparecimento de um violino «Stradivarius» é motivo de alarme e justifica a mais complicada das investigações para a Teresa, a Luísa, o Pedro, o Chico, o João, o Faial e o Caracol.

Um fabricante de violinos chamado Stradivari morreu há duzentos anos deixando um mistério no ar que ainda não foi desvendado: como conseguia ele que os seus violinos tivessem um som tão especial?

Seria a madeira? Seriam as cordas? Seria o verniz? Ou seria algum truque de magia? Ninguém sabe. Mas os violinos que ficaram prontos valem hoje mais que joias, mais do que carros e até mais do que casas.



Música, de Hermann Hesse

Durante cerca de setenta anos, Hermann Hesse organizou uma antologia de pequenos textos sobre música. Esta recolha reflete o entusiasmo do autor pela música erudita e pelos seus produtores (compositores - sobretudo Chopin, Beethoven e Mozart -, cantores e solistas). A música é entendida como uma experiência pessoal e intransmissível, mas manipulável, podendo por tal conduzir à alienação quando massificada e vulgarizada.

Música abarca excertos recolhidos da correspondência pessoal do autor, apontamentos para obras posteriores, extratos de romances, poemas, recensões críticas, pequenos contos e reflexões de ordem vária. Estamos perante um livro multifacetado do ponto de vista tipológico, um pouco controverso nas posições que defende, tecendo-se a unidade em redor do tema e do estilo inegável do autor.

Sobre o autor:

Hermann Hesse nasceu a 2 de julho de 1877, na cidade alemã de Calw, e faleceu a 9 de agosto de 1962, em Montagnola, Suiça.

Filho de missionários protestantes, ainda adolescente abandonou os estudos religiosos e rompeu com a família, emigrando para a Suíça, em 1912, onde começou a trabalhar como livreiro e operário. Em 1899, publicou uma coleção de poemas e em 1903 o seu primeiro romance, Peter Camenzind, a que se seguiram mais de 50 obras, entre romance, ensaios, poesia, biografias e colectâneas de contos.

Em 1923, naturalizou-se suíço. Em 1946, recebeu o Prémio Goethe e o Prémio Nobel da Literatura.